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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Visium

Escrita porPams
Revisada por Lelen

3 • Dons

Tempo estimado de leitura: 33 minutos

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem... 
O ato de ver não é uma coisa natural.
[ Rubem Alves ]

  Todos nascem com um dom específico, por mais que em alguns casos levem anos para descobrir qual é. Contudo, aquela habilidade natural que carregamos desde o nascimento e desenvolvemos ao longo da vida, não se perde e nem se é roubado, e somente nós mesmos podemos exercer. E este dom sempre estará vinculado a um dos cinco sentidos, seja em sua voz, seus ouvidos, suas mãos, seu olfato e o mais intrigante de todos, sua visão.
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Primavera de 2014

  A primavera é sem dúvida a estação mais perfumada do ano, trazendo a sensação de renovo e recomeço para a natureza e também algumas pessoas. Este foi o caso do tenente recém-transferido de Seattle para o 25º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Chicago, Gregori Watts e do seu filho incompreendido e problemático %Jeremy%. A conturbada família Watts havia perdido o mais importante membro há três meses, a delicada senhora Olivia Watts, teve seus anos de vida ceifados por um câncer silencioso e devastador. Trazendo assim, a frieza e distanciamento entre pai e filho.
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  Mudar é sempre necessário, entretanto naquelas circunstâncias, pedir transferência e estar à frente do Esquadrão de Resgate º3, foi um plano de contingência para afastar o filho das más influências e se mudar para um novo ambiente que pudesse proporcionar novas perspectivas de vida. Mesmo com as divergências de pensamento entre Gregori e %Jeremy%, o pai havia prometido à esposa em seus últimos minutos, que seria o mais compreensível com o adolescente e não desistiria daquela família. Assim, após longas horas atravessando o país, ambos finalmente chegaram no pequeno apartamento que o bombeiro conseguiu por indicação do chefe de batalhão, senhor Wallace Brown.
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  — Quer ajuda com suas malas? — perguntou Gregori, assim que desceram do carro em frente ao prédio, e prosseguiu para abrir o porta-malas.
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  — Não — disse %Jeremy% com seu tom baixo e áspero de sempre ao ajustar sua mochila nas costas e pegar a mala de viagem juntamente com a capa da guitarra.
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  O pai soltou um suspiro cansado enquanto observava seu filho se afastar em direção à porta de entrada. Com um árduo caminho para adaptar-se à nova realidade pela frente, ele pegou sua mala e encaixou a alça transversal no ombro, em seguida retirou as três caixas do porta-malas, o fechando em seguida. Por uma decisão unânime, haviam vendido a maior parte das coisas que tinham, arrecadando assim uma boa quantia em dinheiro para a nova cidade. Foi sorte o apartamento já estar mobiliado com o básico, tendo apenas os eletrodomésticos portáteis para serem inseridos por Watts.
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  Subindo os degraus a passos lentos, carregando a mochila de um lado, a guitarra do outro e a mala na mão esquerda, %Jeremy% mantinha sua atenção no celular em sua outra mão livre, escolhendo a próxima música de sua playlist. Alheio ao mundo a sua volta, nem mesmo havia percebido movimentações no corredor do seu andar. A poucos metros dele, estava a doce %Amelia% revirando sua mochila pela sexta vez, sem entender como perdera as chaves.
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  — Não acredito… — sussurrou ela, remexendo o bolso do fundo. — Onde coloquei, tenho certeza que não te perdi.
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  Ambos os adolescentes, distraídos em suas preocupações ou distrações, não perceberam a presença um do outro, ocasionando assim um sutil esbarrão, que deixara %Mia% estática de imediato. Um frio passou pelo corpo da garota, deixando-a com o coração acelerado sem motivos lógicos. No impacto, tanto a sua mochila como a guitarra de %Jeremy%, foram ao chão.
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  — Me desculpe, estava… — %Mia% se abaixou para pegar a capa com a guitarra, enquanto involuntariamente ele pegou sua mochila. 
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  — Não tem problema. — %Jeremy% manteve sua voz grossa e seca, e sem que a garota pudesse reagir aos seus reflexos, ele pegou sua guitarra entregando a mochila no mesmo instante.
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  Com o corpo erguido, ela nem mesmo conseguiu reagir ao momento da troca dos objetos, assim que segurou sua mochila e finalmente pôde olhar para ele, %Jeremy% já estava de costas para ela seguindo para a porta do seu apartamento, que curiosamente era do lado. %Amelia% ficou parada o observando até que percebeu outra presença, e se virando avistou a silhueta de Gregori finalizando os degraus da escada.
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  — Boa tarde — disse o homem ao passar por ela, já percebendo a porta do seu apartamento aberta.
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  — Boa tarde — respondeu ela, observando a insígnia dos bombeiros na blusa que usava.
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  — Você viu um rapaz passando por aqui? — indagou o homem, ao parar um pouco mais à frente e se virar para lhe perguntar.
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  Ela assentiu, novamente sentindo um frio na espinha seguido de uma sensação estranha de medo e solidão mexendo sutilmente com suas emoções. Isso a assustou a ponto de a impulsionar fisicamente para se retirar dali, então %Amelia% se afastou mais e seguiu em direção às escadas, desceu-as às pressas e saiu correndo pela rua em direção a DP, em que John trabalha. Ainda no corredor, Gregori não entendera o motivo para que a garota saísse com tanta pressa, porém, não era de sua conta. Sua atenção voltou para a porta aberta e passando por ela, entrou no apartamento fechando-a em seguida. Para um recomeço, sua nova residência estava de acordo com seu orçamento e se localizava próximo ao trabalho, sendo mais um ponto positivo motivacional.
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   %Jeremy% já estava no quarto que seria dele, de portas fechadas e jogado em sua cama, com os fones no ouvido e encarando o teto, com seus pensamentos bem distantes de sua realidade. Na sala, Gregori deixou as caixas próximas do sofá, junto com sua mala, e caminhou até o corredor, parando em frente à porta do quarto do filho. Ele queria insistir mais um pouco, pelo menos um diálogo básico do primeiro dia em uma nova cidade, porém, ao pensar com mais cuidado, deu meia volta e seguiu para a cozinha a fim de conferir como estava a geladeira.
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  — Como eu imaginei… — disse ele em um suspiro fraco, vendo-a apenas com algumas garrafas de água. — O síndico disse que estaria cheia quando chegasse.
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  Gregori procurou um caderno em sua mala e escreveu um bilhete ao filho, informando sua breve saída até o mercado.
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  As horas se passaram e finalmente %Jeremy% saiu do quarto, ao passar pela sala notou as caixas ainda do lado do sofá, o que o deixou admirado. Seu pai, por ter tido um treinamento militar em seus anos servindo ao exército, era considerado como o general da organização, um apelido “carinhoso” dado pela esposa. Para o adolescente, era mais uma forma do pai fazer comparativos entre os dois e mostrar que era melhor em tudo.
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  — Fui ao mercado — sussurrou %Jeremy% , ao ler o bilhete. — Poderia não voltar nunca mais.
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  Ele caminhou até a geladeira e retirou uma das garrafas, despejando a água no copo, tomou-a em duas goladas. Ao dar impulso para voltar ao quarto, seu celular vibrou no bolso, indicando uma mensagem de sua namorada Clair, já declarando estar sentindo sua falta. Ele ignorou inicialmente, mas depois começou a digitar uma mensagem de resposta.
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Ainda não completou vinte e quatro horas.

Não importa, %Jin% , já sinto sua falta.
Como é Chicago?

Mais quente e aparentemente menos chuvosa.

  Ele respirou fundo, voltando a cabeça para trás e fechando os olhos. Assim como seu grupo de amigos encrenqueiros, seu namoro com Clair não era bem visto por seu pai, um dos motivos pelos quais ele continuava a sair com ela, completando seis meses de relacionamento oficial. Assim que %Jeremy% abriu os olhos, desligou a tela e colocou o aparelho de volta no bolso, em um piscar de olhos, seu pai adentrou o apartamento com algumas sacolas na mão e se admirou de vê-lo fora do quarto.
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  — Olha só quem saiu da toca — brincou ele, mantendo o tom sério. — Está com fome.
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  — Talvez — respondeu %Jeremy%, retirando os fones do ouvido e se encostando na parede para observá-lo.
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  — Não vai voltar para o quarto? — indagou o pai, percebendo sua permanência ali.
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  — Se quiser eu volto. — Áspero e direto.
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  Gregori colocou as sacolas em cima da bancada e o olhou, reunindo o máximo de paciência possível dentro de si para não terem a primeira discussão na casa nova por algo insignificante.
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  — Me ajuda guardando a compra? — pediu o bom, num tom mais brando e olhar sereno. — Assim o jantar fica pronto mais rápido.
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  O argumento era válido, então %Jeremy% assentiu com a cabeça e se aproximou das sacolas, olhando superficialmente o conteúdo de dentro. Voltando os fones para os ouvidos, enquanto abria os armários para guardar a compra, manteve sua atenção na tarefa solicitada. Já o pai, com um sorriso escondido, pegou os ingredientes que se tornaram um espaguete à bolonhesa. 
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  Por mais que o silêncio fosse o morador mais evidente naquele pequeno espaço, assim que terminou de guardar as compras, o adolescente permaneceu na área da cozinha observando o pai. Sua mente não se conteve em recordar algumas memórias com a mãe, dos momentos felizes que tiveram e de como o sorriso dela transmitia tanta paz ao filho. Isso o fez refletir sobre quando as divergências de opiniões entre ele e o pai se iniciaram, trazendo as discussões constantes que tanto chatearam sua mãe. Talvez por não saberem lidar com a doença do pilar da família, que cada um tentou à sua maneira não dando conta do turbilhão de emoções, no fundo ferindo o outro e a si mesmos.
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  — Está gostoso pelo menos? — Gregori puxou assunto, vendo o olhar baixo do filho concentrado no prato de macarrão.
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  — Minha opinião importa agora? — Seu tom amargo soou com naturalidade.
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  — %Jeremy%… — O pai respirou fundo, sabendo que o esforço maior certamente seria dele, que tanto o criticou com o passar dos meses. — Não preciso ser o seu melhor amigo, mas sou o seu pai e a única coisa que quero é que nossa convivência seja em paz e tranquila.
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  Gregori não queria dizer a palavra suportável. Mesmo não sendo do tipo carinhoso, ele amava seu filho, só não sabia demonstrar por diversos fatores. %Jeremy% manteve sua cabeça baixa e a atenção na comida, refletindo em suas palavras por instantes.
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  — Não ficou salgada desta vez — comentou o filho, num tom engraçado.
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  Gregori ficou sem reação de imediato, então começou a rir com leveza.
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  — Sim, acho que desta vez eu acertei no sal — concordou ele, rindo um pouco mais.
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  — Deixa que eu cozinho aqui, já que estamos na casa nova. — %Jeremy% se ofereceu, não percebendo o grau de importância que tinha para o pai.
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  — Com os estudos, acha que vai dar conta? — indagou Gregori, impressionado.
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  — Não vamos almoçar aqui, você vai passar a maior parte do tempo no batalhão, posso pelo menos fazer o jantar… — O rapaz recordou mais uma lembrança da mãe. — A mamãe iria querer isso, ela sabia que a cozinha não era o seu forte.
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  — Que bom que nasceu mais parecido com ela — comentou o homem, voltando a atenção para a comida. — Sua mãe tinha o dom para cozinhar, tudo o que fazia tinha um gosto especial.
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  — Sim. — %Jeremy% concordou, sentindo uma ponta de tristeza, porém segurando suas emoções.
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  — Quer que eu te leve para a escola amanhã? — perguntou Gregori, parcialmente ansioso pelo dia seguinte. — Sua escola fica a três quadras do batalhão.
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  — Não precisa, posso ir de ônibus — recusou o menino.
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  — Tem certeza? — insistiu o pai. — Eu vou de carro.
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  — Tenho. — %Jeremy% deu a última garfada e se levantou, indo para a pia.
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  — Ensino médio é complicado, é sempre bom causar uma boa impressão no primeiro dia de aula. — Gregori retirou as chaves do carro do bolso.
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  — Estou entrando na metade do ano letivo — argumentou ele, lavando o prato e colocando no escorredor. — Não preciso do carro emprestado.
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  — Mas eu insisto. — O pai colocou as chaves em cima da mesa, voltando a atenção para ele.
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   %Jeremy% apenas permaneceu em silêncio e se retirou da cozinha voltando ao quarto. O pai passou a mão no rosto, pela ansiedade e em partes aliviado por tudo ter terminado bem no primeiro dia. Com vestígios de insônia à vista, não deixou para o amanhã as coisas que poderia arrumar hoje, então retirou das caixas todos os objetos que levaram para Chicago, e foi organizando uma por uma em seu novo lugar.
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  Mais cedo naquele dia, ao chegar na 21ª DP, %Amelia% procurou por seu pai. Devido à ausência do detetive, a atendente Lola a conduziu até o escritório dele, para que pudesse aguardá-lo em privacidade. Foram longas horas, até que finalmente a porta se abriu e o olhar preocupado de um pai foi reconhecido por ela.
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  — %Amelia%, o que faz aqui? — perguntou ele, vendo o olhar temeroso dela. — O que aconteceu?
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  — Eu não sei… — Ela tentou se manter calma, deixando sua mente racional para analisar o que lhe tinha acontecido. — Eu tive uma sensação estranha essa tarde, meu coração acelerou e senti medo de que algo ruim fosse acontecer.
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  Não que a jovem já estivesse acostumada com suas visões realistas enquanto dormia, contudo, durante estes quatro anos que se seguiram, ela já havia se conformado com sua condição. Para se sentir um pouco melhor e não perder as esperanças, a doutora Gilmour havia lhe aconselhado a compartilhar o máximo de detalhes com o pai, a fim de ajudar as vítimas e salvá-las de alguma forma. Seus sonhos, que sempre surgiam com um espaço considerável de tempo entre a primeira visão e a data final, se tornaram pistas preciosas de grande auxílio para o pai que, em meio aos diversos casos, conseguiu salvar algumas vidas.
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  — Calma, querida. — Ele se aproximou dela e a abraçou, fazendo-a se sentir mais segura. — Eu estou aqui, e se for mais uma visão a caminho vamos conseguir encontrar a pessoa.
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  — Pai… — Ela se impulsionou para contar o restante.
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  — Sim? — Ele a olhou com carinho e um sorriso singelo no canto do rosto.
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   %Mia% retribuiu o sorriso. Seu pai já havia passado por tanta coisa com ela, e suas visões haviam causado tantas especulações de outros departamentos que, pensando melhor, não era uma boa ideia preocupá-lo ainda mais.
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  — Eu te amo — disse ela, voltando a abraçá-lo.
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  — Eu também te amo querida — disse ele, retribuindo o abraço com mais carinho ainda.
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   %Amelia% não iria contar sobre o gatilho que lhe despertou a sensação ruim. Porém, lá no fundo ela desconfiava que pudesse estar relacionado com o homem que cumprimentou no corredor, pois ocorreu no momento exato em que seus olhos cruzaram com os dele.
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  — Meu turno vai terminar em alguns minutos — anunciou John.
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  — Vamos para casa?! — perguntou ao assentir com a cabeça.
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  — Hum… — Ele pensou por um momento. — Não.
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  — Onde vamos então? — indagou a garota, curiosa.
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  — Uma surpresa. — Ele piscou de leve para a filha e seguiu em direção à sua mesa.
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  Não demorou minutos para que a porta se abrisse novamente e a policial Finn entrasse na sala com seu bom humor, em gargalhadas.
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  — Tia Margo — disse %Amelia% ao vê-la, dando um sorriso meigo.
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  — Olha só, nossa princesa aqui. — A policial se aproximou dela, lhe dando um abraço apertado. — O que faz aqui? Teve outro sonho?
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  Margareth havia sido a segunda pessoa a saber sobre o dom de %Amelia%. Sendo a melhor amiga e parceira de trabalho de John, ela precisou de uma semana e várias garrafas de cerveja para absorver a informação e lidar com a realidade. Ouvir a menina contando seus sonhos nos mínimos detalhes e depois visualizar a cena exatamente da mesma forma, lhe trouxeram muitos arrepios no corpo e também algumas noites sem dormir. Algo que também aconteceu com o casal Donson e a chefe da DP, capitã Lindsay Morattis.
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  — Não… — respondeu %Amelia% com certo cuidado para não a preocupar à toa. — Só acontece quando estou dormindo e já tem uma semana que não sonho com nada.
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  — Ah, que bom, é um alívio — disse a mulher, voltando à sua vibe animada. — Pois tenho novidades.
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  Seu olhar voltou para o amigo, deixando-o confuso.
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  — E que novidade seria? Suas férias? — perguntou ele, rindo baixo. — Já está com uma atrasada e já vai vencer a segunda.
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  — Não… Eu já fiz a requisição das minhas férias, não se preocupe, e a segunda vou vendê-las para conseguir pagar a hipoteca da casa. — A mulher fez uma careta de frustração. — Não imaginei que meu pai havia deixado tanta coisa sem pagar, suas dívidas estão me levando quase o salário todo.
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  — Eu lamento não poder ajudar. — John se sentiu impotente por não poder fazer muito pela amiga.
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  A situação financeira de Margareth conseguia ser bem pior que a dele, tendo que pagar as contas deixadas pelo pai que atualmente se encontrava internado em uma clínica de repouso, sofrendo da doença de Alzheimer. A hipoteca atrasada, as dívidas do pai com terceiros, gastos com remédios e a mensalidade da clínica, a deixava com o mínimo para sobreviver o mês e pagar a conta de luz. Suas refeições eram de graça, fornecidas pelo 25º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Chicago, uma cortesia do chefe Brown para a filha do seu grande amigo.
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  — Por favor, não me olhe assim — pediu ela, com olhar chateado. — Eu sei dos seus gastos com as consultas ao psicólogo, a hipoteca do apartamento e agora as aulas de confeitaria da nossa princesinha.
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  — Obrigado — sussurrou ele, assentindo.
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  — E por falar em aulas… — Margo voltou o olhar para a jovem. — O que se fez do meu bolo de nozes que prometeu semana passada?
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  — Bem… Ele não ficou muito bom e tive que jogar fora — explicou %Mia%, sentindo-se envergonhada pelo fracasso de sua receita.
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  — Que absurdo, jogar comida fora. — Margareth colocou a mão na cintura. — Da próxima vez, me deixe prová-lo antes de dizer que ficou ruim… Não me importo com a textura ou o sabor, é comida, eu como.
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  Ambos, pai e filha, riram da expressão da mulher.
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  — Você não disse a novidade — indagou John, ainda curioso.
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  — Ah, sim, verdade. — Lembrou ela, voltando à euforia. — Fomos convidados a um churrasco no 25º, neste sábado — anunciou ela, com sua forma abreviada, se referindo ao Batalhão do Corpo de Bombeiros, com o olhar de quem estaria em sua segunda casa.
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  — Você foi convidada? Ou toda a DP? — perguntou ele a procedência daquele convite.
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  O detetive Grimes sabia que sua capitã Morattis não se dava bem com o chefe Brown. Assuntos inacabados de relacionamentos passados, que ainda persistem em atrapalhar a boa convivência de ambas as equipes, deixando assim para Margareth a incumbência de fazer a ponte de ligação entre ambos.
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  — Todos os policiais envolvidos no resgate daquele acidente seguido de tiroteio no centro — explicou ela. — E como você foi o detetive responsável pelas investigações e eu a policial maravilha…
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  — Já entendi, Margo. — John soltou um suspiro fraco, voltando a olhar para filha. — Vamos, querida, ainda temos que passar em outro lugar antes de ir para casa.
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  — Verdade — concordou %Mia%, ao abraçar a policial novamente para se despedir.
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  — É confidencial ou eu posso saber para onde vão? — indagou ela, abraçando a menina, porém com a atenção no amigo.
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  — Nem mesmo eu sei para onde vamos — afirmou %Amelia%, rindo de leve.
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  — É confidencial — informou ele para a amiga e segurando a mão da filha. — Vamos %Mia%.
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  Margareth permaneceu em choque pelo ar de mistério deixado por ele, contudo, John a conhecia muito bem para saber que se contasse a localização, certamente não teria um minuto de paz o resto de sua vida.
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  Sem detalhes, seguiram para seu carro, ele conduziu a filha até a parte mais nobre e residencial da cidade, estacionando em frente a uma casa. %Amelia% se impressionou de imediato com o jardim frontal que poderia ser descrito como impecável por tamanha beleza e cuidado. A primavera contribuía com o perfume que os lírios exalavam nos canteiros, deixando a adolescente ainda mais encantada. Passando pela trilha de pedras brancas, chegaram finalmente à escadinha de acesso à varanda em estrutura de deck. O coração do pai acelerou um pouco, assim que tocou a campainha.
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  — Vocês vieram. — O sorriso espontâneo surgiu no rosto da doutora Grimes assim que ela abriu a porta e se deparou com suas visitas.
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  A surpresa era para a filha, pois John não havia tido tempo para informar a garota do convite para o jantar de sua médica. Algo que surpreendeu %Amelia%, que precisou se esforçar para não demonstrar sua falta de informação e agir com naturalidade.
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  — Boa noite — disse ele, ao esticar a sacola de papel em sua mão, contendo uma delicada caixa de bombons. — Eu não sabia o que trazer em agradecimento ao convite, então…
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  — Obrigada — disse Bridget, voltando o olhar para a garota. — Que bom que também veio, %Amelia%.
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  — Confesso que sempre quis conhecer a sua casa — disse a garota ao passar pela porta e tentando ser mais discreta em seus olhares.
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  — Bem, não é tão luxuosa quanto as outras casas da rua, mas é bem aconchegante como eu sempre quis — explicou a mulher, esperando que o pai terminasse de entrar para fechar a porta. — E confesso que a única parte que me incomoda são as cortinas da sala, ainda não consegui trocá-las.
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  — São de renda — comentou %Amelia% ao se aproximar da janela e tocar a cortina para sentir sua textura.
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  — Sim, e sujam só de olhar para elas — concordou a doutora, segurando o riso. — Bem, acho que chegaram um pouco adiantados.
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  — Nos desculpe, mas aconteceu alguma coisa? — indagou John.
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  — É que… Bem, eu tenho que confessar que encomendei nosso jantar por não ter aptidão para a cozinha, este dom eu não possuo, e infelizmente a entrega está atrasada — contou ela, com um olhar envergonhado. — Eu é que peço desculpas.
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  — Sua geladeira possui alguma coisa? — perguntou John, num tom suave.
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  — Acho que sim, minha faxineira fez o supermercado essa semana — respondeu Bridget, confusa pela pergunta.
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  — Então, não vamos morrer de fome — afirmou o pai, serenamente. — Poderia me levar até lá?
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  — Claro… — Com o rosto corado de vergonha, a doutora os guiou até a cozinha.
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  Inicialmente ela levou na brincadeira a oferta de John para cozinharem, eles mesmos, o jantar daquela noite. Porém, ao ver pai e filha cozinhando juntos, ela apenas se pegou admirando a cena, com brilho nos olhos, principalmente pela forma em que seus pensamentos e ações espontâneos se complementavam.
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  — Eu nem sei o que dizer… Estou tão envergonhada — disse ela, assim que terminaram de pôr a mesa e sentaram nas cadeiras. — Os convido para o jantar e são vocês que cozinham.
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   %Amelia% riu discretamente da situação. 
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  Após o pai fazer o agradecimento pelo alimente, a filha voltou a olhar para sua médica, que permanecia da mesma forma.
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  — Seu rosto está corado — comentou a garota, ao dar a primeira garfada no risoto de frango com cogumelos que o pai fez.
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  — É a vergonha — explicou Bridget.
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  — Não se sinta assim, para %Amelia% e eu, é um prazer cozinhar — disse John, tentando suavizar a situação. — E sua cozinha é de causar inveja pelo espaço que tem, foi divertido fazer isso. Não é, filha?
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  — Com certeza. — Assentiu a garota com um sorriso. — E até consegui fazer a sobremesa que aprendi recentemente.
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  — E como anda seu curso de confeitaria? — O olhar de Bridget ficou mais curioso, mesmo tendo indicado tal atividade, ela tinha certeza que daria certo.
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  — Divertido — contou %Amelia%, com os olhos brilhando. — Não é a mesma coisa que cozinhar com o papai, mas eu tenho aprendido tantas coisas novas e legais que nem sei por onde começar.
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  — Fico feliz por isso e peço que comece pelo início, pelo primeiro dia de aula, pois estou curiosa sobre suas aventuras na confeitaria — instigou Bridget ao perceber o discreto olhar de John para ela.
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  — Posso começar pela professora Florence — disse a garota se animando um pouco mais. — Ela é uma mâitre pâtissier especialista em confeitaria francesa, e eu sempre fico apreensiva nas aulas dela porque na França a confeitaria é mais voltada para preparações à base de leite, gemas e massas leves, utilizando de poucos ingredientes e bastante adição de frutas ou algum elemento para saborizar o preparo, como a baunilha. É muito detalhe técnico que, se eu não anoto, fico perdida no final.
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  — E qual é a sua favorita entre as sobremesas francesas? — indagou a doutora, ao saborear a comida em seu prato.
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  — Por mais que eu goste muito de fazer macarons com o papai, ainda prefiro o Crème Brulée — contou.
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  — E o seu? — perguntou John, entrando no assunto. — Você possui alguma sobremesa favorita, doutora Gilmour?
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  — Bem… Gosto de uma que pode-se achar que veio da França, mas foi uma invenção dos brasileiros que experimentei em um congresso que participei em São Paulo — contou ela, com a sensação do gosto da sobremesa em sua boca. — Petit Gateau, é uma junção do famoso Fondant au Chocolat acompanhado de sorvete de creme.
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  — Eu nunca ouvi falar, mas a combinação parece ser boa — comentou %Amelia%.
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  — Fica uma dica de receita para você experimentar. — Bridget piscou de leve para ela, em incentivo.
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  Como a cozinha havia se tornado a válvula de escape para %Amelia%, sua tendência para a confeitaria foi visível de imediato, fazendo com que John consentisse e concordasse com a sugestão da médica. E, como previsto, aquele era mais um dom revelado da garota, que se permitia encantar com o universo da culinária.
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  Enfim, a manhã de sábado. 
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  O céu curiosamente estava nublado, deixando os noticiários em alerta sobre uma possível tarde chuvosa, entretanto, nem mesmo o clima foi capaz de estragar os planos do 25º Batalhão do Corpo de Bombeiros, que preparava seu refeitório e espaço de convivência para a chegada de seus convidados do 21º DP. Enquanto Margareth acordou bem cedo para chegar ao Batalhão e ajudar no preparo do churrasco, seu parceiro John não se esforçou para levantar cedo, permitindo-se descansar um pouco mais.
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  Contudo, no quarto ao lado, sua filha havia despertado de um de seus sonhos reais às três em ponto. Para não atrapalhar o sono do pai, preferiu passar o restante da noite em claro, tentando reprisar seu sonho mentalmente para focar nos detalhes em questão. Então, assim que ouviu a movimentação na cozinha, se deu conta de que era de manhã e poderia sair do quarto. A cumplicidade dos dois havia se tornado tão profunda, que bastou John olhar para filha e já entender que mais um sonho tinha lhe aparecido à noite.
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  — Você quer falar sobre isso agora? — perguntou ele, no tom sereno de sempre, pronto para aceitar qualquer que fosse a resposta dela.
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  — Não, não quero atrapalhar nosso dia de folga. — %Amelia% manteve sua atenção na xícara de chocolate quente depositada na mesa por seu pai.
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  Ambos já conheciam o processo, então ela sabia que pelos próximos setes dias ela teria o mesmo sonho, e depois os intervalos de tempo iniciariam até a sua data final, como das outras vezes. Pai e filha concordaram em se desligar do assunto e aproveitar o dia, momentos de lazer e diversão como aqueles não eram rotineiros entre os departamentos. E assim que chegaram no Batalhão, Margareth de imediato já arrastou o amigo para a cozinha, lhe pedindo socorro com o tempero da salada mediterrânea que inventou fazer.
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  — Tem certeza que sabe mesmo cozinhar? — John fez uma careta ao olhar para a mistura dentro da tigela.
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  — Mas é claro que sei. — Ela cruzou os braços. — Só não tenho o talento que você tem, agora pode me dizer onde eu errei aí?
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  — Primeiro, eu queria entender o motivo de você querer fazer um prato árabe em um churrasco americano. — O detetive olhou a amiga confuso e intrigado.
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  — Olha, foi um pedido do chefe Brown, tá legal? — explicou ela, num tom de impaciência. — Ele me disse que a nossa chefe gosta de Tabule e pediu para preparar.
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  — Ele quer mesmo causar boa impressão hoje — comentou John, rindo baixo. — Tudo bem, pelo cheiro, acho que só se esqueceu do suco de limão.
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  — Ah… Sabia que estava faltando algo — disse ela, bufando de leve.
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  — Me dê três limões que eu resolvo isso aqui — pediu John, rindo da amiga. — E hortelã também.
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  — Eu não comprei isso não — alegou ela, coçando a cabeça.
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  — Então trate de comprar, porque é primordial para dar gosto ao trigo.
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  Ela bateu continência e saiu correndo, quase atropelando os outros que chegavam. Enquanto isso, %Mia% se entreteve com o cachorro que o batalhão havia adotado como mascote, sentada no sofá brincando com o animal, sem se importar com os pelos em sua roupa de tons pastéis. Infelizmente, seu animal de estimação havia sido sacrificado após contrair uma doença rara, deixando-a triste e chateada com a situação.
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  — Gostaria de pedir um minuto da atenção de todos — disse o chefe Brown, assim que conferiu a chegada da capitã Morattis.
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  Os olhares se voltaram para o homem, que estava acompanhado de duas pessoas.
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  — Como sabem, este churrasco é uma forma de agradecimento aos policiais do 21º DP, que trabalharam bravamente para nos garantir segurança no resgate do tiroteio, e me sinto honrado pela presença da capitã Morattis — iniciou ele seu discurso. — Aproveitando o momento, queria apresentar a todos o tenente Watts que inicia hoje com a gente, no lugar do saudoso tenente Hilte, que acabou de se aposentar. Este jovem ao lado de Watts é seu filho %Jeremy%.
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  Ao terminar das palavras do chefe Brown, o rosto de %Amelia% se ergueu e seus olhos focaram em ambos apresentados, entretanto, ao direcionar para %Jeremy% sua atenção, seu corpo novamente congelou.
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  Ao sentir um arrepio na espinha, tudo ficou estático para ela, que automaticamente começou a ver seu sonho da madrugada como uma visão mesmo estando acordada, sendo tão real que poderia assegurar que havia sido transportada para outro lugar.
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Porque nós perdemos tudo
Nada dura para sempre
Sinto muito, eu não posso ser perfeito.
- Perfect / Simple Plan

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Lelen

AE, FINALMENTE APARECEU O BONITO AHHAHAHAH 
Ai, o pai dele vai morrer? Num pode, eles precisam voltar a ser uma família antes disso e aproveitar o tempo juntos, NÃO FAZ ISSO COMIGOOOOOO 
Mas a Mia sentiu calafrios com os dois, então os dois estão em perigo. NO. NO. 
Dá um jeito aí, destino, não aceito isso! 
Mas ansiosa pra ver o que vem pela frente <3 

Pâms

Calma moça.

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