Você É… A Metade Do Meu Chocolate

Faltava cerca de dois dias para o Dia dos Namorados acontecer e... Ah, certo, eu não tinha um namorado. Mas eu estava preocupada com isso, tinha esperanças que Damm me tirasse do status 'solteira'. Bom, Adam era meu companheiro de balada e coisa e tal, nós trocávamos alguns beijos por aí, nada demais, infelizmente.

  Eu caminhava pela rua quando meus olhos se fixaram num pequeno estabelecimento que acabava de abrir suas portas já com uma promoção interessante que várias pessoas aproveitavam, abarrotando o lugar. Era a loja especializada em chocolates: Doce Tentação.

  A Doce Tentação, está localizada na rua Caroline, uma pacata rua transversal à avenida mais movimentada da cidade onde está situado o hotel Amakayaha. A fachada é branca e em sua vitrine há o nome da loja em vermelho e dourado.

  Fiquei curiosa com o movimento no local e resolvi que iria verificar o motivo de tudo aquilo. Depois de passar por algumas pessoas curiosas, consegui adentrar o local. Dentro da loja consegui ver o balcão de vidro, que tinha amostras das diversas peças comercializadas ali. No centro do lugar havia uma cristaleira de vidro que continha alguns chocolates, aparentemente o motivo do alvoroço todo.

  — Com licença senhor, o que está havendo? — perguntei a um senhor de meia idade que se encontrava atarantado tentando dar conta de todas aquelas pessoas.

  — Oh, estamos com uma promoção de Dia dos Namorados e inauguração! — Ele sorriu para mim mesmo tendo tantas coisas para fazer. — Nós lhe damos um chocolate em formato de meio coração, o mesmo contém uma frase. A pessoa que encontrar sua outra metade ganhará um jantar romântico no restaurante Amakayaha. Obviamente apenas os solteiros podem participar. — Sorriu novamente agora pegando um pacotinho rosa que continha o tal chocolate. — Gostaria de um? — perguntou me oferecendo o pacote.

  — Não, obrigada, acho que estou quase me arranjando! — Sorri radiante e o senhor riu.

  — Isso é ótimo, querida! Sou Steven, caso mude de ideia. — Piscou para mim e logo se voltou para uma garota que queria um dos chocolates.

  Eu saí da loja rindo da boa ideia dos donos do lugar, era realmente criativo! Caminhei pela avenida movimentada da cidade e logo passei pelo restaurante vinculado à promoção. Ele estava cheio de casais que aparentemente haviam gostado da ideia de um jantar — ou almoço, encarando o horário — romântico no Amakayaha. Eu suspirei, será que Damm me levaria até lá na noite do Dia dos Namorados mesmo que não estivéssemos participando da promoção?

  Eu ri bobamente com a ideia, o que um coração apaixonado não sonha?

  Mas é claro que alegria de sonhador dura pouco e era isso que eu acabava de perceber. Enquanto passava por uma movimentada praça na avenida, pude encarar um casal em especial que se destacava entre os outros pelo fato de eu conhecer o rapaz que agarrava descaradamente a garota: Adam.

  Meu primeiro pensamento foi: Não pode ser ele, estávamos quase namorando!

  O meu segundo foi: Vou matar essa piranha!

  Meu terceiro: Vou matar é os dois!

  E o meu quarto e predominante: Sou uma idiota.

  Eu não conseguia acreditar no que meus olhos acabavam de ver! Me senti arrasada e com os sonhos despedaçados. Ao invés de seguir caminho, eu dei meia volta e retornei à rua Caroline para me sentar desoladamente na guia da calçada em frente à loja Doce Tentação.

  Com toda a certeza eu era um contraste em meio àquela multidão de pessoas empolgadas e esperançosas para encontrar sua cara-metade. Eu estava deprimida por ter acabado de perder o que pensei que seria a minha.

  — Bem, querida, gostaria de um chocolate agora? — o senhor, Steven, me perguntou oferecendo outro pacotinho rosa.

  — Acho que vou precisar de um estoque inteiro para ter alguma sorte nesse Dia dos Namorados... — murmurei aceitando o que me era oferecido.

  — Ora, querida, não perca a fé na magia desta data! — Steven exclamou empolgado. — Vou lhe contar um segredo... — Ele se abaixou em minha direção e cochichou. — Nossos chocolates são mágicos, é só acreditar. — Sorriu se afastando e entrando em sua loja novamente.

  Fiquei encarando aquelas pessoas alegres a minha volta, e mais do que nunca eu quis acreditar que aquilo fosse verdade. O fato dos chocolates serem mágicos, quer dizer.

  Suspirei e abri meu pacote rosa, que junto com o chocolate trazia uma mensagem: "De que vale o delírio dos olhos, se eles se fecham quando os lábios se tocam?"

  Sorri com aquela frase me lembrando dos momentos que eu havia passado com Adam, mas logo a cena que eu havia presenciado se tornou mais nítida que qualquer outro pensamento, o que me fez levantar amassar o papel com a frase e o jogar onde eu antes estava sentada.

  Que tolice! E eu ainda queria acreditar naquelas coisas, faça me o favor!

  Com passos agora irritados eu me afastei da multidão que tentava encontrar suas metades. Caminhei na direção contrária da que tinha vindo e comecei a andar para casa, sentindo a desolação voltar a mim.

  Eu sabia que ia começar a chorar a qualquer momento e esse tal momento seria aquele, se alguém não começasse a gritar pela rua um: "Hey, garota, espera!"

  Mas quem era o infeliz que estava berrando daquele jeito? Por que simplesmente não chamava pelo nome da tal garota?!

  Resolvi me virar para ver o que estava acontecendo e foi quando percebi que um rapaz corria em minha direção, já começando a ficar ofegante.

  Eu encarei a cena com curiosidade. Não conhecia aquele cara, pelo menos não que eu me lembrasse.

  Quando viu que eu havia parado, ele diminuiu o ritmo de sua corrida e, ao chegar perto de mim, me estendeu um pedaço de papel amassado enquanto tentava recuperar o fôlego.

  Peguei o papel e o li, era apenas a mensagem que eu havia deixado para trás na loja.

  — Mas o que... — eu ia começar a questionar quando ele me estendeu outro pedaço de papel, que eu mais uma vez peguei para ler.

  Eu não estava entendendo direito o que estava acontecendo, quando o rapaz, que agora eu pude encarar bem e constatar que era bastante provido de beleza, começou a dizer.

  — Bem, eu sou %Duncan%, e... — ele parou de falar tentando pensar na próxima palavra. — Bom, e você é... A metade do meu chocolate — concluiu mostrando seu chocolate em formato de meio coração envolto em um pacote azul.

  Preciso admitir que aquela foi a frase mais boba que eu já tinha ouvido em toda a minha vida, mas ao mesmo tempo foi tão fofa!

  Sorri timidamente para o rapaz que se apresentara como %Duncan% e ele, com um sorriso quase que igualmente tímido, estendeu a mão que eu aceitei com um sentimento estranho de realização...

  Eu caminhava de mãos dadas com %Duncan% pela rua Caroline em pleno Dia dos Namorados. Nós tínhamos resolvido dar uma passada na Doce Tentação para relembrar os velhos tempos. A loja agora fazia enorme sucesso, principalmente naquele dia do ano, já que os ganhadores da primeira promoção — ou seja, %Duncan% e eu — haviam mesmo encontrado suas metades.

  Eu caminhava encarando a tão conhecida multidão quando notei uma garota tristonha e isolada, o que fez com que eu me enxergasse nela há um ano.

  Parei bruscamente, o que fez %Duncan% me encarar confuso.

  — O que foi, %Lessa%? — perguntou preocupado ao me ver encarar um ponto fixo sem piscar.

  — Aquela menina... — Apontei um tanto descaradamente.

  — O que tem ela?

  — Me espera aqui, eu já volto! — exclamei já me afastando para me enfiar em meio à multidão de pessoas desesperadas para encontrar suas metades.

  Entrei com certa dificuldade na loja e fui em direção ao balcão nos fundos, onde agora os chocolates da promoção se encontravam.

  — Oh, %Alessa%! Que bom vê-la aqui! — Ouvi Alicia, a dona da loja e esposa de Steven, me saudar. — Veio em busca de algum chocolate especial para %Duncan%? — Ela sorriu.

  — Na verdade, eu queria um daquele ali — murmurei apontando para os chocolates da promoção.

  — Ora, mas o que houve? Você e %Duncan%...

  — Não, estamos perfeitamente bem, senhora Staller, mas o chocolate não é exatamente para mim... — murmurei um tanto sem jeito. — É para uma boa ação. — Sorri.

  — Hmm... Bem, então pode pegar, querida! E depois me conte se sua boa ação rendeu bons frutos! — ela exclamou animada.

  — Obrigada, senhora Staller! E acredite, se der certo a senhora será uma das primeiras a saber! — Sorri agradecida e saí da loja com alguma dificuldade.

  Encontrei a garota que lembrava a mim ainda sentada na calçada.

  — Oi! — Sorri me agachando ao seu lado, ela me encarou confusa.

  — Ahn... Oi — respondeu não muito animada.

  — Já pegou um chocolate da promoção? — perguntei como quem não quer nada.

  — Não, não acredito muito que meu Dia dos Namorados possa melhorar, mesmo com chocolate... — ela murmurou triste.

  — Toma. — Estendi o pacotinho rosa para ela. — Acredite, esses chocolates são mágicos! — Sorri e deixei o pacote nas mãos da menina, logo me levantando procurando por %Duncan%, que percebi que me encarava desde que eu havia saído da loja.

  — Certo, o que exatamente foi isso? — ele perguntou erguendo uma das sobrancelhas, demonstrando sua confusão e curiosidade.

  — Shh! — Calei-o com o indicador ao perceber que um garoto de aproximava da menina triste.

  Os dois trocaram algumas palavras e logo a garota sorriu abraçando-o.

  Então eu sorri e tirei meu dedo dos lábios de %Duncan%.

  — Às vezes precisamos dar um empurrãozinho para ajudar o amor a encontrar o lugar certo. — Eu ri me voltando a ele.

  — Sabia que você é a metade do meu chocolate mais doida que conheço? — ele murmurou me beijando a testa.

  — Eu sou a única metade do seu chocolate, seu bobinho! — sussurrei antes de selar nossos lábios com um beijo.