War

  - Ela não se alimenta direito, não sai, não tem vontade de fazer nada. Tudo isso desde que o namorado morrera há três meses! - a mãe dizia desesperada para o médico da família, que olhava para a garota enquanto esta dormia.

  - O baque da perda de %Joel% fora intenso. - o pai falava preocupado ao lado da mulher. - Era para ele voltar no dia em que ela recebera a notícia. Os dois eram imensamente apegados, não sei se o senhor se lembra.

  O profissional concorda com a cabeça.

  - Me lembro claramente dos dois juntos. É uma das poucas cenas de pacientes que me esforço para não esquecer. Seria inacreditável se apenas ouvíssemos sobre o relacionamento dos dois. Não são todos que encontram o amor da vida tão cedo assim.

  Os pais concordavam com a cabeça. Era visível o quão %Susan% havia enfraquecido desde que soubera da morte de %Joel%. Ainda não conseguia acreditar. Não conseguia convencer a si mesmo de que ele nunca mais voltaria. Que ela nunca mais o tocaria. Que nunca mais ouviria sua voz tentando confortá-la de que tudo dará certo.

  O funeral do garoto não fora nada muito bom, pois não havia um corpo. %Joel% estava em algum lugar a caminho dos Estados Unidos.

  %Susan% não conseguia parar de sentir sua falta. Era como se seu corpo ainda estivesse esperando por ele. A saudade aumentava a cada dia que passava. E cada vez que ela pensava que ele não iria voltar, mais o sentimento crescia.

  Ao encontrar alguém parecido com %Joel% na rua, %Susan% se segurava para não correr até ele e o abraçar. Não entendia porque Deus o tira-la dela. Estava tudo tão bem. Tudo tão certo.

  - Ela não está doente, está depressiva. - o médico diz calmo para os pais. - E não irá melhorar até ela decidir por ela mesma que tem de seguir em frente.

  A mãe suspira exausta.

  - Não há nenhuma maneira--

  - Um psicólogo talvez. Sua filha está perturbada com a falta da presença do garoto.

  Os pais se entreolham. O doutor tinha razão. Ela não podia mais perder a vida por alguém que já não estava mais vivo.

  - Já separou tudo? - sua mãe lhe atormentara o dia inteiro para %Susan% juntar tudo o que lembrava %Joel% do quarto da garota. Porém ela não entendia quetudo lembrava ele. Tudo. A parede, a janela, o aroma, a cama. Não havia o que não lembrasse ele. Ao se olhar no espelho se lembrava dele.

  - Quase. - ela diz sem tom, pegando todas as cartas que havia recebido desde que conhecera %Joel%. Abre a mais recente.

  "As mulheres que são soldadas aqui não pensam em voltar para casa e terem uma vida normal de mulher. Meu colega, Adam Mizzi de Washington, disse que elas se alistaram depois que os homens que amavam terem morrido durante a guerra. A razão de viver delas já não existia mais."

  %Susan% levanta a cabeça e olha para o céu escurecendo por detrás da janela. Olha para a foto de %Joel% e ela dentro da caixa. Sua razão de viver já não existia mais.

  - NUNCA! - o pai berrava para a filha no almoço do dia seguinte. - VOCÊ ESTÁ LOUCA?

  %Susan% havia contado sua vontade de se alistar para o exército aos pais, que imediatamente expressaram sua opinião contra o desejo da filha.

  - %Susan%, querida. - a mãe dizia trêmula com a idéia da filha. - Sei que está assim por %Joel%, mas tem de deixar isso para trás--

  - Não tem nada a ver com %Joel%. - ela mente. - Eu só não quero ficar parada aqui. Se tem mulher lá que ajuda, por que não posso ajudar também?

  - Há outras maneiras melhores de ajudar do que se alistar no exército. - o pai dizia sério.

  %Susan% nada responde. Nada tiraria essa idéia de sua cabeça. Sem dizer mais nada, sai da mesa de almoço e segue até seu quarto, a trancando.

  Não seriam seus pais que iriam a impedir de fazer o que achava que tinha de fazer. Juntara o tanto de roupa que achava que deveria levar e esperou dar 4 da manhã. Pegara o mini-álbum que não tivera coragem de jogar fora junto com as outras coisas que juntara que lembrava %Joel%. Fora o mini-álbum que ele lhe dera antes de ir para o Afeganistão e que ele mesmo havia feito para ela.

  - Toma. - ele dá um pequeno pacote retângulo para a namorada enquanto estavam deitados na grama do quintal da casa dela, encarando o céu estrelado.

  - Não sabia que era para trocarmos presentes. - ela ri pegando o pacote e o rasgando.

  - Não era. Eu apenas achei que seria bom te dar isso.

  Ela diminui o sorriso ao ver o que era. Se senta para ver melhor e sente-o se sentar ao seu lado para ver junto dela e analisar suas expressões.

  - Isso...

  - É só um álbum de bolso. Sabe. Para você levar consigo sempre e não ficar trancada em casa só para ficar me vendo. - ele faz uma cara convencida a fazendo rir.

  - Muito inteligente.

  - Fiz um pra mim também. - ele sorriu. - Para levar comigo.

  Ela sorria encarando seu rosto. Acaricia a bochecha do namorado que fecha os olhos para sentir melhor o toque. Se aproxima lentamente dele e fecha os próprios olhos, sentindo a respiração de %Joel% e sua mão em sua cintura.

  - Eu te amo. - ela sussurra e ele abre um sorriso ainda maior.

  - Não tanto quanto eu te amo. - ele sela os lábios com os dela logo em seguida, a deitando no chão novamente.

  Ali estavam diversas fotos dos dois. Felizes. Despreparados para o futuro terrível que os aguardava. Suspira e olha para o céu. Seu coração reclama de saudades mais uma vez. Abre a janela do quarto e pula, correndo para longe da casa e deixando um bilhete. Tinha 20 anos, era grande o suficiente para responder por seus atos. Mesmo que um deles seja morrer.