Décimo Segundo Capítulo
Tempo estimado de leitura: 55 minutos
%Amélia% se levantou do sofá com um suspiro teatral, deixando Seonghwa afundado na almofada, ainda em choque. Ela pegou o controle remoto, ligou a TV e começou a navegar pelos aplicativos, até encontrar uma playlist animada que misturava músicas leves e hits recentes.
— Já que estamos presos, pelo menos vamos animar o ambiente — ela declarou, aumentando um pouco o volume para que a música preenchesse o silêncio desconfortável da sala.
Seonghwa apenas observou, ainda sem forças para protestar.
— Você está realmente levando isso numa boa? — ele perguntou, incrédulo, enquanto ela começava a caminhar na direção da cozinha.
— E você devia fazer o mesmo — %Amélia% respondeu por cima do ombro, sumindo na pequena cozinha da casa. — Não vai adiantar nada ficar reclamando.
— Não vai adiantar nada?
%Amélia%, estamos trancados. Eu podia estar na praia agora!
— E você podia também estar se divertindo aqui, mas prefere ser dramático — ela gritou de volta, com um tom brincalhão.
Seonghwa bufou, cruzando os braços, olhando fixamente para a tela da TV onde a música tocava. Não acreditava que aquela era sua realidade: trancado dentro da casa, longe dos amigos, longe da praia, e com %Amélia% — que, aparentemente, não estava nem um pouco abalada com aquilo.
Enquanto isso, na cozinha, %Amélia% abriu os armários em busca de algo interessante. Ela encontrou uma garrafa meio escondida no fundo, sacudiu-a para conferir se estava cheia e sorriu satisfeita.
—
Bingo! — murmurou para si mesma.
— O que foi isso? — Seonghwa perguntou, desconfiado, erguendo a cabeça.
%Amélia% voltou para a sala segurando a garrafa triunfante, balançando-a no ar como se fosse um prêmio.
— Achei! Uma garrafa de soju — ela anunciou com entusiasmo, deixando-a sobre a mesinha de centro.
Seonghwa arregalou os olhos.
— Você vai beber soju agora?
—
Nós vamos beber soju agora — %Amélia% corrigiu, pegando dois copinhos na mão. — Já que vamos passar a virada aqui, que pelo menos seja do jeito certo.
— Aham, do jeito certo seria com a chave — ele resmungou, mas não pôde evitar um pequeno sorriso ao vê-la tão decidida.
— Ou você para de reclamar e me acompanha, ou vou ter que beber sozinha — %Amélia% provocou, erguendo uma sobrancelha desafiadora.
Seonghwa suspirou e passou a mão no rosto, derrotado.
— Você não vai desistir, né?
— E perder a chance de te fazer relaxar? Nunca — ela respondeu, servindo os copos e entregando um a ele.
Seonghwa pegou o copo com certa relutância, mas um sorriso pequeno escapou. A música animada ainda tocava ao fundo, misturando-se com os sons leves da noite que vinham pela janela aberta. Ele olhou para %Amélia%, que levantou o copo com um sorriso travesso.
—
Ao nosso azar — ela disse, divertida.
Seonghwa riu, balançando a cabeça antes de erguer o copo também.
—
Ao nosso desastre de virada do ano. — Melhor! — %Amélia% concordou, e os dois brindaram com um leve toque dos copos antes de beberem.
Seonghwa fez uma careta ao sentir o gosto do soju, mas logo relaxou. %Amélia% se jogou novamente no sofá ao lado dele, segurando o copo entre os dedos.
— Viu só? Nem é tão ruim.
Ele a observou por um segundo, os olhos ainda cheios de um misto de descrença e admiração.
— Você realmente é a pessoa mais tranquila que eu conheço. Não que eu goste de admitir isso…
— É um dom — ela respondeu, rindo, olhando para a TV. — Agora relaxa, Seonghwa. A noite mal começou.
Ele soltou um riso baixo, finalmente permitindo que o clima descontraído começasse a contagiar também.
Talvez, só talvez, aquela virada não fosse ser tão ruim assim.🌟🌟🌟🌟
%Amélia% se levantou novamente, levando a garrafa de soju para a cozinha enquanto Seonghwa a observava, quase impressionado com sua energia.
— Aonde você vai agora? — ele perguntou, acompanhando com os olhos.
— Eu vou salvar a nossa noite. E não venha me dizer que você não gosta de camarão, porque aí sim a gente vai brigar — ela respondeu, já abrindo a geladeira.
— Camarão? — Seonghwa arregalou os olhos, sentando-se melhor no sofá. — E você por acaso sabe cozinhar isso?
— Ah, que gracinha... — %Amélia% zombou, pegando uma bandeja de camarões frescos que encontrou no fundo da geladeira. — Acha que eu só sei mandar em você? Eu sei fazer outras coisas também.
— Mandar em mim é definitivamente seu talento — ele murmurou, rindo de leve, enquanto se levantava e caminhava até a cozinha.
%Amélia% o ignorou, colocando os camarões na pia para lavá-los. Ela abriu algumas gavetas, pegando alho, azeite e uma frigideira enquanto Seonghwa começou a abrir os armários, como se estivesse em busca de algo.
— O que você tá procurando? — ela perguntou sem olhar, enquanto começava a limpar os camarões com habilidade.
— Frutas — Seonghwa respondeu, abrindo e fechando portas. — Já que estamos bebendo, pensei em fazer alguma coisa com o soju. Tipo um coquetel, sei lá.
%Amélia% parou por um momento, lançando um olhar surpreso na direção dele.
— Olha só... Você sabe fazer coqueteis?
— Ah, porque só você pode ter talentos secretos? — ele rebateu, abrindo a gaveta de frutas. Encontrou algumas laranjas, uma maçã e um limão. — Não é nada sofisticado, mas dá pro gasto.
Ela riu, balançando a cabeça e voltando a atenção para os camarões. O som da frigideira esquentando e do alho sendo refogado tomou conta da cozinha, misturando-se à música que ainda tocava baixo na sala. O cheiro começou a se espalhar rapidamente, fazendo Seonghwa se aproximar com um olhar faminto.
— Isso tá cheirando muito bem... — ele comentou, deixando as frutas sobre o balcão.
— Eu sei — %Amélia% respondeu com um sorriso orgulhoso. — Agora faz o seu coquetel aí enquanto eu termino isso. Não quero um inútil na minha cozinha.
Seonghwa colocou as mãos no peito, fingindo estar ofendido.
— Nossa, obrigado pela consideração.
— Disponha — ela retrucou, com uma risada.
Ele pegou as frutas e começou a cortá-las, tentando não se atrapalhar com a faca. Entre um corte e outro, olhava disfarçadamente para %Amélia%, que parecia completamente imersa no preparo dos camarões. Por um momento, o ambiente ficou quase tranquilo — só o som do óleo fritando, a faca cortando frutas e a música leve ao fundo.
— %Amélia%? — ele chamou, depois de um tempo, a voz mais baixa.
Seonghwa hesitou por um momento, olhando para o balcão à sua frente. Finalmente, respirou fundo e perguntou:
— Por que a gente se odeia?
A pergunta pegou %Amélia% de surpresa. Ela parou de mexer os camarões e virou-se lentamente para encará-lo. Seus olhos encontraram os dele, que agora tinham um brilho sério, quase reflexivo.
O silêncio entre eles se prolongou. A música ao fundo parecia ainda mais distante, abafada pelo peso daquela pergunta.
— O quê? — ela finalmente perguntou, quase em um sussurro.
— Você ouviu — Seonghwa respondeu, com um meio sorriso, mas o olhar permanecia firme. — Por que a gente se odeia, %Amélia%?
Ela ficou ali, segurando a espátula na mão, enquanto ele a olhava com expectativa. O silêncio se instalou mais uma vez, tenso e carregado de algo que nenhum dos dois parecia pronto para nomear.
%Amélia% abriu a boca para responder, mas nada saiu. Seonghwa apenas continuou ali, imóvel, esperando por qualquer palavra que quebrasse aquele momento.
— A gente... — ela começou, mas se interrompeu, desviando o olhar para a frigideira, como se aquilo fosse mais interessante do que encará-lo.
— A gente o quê? — ele insistiu, suavemente, como se não quisesse assustá-la.
Ela engoliu em seco, voltando a mexer os camarões de forma nervosa, tentando parecer ocupada.
— A gente não se odeia, Seonghwa. É só... o jeito que a gente é.
Seonghwa ficou em silêncio por um momento, mas não desviou os olhos dela.
— Será? — ele murmurou, quase para si mesmo.
%Amélia% não respondeu, mas seu coração batia rápido demais. Ela sentia o olhar dele em suas costas, e algo naquele momento — naquela cozinha, com o cheiro do alho e o som abafado da música — parecia ter mudado entre eles.
Seonghwa desviou o olhar primeiro, voltando a atenção para as frutas à sua frente. Ele pegou a faca novamente e começou a cortar as laranjas em fatias finas, tentando ignorar o peso do silêncio que havia se instalado entre eles.
Cada movimento parecia automático, mas sua mente estava longe dali. Enquanto espremeu uma das fatias na jarra de vidro, ele se pegou lembrando daquela noite — naquela mesma cozinha… Não lembrava exatamente como tinha começado, mas lembrava claramente de como havia terminado.
Eles tinham se beijado. Um beijo que começou hesitante, como se ambos tivessem medo de ultrapassar uma linha invisível, mas logo se transformou em algo mais intenso, mais urgente.
Seonghwa apertou o limão com mais força do que pretendia, espremendo-o todo de uma vez na jarra. Ele piscou algumas vezes, voltando ao presente. A realidade daquele momento era muito menos divertida do que aquela lembrança.
Ele levantou o olhar e lá estava %Amélia%, agachada diante da geladeira, procurando por algo. Ela mexia distraidamente entre os potes e garrafas, murmurando alguma coisa para si mesma. Seus cabelos caíam um pouco sobre o rosto, e ela o empurrava para trás de vez em quando, sem sucesso.
— Cadê aqueles temperos que estavam aqui? Juro que não joguei fora... — ela resmungou, ainda concentrada.
Seonghwa a observou por alguns segundos a mais do que deveria. Uma parte dele quis dizer alguma coisa —
qualquer coisa — para quebrar aquela tensão que parecia ter voltado a pairar sobre os dois. Mas ao invés disso, ele apenas ficou ali, com o copo de soju na mão, sentindo o gosto agridoce da memória.
— Tá tudo bem aí? — %Amélia% perguntou de repente, virando-se para encará-lo. Ela segurava um pote de sal grosso em uma das mãos e arqueava uma sobrancelha, como se tivesse percebido o olhar dele.
Seonghwa pigarreou, voltando a mexer o conteúdo da jarra como se sua vida dependesse disso.
— Ah, sim. Só estava... pensando em como melhorar isso aqui — ele mentiu, apontando para o coquetel meio improvisado que preparava.
%Amélia% semicerrou os olhos, como se não acreditasse totalmente, mas não o pressionou. Ela deixou o pote sobre o balcão e caminhou de volta para o fogão, onde os camarões começavam a ganhar um dourado perfeito.
— Ótimo. Porque eu tô morrendo de fome e esse negócio tem que combinar com o meu camarão — ela brincou, tentando trazer um pouco de leveza de volta ao momento.
— Vai combinar — Seonghwa respondeu baixinho, mais para si mesmo do que para ela.
Ainda assim, ele continuou a mexer os drinks com uma expressão distante, sem conseguir se livrar das lembranças. Era quase cruel como aquele momento parecia trazer tudo de volta. O cheiro dos camarões, o som abafado da música, a presença dela tão próxima e, ao mesmo tempo, tão distante.
Seonghwa finalmente encheu dois copos e os deixou sobre o balcão. Ele olhou para %Amélia% mais uma vez, agora de costas para ele, e respirou fundo, tentando se convencer de que aquilo era apenas uma noite comum. Mas ele sabia que não era.
E, no fundo, ele desconfiava que %Amélia% também sabia.
🌟🌟🌟🌟
A varanda era iluminada apenas por uma luz amarelada vinda de dentro da casa e pelos fogos que já começavam a estourar no céu. Seonghwa carregou os dois pratos até a pequena mesa redonda que havia ali, coberta apenas por uma toalha simples, e ajeitou as taças improvisadas com o drink de soju e frutas.
%Amélia% veio logo atrás, segurando uma garrafa de água e algumas velas que encontrou perdidas em uma gaveta. Ela as acendeu com cuidado, posicionando-as no centro da mesa. Quando terminou, ergueu os olhos para ele, que a observava com um sorriso discreto.
— Olha só, até que conseguimos um jantar de respeito — ela disse, ajeitando a cadeira antes de se sentar.
Seonghwa riu baixo, servindo-se do coquetel.
— Um jantar improvisado, mas tá valendo.
%Amélia% puxou o prato para si e olhou para os camarões dourados e as fatias finas de limão que ele colocara ao lado, como um toque de chef.
— Nada mal, senhora cozinheira. — Ele ergueu uma sobrancelha, como se a desafiasse. — Será que está tão bom quanto parece?
— Eu diria que tá ótimo — ela respondeu, confiante, enquanto se servia também. — Mas você pode dizer a verdade se estiver ruim.
Sengohwa soltou uma risada leve, finalmente dando a primeira mordida. O silêncio que se seguiu foi quase confortável. O som distante de outras comemorações ecoava, e o céu estrelado era riscado, vez ou outra, por explosões de fogos coloridos.
Ele olhava para a cidade abaixo deles, os olhos levemente perdidos enquanto girava o copo na mão. %Amélia% terminou de mastigar e o encarou por um segundo antes de romper o silêncio.
— Não acredito que vamos virar o ano presos aqui — ela disse, fingindo indignação, mas logo sorriu. — Isso definitivamente não estava nos planos.
Seonghwa desviou o olhar do horizonte e a encarou.
— Pior? — %Amélia% inclinou a cabeça, curiosa.
— É. — Ele sorriu de lado. — Pelo menos estamos bem alimentados, com bebida suficiente e... — Ele parou, escolhendo as palavras, os olhos voltando a encontrar os dela. — Com uma companhia tolerável.
%Amélia% deixou a taça de lado e cruzou os braços, fingindo uma expressão ofendida.
— Tolerável? Isso foi um elogio ou uma ofensa disfarçada?
Seonghwa deu uma risada baixa, balançando a cabeça.
Ela riu junto, o som ecoando suavemente pela varanda. Durante alguns segundos, apenas o silêncio os envolveu novamente, acompanhado pelos fogos que iluminavam o céu de tempos em tempos.
— Olha só, dá pra ver bem daqui — %Amélia% comentou, olhando para cima. Ela apoiou o cotovelo na mesa e o rosto sobre a mão, admirando as luzes que explodiam lá longe. — É bonito, né?
Seonghwa olhou para ela antes de olhar para os fogos. A luz colorida refletia no rosto de %Amélia%, destacando os traços delicados e o brilho nos olhos dela. Por um momento, ele esqueceu de responder.
— É — ele murmurou, quase sem pensar. — É bonito mesmo.
%Amélia%, distraída, continuava a admirar o céu. Ela parecia em paz, e Seonghwa se pegou sorrindo, esquecendo momentaneamente de todas as confusões do dia. Aquela noite, por mais inesperada e estranha que tivesse sido, parecia ter criado um pequeno universo só deles.
Quando %Amélia% voltou a olhá-lo, os olhos de ambos se encontraram de maneira quase automática. Nenhum deles falou nada por alguns segundos. Apenas ficaram ali, olhando um para o outro, com o céu estrelado e os fogos ao fundo, como trilha perfeita para o silêncio que, de alguma forma, dizia mais do que qualquer palavra.
— A gente devia brindar — %Amélia% sugeriu, quebrando o momento. Ela ergueu o copo improvisado, como se fosse uma taça. — Pela virada do ano... e por termos conseguido não nos matar até agora.
Seonghwa riu, pegando seu copo também.
Eles tocaram os copos, o som seco da batida ecoando baixinho.
🌟🌟🌟🌟
Eles terminaram de comer em silêncio, aproveitando a vista, enquanto os fogos ainda estouravam no céu, agora mais frequentes e intensos. %Amélia% pegou seu copo e o levou à boca, observando Seonghwa por cima da borda, que parecia imerso na visão da cidade, como se tentando encontrar algo ali, algo que fizesse sentido naquele caos improvisado que era a noite.
— Acho que isso merece um segundo round — ela disse, quebrando o silêncio, e se levantou para pegar mais bebida.
Seonghwa sorriu, aproveitando para começar a arrumar as coisas, tirando os pratos e copos vazios da mesa e os colocando na pia. Ele olhou para ela enquanto ela se mexia, puxando mais soju da garrafa que tinha deixado na bancada. Era uma cena simples, mas ele não pôde deixar de notar como o movimento dela, o jeito que ela mexia nas coisas, parecia mais... íntimo. Algo sem pressa, algo confortável.
%Amélia% voltou à mesa, oferecendo-lhe mais bebida. Ele pegou a taça, seus dedos se tocando por um segundo, um toque breve, mas que fez algo pulsar dentro dele.
— Não sei se já te falei isso, mas sua cozinha é uma bagunça — ela comentou, rindo enquanto olhava a área ao redor.
Seonghwa deu uma risada e fez um gesto exagerado com a mão, indicando a pia cheia de louça.
— Você não precisa me lembrar disso.
Ela se aproximou, dando-lhe uma ajudinha na limpeza, tirando os copos e os pratos que ainda restavam da mesa, enquanto ele se encarregava de guardar as sobras de comida. Por alguns minutos, o som da água correndo na pia e o barulho das louças foram os únicos que preencheram o ambiente, criando uma sensação de normalidade que, por um momento, fez tudo parecer mais leve.
Quando terminaram de organizar a cozinha, ambos se recostaram na bancada, tentando achar algo para fazer enquanto o relógio se aproximava da meia-noite.
— Isso é mais do que eu esperava para a virada — %Amélia% disse, com um sorriso divertido. Ela olhou para ele, seus olhos brilhando com a luz suave da cozinha.
Seonghwa não conseguiu evitar sorrir de volta, e uma tensão crescente começou a se formar entre eles. A proximidade, a luz suave da cozinha e o som distante dos fogos no céu pareciam criar um clima perfeito para algo mais.
Ele deu um passo à frente, um movimento lento, até que estava muito mais próximo dela do que deveria estar. Ela olhou para ele, e a distância entre os dois parecia desaparecer. Por um momento, a única coisa que existia ali era a respiração compartilhada e a certeza de que ambos estavam sentindo a mesma coisa.
— Eu nunca imaginei que estaríamos aqui assim…— ele disse, a voz baixa e um pouco rouca, com um sorriso quase nervoso nos lábios.
%Amélia% levantou os olhos para ele, sentindo o calor da proximidade. O silêncio entre eles era carregado de algo não dito, algo que não podia ser ignorado. Eles estavam mais uma vez à beira de uma escolha, mas dessa vez parecia que não havia mais volta.
Ela não respondeu, mas se inclinou ligeiramente para frente, o movimento suave, quase imperceptível, mas suficiente para que Seonghwa entendesse o que estava acontecendo. A tensão foi quebrada quando ele finalmente se aproximou mais, os lábios dela apenas a um suspiro de distância.
E então, como se fosse algo inevitável, ele a beijou. Foi um beijo intenso, mas lento, como se ambos estivessem esperando por aquilo, mas sem coragem de admitir. Os lábios de Seonghwa tocaram os dela com suavidade, explorando, provando a doçura do momento. O toque era hesitante no começo, como se estivessem se perguntando se poderiam ir mais longe. Mas, à medida que o tempo passava, a necessidade de mais se tornava evidente.
%Amélia% sentiu o coração acelerar assim que ele aprofundou o beijo, seus dedos tocando a pele macia de seu pescoço enquanto a mão de Seonghwa deslizava pela lateral de seu corpo, de forma quase reverente. Ela respondeu de imediato, aproximando-se dele, os corpos agora colados, com a respiração entrecortada e a sensação do calor de seus corpos se misturando.
Os lábios se moviam juntos, explorando, se encontrando com mais fervor, mais urgência. A língua de Seonghwa tocou a dela, uma dança suave, mas crescente. Ele sentiu o gosto doce dos seus lábios, misturado ao leve amargor do soju que ainda estava nos dois. As mãos dele se moveram para a cintura dela, apertando-a de forma possessiva, como se quisesse mantê-la ali, perto, mais perto do que qualquer coisa ou pessoa no mundo.
%Amélia% ofegou, um leve arrepio subindo por sua espinha quando ele a segurou com mais firmeza. Ela, sem pensar, deslizou suas mãos para o peito dele, os dedos sentindo os músculos tensos por baixo da camisa, como se estivesse tentando puxá-lo para mais perto. O calor deles parecia se intensificar, e cada toque, cada movimento, era como se o mundo ao redor fosse se dissolver, deixando apenas aquele momento.
Seonghwa inclinou a cabeça um pouco mais, aprofundando o beijo, a necessidade de tê-la ali agora tomando conta de seus sentidos. As mãos dela desceram para os ombros dele, sentindo a força e a firmeza de seu corpo, antes de se moverem para a parte de trás de sua nuca. Ela puxou-o ainda mais para si, como se a distância entre eles fosse algo insuportável.
Os dois estavam agora imersos naquele beijo, perdidos um no outro, com as bocas se buscando freneticamente, e as mãos explorando, tocando onde podiam, se conhecendo, como se não houvesse mais espaço para dúvidas ou hesitações. A tensão entre eles estava visível, mas algo mais estava ali, algo mais profundo e inevitável. Era como se o tempo tivesse parado, e tudo o que restava fosse a troca silenciosa de desejo e conexão.
Finalmente, quando a necessidade de ar os separou, os olhos de ambos se encontraram, e a intensidade daquilo tudo ainda estava lá, no silêncio, nas expressões encharcadas de desejo, mas também de uma curiosidade que eles não podiam ignorar. As respirações ainda estavam descompassadas, os corpos ainda próximos, e por um segundo, nada mais parecia importar além do que haviam compartilhado.
Seonghwa olhou para ela com os olhos cheios de uma mistura de surpresa e algo mais – uma sensação de ter cruzado uma linha da qual não havia mais volta.
%Amélia% não disse nada, mas seus lábios formaram um pequeno sorriso, a testa ainda encostada na dele, como se estivesse tentando processar tudo o que havia acabado de acontecer.
🌟🌟🌟🌟
%Amélia% sentiu o peso do momento finalmente caindo sobre ela. Seu corpo ainda estava quente, seus lábios ainda vibrando com o toque de Seonghwa. Por um segundo, ela ficou ali, com a testa contra a dele, sem saber o que pensar, o que dizer. Tudo parecia confuso, como se a linha entre o que haviam sido e o que poderiam ser tivesse se apagado. A tensão entre eles estava carregada de um significado que ela nunca imaginou que experimentaria.
Foi quando ela finalmente se deu conta de tudo o que tinha acontecido e afastou-se levemente, tentando desviar o olhar. Com a voz um pouco mais firme, ela disse, tentando parecer mais calma, mais controlada:
— Vou lavar as louças. Não é justo deixar para o pessoal amanhã e nem para nós dois.
Seonghwa não deu espaço para que ela se afastasse totalmente. Com um movimento rápido, ele segurou seu pulso, puxando-a suavemente para perto de novo. O corpo dos dois ficou colado, e ele não parecia disposto a deixar que ela escapasse tão facilmente. Seus olhos estavam profundos, intensos, quase como se ele quisesse absorver tudo o que ela sentia naquele momento.
— Você não vai fugir de novo, %Amélia% — ele disse com uma voz rouca, sua mão ainda presa ao pulso dela, mas agora com uma leveza quase desesperada. — Não hoje.
%Amélia% fechou os olhos, como se tentasse se proteger do que estava sentindo. O toque dele estava queimando sua pele, e o peso das palavras dele fez seu peito apertar. Ela respirou fundo, tentando manter a compostura.
— Isso não é um jogo, é, Seonghwa? — ela perguntou baixinho, a voz um pouco tremida, a dúvida e o medo voltando a tomá-la.
Seonghwa ficou em silêncio por um momento, encarando o rosto dela com uma intensidade que parecia impossível de descrever. Então, com a mesma calma que tinha sido usada durante o beijo, ele respondeu, as palavras saindo como um sussurro no ar:
— Meu bem, se isso for um jogo, eu já ganhei. Você não pode incendiar aquilo que já é fogo.
Seus olhos se aprofundaram ainda mais, como se finalmente estivesse pronto para admitir tudo. Ele inclinou a cabeça para ela, agora mais sério, mais vulnerável, do que ela jamais o vira. As palavras seguintes saíram com uma sinceridade crua, sem rodeios, sem mais jogos:
— A raiva, a tensão, essa coisa toda que sempre teve entre nós... Tudo isso, %Amélia%, sempre foi só uma forma de eu esconder o que sentia. Eu tinha medo de você não me querer, de você me rejeitar, e eu não sabia como lidar com isso, então...
eu escondi atrás dessa raiva. Eu sempre fui atraído por você, mas o medo de perder o que tínhamos, o medo de você me ver de verdade, me fez afastar. Eu sempre lutei contra isso, contra nós... Mas, no final, não tem como negar. O que sinto por você é mais forte do que qualquer barreira que eu tentei construir entre nós.
%Amélia% o encarou em silêncio por alguns segundos, o choque das palavras fazendo seu coração acelerar. Ela podia ver a sinceridade nos olhos dele, podia sentir a vulnerabilidade que ele tentava esconder, mas, por algum motivo, ela não sabia como reagir. O peso daquilo tudo estava finalmente tomando forma na sua mente, e, por mais que a confusão ainda estivesse presente, ela sabia que não poderia ignorar o que estava acontecendo ali, entre eles.
Finalmente, ela deu um passo para trás, mas a expressão dela era mais suave, mais aberta. Não havia mais raiva, não havia mais distância. Havia algo mais, algo que ela não sabia exatamente como rotular, mas que sabia que era impossível de ignorar.
Ela respirou fundo, sentindo as palavras pesarem em seu peito.
— Eu... Eu não sei o que fazer com tudo isso, Seonghwa — ela disse, a voz baixa e trêmula. — Mas não dá para voltar atrás agora, não é?
Seonghwa a olhou com uma intensidade que a fez se sentir exposta, mas ao mesmo tempo, mais conectada a ele do que jamais estivera.
— Não, não dá — ele respondeu, sua voz baixa, mas cheia de algo profundo. — Não dá para voltar atrás, %Amélia%. E, sinceramente, nem quero.
%Amélia% permaneceu imóvel, as palavras dele ecoando em sua mente como um trovão distante. Seu olhar se fixou no rosto de Seonghwa, como se tentasse decifrá-lo, como se procurasse desesperadamente algum sinal de que aquilo era apenas uma brincadeira cruel, uma peça pregada em um momento de vulnerabilidade.
Afinal, ele não poderia estar falando sério… poderia? Os olhos dela deslizaram lentamente sobre as feições dele. A linha marcada do maxilar, que parecia sempre tenso quando estavam discutindo. Os lábios, agora entreabertos, ainda vermelhos do beijo que haviam compartilhado minutos antes. O nariz reto,
perfeito... Mas foram os olhos que a prenderam de verdade. Eram profundos demais, sinceros demais, sem vestígio algum de brincadeira ou ironia.
%Amélia% franziu o cenho, quase desconfiada, como se estivesse tentando encontrar uma rachadura naquela máscara que ele tanto usava — mas não havia máscara alguma agora. Tudo o que Seonghwa carregava no olhar era verdade crua, exposta, vulnerável. E aquilo a deixou mais desconcertada do que qualquer palavra que ele havia dito.
— Você tá... falando sério? — ela murmurou, a voz soando hesitante, como se tivesse medo da resposta.
Seonghwa não desviou o olhar nem por um segundo. Ele permaneceu ali, firme, encarando-a com uma intensidade que parecia devorá-la.
— Estou — ele respondeu simplesmente, a voz rouca, baixa, quase um sussurro. — Pela primeira vez, eu tô sendo completamente sincero com você, %Amélia%.
Ela sentiu um nó se formar em sua garganta. As mãos, ainda trêmulas, se fecharam ao lado do corpo enquanto sua mente corria em mil direções. Parte dela queria acreditar nele — queria desesperadamente acreditar que tudo aquilo era real. Mas a outra parte ainda estava presa no receio, na desconfiança que eles mesmos haviam alimentado ao longo de todo aquele tempo.
— Você nunca foi assim comigo — ela sussurrou, quase para si mesma, como se estivesse tentando racionalizar tudo. — Sempre teve essa... essa barreira entre a gente. Como você espera que eu acredite nisso agora?
Seonghwa deu um passo mais perto, a presença dele intensa demais, próxima demais. A proximidade fez o ar entre eles parecer mais pesado, carregado de algo impossível de ignorar.
— Porque eu tô aqui, na sua frente, te dizendo isso, %Amélia%. — A voz dele tinha um peso diferente agora, como se cada palavra fosse carregada de tudo o que ele não havia conseguido dizer antes. — Não tô me escondendo, não tô te afastando. Eu tô exatamente onde eu quero estar.
Com você. %Amélia% desviou o olhar por um segundo, os pensamentos girando em sua mente como um furacão. Ainda assim, ela não conseguiu evitar que seus olhos voltassem a se prender nos dele, procurando — mais uma vez — qualquer sinal de mentira, qualquer indício de que aquilo era uma farsa. Mas não encontrou. Tudo o que viu foi a verdade nua e crua refletida ali.
— Seonghwa... — ela começou, mas a voz falhou antes que pudesse dizer qualquer coisa.
Ele a interrompeu, dando outro passo à frente até que os corpos estivessem a poucos centímetros de distância novamente.
— Eu sei que você tá com medo — ele murmurou, agora mais perto, as mãos finalmente subindo para segurar os braços dela, como se quisesse impedir que ela fugisse. — Mas você não precisa ficar. Eu também tive medo. Passei tempo demais escondendo isso, fingindo que o que sentia era raiva, irritação, qualquer coisa menos isso. Mas você sabe tão bem quanto eu que não dá mais para fingir.
%Amélia% sentiu o coração acelerar e o nó em sua garganta apertar ainda mais. Ela mordeu o lábio, tentando conter as emoções que ameaçavam transbordar. Tudo o que ele dizia parecia certo — parecia inevitável. E ainda assim, ela estava ali, dividida entre o medo de acreditar e a vontade incontrolável de finalmente se entregar àquele sentimento.
— Eu só... — ela começou novamente, os olhos ainda presos aos dele. — Eu só não quero que isso vire outra guerra entre a gente.
Seonghwa sorriu de lado, o polegar subindo para roçar suavemente o braço dela em um gesto quase tranquilizador.
— Não vai — ele garantiu, a voz mais suave agora, mas ainda firme. — Porque pela primeira vez, a gente tá do mesmo lado.
Os olhos de %Amélia% continuaram analisando os dele, buscando até o menor traço de dúvida. E quando não encontrou, algo dentro dela pareceu ceder. O nó na garganta se desfez aos poucos, e o peso nos ombros diminuiu, como se, pela primeira vez em muito tempo, ela estivesse realmente pronta para baixar a guarda.
— Tá bom... — ela murmurou finalmente, quase como um suspiro.
Seonghwa inclinou a cabeça, o olhar suavizando ainda mais.
— Tá bom? — ele repetiu, a voz cheia de cuidado.
%Amélia% respirou fundo, permitindo que um pequeno sorriso escapasse pelos lábios. — Tá bom.
— Você pensa que eu não me importo e eu penso que você não sente. Esse foi o nosso problema o tempo todo.
Seonghwa soltou a frase como se estivesse carregando aquele peso por tempo demais, como se cada palavra tivesse sido presa na garganta, esperando o momento certo para ser liberada. O silêncio que se seguiu foi denso, preenchido apenas pelas respirações entrecortadas dos dois, que pareciam lutar contra tudo o que sentiam.
%Amélia% piscou lentamente, absorvendo o que ele havia dito.
“Você pensa que eu não me importo e eu penso que você não sente…” Aquelas palavras a atingiram como um soco no peito. Ela sentiu o ar escapar de seus pulmões, a verdade nua e crua do que tinham vivido até ali finalmente ganhando forma.
— O quê? — foi tudo o que ela conseguiu murmurar, a voz fraca, quase inaudível.
Seonghwa não desviou o olhar. Pelo contrário, ele se inclinou ainda mais perto, os dedos agora deslizando lentamente pelo braço dela até pousarem em seus ombros. Seu toque não era brusco; pelo contrário, era firme, mas carregado de cuidado, como se quisesse que ela soubesse que ele estava ali, que não iria mais a lugar algum.
— A gente se escondeu atrás de interpretações erradas esse tempo todo — ele continuou, a voz grave e carregada de emoção. — Eu achava que você nunca ia olhar pra mim do jeito que eu olho pra você. Que, pra você, eu era só um problema, alguém que te irritava e que você queria manter longe.
Os olhos dela se arregalaram ligeiramente, mas ela não o interrompeu. Seonghwa respirou fundo, os lábios trêmulos, como se as palavras ainda fossem difíceis de admitir.
— Então, eu me fechei. Construí um muro entre nós, porque era mais fácil acreditar que você não sentia nada do que encarar a ideia de que... de que talvez eu não fosse suficiente pra você.
%Amélia% sentiu o coração afundar no peito. Ela abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. As palavras dele estavam batendo com força demais em sua mente, arrancando cada uma de suas certezas e expondo todas as dúvidas que ela própria carregava.
— Seonghwa... — ela tentou, mas ele a interrompeu com um movimento suave da cabeça.
— Me deixa terminar, por favor…
Ela ficou em silêncio, apenas o olhando.
— A verdade é que eu sempre me importei com você. Muito mais do que devia, muito mais do que queria. — Ele soltou um riso seco, quase sem humor. — Porque me importar significava dar a você o poder de me machucar. E, cara, você tinha esse poder, %Amélia%.
Você sempre teve. A garganta dela apertou. Ele estava se despindo diante dela — não fisicamente, mas emocionalmente. Aquele Seonghwa que ela sempre julgara intocável, inabalável, estava finalmente deixando cair a armadura. E a visão a deixou sem chão.
— Eu? — ela sussurrou, quase como se não acreditasse.
— É. Você. — Seonghwa afrouxou o toque nos ombros dela apenas para subir as mãos até o rosto de %Amélia%, segurando-o com toda a delicadeza do mundo, como se ela fosse feita de vidro. — E foi por isso que eu fui tão idiota às vezes. Eu tentava esconder, afastar, fingir que não tava nem aí. Mas você tem razão: isso nunca foi um jogo. Não pra mim.
%Amélia% fechou os olhos por um segundo, sentindo o calor das mãos dele em sua pele e tentando acalmar o turbilhão dentro de si. Quando voltou a abri-los, o rosto de Seonghwa estava tão perto que ela podia sentir a respiração dele contra seus lábios.
— E você? — ele perguntou, a voz mais baixa agora, quase como um sussurro. — Vai continuar fingindo que não sente também?
O coração dela martelava tão forte que parecia ecoar por todo o corpo. %Amélia% queria responder, queria dizer que ele estava errado, que tudo aquilo era uma loucura. Mas as palavras não vinham, porque, no fundo, ela sabia que ele estava certo.
Ela sempre soube. Seonghwa inclinou a cabeça levemente, o polegar deslizando pelo rosto dela num carinho sutil.
— Fala comigo, %Amélia%. Não foge de mim agora.
Ela soltou um suspiro trêmulo, os olhos voltando a analisar cada centímetro do rosto dele, ainda buscando — ou talvez apenas temendo encontrar — algo que pudesse desmentir aquilo. Mas tudo o que ela viu foi amor. Um amor puro, ardente, e uma paixão que havia sido reprimida por tempo demais.
— Eu não sei o que fazer com isso, Seonghwa — ela admitiu, finalmente, a voz carregada de emoção. — Eu tô... eu tô com medo.
Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas tão genuíno que fez o coração dela vacilar.
— Eu também tô. Mas, pela primeira vez, eu não quero fugir.
%Amélia% ficou em silêncio, o olhar preso ao dele. Ela sentia como se estivesse diante de um abismo — um salto no desconhecido, perigoso e irreversível. Mas as mãos dele ainda seguravam seu rosto, os olhos dele ainda imploravam para que ela confiasse nele.
— Só me diz uma coisa — ela murmurou, com a voz quase inaudível. — Isso é real?
Seonghwa encostou a testa na dela, fechando os olhos por um segundo.
— É mais real do que qualquer outra coisa que eu já senti na minha vida.
E então, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele a beijou.
O beijo começou devagar, quase como se ambos tivessem medo de quebrar o momento que compartilhavam. Os lábios de Seonghwa tocaram os dela com uma delicadeza inesperada, como se estivesse pedindo permissão para aprofundar aquilo, como se temesse que ela recuasse. %Amélia%, no entanto, não o fez.
Pelo contrário, ela respondeu ao toque, permitindo que ele a puxasse para mais perto, até que seus corpos estivessem completamente colados. A pressão dos lábios de Seonghwa se intensificou, e a necessidade contida em ambos começou a transbordar. Suas bocas se moviam em perfeita sintonia, como se aquele beijo fosse o culminar de tudo o que tinham segurado por tanto tempo — todas as palavras não ditas, todos os olhares evitados, todas as emoções guardadas.
Seonghwa deslizou uma das mãos para a nuca dela, os dedos se entrelaçando nos fios macios de seu cabelo, enquanto a outra mão repousava firme em sua cintura, como se estivesse tentando mantê-la ali, junto dele, para sempre. %Amélia% sentiu o calor das mãos dele se espalhar por seu corpo, a fazendo estremecer e se entregar ainda mais ao beijo.
O coração dela batia tão rápido que parecia que iria saltar do peito. Cada movimento dos lábios dele enviava ondas de calor por todo o seu corpo, como se estivesse queimando de dentro para fora. %Amélia% levou as mãos até os ombros de Seonghwa, mas não parou por aí. Seus dedos subiram lentamente até a linha do maxilar dele, sentindo a pele quente sob suas mãos trêmulas.
Era a primeira vez que %Amélia% se permitia sentir aquilo tão plenamente, sem medo, sem reservas. O mundo ao redor deles desapareceu, como se só existisse o toque, o beijo, e os suspiros pesados que escapavam entre uma pausa e outra.
Quando finalmente se afastaram, ambos estavam ofegantes, as respirações descompassadas misturando-se no espaço ínfimo entre seus rostos. Os olhos de Seonghwa procuraram os dela, e %Amélia% não ousou desviar o olhar. Havia algo em seus olhos que ela nunca havia visto antes — uma combinação de alívio, carinho e uma paixão ardente, agora liberta.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, %Amélia% deixou o corpo ceder. Ela afundou o rosto no pescoço dele, os braços deslizando para envolvê-lo em um abraço apertado. Seonghwa correspondeu imediatamente, envolvendo-a com força, como se quisesse protegê-la do mundo inteiro.
Por um momento, nenhum dos dois disse nada. Ficaram ali, apenas respirando juntos, sentindo a presença um do outro como um bálsamo para tudo o que tinham guardado por tanto tempo.
— Isso não devia ser tão assustador... — ela sussurrou, a voz abafada contra o pescoço dele.
Seonghwa afagou os cabelos dela suavemente, a respiração ainda descompassada.
%Amélia% apertou o abraço um pouco mais, como se o medo de perdê-lo pudesse voltar a qualquer momento.
— Porque eu acho que nunca me permiti sentir isso por ninguém antes.
Seonghwa afastou o rosto apenas o suficiente para olhar para ela. %Amélia% sentiu o toque delicado dos dedos dele em seu queixo, guiando-a para encará-lo.
— Então, sente? — ele perguntou baixinho, o olhar sério, mas carregado de uma doçura que a desarmou por completo.
Ela respirou fundo, buscando forças para admitir o que seu coração gritava.
— Sinto. Sempre senti. Mas eu... eu não sabia o que fazer com isso. A gente briga, Seonghwa. A gente é tão diferente. Eu pensei que... que era só coisa da minha cabeça.
O sorriso dele foi pequeno, mas sincero, como se finalmente pudesse enxergar através dela.
— A gente briga porque a gente se importa. E as diferenças? Eu gosto delas. Elas me desafiam. Você me desafia.
%Amélia% riu baixinho, ainda abraçada a ele.
— Você é insuportável, sabia?
Seonghwa soltou um riso rouco, inclinando-se para encostar a testa na dela.
— E você é teimosa demais. Mas quer saber? Eu gosto disso também.
Ela fechou os olhos, permitindo-se finalmente sorrir. Pela primeira vez em muito tempo, %Amélia% sentia que não precisava correr, não precisava fugir. O peso que carregava parecia ter se dissolvido nos braços dele.
— Eu não quero mais fugir — ela sussurrou, quase como uma confissão.
Seonghwa a apertou um pouco mais contra si, e sua voz veio firme e suave ao mesmo tempo, como uma promessa:
— Então, fica. Aqui. Comigo.
%Amélia% sorriu novamente, e, pela primeira vez, ela soube que aquele era o lugar onde queria estar.
🌟🌟🌟🌟
A noite de Ano Novo foi repleta de momentos memoráveis e sentimentos à flor da pele. %Amélia% e Seonghwa estavam na varanda do apartamento dele, abraçados, enquanto observavam os fogos de artifício iluminarem o céu. A brisa da noite os envolvia, mas o calor do abraço compartilhado os mantinha aquecidos. Entre sorrisos e olhares cúmplices, os dois aproveitavam a intimidade do momento, deixando para trás todas as dúvidas e medos que antes os afastavam.
Enquanto isso, na praia, os amigos celebravam juntos, cheios de energia e alegria. Risadas, brindes e abraços eram trocados, enquanto cada um fazia seus desejos para o novo ano. Os fogos refletiam na água, criando um espetáculo que parecia mágico. Alguns corriam pela areia, outros dançavam ao som da música ao fundo, e todos estavam imersos na leveza e na esperança que a chegada do ano novo trazia.
Mesmo distantes, %Amélia% e Seonghwa sentiam-se conectados aos amigos na praia. Entre um beijo e outro, %Amélia% sorria ao lembrar das brincadeiras e planos feitos antes da meia-noite. Quando o relógio marcou o novo ano, os dois trocaram um beijo cheio de promessas silenciosas. Na praia, abraços e votos de felicidade ecoavam pela areia, enquanto os fogos continuavam a pintar o céu.
Era uma virada cheia de simbolismos: a renovação de laços, a superação de barreiras e o início de algo novo, tanto para %Amélia% e Seonghwa quanto para o grupo de amigos. O novo ano prometia ser inesquecível, marcado por amor, amizade e sonhos compartilhados.
🌟🌟🌟🌟
A porta da casa se abriu devagar, e as vozes animadas dos amigos ecoaram pelo corredor enquanto entravam, ainda carregados pela energia da comemoração na praia. Riam, comentando sobre os fogos e as promessas feitas para o novo ano, mas logo a conversa cessou quando os primeiros perceberam a cena na varanda.
%Amélia% e Seonghwa estavam lá, de costas para a sala, completamente alheios à chegada deles. Seonghwa tinha os braços ao redor de %Amélia%, segurando-a contra ele, enquanto ela descansava a cabeça em seu peito. Os dois pareciam perfeitamente à vontade naquele abraço, com a luz amarelada da casa e os últimos fogos iluminando o horizonte.
%Bianca% foi a primeira a perceber e parar, os olhos se arregalando enquanto cutucava Yunho ao lado.
— O que foi? — Yunho perguntou distraído, mas logo acompanhou o olhar dela. Um sorriso malicioso surgiu em seu rosto. — Eu sabia! — ele disse em um tom de voz mais alto, quebrando o silêncio.
%Amélia% e Seonghwa se sobressaltaram, claramente pegos de surpresa. %Amélia% afastou-se apenas o suficiente para encarar o grupo que agora os olhava com uma mistura de surpresa e divertimento. Seonghwa, no entanto, manteve uma das mãos em sua cintura, como se não houvesse mais motivo para esconder nada.
— Já voltaram? — %Amélia% perguntou, tentando soar casual, mas o tom nervoso a entregou.
— Isso é sério? — perguntou %Lia%, um sorriso se formando enquanto Hongjoong, ao lado dela, cruzava os braços com uma expressão satisfeita. — Porque, sinceramente, já estava na hora!
— Não acredito nisso! — %Letícia% exclamou, segurando o braço de Wooyoung. — Eu devia ter apostado, falei pra você que ia acontecer hoje.
— Eu queria dizer que não tô surpreso,
mas tô, de um jeito bom — Wooyoung acrescentou, rindo.
— Vocês não cansam de ser fofoqueiros? — Seonghwa perguntou, fingindo uma expressão aborrecida enquanto sorria de canto.
— Não quando é sobre vocês dois — retrucou %Marina%, abraçada a Jongho, que tentava esconder um sorriso. — Agora expliquem isso direito: o que aconteceu aqui enquanto a gente tava na praia?
%Sophia%, que vinha acompanhada de San, se aproximou mais da varanda, olhando de %Amélia% para Seonghwa.
— Vocês dois têm alguma coisa a declarar?
%Amélia% revirou os olhos, rindo baixo, e tentou se afastar um pouco mais, mas Seonghwa a puxou de volta, mantendo-a próxima.
— Antes que comecem a criar teorias absurdas — ele começou, lançando um olhar para o grupo — sim, estamos juntos agora.
—
Finalmente! — Yeosang comemorou, erguendo os braços teatralmente. %Giovana% ao seu lado deu uma risada alta, balançando a cabeça.
— Isso não podia ter acontecido de uma maneira mais clichê — Mingi acrescentou, dando um tapinha no ombro de %Isabela%, que ria com ele.
— E vocês dois vão ser insuportáveis juntos a partir de agora? — Hongjoong perguntou, fingindo estar preocupado.
— Provavelmente — Seonghwa respondeu, lançando um sorriso divertido para %Amélia%, que apenas o cutucou de leve, mesmo sorrindo junto.
— Eu tô chocada, mas feliz — %Letícia% disse, apoiando-se em Wooyoung, enquanto ele balançava a cabeça, ainda rindo.
Os amigos finalmente deixaram o casal em paz, espalhando-se pelo apartamento entre risadas e histórias sobre a noite na praia. No entanto, antes de ir, %Lia% lançou um olhar cúmplice para %Amélia% e cochichou:
— Vocês demoram, mas fazem bonito, viu?
%Amélia% riu, meneando a cabeça, mas não respondeu. Quando todos voltaram às conversas, ela e Seonghwa trocaram um olhar que dizia mais do que qualquer palavra. Por um instante, era como se o mundo ainda estivesse parado ao redor deles — os amigos, os fogos, o novo ano — mas agora, tudo parecia diferente.
— Você acha que eles vão esquecer isso? — ela murmurou, divertindo-se com o clima caótico.
— Não mesmo — Seonghwa respondeu, rindo baixo. — Mas quem se importa?
%Amélia% sorriu, encostando a cabeça no ombro dele novamente enquanto o barulho das conversas e gargalhadas preenchia o ambiente. Aquela noite, e aquele novo ano, começavam exatamente do jeito que precisavam:
juntos.🌟🌟🌟🌟
O céu começava a clarear lentamente, tingindo o horizonte de tons rosados e dourados, enquanto o silêncio suave da madrugada tomava conta do ambiente. A casa estava em paz após a longa noite de festa, com os amigos finalmente adormecidos pelos cantos. Apenas o som sutil da água movimentando-se na piscina quebrava a quietude do amanhecer.
%Amélia% e Seonghwa estavam ali, na piscina, sozinhos. A água refletia as primeiras luzes do dia, cintilando como um espelho quebrado. %Amélia% flutuava de olhos fechados, com os braços abertos, deixando o corpo ser embalado pela água. Seonghwa, encostado na borda da piscina, observava-a com um sorriso discreto, como se ainda tentasse absorver tudo o que havia acontecido naquela noite.
— É estranho pensar que há poucas horas a gente estava... brigando — ela murmurou, quebrando o silêncio, ainda com os olhos fechados.
— Não estávamos exatamente brigando. Era... uma forma peculiar de comunicação — Seonghwa respondeu, rindo baixo.
Ela abriu os olhos e virou o rosto para ele, um sorriso brincando em seus lábios. — Ah, claro, porque
discussões inflamadas são a melhor forma de comunicação.
— Funcionou, não funcionou? — ele provocou, nadando em direção a ela.
%Amélia% riu, mas deixou-se ser envolvida quando Seonghwa a puxou suavemente pela cintura, trazendo-a mais perto. A água morna parecia um abraço que os cercava, acompanhando o calor daquele momento.
— Não sei o que você fez comigo, Seonghwa — ela confessou em voz baixa, encarando os olhos dele, agora mais suaves à luz do amanhecer. — Mas, pela primeira vez em muito tempo, sinto que estou exatamente onde deveria estar.
Seonghwa não respondeu de imediato. Ele a encarou por um longo momento, como se tentasse gravar aquela imagem — a pele iluminada pelos primeiros raios do sol, as gotículas d'água escorrendo pelo rosto e os olhos que, mesmo cansados, pareciam brilhar.
— Você está onde deveria estar — ele murmurou enfim, a voz grave e baixa. — E eu também.
%Amélia% sentiu o coração bater mais forte no peito, e antes que pudesse responder, ele inclinou-se para beijá-la. Foi um beijo suave e cheio de promessas, diferente dos anteriores, como se o amanhecer estivesse dando a eles uma tela em branco para começar de novo.
Quando se separaram, %Amélia% encostou a testa na dele, rindo baixinho.
— Feliz Ano Novo, Seonghwa.
Ele sorriu, puxando-a para mais perto, enquanto a luz do dia finalmente iluminava tudo ao redor.
— Feliz Ano Novo, %Amélia%.
Eles ficaram ali, abraçados na piscina, enquanto o sol nascia por completo, marcando não só um novo dia, mas uma nova fase para os dois. A água refletia o dourado do céu, como se o universo inteiro estivesse celebrando aquele momento com eles.
Lá dentro, os amigos ainda dormiam, mas, na varanda da casa, a garrafa de espumante e as taças esquecidas testemunhavam a noite que havia mudado tudo. E na piscina, %Amélia% e Seonghwa eram apenas dois corações finalmente alinhados, comemorando o início do que viria a ser
deles.
Fim