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ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

O Espaço Criativo não se responsabiliza pelo conteúdo das histórias hospedadas na sessão restrita ou apontadas pelo(a) autor(a) como não próprias para pessoas sensíveis.

Vermilion

Escrita porLiv
Revisada por Mariana

Capítulo único

Tempo estimado de leitura: 5 minutos

O espelho refletia uma silhueta tão conhecida por mim, mas ao mesmo tempo, distante. Meu dedo decidia em qual "eu" iria tocar, havia sete pedaços colados que mostravam a máscara que meu corpo vestia todos os dias na frente dos demais. A camisa branca tinha uma pequena mancha na altura da gola, mas nada que meu casaco não cobrisse. Meu olhar percorreu pelo meu rosto, indo de encontro com a janela que insistia em ficar batendo por culpa do vento que vinha quando queria. Antes de fecha-la, dei uma espiada lá fora, tendo a visão que eu mais queria: a garota com o vestido vermelho. Eu corri para terminar de arrumar tudo, sem me importar em fechar a janela, afinal, a minha menina estava me aguardando no nosso ponto de encontro e eu não iria perder mais nenhum segundo cortando meus dedos naqueles vidros, mesmo que eu gostasse.
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  Saí na rua com passos apressados, e ainda sim percebi que o cenário estava mudando gradativamente, causando uma estranheza em mim. As nuvens fechavam o tempo, e o anoitecer se tornou um fundo muito escuro, que só era possível enxergar aquele vestido vermelho graças ao único poste que tentava iluminar a estrada. Quanto mais eu me aproximava, minhas pernas iam se cansando, e o desespero de não chegar a tempo do meu encontro se instalou em meu peito. Forcei os meus pés a me obedecerem, quase precisando travar uma luta com a minha cabeça que insistia em me boicotar o dia inteiro. Com muito custo, toquei nas gramas e todo o peso que eu sentia sumiu, dando um alívio para o meu corpo. Levei alguns minutos para me recuperar, e recebi um beijo quente na minha bochecha, seguido de uma mordiscada leve no local. Me coloquei de pé e encarei a coisa mais perfeita que já tive o prazer de desfrutar na minha lamentável vida, vendo aquele sorriso se desmanchar ao desviar seus grandes olhos heterocromáticos de mim.
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  Ela estava se sentindo culpada.
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  E eu sabia exatamente o motivo.
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  Nos conhecemos há cinco meses e todas as noites eu fazia questão de procurá-la no parque, mais precisamente, no balanço. Conforme a brisa gélida tocava levemente seus cabelos macios, a minha paixão mal reparava na minha chegada, e meu rosto queimava de vergonha, assim que nem o dela quando me via. Durante a minha existência, em meus sonhos mais profundos, ela surgia e agia de acordo com os meus sentimentos, como se fôssemos um só. Ao vê-la fora da minha cabeça, todos os detalhes eram perfeitamente iguais, e de início isso me assustou. Na primeira semana eu tentava falar algo, porém o silêncio era a resposta que ficava explícita no ar. Aos poucos fui escutando aquele timbre adocicado, e a minha vontade de ficar a madrugada inteira observando aquele ser descalço, correndo com parte de seu vestido vermelho na mão só crescia.
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  Até o dia que seus lábios pronunciaram a notícia que arruinaria o meu céu estrelado.
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  Três meses após o anúncio, a minha paixão ia me deixando triste, e eu não sabia o que fazer. Nunca achei que chegaríamos nesse ponto, e ela tinha noção de como eu me sentia. Como nós nos sentíamos. Aqueles malditos olhos não conseguiam mentir, e mesmo que fizesse isso, a culpa que consumia o seu corpo se instalava no meu que nem uma bomba relógio prestes a explodir.
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  E desta vez, não teríamos para onde fugir.
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  Encarei a minha garota com certa incerteza, e meu coração já ia se despedaçado ao ver a boca dela abrindo e o silêncio novamente surgia. Ficamos assim durante longos minutos, até que ela segurou a barra de seu vestido, vestindo a minha vergonha em si como da primeira vez.
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  - Você precisa acordar.
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  - Não! - Gritei. - Você não pode me mandar ir embora, Lion. Por que me deixaste assim, tão triste? Eu sinto a sua culpa! E eu não quero mais ter isso dentro de mim.
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  - Nós precisamos acordar. - Sua voz ia se tornando distante, assim como a sua silhueta.
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  Um sentimento adormecido no meu interior foi acionado ao ouvir aquelas palavras, e a frase continuava saindo dos lábios da minha paixão. Minha cabeça começou a girar e um nó surgiu na minha garganta, me impossibilitando de chama-la. A raiva crescia tão rápido e em menos de dez segundos meus dedos estavam em volta daquele pescoço tão delicado e sua feição de surpresa era exatamente igual a minha. Quanto mais eu apertava, mais meu corpo implorava para parar, mas eu não podia.
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  Não podia deixa-la crescer dentro de mim.
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  Não mais.
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  - Você não é real, não é? - Uma lágrima escorria pelo meu rosto ao receber a confirmação. - Por que não me contou antes?
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  - Você p-precisava perceber sozinho.
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  - P-p-perceber o quê? - Comecei a ficar sem ar.
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  - Que nós somos um só, meu querido.
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  Ao escutar o seu último suspiro, a escuridão me envolveu em seus braços, fazendo com que eu perdesse a minha consciência e a única coisa que eu me lembraria para sempre era dos nossos corpos mortos se desfazendo com o vento.
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Fim

Capítulo único
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