Youth

Escrita porNatashia Kitamura
Revisada por Natashia Kitamura

Capítulo 3

Tempo estimado de leitura: 11 minutos

Na quinta-feira, quando fui informado que Luna estava em processo de parto no hospital, tive imediatamente de parar a reunião com os japoneses e eles rapidamente concordaram ao saberem que a razão era o nascimento do meu filho. Ao contrário de qualquer pessoa normal enquanto está no meio de uma negociação, eles se curvaram me parabenizando e não pude fazer nada senão dar um sorriso de agradecimento de volta. Revirei os olhos assim que saí da sala e mandei a secretária marcar outro horário com eles.
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  No hospital, tive de passar por um momento terrível de espera, onde outros pais e familiares estavam sentados conversando sobre o nome da criança, ou o quarto do bebê. Me limitei a olhar no relógio e enviar mensagens de textos para todos que eu lembrava que tinha compromisso. Isso era serviço das minhas secretárias, mas uma vez que eu não podia sair daquela sala por causa da imprensa, e não podia fazer muito barulho por estar em um ambiente que necessitava silêncio, era a única escolha que eu tinha para me distrair.
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  Duas horas haviam se passado e eu ainda estava sentado naquela poltrona dura. Perguntei pela nona vez a uma enfermeira que passava se iria demorar muito mais, mas, novamente, ela não soube me responder. Disse que o processo de parto é demorado e que eu tivesse paciência que tudo daria certo. Eu não queria saber se daria certo, seria até melhor que não desse; mas eu queria ir embora. Respirei fundo e perguntei onde havia uma cafeteria e ela apontou para uma máquina onde uma mulher analisava o menu, provavelmente escolhendo alguma bebida. Ouvi a enfermeira se retirar ao ouvir uma chamada. Me levantei, marcando em minha memória de reclamar à administração sobre essa falta de consideração com os proprietários de parte dos quartos do hospital, e segui até a tal máquina, onde a mulher continuava pensativa.
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  - A senhora vai... - começo a dizer e aponto para a máquina, ela vira seu rosto para mim em uma expressão surpresa e ri sem graça.
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  - Ainda estou decidindo, fique à vontade. - deu um passo para trás e sorri agradecido em retorno. Aulas de etiqueta enfim dando resultado. Madame Lou ficaria orgulhosa, se já não estivesse a sete palmos abaixo da terra.
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  Olhei para as opções da máquina e eles realmente tinham alguns nomes esquisitos para os tipos de bebida. Me endireitei e voltei as mãos no bolso sério. Talvez um deles fosse meu café di latte. Deveria ser um nome comum ou minhas secretárias não teriam tanta dificuldade em encontrar para trazerem a mim todas as manhãs.
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  - São um pouco diferentes, não é? - ouço a voz da mulher logo atrás de mim. Desvio o olhar para ela, que encarava a máquina com a mesma expressão que a minha. Balanço a cabeça:
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  - Um pouco. - concordo. - Existe alguém que explique qual é o café tradicional? – olho para os lados. Já que não havia o di latte, pelo menos o tradicional poderia ser facilmente explicado.
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  - Perguntei à enfermeira, mas ela murmurou qualquer coisa e saiu. Acho que estão ocupadas demais para dar uma informação assim banal... - ela sorri sem graça. Encaro seus olhos e a vejo corar. - E-er... Eu vou... Ver se descubro. - e dá dois passos para trás, se virando rapidamente e mexendo a cabeça a procura de alguém.
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  Levantei a sobrancelha e, como não tinha nada para fazer, me deixei observar a mulher que tentava perguntar para um grupo de adolescentes que estava com um senhor - provavelmente pai de uma das crianças que estava nascendo -, qual a diferença dos cafés da máquina. Os jovens pareciam ter em torno dos dezesseis anos e falavam em voz alta sobre um ter mais leite, outro ser descafeinado, outro para diabéticos, etc. Por mais arrogante que aqueles adolescentes fossem, em momento algum a mulher pareceu se aborrecer com seus comportamentos. Vi-a agradecer ainda com um sorriso e voltar até a máquina, onde eu estava parado com as mãos no bolso. Ao ver que eu aguardava uma resposta, limpou a garganta:
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  - Esta é a clássica. - apontou para o quinto botão. Balanço a cabeça e pego minha carteira à procura de alguma moeda, mas nada acho. Solto o ar impaciente e ela sorri mais uma vez sem graça:
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  - Pode deixar. - diz, tirando uma moedeira de tecido em formato redondo e retirou de lá algumas moedas, colocando-as no compartimento da máquina. Três minutos depois, nós dois estávamos com o café quente em mãos.
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  - Obrigado. - levanto o copo de isopor e ela balança a cabeça.
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  - Não há de quê.
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  Voltamos a nos calar e, por não estar afim de voltar a me sentar, não me movi de meu lugar.
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  - Menino ou menina? - ouço a mesma voz de há pouco. Olho para o lado e a mulher me olhava.
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  - Como?
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  - O bebê. É menino ou menina? - ela aponta para a porta por onde os enfermeiros ou enfermeiras saíam para dar a notícia do nascimento do filho de diversos pais que estavam ali, informando peso e sexo, além do estado de saúde da mulher.
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  - Não sei. - respondo friamente, a fazendo balançar a cabeça.
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  - Ser uma surpresa deve ser muito mais emocionante... - ela comenta, concordando com a cabeça. Vi-a abrir um pequeno sorriso e encarar as famílias que chegavam para acompanhar a comemoração dos pais no nascimento de seus filhos. - É uma boa escolha...
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  Nada falei. Manter um diálogo com uma estranha, por mais que ela tenha pago meu café, não era o que eu queria no momento, portanto, me mantive calado até ouvi-la falar novamente.
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  - É admirável, seu comportamento.
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  Olho de esguelha para ela e a vejo sorrindo enquanto observava as pessoas naquele espaço. Ao perceber que eu não falaria nada, continuou:
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  - A maioria dos pais aqui estão nervosos ou fora de controle por causa da tensão. Alguns estão no terceiro filho e mesmo assim não conseguem evitar o stress. O senhor é o primeiro que vejo controlado.
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  Troco o peso de perna.
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  - Hoje obtive essa estranha informação sobre os pais que são donos de quartos deste hospital. - ela insiste. Fecho os olhos impaciente e dou um longo suspiro tentando me manter são. - Eles não esperam nesta sala pelo nascimento dos filhos. São avisados quando as crianças nascem, e então aparecem por obrigação com a mídia. Eu me pergunto de onde eles tiram essa coragem... Quero dizer... É um filho.
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  - Algumas pessoas possuem outras prioridades. - respondo obviamente me pondo do lado do que ela achava um absurdo.
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  - Pode ser... - disse ainda calma. - Mas se sabem que será assim... Por que fazem? O que as crianças têm a ver com as prioridades egoístas de seus pais? Ser educada por um estranho... Alguém pago... - até então meu olhar não pode evitar se virar para ela. Sua expressão era dolorosa, como se ela sentisse a dor de ser educada por uma babá. - Quero dizer, sei que não há tempo o suficiente para essas pessoas importantes; mas uma educação dada com amor não é diferente de uma educação comprada?
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  - O melhor lugar para ser educado é a escola, até onde eu sei, as melhores são as pagas. - digo jogando o copo de isopor no lixo.
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  - Não esse tipo de educação... O do tipo, aprenda a amar e respeitar. Não a ler e escrever.
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  Solto uma risada deboche, o que a fez virar seu rosto para mim.
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  - O quê? Acha isso uma piada?
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  - Parece uma. - digo em tom de riso. - Para estas crianças, elas terão as aulas de etiqueta, onde aprenderão a se portar. Então terão as aulas de filosofia, que questiona os sentimentos e as razões. Crianças nascidas em berços assim... Não são azaradas.
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  - Pois eu acho que sim! Que memórias terão elas sobre seus passados?
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  - Para quê viver do passado, quando há um futuro para se preocupar? - a retruco mais uma vez. A conversa, apesar de estar estampado na testa dela que a estava aborrecendo, a mim estava divertido. Olhava com um sorriso nos lábios, e a vi soltar um muxoxo e balançar a cabeça.
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  - Senhor %Blanc%? - ouço a voz de uma enfermeira, chamando a atenção da sala inteira. Silêncio. Algo que achava impossível ouvir naquele local onde eu estava, mas todos estavam ocupados demais em me olhar para poderem soltar algum tipo de ruído. A única pessoa que não tinha interesse em mim era a mulher com quem estava discutindo até há pouco. - Seu filho nasceu, três quilos e duzentos. A mãe--
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  - Obrigado. - corto a mulher, que sorri e volta de onde havia saído.
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  - O senhor... É %Luke% %Blanc%? - um homem diz receoso se aproximando. O olho e confirmo. - Sou Gordon Streiss da Mart. Estamos tentando entrar em contato com o senhor há meses!
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  - Minha agenda anda bastante cheia. - respondo o que sempre respondo quando alguém fala sobre tentar me contatar.
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  - Entendo, o senhor não teria um espaço? Temos esse novo projeto que é muito inovador...
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  - Não é por nada - a moça com quem discutia há pouco se intromete. -, mas o senhor aqui acabou de receber a notícia que seu filho nasceu. - olhamos os dois para ela. - Ele quer ver a criança.
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  - Ah - o homem diz, olhando para o lado e então de volta para mim sem graça -, claro, claro. Desculpe o inconveniente, senhor %Blanc%... - balanço a cabeça, mostrando que não havia me importado, mesmo tendo. - Parabéns pelo bebê.
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  Abro um sorriso por educação e caminho em direção ao local por onde a enfermeira havia se retirado.
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  Antes de entrar, olho para trás e vejo todos ainda com suas atenções em mim, menos a mulher com quem havia discutido, que olhava atentamente para seu relógio. Logo que a porta se fechou atrás de mim, pensei sobre a proposta de Sophia.
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  Talvez...
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