War

Escrita porNatashia Kitamura
Revisada por Natashia Kitamura

Capítulo 4

Tempo estimado de leitura: 13 minutos

  - E o que você sabe fazer? - o homem lhe perguntava assim que chegara sua vez de completar a lista de requisito para o alistamento.
0
Comente!x

  - Fiz um curso de enfermagem de um ano e meio. Não deve ser nada parecido por lá, claro. E nunca tive experiências como as que terei lá, mas eles me ensinaram como agir num momento desses.
0
Comente!x

  - Já pegou em alguma arma?
0
Comente!x

  Ela nega com a cabeça.
0
Comente!x

  - Qual o motivo de querer se alistar?
0
Comente!x

  Ela hesita. Talvez fosse melhor não falar sobre %Joel%.
0
Comente!x

  - Sabe num momento quando paramos para pensar no que queremos fazer e não temos uma resposta para nossa pergunta? - o homem concorda com a cabeça, não muito interessado na resposta. - Quando aconteceu isso comigo, eu estava assistindo a um programa que falava da guerra no Afeganistão. Achei que era o certo a fazer.
0
Comente!x

  - Você sabe o que te espera por lá, certo? - ela concorda. - E seus pais?
0
Comente!x

  - O que tem eles?
0
Comente!x

  - Eles sabem que estão aqui?
0
Comente!x

  - Sim. - responde limitada. Eles sabiam que ela estava lá. Havia dito na carta que deixara.
0
Comente!x

  - E eles concordam do seu alistamento?
0
Comente!x

  - Não.
0
Comente!x

  O homem sorri.
0
Comente!x

  - É uma garota bem corajosa. Tudo bem, aguarde ali. - e aponta para uma sala cheia de cadeiras.
0
Comente!x

  Sem dizer mais nada, a garota se levanta e segue até onde o soldado havia indicado. Só haviam mulheres lá dentro. De todas as idades. A maioria era jovem, um pouco mais velha que ela apenas. Sentou-se ao lado de uma que achava ter sua idade.
0
Comente!x

  - Sou %Susan%. - ela sorri para a garota, que apenas abre um pequeno sorriso de volta e nada mais faz.
0
Comente!x

  Ficara por três horas ali, sentada sem fazer nada. Não abrira o álbum de bolso que %Joel% havia dado. Sabia que iria chorar se o fizesse. Respira fundo e olha para o teto branco. Sabia o que estava fazendo e não estava com medo. Estava ansiosa.
0
Comente!x

  - Vocês estão aqui porque querem ir para a guerra. - uma mulher enorme e com uma aparência grotesca andava de um lado para o outro na frente de todas as mulheres dentro daquela sala. - Enquanto milhares de homens tentam se safar dessa responsabilidade, vocês estão indo por vontade própria. - ela diz parando no meio do palco e olha para o rosto de várias presentes. - É um orgulho para nossa nação americana. Porém eu gostaria de adverti-las a tempo, aqui e agora, sobre o que irão ver por lá. Todas têm o tempo enquanto estiverem aqui de desistir e voltar para suas casinhas e ter sua vida de mordomia.
0
Comente!x

  Não era possível ouvir nem um pio dentro da sala. A soldada então, ao ver que ninguém se mexera para sair da sala, acena com a cabeça para outras mulheres de uniforme, que apagam as luzes e ligam um projetor, mostrando vídeos de cenas da guerra que estava acontecendo no Oriente Médio. Pessoas mortas, corpos mutilados, crianças chorando desesperadas, mulheres agachadas sobre o corpo de seu enteado... %Susan% sente seu estômago embrulhar. Sabia o que era aquilo. Sabia o que era perder alguém querido. E era por essa razão que estava ali. Aperta o álbum de bolso guardado no meio de seu casaco que estava pousado em seu colo.
0
Comente!x

  Ela sentia algumas mulheres se levantarem e se retirarem da sala, umas saindo com a cabeça baixa, decepcionadas consigo mesmas e outras saindo correndo com as mãos na boca, provavelmente indo procurar algum banheiro mais próximo para vomitar. %Susan% não estava nem um pouco enjoada. Queria ir logo para lá, queria logo ajudar a todos. Queria logo sentir a emoção e esquecer %Joel%.
0
Comente!x

  Arregala os olhos mais para si do que para o que estava assistindo. Pela primeira vez em três meses desde que ele se fora pensara em esquecê-lo. Aperta ainda mais o álbum em seu colo. Não podia esquecer %Joel%. Nunca.
0
Comente!x

  Passa-se quarenta minutos e era possível ver metade do tanto de mulheres que haviam dentro da sala. A soldada volta ao palco, olhando cada uma das que ficaram.
0
Comente!x

  - Muito bem. Espero que saibam o que estão fazendo. - diz séria. - O que menos precisamos são pessoas que desistem quando já estão lá. Uma vez que você pisa em terras afeganistãs não há como voltar. À não ser em um ano.
0
Comente!x

  - Um ano? - uma das mulheres grita surpresa.
0
Comente!x

  - Esperava que fosse o quê? Seis meses? Sete? - a soldada responde rudemente. Ninguém diz nada. - Isso não é um emprego qualquer. Sua vida está correndo risco.
0
Comente!x

  - Mas nós não vamos lá para cuidarmos dos feridos? - %Susan% pergunta confusa. As soldadas riem e ela sente o rosto queimar.
0
Comente!x

  - Você acha mesmo que os terroristas ligam para quem cuida e quem mata? - a soldada olha para a garota, que encolhe. - Não, eles querem mais é que todos morram, de acordo com o Alá deles. - mais risos das soldadas. - Se acha que irá ficar num local fechado e protegido, é melhor dar meia-volta menina. Lá até o Papa corre risco de vida.
0
Comente!x

  %Susan% não se move e tampouco desvia o olhar dos olhos da soldada que abre um pequeno sorriso debochado e se vira para a sala.
0
Comente!x

  - Se há alguém que quer desistir, agora é o momento. A partir do próximo minuto não será permitido a retirada de mais ninguém e a obrigação do alistamento. É sua última chance.
0
Comente!x

  Mais duas ou três, talvez até quatro ou cinco mulheres se levantaram rapidamente, saindo. No fim, não ficara mais do que trinta mulheres dentro da sala que no início sequer cabia todas as que gostariam de se alistar.
0
Comente!x

  - Fora o que eu imaginei. - a mulher diz olhando para todas as trinta. - Muito bem, façam uma fila indiana aqui. Vamos começar com essa droga.
0
Comente!x

  Uma por uma as mulheres foram completando fichas com seus dados cadastrais e tirando uma foto. Calada, %Susan% fizera tudo o que lhe fora mandado. Revistaram-lhe tudo. Pediram-lhe para tirar a roupa para análise. Fizeram tudo o que deveriam fazer, menos cortar-lhe o cabelo. Não iriam cortar o cabelo. Mulheres não necessitavam cortar o cabelo, desde que o mantivesse preso.
0
Comente!x

  - Vocês vão passar os próximos cinco dias em treinamento numa base militar à alguns quilômetros daqui. Em seguida partirão para o Afeganistão. - a soldada diz de frente para todas as mulheres. - Nos vemos no avião. - e se vira, saindo da sala.
0
Comente!x

  - Vocês irão receber um colar com uma pequena placa de metal, onde não poderão retirar por nada na vida. É o código de vocês, serão chamadas por esse número a partir de agora. - uma outra soldada, um pouco menos forte e mais baixa dizia alto para que todas ouvissem. - Seus uniformes serão entregues junto com o colar.
0
Comente!x

  Lentamente as mulheres recebem seus novos pertences e então seguem para uma van. %Susan% pára a frente do automóvel. Pega a si mesma lembrando de %Joel% entrando numa igual há meio ano atrás. Seu estômago embrulha.
0
Comente!x

  - Algum problema? - uma soldada diz séria ao seu lado e ela dá um pequeno pulo de susto.
0
Comente!x

  - Não, desculpe. - e caminha para dentro da van, se sentando ao lado de uma garota que aparentava ser da sua idade. Loira, os olhos mel e as sardas nas maçãs. Olha para ela e abre um pequeno sorriso.
0
Comente!x

  - Ansiosa? - ela pergunta. %Susan% concorda. - É, eu também. Nem acredito que estou fazendo isso. Sou Sophie. - ela levanta a mão para cumprimentá-la.
0
Comente!x

  - %Susan%. - sorri pequeno para a loira.
0
Comente!x

  - Se alistou escondida? - a garota pergunta olhando interessada para a que seria sua nova e única amizade do próximo ano. %Susan% nega com a cabeça. - Sorte sua. Meus pais eram totalmente contra meu alistamento. Mas eu nasci para isso, sabe, cuidar das pessoas e tudo mais. Ir para lá.
0
Comente!x

  %Susan% concorda com a cabeça.
0
Comente!x

  - Eu não conseguiria dormir sossegada se não me alistasse. É como criança em noite de natal. Fica agitada.
0
Comente!x

  E até chegar na base, Sophie não parara de falar um minuto. Duas horas de viagem. Havia certos momentos que era possível ouvir apenas a ela e mais ninguém. Mas %Susan% gostava. Ter com o que se distrair. Ao chegar na base, fora recepcionada por uma mulher idosa, porém com uma aparência séria e perigosa. Olha uma por uma analisando cada um dos perfis que chegara à sua base. Fala por alguns minutos sobre os tipos de treinamento que elas teriam. Resistência, rapidez, o que fazer num momento de emergência, como lidar com os desesperados. Aonde direcionar um corpo morto ou um caso perdido.
0
Comente!x

  Depois de algumas dicas e mostrando as salas de treinamento, todas foram mandadas para seus quartos. Sophie pedira para dividir com %Susan%, já que as duas estavam mais chegadas. A outra sequer reclamara. Gostara de Sophie, apesar de falar demais. Parecia entender de tudo sobre enfermagem. %Susan% aprenderia muitas coisas com ela. Tomaram um banho e seguiram para o refeitório.
0
Comente!x

  - Então. - Sophie diz enquanto as duas se sentavam numa mesa separada das outras. Aparentemente as amizades já estavam feitas e cada grupo de mulheres sentava em um canto do refeitório, o que fez com que as duas pudessem ter uma mesa só para si. - Nós só falamos de mim. Me conte sobre você. Por que está aqui?
0
Comente!x

  %Susan% olha para a garota e resolve comer sua sobremesa. Pega o pote de pudim de frutas vermelhas e abre o selo de papel alumínio, pegando a colher e enfiando uma colher na boca. Olha para Sophie, que a olhava com seus enormes olhos mel em sua direção ansiosa por uma resposta. Suspira.
0
Comente!x

  - Eu tenho um namorado... Tinha. - ela se auto-corrige. Sophie se encosta no encosto de sua cadeira interessada. - O nome dele era %Joel%. Há seis meses ele fora recrutado para a guerra. Ficaria por três meses e então voltaria. Era apenas uma questão de última necessidade do governo. - ela olhava para o doce e brincava com o conteúdo. - Na volta, um missel atingiu o avião que o trazia de volta para casa. - seu estômago volta a embrulhar e seus olhos lacrimejar. Ainda era sensível demais com essa situação. Suspira e limpa os olhos antes que as lágrimas escorressem por seu rosto mais uma vez. - Numa das cartas que ele me mandou. A última antes de voltar, ele disse que as mulheres que estavam na guerra tinham o motivo de não terem mais uma razão para viverem uma vida normal, uma vez que o amor da vida delas haviam morrido durante a guerra. Eu não sei porque... Quando re-li aquilo... Foi como se... Se fosse um sinal, sabe? - ela levanta o olhar para Sophie, que a olhava com pena. - Então decidi me alistar.
0
Comente!x

  - Nossa... Eu... Sinto muito. - Sophie diz baixo e %Susan% balança a cabeça. - Você não sente, sei lá, que é inesperado demais e ousado demais ir para lá porque ele se foi?
0
Comente!x

  - Não. - %Susan% responde certa. - Se eu ficasse lá... Se eu tentasse ter uma vida normal... Eu não conseguiria. %Joel% era tudo para mim. - ela olha para as mãos e deposita o doce na bandeja. - Eu só quero fazer algo que me faça sentir viva. E não ficar pensando nele porque dói. Muito.
0
Comente!x

  Sophie concordava com a cabeça. Sorri para %Susan% que devolve um pequeno sorriso e olha para o céu afora. Hoje a estrela estava lá. Brilhando. Sorri mais uma vez. %Joel% estava ali para apoiá-la. Estava ali para ela, como prometera que estaria para sempre.
0
Comente!x

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Todos os comentários (0)
×

Comentários

Você não pode copiar o conteúdo desta página

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x