Youth

Escrita porNatashia Kitamura
Revisada por Natashia Kitamura

Capítulo 17

Tempo estimado de leitura: 17 minutos

Depois da discussão que tivemos, %Joyce% pareceu manter sua rotina da maneira que sempre foi. Eu, ao contrário, mudei a minha de maneira exagerada, ficando até mais tarde no trabalho e dando mais atenção às coisas que eu achava que deveria ter mais atenção. Demiti várias pessoas, revi tudo o que precisava ser revisto; liguei para minha mãe.
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  - Estou ocupada agora.
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  - Bem, você pareceu bem menos ocupada semana passada quando veio até aqui apenas para conversar com %Joyce%. - não pude evitar parecer uma criança pedindo pela atenção da mãe, com minha atitude mimada e infantil. A ouvi hesitar por alguns instantes. - Você sabe que isso saiu na mídia, não é?
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  - Um 'obrigado' é o que eu deveria ouvir.
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  - Obrigado? - perguntei em tom descrente. - Por que deveria agradecer a você?
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  - Parece que está se esforçando, %Luke%. - sua voz séria e fria me fazia ainda sentir o leve arrepio na espinha que tinha quando recebia algum sermão aos 15 anos. - Achei que demoraria mais para você resolver virar um adulto.
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  - Não liguei para receber algum tipo de lição. Principalmente vindo da sua parte.
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  - Oras, então por que se deu ao trabalho?
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  Nós dois parecíamos estranhos no telefone. Estranhos que não se davam bem. Desde que Evan morreu, minha mãe se fechou em um muro e não deixou nunca mais ninguém se aproximar de si. Só seus amantes. Depois que meu pai se foi, as coisas ficaram ainda piores para mim. No início, logo depois da morte de Evan, achei que como mãe, ela iria ser como eram as outras mães carinhosas do mundo, se fazendo de forte e consolando o filho que perdeu o querido irmão mais velho. Ao contrário disso, ela se importou em apenas cuidar de si e do seu pêsame. Depois que meu pai se foi, ela se tornou dura. Começou a me tratar como um estranho, como se fosse o culpado pelas desgraças de sua vida.
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  Talvez essa seja a razão de estar se aproximando novamente de mim. Talvez ela não esteja conformada que seu filho esteja tendo uma nova vida familiar feliz. Algo que ela não conseguiu ter depois de ter perdido aquilo que nem ao menos se esforçou eu criar. Era muito claro as notícias que saíam sobre eu e %Joyce%, minha relação com as crianças. Não pude evitar pensar o pior e imaginar que ela, na verdade, não queria que eu tivesse a vida que estou tendo com uma família de verdade porque ela não teve. Que quer que eu continue me sentindo miserável por estar vivo ao invés de Evan, afinal, o mais velho nunca é a ovelha negra.
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  - Você nunca vai deixar de ser uma velha rabugenta?
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  Minha pergunta pareceu dar um tapa na cara dela. Senti sua hesitação, e foi tamanha que ela não conseguiu se reconstituir a tempo de eu antes dizer:
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  - Por que você simplesmente não aceita que as pessoas podem seguir em frente sem sair do luto? Por que é que eu tenho que sofrer as merdas que aconteceram na sua vida?
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  - Não ouse entrar neste assunto...
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  - Então por que está correndo atrás de mim? De Liam? Você nem se deu ao trabalho de perguntar sobre ele quando nos falamos pela última vez.
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  Não ouvi sua resposta. Eu sabia que não iria ouvi-la. Dei uma leve risada e então coloquei o telefone de volta ao gancho. Olhei para minha sala, muito menor do que a que eu tinha quando ainda cuidava da empresa de meu pai, mas muito mais a minha cara do que a antiga. Fiquei por horas pensando na vida, algo que eu aprendi a fazer pouco tempo atrás, quando ainda estávamos isolados do mundo. Assim que meus pensamentos voltaram aos seus devidos lugares, me levantei, vesti meu paletó e sai caminhado até a garagem do prédio, fazendo o caminho de volta para casa. %Joyce% e as crianças não estavam, por isso, pude conversar com as cozinheiras e o chef de cozinha para decidir o menu do dia. Por ser uma sexta-feira, o cardápio estava relaxado no quesito de calorias, portanto, não havia muito o que reclamar. Ouvi as crianças gritando no lado de fora e ouvi o barulho da porta se abrindo. Coloquei as mãos no bolso da calça e segui até a sala, vendo %Joyce% entrando com as duas babás, Liam, Vita e o motorista com várias sacolas em mão. Liam ao me ver, veio correndo em meu encontro. Tive de abaixar para pegá-lo e pegar a Vita, que também viera a procura de atenção. %Joyce% olhou para mim, mas logo ignorou, voltando a caminhar e seguindo com o motorista e as babás para o segundo andar. Lentamente, no meu ritmo, segui a todos, parando no quarto das crianças, onde %Joyce% pediu para que as sacolas fossem deixadas no chão e solicitou às babás que banhassem as crianças.
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  Assim que elas se retiraram do quarto em direção ao banheiro, fiquei calado voltando as mãos nos bolsos e observando %Joyce% retirar as roupas que havia comprado para as crianças, dobrando-as novamente ou colocando em cabides para que fosse pendurados nos armários do closet dos dois.
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  - Como foi o dia? - perguntei, sentindo que ainda não havia desfeito a gravata e afrouxando o nó. Vi seus olhos olharem para mim e voltar para as roupas.
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  - Bem.
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  Abri um pequeno sorriso ao vê-la evitar conversar comigo. Durante os últimos dois dias desde nossa discussão, %Joyce% dormira no quarto com as crianças, principalmente porque Liam estava muito hiperativo e sempre acordava no meio da noite e, por saber andar, saia de dentro do berço e pegava seus próprios brinquedos dentro do quarto, de vez em quando até acordando Vita, que começava a chorar como qualquer criança normal. Encostei no batente do closet com as mãos de volta ao bolso e a vi agora dando atenção nos armários.
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  - Falei com Sophia hoje.
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  Foi quando consegui a atenção de %Joyce%. A vi olhar para mim surpresa e virar seu corpo em minha direção.
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  - É mesmo?
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  - Sim. - respondi. Ficamos calados por mais um tempo. Quando vi que ela voltou a prestar atenção nas roupas, soube que ela não iria tentar prolongar a conversa. - Nós brigamos.
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  - Isso não é novidade.
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  - Não, não é.
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  Mais uma vez nos calamos. Suspirei e, desistindo de resistir, perguntei:
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  - Até quando irá me tratar assim?
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  A vi pendurar a última roupa no armário e então fechá-la. Se virou para mim e, antes de sair disse:
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  - Até quando se desculpar por ter sido um idiota.
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  Talvez eu não me importasse em não conversar com ela.
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  Na verdade, eu estaria mentindo se me convencesse de que isso era uma verdade. A verdade verdadeira é que eu, como qualquer homem em um relacionamento, estou com saudades da atenção de %Joyce%. Estava nervoso por ela estar me punindo dessa maneira. Mais nervoso com ela do que comigo, o que me faz pensar que por mais que eu tente mudar da maneira que eu acho que ela mereça que eu mude, isso nunca irá acontecer.
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  Toda vez que a encontrava durante o resto do dia naquela sexta-feira, eu tentei dar as devidas desculpas, do jeito que ela esperava que eu fosse fazer, mas isso não aconteceu. Ao contrário, eu pedi uma pizza e me tranquei em meu escritório, enquanto ouvia Liam e Vita brincarem, chorarem e então se calarem depois que foram postos para dormir. Ao perceber que eles já não mais faziam barulho, resolvi me levantar e me retirar do meu refúgio, indo em direção ao hall para subir as escadas até o segundo andar. Encontrei com %Joyce% descendo com os cabelos molhados. Usava o pijama de verão, um conjunto de short e regata. Viu que eu estava subindo, mas mesmo assim me ignorou. Terminou de descer as escadas e foi até a cozinha. Ao invés de subir e tomar o banho que eu queria, dei meia volta e fui até onde ela estava. A vi procurando algo para fazer na tela que havia embutida na mesa de mármore da cozinha. Apertava o botão "próximo" com cansaço.
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  - Tem pizza na geladeira. - falo parado na porta. Ela me ignora. - Você me ouviu?
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  - Ouvi, obrigada. - responde sem me olhar. Reviro os olhos e passo a mão no rosto. A vejo então me dar as costas e abrir a geladeira lotada para pegar os ingredientes para fazer seu próprio jantar.
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  - Você pode chamar Gertie.
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  - Não preciso de uma cozinheira para cozinhar. - responde séria.
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  - Ela está sendo paga para cozinhar para você. - falo mais nervoso.
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  - Não às onze e meia da noite.
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  - A qualquer horário que você quiser.
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  - Eu quero que ela descanse para fazer o café da manhã das crianças. Se você não se importa, gostaria de cozinhar com o som do rádio apenas. - ela segue até o aparelho e o liga. Solto o ar impaciente e vou até ele assim que a vejo se afastar, desligando. Ela me olha nervosa.
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  - Devemos conversar, não é? - falo. Ao me ver sério, ela desvia o olhar e volta às ações que realizava antes. - %Joyce%, não podemos ficar assim...
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  - Qual é a dificuldade em pedir desculpas? Hein? Pedi para você amputar uma perna? Pedi para você dar um tiro no pé, ou para dar mil dólares à primeira pessoa que encontrar? Não, %Luke%! Eu apenas pedi por um pedido de desculpas! - ela apoia a faca em cima da tábua, me fazendo dar um passo para mais longe dela. - Estou há semanas esperando por essas desculpas, tendo de lidar com todos os problemas do mundo e não poder fazer nada porque você é orgulhoso demais para admitir um erro e vir se redimir! Pois saiba que eu não sou como os seus milhares de empregados que são pagos para fazer o que você quiser e ouvir todos os seus desaforos calados! Eu posso estar sendo paga para cuidar e educar o Liam, mas isso não faz de mim uma pessoa inferior a você! - ela aponta para mim acusadora. - Você sabe que se eu não quiser ficar aqui, eu não preciso ficar! Você sabe...
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  - Eu sei! Eu sei! Mas que diabos! Você não consegue ao menos se calar para ouvir o que eu tenho a dizer? - digo nervoso, a calando assustada. - Não consegue enxergar todas as minhas ações em um modo de pedir seu perdão? Achei que você soubesse melhor do que ninguém o tipo de pessoa que eu sou! Eu não sou alguém que pede desculpas à primeira pessoa que vê, nem muito menos corre atrás dela quando ela simplesmente resolve fazer uma birra por um comentário que você fez! E olhe eu aqui, %Joyce%, correndo atrás de você durante toda a semana e fazendo exatamente o que eu acho que devo fazer que irá te fazer feliz; mas você insiste em querer que eu peça desculpas verbalmente! Você não consegue entender que algumas pessoas têm mais dificuldade em lidar com determinadas situações que outras? Que por ter esse problema, elas recorrem a outros métodos? Não é porque eu não corri atrás de você que eu não estou me esforçando em pedir as desculpas que você tanto quer! Você quer um "me desculpe" sem a intenção nenhuma em me desculpar? Então aqui vai: Me desculpe! Tudo bem?
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  Assim que parei de falar, a vi com o rosto muito vermelho. Fechei os olhos e respirei fundo, colocando as mãos em minha cintura e balançando a cabeça. Quando fui dizer algo, ela disse com sua voz baixa:
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  - Por que sempre que estamos discutindo e não sou eu a errada, você me faz sentir como se fosse? - fecho a boca surpreso, não conseguia entender a razão dela se sentir assim. - Você joga as coisas na minha cara como se eu fosse a razão da culpa. A razão de você se sentir mal.
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  - Bem, é o que está sendo durante essas últimas semanas. - falo rancoroso. Ao ver seu rosto indignado, procuro me explicar: - Tudo o que eu fiz foi pensar em maneiras de ir até você e pedir desculpas pelas minhas maneiras. Mas como eu faria isso? Apenas dizendo "hey, me desculpe, foi mal". Você ficaria pior do que já está!
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  - Sabe %Luke%, você é uma pessoa que cresceu com tudo, e de repente não ter o que quer pode parecer um grande problema. - ela diz séria. - Mas veja bem, você está dando muito mais valor para as coisas que está perdendo do que com o que está ganhando. Se você acha que eu estou sendo algum tipo de fardo por ocupar sua mente a todo tempo, então talvez seja a hora de repensar em maneiras de lidar com toda essa situação. Você pode muito bem chamar o seu advogado, eu chamo o meu e nós verificamos aquele contrato que assinamos a quase dois anos atrás.
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  Estou mudo. Não consigo raciocinar. Pode ser que eu esteja chocado em como consigo ser um completo canalha, mesmo tendo a intenção em melhorar. Mas o que mais me deixa surpreso, é a habilidade que eu tenho em fazer as pessoas boas se afastarem de mim.
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  - Eu nunca disse que queria que você se afastasse de mim. - falo com a voz mais fraca. A vejo arregalar levemente os olhos ao me ouvir. - Eu só esperava que, da maneira que você me fez ver uma nova vida, pudesse também ver o meu passado e entender o meu presente. - sigo até o banco da bancada e me sento lá, apoiando os braços. - Eu não sou homem de entender as pessoas, %Joyce%, nunca fui, você sabe disso. Sabe que a educação que eu recebi é diferente da sua, por isso Liam e Vita estão crescendo como crianças normais. - aponto para o quarto acima de nós. - Mas eu não sou tudo isso, %Joyce%, eu sou apenas rico. Muito rico. E é assim que eu lido com todo o resto na minha vida. Você deveria saber melhor do que ninguém o quanto dinheiro chama a atenção das pessoas. O que eu aprendi é a ter dinheiro para ter quem eu quiser perto de mim. Era assim que eu achava que havia conseguido você.
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  - Eu nunca pedi para você mudar.
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  - Você não precisa pedir para querer. - respondo um tanto magoado. Olhei em seus olhos e a vi me enxergar. - Eu só quero ter uma vida normal de um cara que possui um trabalho e uma família. Que passa por maus bocados, mas ao chegar no fim do dia, encontra todos aqueles que o amam de verdade esperando por ele na mesa de jantar. - desabafo finalmente. - %Joyce%, eu só quero que você fique na minha vida, porque você faz dela algo normal. Eu não quero mais estar na mídia ou utilizá-la para bens pessoais. Eu quero ver Liam crescer. Quero ser chamado de pai e sentir que sou eu a quem ele está se referindo. Quero que ele cresça em uma escola normal, sem crianças falando três línguas diferentes aos três anos. Eu não quero que ele seja extraordinário, mas ele será. Porque o pai dele cresceu em uma comunidade onde ter pouco é não ter nada. Minha dignidade é baseada no tanto de zeros que há antes da vírgula. Mas você está aqui, mantendo meus pés no chão, me ajudando a me manter sóbrio. Entenda que eu não vou mudar. Eu apenas irei melhorar.
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  A vi fungar e então agachar, sumindo de minha vista. Passados alguns minutos, me levantei de onde estava sentado e dei a volta na bancada, indo até o corredor onde ela ainda estava agachada chorando em silêncio. Me agachei ao seu lado e a abracei, recebendo retorno.
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  - Me desculpe por ter sido uma idiota. - ela rapidamente diz e abro um sorriso por ver como ela se esqueceu de que estava aguardando as palavras que ela mesmo pronunciou sem ao menos ser necessário.
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  - Eu não quero te perder. - sussurro em seu ouvido. Ela solta uma risada nasalada e se afasta de mim. - Você pode voltar para o nosso quarto hoje? - ajudo-a a se levantar. Ela limpa as lágrimas e responde:
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  - Apenas depois de eu jantar.
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