CAPÍTULO DOIS
Tempo estimado de leitura: 12 minutos
Em silêncio ambos começaram a guardar suas roupas pouco a pouco no grande guarda-roupas do quarto, depois de pacificamente dividirem o espaço entre eles com coisas como
“ah mulheres sempre precisam de mais espaço, então eu fico com as gavetas” e
“ah tudo bem então, vou colocar só as roupas que podem amassar nos cabides, o resto deixo dentro da mala mesmo”. Já dentro do banheiro privativo, %Lauren% encarou a pia de mármore cinza e viu que a mesma era bem pequena, e que provavelmente seus itens não caberiam ali junto com os do senhor %Han%. E só aí ela percebeu que ainda nem sabia o nome dele.
— O seu nome é %Han%? — Ela virou o corpo na direção dele, que agora arrastava a mala até um canto do quarto.
— Sobrenome. Meu nome é %Jisung%. E o seu? — Ele ergueu o corpo e os olhos para encará-la, escorada na porta do banheiro.
%Lauren% piscou algumas vezes e respondeu:
— %Lauren%. Muito prazer, príncipe encantado.
— Muito prazer, alecrim dourado.
Os dois permaneceram assim, se encarando por alguns minutos e quando %Lauren% percebeu que poderia acabar se perdendo levemente na profundidade dos olhos de %Jisung%, ela se voltou para dentro do banheiro outra vez. O coração acelerado, dentro do peito e ela se perguntou o porque, já que haviam sido apenas alguns minutos encarando um completo estranho.
— Você se importa se eu colocar os meus itens de higiene aqui na pia? É que não vai caber os meus e os seus…
Ela perguntou num tom mais suave, ainda de costas, enquanto começava a retirar uma necessaire elegante da mochila. Os frascos de
skincare, escova de dente e perfume estavam organizados com precisão quase cirúrgica.
%Jisung% encostou a mala no canto com um leve suspiro e se aproximou da porta do banheiro, ficando a poucos passos dela.
— Eu sobrevivo. Nem tenho muita coisa mesmo. Shampoo dois em um, pasta de dente e um desodorante. Minimalismo de homem solteiro.
%Lauren% soltou um riso abafado.
— Não me diga. Estou surpresa que você não tenha trazido uma pedra de sabão e uma toalha velha.
— Ei, eu trouxe uma toalha decente. — Ele ergueu a mão em sinal de defesa, com um meio sorriso. — E pelo menos meu desodorante é antitranspirante. Isso conta como consideração, né?
Ela balançou a cabeça, ainda rindo, e começou a posicionar seus frascos de forma ordenada na parte disponível da pia.
— Ok. Você ganha pontos por isso. Mas eu fico com o lado esquerdo, combinado?
— Combinado. Só não me culpe se meu shampoo invadir território.
Ela ergueu o rosto devagar, os olhos encontrando os dele mais uma vez. O clima entre os dois oscilava entre implicância e algo que ela ainda não queria nomear. A forma como ele a olhava — como se estivesse se divertindo, mas também prestando atenção de verdade — fazia algo pulsar dentro dela.
%Lauren% desviou o olhar rapidamente, focando novamente nos frascos.
“Não. Não. Nada disso. É só tensão de espaço. Isso não é flerte. Isso não é nada.” — Vai querer tomar banho primeiro ou posso ir?
— Pode ir — respondeu ele, cruzando os braços. — Mas só se prometer que não vai roubar toda a água quente.
Ela sorriu por cima do ombro.
E fechou a porta com um clique suave, tentando ignorar o fato de que seu coração ainda batia um pouco rápido demais.
🍃🍃🍃
Enquanto %Lauren% tomava seu banho tranquilamente com a porta do banheiro devidamente trancada, %Jisung% andou pelo quarto, parando no guarda-roupas outra vez… Ali nos cabides, com as portas ainda abertas — já que nenhum dos dois havia se lembrado de fechá-las, ele viu pendurado em um cabide um vestido de seda, salmão.
“Ou seria uma camisola?”, ele pensou levando instintivamente uma das mãos até o tecido, tocando-o.
“Espero que seja um vestido, porque se for uma camisola…” %Jisung% parou o pensamento no meio. Como se o simples ato de formular aquela hipótese fosse o bastante para incendiar alguma coisa dentro dele — e ele não queria isso. Não devia.
A ponta dos dedos ainda tocava o tecido de seda, fino, leve, quase gelado ao toque. Um tipo de salmão rosado, delicado demais para ser só um vestido casual. Tinha alças finas, decote suave e comprimento indefinido, mas ele já sabia: não era feito para sair, era feito para
ficar. Para repousar sobre a pele de alguém à noite.
“Definitivamente não é um vestido.” Engoliu seco, recolhendo a mão de volta como se tivesse sido pego em flagrante.
Mas não foi. %Lauren% ainda estava no banho, a água do chuveiro correndo do outro lado da porta — e ele ali, se pegando imaginando o que ela usaria para dormir.
Era loucura. Eles mal se conheciam. Ela o irritava com aquelas tiradas afiadas, aquele jeito espalhafatoso… mas, ao mesmo tempo, havia algo hipnótico nela. Nos olhos que desafiavam e na vulnerabilidade que vez ou outra escapava pelas brechas.
%Jisung% passou a mão pelos cabelos, tentando se recompor.
“É só uma camisola. Só um pedaço de tecido pendurado num cabide. Nada demais.” Mas a verdade é que aquela imagem — a ideia dela usando aquilo, caminhando pelo quarto compartilhado, deitar-se naquela mesma cama onde ele também estaria — grudou em sua mente com mais força do que ele gostaria de admitir.
Respirou fundo, fechou as portas do guarda-roupa com um leve estalo e se afastou, como se o móvel fosse culpado por provocar pensamentos indevidos.
“Três dias. Só preciso sobreviver a três dias.” Mas algo dentro dele já sabia:
Não seria assim tão simples. O som da água cessou. %Jisung%, agora sentado na poltrona próxima à janela com o celular nas mãos, ergueu os olhos apenas quando ouviu o clique suave da porta do banheiro se abrindo.
%Lauren% saiu envolta em uma nuvem discreta de vapor, os cabelos úmidos presos em um coque improvisado no topo da cabeça, algumas mechas soltas caindo pelas têmporas. Estava vestindo…
uma camisola idêntica a outra pendurada no cabide dentro do guarda roupas. Sim, definitivamente
não era um vestido.
O tecido salmão parecia feito para moldar e escorregar sobre cada curva dela, caindo até um pouco acima dos joelhos. As alças finas deixavam os ombros à mostra, e a pele ainda levemente úmida refletia a luz morna do abajur com um brilho quase indecente. Mas não era vulgar — pelo contrário. Havia um tipo de elegância despretensiosa ali, que deixava tudo ainda mais… complicado.
%Jisung% desviou o olhar no segundo seguinte, quase como se tivesse levado um soco nos pensamentos. Limpou a garganta discretamente e forçou os olhos de volta para a tela do celular, como se aquilo fosse o bastante para fingir que não viu.
Mas viu. E a imagem já estava impressa na retina.
— O banheiro é todo seu, senhor %Han% — disse ela casualmente, como se não estivesse usando uma peça de roupa capaz de desmontar qualquer homem distraído. Caminhou até a cama e começou a organizar suas coisas, alheia (ou fingindo estar) ao fato de que ele tinha ficado em silêncio por tempo demais.
Ele se levantou devagar, tentando agir normalmente. Quando passou por ela a caminho do banheiro, lançou um olhar breve — breve demais para ser notado, longo demais para não o atingir por dentro.
—
Bonito… digo, o banheiro. É… elegante. — disse rápido, entrando e fechando a porta antes que ela pudesse responder.
%Lauren% sorriu sozinha, mordendo o canto do lábio.
“Definitivamente percebeu.” 🍃🍃🍃
Quando %Jisung% saiu do banheiro, já vestido com uma calça de moletom cinza e uma camiseta preta, encontrou %Lauren% sentada na cama, mexendo no celular, com a camisola e um roupão fino por cima, agora entreaberto. Ela havia acendido a luminária de cabeceira e deixado o restante da cabana às escuras, criando um clima aconchegante — e perigosamente íntimo.
Ele pigarreou ao sair do banheiro, como se precisasse anunciar sua presença para evitar mais um susto (ou tentação).
— A água ainda tá quente, se quiser aproveitar pra lavar os pecados também — ela disse sem olhar, os olhos fixos no visor do celular, mas o tom provocador estava ali, suave.
— Já lavei. Não foi o suficiente pra purificar a alma, mas é o que temos.
Ela riu, baixinho, e deixou o celular de lado.
%Jisung% olhou para a cama. Aquela única cama.
— Alguma preferência de lado?
— Sim. O esquerdo. — Ela deu dois tapinhas no colchão, firme. — Tenho
TOC com isso. Dormir do lado direito me dá insônia e vontade de brigar.
— Bom saber. — Ele contornou a cama, se deitando no lado restante, ajeitando o travesseiro de forma precisa demais. — Já que você já quer brigar mesmo, melhor evitar o motivo.
Os dois se ajeitaram sob a mesma coberta, ainda mantendo uma distância educada entre si. O silêncio caiu, apenas o som suave do vento batendo do lado de fora preenchia a cabana.
Mas o silêncio era tudo… menos confortável.
%Jisung% virou-se de lado, de costas para ela.
%Lauren% ficou de barriga pra cima, encarando o teto, os dedos mexendo nervosamente no lençol.
— Isso está muito estranho — ela murmurou.
— A gente. Aqui. Deitados. Em silêncio. Tentando fingir que isso é normal.
— É… — ele suspirou. — Mas não é, né?
— Não mesmo. — Ela sorriu no escuro. — Eu divido a cama com um estranho bonitinho e ainda assim me sinto como se estivesse participando de uma gincana emocional.
Ele riu. E pela primeira vez, o riso foi leve. Natural. E a tensão entre os dois se dissolveu um pouco.
— Três dias, lembra? — ele disse, baixinho, como se estivesse convencendo a si mesmo. — Só precisamos sobreviver a isso.
— Três dias. — ela repetiu. — E depois cada um volta pra sua vida, fingindo que nada disso aconteceu.
Os dois se calaram outra vez.
Mas agora, havia algo diferente no ar.
Não era mais desconforto.
E no escuro da cabana, dividindo a mesma cama, nenhum deles conseguiu dormir tão rápido quanto gostaria.
🍃🍃🍃