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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Visium

Escrita porPams
Revisada por Lelen

2 • Madrugada

Tempo estimado de leitura: 33 minutos

Feita de escuridão e silêncio, ironicamente é ela, 
  a madrugada, quem ilumina as falas de nossos pensamentos.
  [ Karyne Santiago ]

  Segundo estudiosos, a mente humana é capaz de processar aproximadamente 11 milhões de bits de informações, entretanto, nossa consciência é capaz de lidar com cerca de 16 a 50 bits, mostrando mais uma vez como podemos ser frágeis mesmo nos sentindo tão fortes. E diante de tantos acontecimentos que ocorrem ao longo da vida, há um momento em que a pessoa se sobrecarrega com seus pensamentos, desejando ter um segundo de paz e quietude para encontrar seu equilíbrio interno. E não há nada como o silêncio da madrugada.
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Outono de 2010

  Não há nada melhor para um estudante que o fechamento de uma estação com feriado nacional, e era assim que os alunos da Academic Minelli High School se sentiam com a proximidade do dia de ação de graças. Para %Amelia%, era um dia festivo em que poderia passar com o pai na companhia dos amigos da família, um dia para agradecer e renovar as esperanças para o futuro.
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  — Bom dia, pandinha — disse o pai, num tom carinhoso assim que percebeu sua presença adentrando a cozinha.
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  — Bom dia, papai. — %Amelia% espreguiçou levemente o corpo, dando passos até a cadeira, se sentando em seguida, ficou o observando enquanto terminava de preparar o café.
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  — Dormiu bem, esta noite? — indagou ele, ao se voltar para ela e observar suas expressões faciais.
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  A criança assentiu com a cabeça, voltando o olhar para a jarra de suco em cima da mesa, na sua frente. Já se contava pouco mais de três semanas desde a última vez que tivera o sonho com a mulher ruiva, ela não sabia se ficava aliviada por um tempo de paz em suas noites de sono, ou ansiosa em esperar pelo próximo sonho. Mesmo sabendo que poderia ser algo pesado para sua filha, John havia pedido a menina que observasse o máximo de detalhe na próxima vez que acontecesse, assim o policial poderia tirar suas dúvidas relacionadas aos acontecimentos se tornarem reais. Talvez tenha sido apenas coincidência da primeira vez, e o pai queria provar isso.
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  — Sim, vinte e um dias sem pesadelos. — %Mia% voltou o olhar para ele, as linhas de expressão do seu rosto estavam mais suaves. — Papai, o que vamos fazer para o dia de ação de graças? — Indagou ela, mudando rapidamente de assunto.
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  Por mais que soubesse que tinha a liberdade de conversar com o pai sobre isso, %Mia% ainda se preocupava em não o sobrecarregar com sua condição especial. Mesmo tendo no pai um ponto de apoio, sentia-se mal pelos ocorridos, principalmente nas madrugadas.
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  — O que sugere? — retrucou ele, ao encostar na bancada da pia, e cruzar os braços.
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  Para John, cozinhar na companhia da filha o fazia sentir que suas vidas poderiam ser normais, mesmo que em um curto espaço de tempo, eram somente os dois, pai e filha. Sem sonhos, sem problemas, sem as pressões do trabalho, sem rondas noturnas de plantão.
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  — A tia Hilary com certeza vai se encarregar do peru… — observou ela, ao se esticar para servir um pouco do suco dentro do corpo vazio à sua frente.
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  — E Margo sempre leva purê de batatas — completou John, se virando e pegando o prato de torradas para levar à mesa. — E Jack sempre faz a sua infalível salada temperada.
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  — O senhor convidou a doutora Gilmour? — indagou ela, voltando a olhá-lo enquanto se aproximava.
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  — Acho melhor não, das outras vezes ela recusou e sabemos que ela não pode ser tão próxima assim de nós, ela é sua médica — explicou ele, pegando duas torradas para servi-la. — As pessoas podem achar que é falta de ética profissional.
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  — Uma vez ela me disse que a família mora em Seattle — comentou %Mia%, ao pegar o pote de geleia de morango para abrir. — Deve ser triste passar essas datas comemorativas sozinha.
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  — E o que você quer que eu faça? — Ele a olhou, atentamente.
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  — Não custa nada convidá-la mais uma vez. — Ela olhou para o pai, de forma chorosa para que ele aceitasse seu pedido.
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  — Tudo bem, eu a convido novamente. — O homem sorriu de canto e pegou o pote das mãos dela, para abri-lo em seu lugar, então, pegando uma colher, entregou a ela novamente. — Bom apetite.
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   %Amelia% assentiu e rapidamente fechou os olhos, agradeceu pelo alimento e então pegou uma quantidade generosa de geleia e passou na torrada. John ficou observando-a por um tempo, até que finalmente despejou um pouco de café na xícara e começou a bebericar.
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  — Papai, por que não fazemos uma sobremesa esse ano? — sugeriu ela, em forma de indagação.
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  Era um fato que, nas muitas receitas que aprendeu com o pai nos últimos anos, as sobremesas eram suas favoritas, principalmente aquelas que envolviam chocolate, maçãs ou chantilly. E mesmo estando em sua fase de descobertas, havia duas coisas as quais amava fazer: cozinhar com o pai e desenhar. E a pequena tinha certo talento em seus traços no papel, sendo sempre incentivada por sua professora de artes da escola.
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  — E qual sobremesa sugere? — Ele tomou mais um gole, atento à filha.
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  — Torta de maçã — respondeu, levando a torrada à boca.
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  — Mas é dia de ação de graças, seria mais comum levarmos torta de abóbora — questionou ele, as tradições culinárias que a data exige.
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  — Não somos uma família comum e normal, papai. — Ela voltou o olhar para ele, no fundo tinha um tom de inocência em seu argumento, que tornava a realidade mais leve do que realmente era.
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  — Então faremos uma torta de maçã. — O homem tomou o último gole e se levantou da cadeira. — Só preciso que me lembre de comprar maçãs frescas quarta-feira.
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  — Nossas maçãs acabaram, porque amanhã é quarta-feira? — Ela voltou a atenção para o restante das torradas na bandeja e pegou mais duas, passando geleia nelas.
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  — Acho que sim, mas mesmo se tivesse, a calda fica mais gostosa com maçãs frescas, você sabe disso — explicou ele, o segredo da receita de família. — E podemos comprá-las no mercado noturno.
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  — Vamos subornar o produtor? — brincou ela, com a referência de Ratatouille.
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  — Voilá, o melhor restaurante leva. — Ele piscou de leve ao complementar a brincadeira dela. — Termine logo, mocinha, que vou te levar para a escola e depois ir para o DP.
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  — Vai fazer ronda hoje? — A menina alisou a geleia na torrada com o dedo indicador e depois o levou à boca, sentindo o gostinho doce.
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  — Sim, para poder passar quarta e quinta com a senhorita e após a aula, vai ficar com a senhora Poppy do vinte e dois — disse ele, se referindo a moradora do segundo andar do prédio.
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  Morar em um apartamento nunca foi o objetivo de John, seus planos e da falecida esposa, Marie, eram de se mudar para uma casa após o nascimento da filha, entretanto, nem sempre o que queremos é o que acontece. Após perder a esposa, o policial apenas desistiu de prosseguir com o planejado e se acomodou com o pouco espaço do apartamento. Um ponto positivo foi encontrar auxílio na sábia senhora Poppy, que sempre demonstrou carinho pelo casal.
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  — Eu gosto dela, aprendi a fazer crochê da última vez — comentou %Amelia%, enquanto terminava sua torrada. — Ela disse que é uma terapia natural.
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  — Terapia natural?! — O pai riu baixo.
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  Ela assentiu com a cabeça enquanto mastigava, saboreando seu café. O pai sorriu de canto e caminhou em direção ao corredor dos quartos. Mesmo pequeno, o apartamento tinha o conceito aberto, da cozinha integrada com a sala, dando-lhe uma leve sensação de maior. Pelo valor da hipoteca, era o que o salário de policial dava para pagar, pois todas as economias do casal haviam sido guardadas para a faculdade da filha.
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  Após se vestir com a roupa que havia escolhido na noite anterior, %Amelia% colocou sua blusa de moletom cinza claro e verificou se tudo o que precisava estava em sua mochila. Então voltou para sala e encontrou o pai digitando no celular, ela permaneceu em silêncio até que ele terminasse e percebesse sua presença. Por um breve momento, ela voltou o olhar para a janela entreaberta, o sol estava frio e uma brisa gélida compunha a temperatura do dia.
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  — Pandinha — disse John ao perceber a filha, guardando o celular no bolso.
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  Ela manteve sua atenção no céu azulado, em dias assim, a menina sabia que possivelmente as horas passariam mais rápido. No fundo ela não queria, afinal, se contava exatos vinte e seis dias desde o último pesadelo, e %Amelia% seguia pedindo a Deus para que realmente não acontecesse como da primeira vez, pois se fosse esse o caso, certamente ela teria o mesmo sonho naquela noite.
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  — %Amelia%?! Filha?! — disse o pai, num tom mais alto, finalmente despertando a sua atenção. — Está tudo bem?
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  — Sim, me distraí olhando o céu — explicou ela, sorrindo de leve para despreocupá-lo.
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  Ambos saíram juntos, deixando o apartamento devidamente trancado; com a crescente onda de roubos no bairro onde moravam, John precisou colocar mais duas trancas na porta de entrada e alguns reforços nas janelas que davam para a escadaria lateral do prédio. Levando a filha de carro para a escola, no curto espaço de dez minutos de deslocamento eles se divertiam cantarolando a trilha sonora proporcionada pelas estações de rádio.
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  — Tenha uma boa aula, pandinha. — John piscou de leve para ela, ao estacionar o carro próximo à escola.
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  — Obrigada, papai, te amo. — %Mia% lhe deu um beijo na bochecha, então saiu do carro e seguiu para a entrada do prédio.
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  John manteve o olhar sereno e atento à filha até perdê-la de vista, então, com um suspiro cansado, ligou o motor e soltou o freio com seu trajeto já traçado na mente. Antes de chegar ao trabalho ele passou na clínica da doutora Gilmour, não somente pelo convite como também para um desabafo rápido, que a deixou surpresa.
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  — Poderia ter me ligado, assim não teria que esperar tanto — disse ela assim que abriu a porta de sua sala, para que ele entrasse.
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  — Eu não pretendia incomoda-la, sei que suas manhãs sempre são ocupadas — explicou ele, um pouco sem graça passando pela porta. — Além do mais, não é uma consulta formal…
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  — E desde quando dou consultas?! — argumentou ela em um sutil tom de repreensão. — A única coisa que faço aqui é conversar com pessoas que precisam ser ouvidas, mas não conseguem fazer isso sozinhas.
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  Ele parou ao centro da sala e voltou o olhar para ela. Era estranho para John, mas a face de Bridget sempre lhe transmitia paz e tranquilidade, fazendo seu coração desesperado se acalmar em meio às dificuldades, e suas palavras sempre tinham fundamentos.
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  — Então podemos conversar? — perguntou ele.
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  Ela assentiu com um sorriso e estendeu a mão para que ele se sentasse. Bridget tinha seus métodos não convencionais para envolver seus “convidados” nas longas conversas que proporcionava. Ela agia de forma específica em cada situação, analisava a outra pessoa e logo construía estratégias que lhes trouxessem o melhor resultado.
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  — Como tem sido desde a nossa última conversa? — perguntou ela, seguindo em direção à varanda que tinha em sua sala.
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  Seu amor por plantas a induziu a montar uma pequena estação de jardinagem a qual utilizava em diversas conversas que achava necessário, principalmente quando havia crianças envolvidas. Bridget parou e voltou seu olhar para a bancada de trabalho em estrutura de cavalete de metalon com base de tampo de madeira envernizada.
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  — Eu… Bem, nos vimos na última quinta-feira — respondeu ele, a observando sem entender seu propósito.
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  — E?! — insistiu ela, mantendo o tom suave e acolhedor. — Muitas coisas podem acontecer em sete dias.
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  — Ainda não completaram sete dias — argumentou ele, ouvindo uma risada rápida vindo dela.
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  — Sim… E não me respondeu à pergunta inicial. — Ela continuou firme no objetivo.
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  — Hoje é dia vinte e seis… — O homem respirou fundo, deixando o silêncio invadir o ambiente por alguns instantes, refletindo se realmente deveria entrar naquele assunto. — Pela primeira vez após perder minha esposa, estou com medo de alguma coisa acontecer e eu não ser capaz de proteger a %Mia%.
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  — E o que este dia de hoje o faz pensar que não conseguirá manter a promessa que fez à sua esposa? — indagou ela, mantendo-se na varanda e iniciando o replantio que havia planejado para uma orquídea.
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  — Tenho passado boa parte da madrugada em claro, esperando pelos gritos da minha filha e suplicando para que não acontecessem… — continuou ele, mantinha-se de pé, com o olhar na orquídea azul em cima da mesa. — Se acontecer exatamente como na primeira vez, não sei o que farei… E não quero imaginar que esta noite mais um pesadelo vai visitar os sonhos da minha filha, e eu não estarei lá, ao seu lado…
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  John segurou suas emoções, ao sentir os olhos marejados. Das poucas vezes que chorou, a maioria se referiam às pessoas que amava e de como se sentia impotente por não conseguir protegê-las como gostaria.
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  — Como da primeira vez os sonhos se repetiam de 74 em 74 dias, então, pela lógica, este segundo sonhos se repetirá de 26 em 26 dias, até que se concretize — Bridget pronunciou em reflexão às preocupações do policial, fazendo as devidas comparações entre os acontecimentos.
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  O silêncio de John confirmou seus pensamentos.
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  — O que tanto faz aí? — perguntou ele, após despertar de seus pensamentos.
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  — Venha e veja — incentivou ela, parando por um momento, até que ele aparecesse.
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  — Orquídeas — disse ele, parando na porta e a observando. — Quando descobriu que é seu ponto de apoio?
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  — Quando eu era pequena. — Um sorriso espontâneo saiu no seu rosto, algo que ele pode notar. — Minha avó paterna tinha uma floricultura em Seattle, todas as tardes após a aula eu ajudava, sempre tinha as melhores histórias para me contar.
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  — Eu me lembro muito pouco dos meus avós, meus pais se mudaram com frequência por causa do trabalho do meu pai — contou John, vendo-a concentrada no preparo do pequeno pedaço de tronco em que a orquídea seria anexada.
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  — Mesmo sendo poucas, toda memória é valiosa — reforçou ela.
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  Mais algum tempo de silêncio.
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  — Não deveria colocá-la em um vaso?! — perguntou ele, inocente em sua curiosidade, recebendo um olhar atravessado como se tivesse dito o maior dos pecados. — O que eu falei demais?
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  — Esta é uma Orquídea Cattleya, esta espécie não pode ser plantada na terra, pois elas são classificadas como orquídeas epífitas — explicou ela, voltando o olhar para a planta. — Por isso, é necessário ter cuidado com a umidade, pois a planta pode apodrecer se ficar encharcada, entretanto, pode queimar se ficar exposta ao sol direto, por isso, ela deve ficar em um ambiente equilibrado.
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  O olhar do policial mostrou admiração pelos conhecimentos da doutora, o que o lembrou em seus momentos de culinária com a filha, explicando os segredos do tempero da família.
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  — Pretende continuar suas pesquisas no departamento? — indagou ela, retornando ao assunto que o levou ali.
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  Ele respirou fundo antes responder.
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  — Eu precisei parar por uns dias, quando me senti obcecado em provar que não haveria nenhum caso ligado aos sonhos da %Mia%. — O tom baixo de sua voz fez a doutora perceber o cansaço físico e mental que o sobrecarregava.
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  — Eu não gosto muito dessa expressão — disse ela, num tom mediano, falando consigo mesma.
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  — Qual?! — Curioso, manteve as mãos nos bolsos da calça.
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  — Se a vida te der limões, faça uma limonada. — Ela parou o manuseio com a planta e o olhou. — Acho que é uma frase de efeito desconfortável que faz com que as pessoas aceitem o que acontece de ruim com elas… Entretanto, ela se adequa ao seu caso, ainda que te deixe desnorteado inicialmente.
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  — Onde quer chegar? — perguntou ele, franzindo a testa.
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  — Não sabemos de onde veio ou se um dia isso vai acabar, mas como alguém que escolheu proteger pessoas, que tal olhar isso como uma dádiva? — sugeriu ela, mantendo a suavidade e fluidez nas palavras, em um ritmo que gerasse reflexão e não confronto. — Se for mesmo real e se houver mais sonhos como estes… Talvez, você possa salvar estas pessoas, antes que possa acontecer com elas.
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  — Não sei se conseguiria… — O homem balançou a cabeça negativamente. — Eu só queria que minha filha não sofresse mais.
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  — Você pode amenizar transformando a maldição em benção — explicou ela. — Se houver uma forma de encontrar e salvar a pessoa antes de chegar a data que ela morre.
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  — Estamos há três anos sofrendo com esta situação, se realmente acontecer como na primeira vez… — Ele voltou o olhar para a rua, controlando a mistura de raiva e frustração interna. — Não sei se conseguiria suportar… Pedir minha filha para lidar com isso com naturalidade, mesmo sendo para salvar vidas.
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  John retornou o olhar para ela, que mantinha a serenidade.
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  — Doutora Gilmour, %Amelia% só tem dez anos — completou ele.
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  — E acredite, ela é muito forte — disse ela, confiante em sua avaliação. — Talvez mais forte que nós dois juntos.
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  Ele suspirou fraco, então sentiu o celular vibrar no bolso. Era uma mensagem de sua parceira, lhe perguntando se estava a caminho para o trabalho.
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  — Eu preciso ir. — Deu impulso no corpo para se retirar, porém parou no meio do caminho. — Antes… Eu queria te convidar…
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  — Para o dia de ação de graças? — Ela o interrompeu, ainda mantinha o olhar fixo nele, deixando transparecer um sorriso no canto do rosto.
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  — Sim… %Amelia% me fez prometer que iria te convidar — explicou ele.
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  — Há três anos eu venho recusando — admitiu ela, segurando o riso. — Mande o endereço, talvez…
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  Ele assentiu com o olhar e se afastou em silêncio. Estava grato por ter encontrado alguém tão incrível como ela para apoiar sua nada comum família.
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  O dia foi seguindo com pai e filha desempenhando suas atividades com dedicação, mesmo com a ponta de ansiedade, estresse e preocupação que os rodeavam. Após as aulas, %Amelia% se despediu de sua amiga Lilo, após passarem duas horas a mais na biblioteca adiantando o trabalho da feira de ciências. Ao chegar no prédio onde morava, foi recebida pela senhora Poppy do apartamento 22, com cookies de chocolate e chá de camomila. Para a moradora mais antiga do prédio, não havia uma só preocupação que não se resolvesse com uma boa xícara de chá. 
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  — E então?! — perguntou a senhora, observando atentamente a pequena degustar o quinto cookie consecutivo, sem se importar em perder o apetite para o jantar.
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  — Está mais gostoso do que na última vez — confessou %Mia%, após engolir o pedaço generoso que mastigava. — As gotas estão mesmo com gosto de chocolate.
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  — É porque eu mudei de fabricante depois que reclamou — explicou a senhora o motivo. — Não sei se seu pai já te ensinou, mas na cozinha, a qualidade dos ingredientes conta bastante.
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  — Meu pai não é tão especialista em sobremesas como a senhora, mas já me disse que devemos observar isso — confessou a menina, se mostrando uma boa aluna. — A senhora vai me ensinar a fazer?
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  — Um dia, claro que vou. — Poppy sorriu, se mantendo escorada à mesa com um sorriso singelo. — Mas por enquanto não, pois se aprender agora, não terei mais como suborna-la para vir em minha casa.
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  Seu tom de brincadeira arrancou uma risada boba da criança. Ambas conversaram um pouco sobre o dia de ação de graças e do cardápio que a senhora Poppy planejava para passar com os filhos e netos, que vinham do Colorado apenas para passar o feriado nacional com ela. Com algumas sugestões da menina, principalmente na parte dos doces, a matriarca novamente pode perceber o talento escondido que a pequena possuía, já pensando em como trabalhar isso para seu futuro.
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  Ao final da noite, %Amelia% se acomodou no quarto de hóspedes de Poppy. Deitada na cama, luzes apagadas e um feixe de luz passando pela fresta da cortina, a única coisa que ela não queria, era fechar os olhos.
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  — E se eu sonhar?! — ela se perguntou em sussurro, no fundo, também tinha medo do que poderia ver, e se realmente fosse sonhar a mesma coisa?
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  Havia algumas probabilidades, nas quais passou o dia todo pensando mesmo não querendo focar no assunto. Ela ergueu o corpo, abraçando-se às pernas, manteve o olhar na fresta da cortina, permitindo à sua mente retornar às imagens do segundo sonho.
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  — Mas e se eu não sonhar? — sussurrou, novamente, a possibilidade.
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  Se ela sonhasse, poderia significar que a ruiva 26 ainda estaria viva, pois estavam no mês de sua possível morte. Mas se ela não sonhasse, poderia significar o mesmo que aconteceu com a senhora 74, dos cabelos grisalhos. Ou, poderia significar que todo aquele tormento havia acabado e tudo pareceu apenas um sonho ruim.
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  — O que eu faço? — indagou para si, fechando os olhos por alguns minutos.
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  Uma madrugada nunca foi tão longa quanto aquela. E por mais que %Mia% se esforçasse para permanecer com os olhos abertos e a mente longe dos seus conflitos internos, em um dado momento o peso do cansaço foi maior fechando de vez suas pálpebras, fazendo cair em sono profundo.
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  — Hum… — %Mia% se espreguiçou na cama, com um semblante suave de alguém que teve o sono dos justos.
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  O que de fato aconteceu.
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  — Bom dia, bela adormecida. — A voz de seu pai a fez despertar por completo.
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  Um sorriso largo e um pulo apressado da cama, fez o pai se assustar com a rapidez em que recebeu um abraço apertado da filha. Acariciando seus cabelos, ele retribuiu com carinho, percebendo que sua reação à presença dele era sinal de boas notícias.
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  — Devo presumir que não houve pesadelos? — perguntou o pai, esperançoso.
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  — Sim, papai. — %Amelia% o olhou com um brilho incomum nos olhos. — Hoje é dia vinte e sete, e não houve sonhos… Mas…
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  — Mas nada — disse a interrompendo. — Isso já é o bastante para termos o melhor feriado do mundo.
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  Ela manteve o sorriso no rosto e o abraçou novamente empolgada. O dia de pai e filha obteve um cronograma apertado, no qual, se manteve nos improvisos de atividades que John ia propondo à filha. A primeira delas foi a hora da faxina, com o objetivo de deixar o apartamento limpinho para receber os convidados do dia seguinte. No geral, os feriados eram sempre comemorados na casa do casal Donson, porém, com a reforma devido ao anúncio do primeiro filho do casal, com previsão de nascer no final do inverno, a escolha do anfitrião foi sugestão de Margareth.
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   A policial Finn havia conhecido o amigo anos atrás na academia de polícia. Ambos tiveram um romance de dois segundos em que, de comum acordo, resolveram manter apenas a amizade. E foi através dela que ele conheceu sua esposa, Marie. A policial aceitou ser madrinha de casamento e da primeira e única filha do casal.
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  — Papai, acho que está faltando açúcar — disse %Mia%, ao experimentar a calda do recheio.
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  — Deixe-me ver. — Ele pegou um pouco com a colher e experimentou. — Tem razão, está meio…
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  — Sem doce — completou ela.
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  Ele concordou, rindo baixo.
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  — Mas você notou que fica bem melhor com maçãs frescas? — perguntou o pai, pegando o pote de açúcar para a calda.
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  — Verdade, ficou bem melhor do que aquela que fizemos no 14 de julho. — A menina fez uma careta ao se lembrar do gosto.
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  — E vamos terminar rápido para colocar no forno e tomar um banho em seguida — disse John, concentrado em mexer corretamente a calda para não dar a textura errada e perder o ponto.
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  — O senhor mexe de uma forma diferente da vovó Lucy — comentou a pequena, atenta aos movimentos do pai, como uma mini aprendiz dedicada.
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  — Sim, mais um segredo de família. — Ele olhou para a filha rapidamente. — A forma como mexe, sempre influencia a textura, seja uma calda, uma massa, um molho.
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  Ela assentiu com a cabeça, memorizando seus conselhos.
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  — Papai — chamou ela.
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  — Sim?! — Ele manteve a atenção no manuseio da panela.
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  — O senhor pretende se casar de novo? — indagou, fazendo-o se assustar com o assunto.
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  — Por que me pergunta isso? — retrucou o homem.
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  — É que eu ouvi algumas conversas de corredor… — explicou ela, cautelosamente para que o pai entendesse. — Dizendo que madrastas podem ser chatas e cruéis… E se eu tiver mais daqueles pesadelos e… Não atrapalhar sua vida.
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  — Jamais pense assim. — O homem desligou o fogo e voltou sua atenção total para a filha. — Você é meu presente da vida, não pense assim… E não pretendo me casar tão cedo, mas se isso um dia acontecer… Ela terá que te amar primeiro, antes de me amar.
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   %Amelia% sorriu para o pai, sentindo o coração quentinho e com a certeza que ela e o pai sempre seriam próximos e cúmplices. 
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  Finalmente o feriado começou o dia com a brisa de final de outono e, claro, muita gratidão acumulada. A hora do almoço foi se aproximando e finalmente os poucos, porém importantes convidados, chegaram na casa dos anfitriões. Jack, a princípio, se impressionou com a organização do lugar, afinal, seu conhecimento do amigo foi sempre sobre o policial ser bagunceiro e desorganizado, o que o deixava confuso pelo amigo ser tão disciplinado no trabalho e com os assuntos relacionados à filha. Já Margareth, estava mesmo interessada em sua afilhada que lhe devia uma festa do pijama regado a desenhos da Barbie.
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  Hilary, com seu senso de dona de casa, tomou a frente da organização da mesa. Vinte minutos antes de se reunirem à mesa, o interfone tocou, deixando John surpreso com a pessoa que batia em sua porta.
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  — Doutora Gilmour?! — disse ele, ao abrir a porta para ela.
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  — Olá. — Ela estava totalmente diferente de como costumava aparentar, parecia tímida para a ocasião e um pouco deslocada por estar ali. — Trouxe bolinhos de arroz, receita de família.
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  — Bem-vinda. — John sorriu, abrindo um pouco mais a porta para que ela entrasse.
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  — Obrigada. — Ao balançar positivamente a cabeça, ela passou pela porta sentindo o coração acelerado. — Espero que gostem.
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  — Doutora Gilmour. — O som da voz de %Amelia% soou animado do centro da sala.
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  — Olá, pequena. — Bridget sorriu com gentileza, esticando uma sacola para ela. — Trouxe para minha companheira de conversa favorita.
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   %Mia% agradeceu com o olhar ao pegar a sacola, já curiosa para saber o que tinha dentro. Com o olhar curioso dos amigos, John tratou de fazer as devidas apresentações para que não houvesse nenhum mal entendido com a presença da médica ali. Claro que Margareth ainda se mantinha curiosa.
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  — E qual é o lance com a doutora? — perguntou ela, discretamente, enquanto organizavam os pratos na mesa.
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  O olhar da policial se mantinha na convidada especial, sentada no sofá ao lado de %Mia%.
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  — Não tem nenhum lance. — Ele manteve a atenção nos talheres em sua mão. — Você sabe que a %Mia% tem sessões com a psicóloga que, no caso, é ela.
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  — E um médico pode se envolver com seu paciente? — retrucou Marg, cutucando um pouco o amigo.
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  — Onde quer chegar? — Ele a olhou com seriedade.
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  — No mesmo lugar de sempre. — Seu olhar curioso o deixava impressionado. — Sou sua melhor amiga, mas ainda tenho minhas ondas de ciúmes.
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  — Não há nada entre mim e a doutora. — John foi firme e sincero.
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  — Se está dizendo. — Por ora, ela se deu por satisfeita.
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  Ao som de uma faca de mesa tocando a taça de vinho, Hilary chamou a atenção de todos, que se reuniram em volta da mesa. Entre um discurso formal e sério de John, com algumas risadas descontraídas dos comentários de Jack e Margareth, o dia de gratidão deu seguimento com um dos melhores almoços já degustados. Pelo menos na opinião de %Amelia%, com o coração quentinho e cheio de esperanças.
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  — Não deveria deixar o celular ligado em dias assim. — O lado médica de Bridget falou mais alto, repreendendo John ao vê-lo pegar o aparelho do bolso.
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  — Sou um policial — argumentou ele, olhando na tela.
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  — Em dia de folga — contra-argumentou ela, com o olhar sério. — Acabamos de agradecer pelas coisas boas, desfrutamos de um almoço saboroso… Não deveria se preocupar com o trabalho.
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  — Sinto que desta vez eu devo. — O homem manteve o olhar firme na tela, uma ligação direta de seu chefe.
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  John se afastou da mulher, colocando o celular no ouvido para atender. A cada minuto de ligação suas expressões foram ficando mais sérias e rígidas, preocupando assim seus convidados.
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  — O que aconteceu?! — perguntou Margareth, já conhecendo o olhar do amigo.
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  John não consegui ter outra reação inicial a não ser ficar estático.
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  — John?! — A voz suave de Bridget o despertou. — O que aconteceu?
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  — O que eu mais temia. — Ele voltou seu olhar para a doutora, sentindo seu corpo estremecer por dentro.
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  — Papai, meu sonho aconteceu? — indagou a criança, sentindo seu coração apertado.
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  Os olhos de %Amelia% lacrimejaram ao ver que o silêncio de seu pai era uma afirmativa à sua pergunta. Não querendo acreditar que, pela segunda vez, seus sonhos se tornaram realidade, ela apenas afastou-se de todos e saiu correndo, trancando-se em seu quarto. 
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  — %Amelia%. — Bridget tentou ir atrás da criança, porém parou antes mesmo de tomar impulso.
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  — John, o que está acontecendo? Quem te ligou? — indagou Margareth, tentando entender as palavras e olhares que somente o pai e a médica entendiam.
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  — O chefe ligou, temos um chamado — anunciou ele.
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  — Agora? — A mulher ficou confusa.
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  — Mas que chamado foi esse?! — perguntou Hilary, baixinho para o marido.
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  — Com certeza é da DP — respondeu ele.
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  — Sim, Margareth, temos que ir. — Ele voltou o olhar para a doutora. — Cuide dela por mim.
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  Assim que Gilmour concordou com a missão, John pegou as chaves do carro e, sendo seguido pela parceira que ainda tentava entender o que ocorria, seguiram para o 21º DP. Ao receber as coordenadas do chefe pelo celular, mais uma vez John presenciou o impossível, pois a cena detalhada por sua filha várias vezes, estava diante dos seus olhos, deixando-o estático.
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Sou realmente agradecido por te ter
  O presente que Deus me deu.
  - Sing for You / EXO

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Lelen

Ai, tadinha da Mia </3 
E vai rolar romance com a psicóloga? Shippo HIASHOAISAIOSBO 
Adorei a Poppy, por favor, que ela não esteja na lista de pesadelos, amém. 
Quero saber como senhor Jeremy vai entrar nessa história toda, VEMK MOÇO

Pâms

Também amo um shipp ❤

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