Capítulo 3
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A manhã seguinte trouxe consigo a habitual correria da Divisão de Homicídios, com o aroma pungente de café forte e a ressonância constante de telefones tocando e vozes apressadas. A cena do crime no jardim de infância, com o corpo da professora
Leslie Walsh, havia sido processada pela perícia, e agora os relatórios preliminares começavam a preencher as mesas. Para
%Alex% %Vance%, a leveza da noite anterior com Liam era uma lembrança difusa, quase irreal. A realidade brutal de seu trabalho se impunha novamente, pesando sobre seus ombros.
Liam Reid estava ao lado dela na frente do grande quadro branco, onde fotos de Leslie e do cenário macabro do crime estavam fixadas. A calmaria em sua postura era a mesma de sempre, um contraste marcante com a agitação interna de %Alex%.
— Nenhuma câmera de segurança diretamente no playground ou nas proximidades imediatas do jardim de infância — Liam relatou, enquanto %Alex% folheava os relatórios. — As poucas que capturaram algo estão muito distantes, o que resulta em imagens granuladas e de baixa resolução. Já estamos peneirando, mas as chances são mínimas.
%Alex% suspirou, um misto de frustração e exaustão. Era sempre assim nos primeiros dias de um caso como esse: um mar de informações e, ao mesmo tempo, um deserto de pistas concretas. Ela já sentia a pressão da mídia e da administração da polícia. Um assassino que deixava um pentagrama não era algo que passava despercebido. Especialmente quando a vítima era uma
professora de jardim de infância.
— Entrevistamos os pais das crianças, os outros funcionários do jardim de infância, vizinhos próximos... — %Alex% começou a listar — mas ninguém viu nada suspeito na noite do crime. Nenhum barulho, nenhuma movimentação estranha. É como se ele tivesse se materializado do nada, feito o que tinha que fazer e sumido no ar.
A sala de interrogatório estava fria e impessoal quando %Alex% e Liam se sentaram com a diretora do jardim de infância, Sra. Evelyn Reed. A mulher, visivelmente abalada, esfregava as mãos nervosamente.
— Leslie era uma pessoa tão boa... dedicava a vida às crianças. Quem faria uma coisa dessas? E no jardim de infância? É... é inimaginável.
%Alex% tentava ser o mais empática possível, enquanto Liam anotava tudo com sua habitual precisão.
— Sra. Reed, Leslie tinha algum inimigo? Algum problema pessoal? Alguém que a ameaçasse?
A diretora balançou a cabeça, os olhos marejados.
— Não que eu soubesse. Ela era uma pessoa muito querida, discreta. Não tinha namorado ou marido, vivia para o trabalho e para a caridade. Morava sozinha, era muito reservada. Mas... ela nunca comentou nada que pudesse indicar um problema com alguém.
Depois de horas de interrogatórios, a conclusão era sempre a mesma: um vazio. Ninguém tinha uma pista, um nome, um motivo. Era como se Leslie Walsh fosse um fantasma, e o assassino, uma sombra ainda mais etérea.
De volta ao necrotério,
Dra. %Charlotte% Hayes aguardava %Alex% com o semblante sério. O cheiro de formaldeído e desinfetante parecia ainda mais forte naquele dia. %Alex% se aproximou da mesa de autópsia, onde o corpo de Leslie Walsh já não estava, mas onde os exames continuavam.
— Ainda nada de relevante sobre o pentagrama ou o arame farpado? — %Alex% perguntou, a voz cansada.
%Charlotte% negou com a cabeça.
— Não é tinta comum. É um pigmento orgânico que se fixa à pele de forma única, mas não temos como rastrear a origem. E o arame farpado é industrial, facilmente comprado em qualquer loja de ferragens. Nada que nos leve a um suspeito.
Ela fez uma pausa, os olhos fixos em um monitor que mostrava uma imagem ampliada.
— Mas temos uma particularidade aqui. A agulha que ele usou para injetar o cloreto de potássio na veia jugular... é algo bem específico. A análise microscópica revelou um
resíduo de polímero sintético no revestimento dela.
— Polímero sintético? O que isso significa?
— Significa que não é uma agulha médica comum — %Charlotte% explicou, ajustando os óculos. — É um tipo de agulha com uso mais restrito, talvez em laboratórios de pesquisa, indústria ou até em algum tipo de experimento específico. Esse revestimento evita a oxidação e garante maior precisão na injeção de substâncias altamente reativas ou corrosivas. É um material caro e de difícil acesso para o cidadão comum.
Liam, que estava presente, apoiado na parede com os braços cruzados, deu de ombros.
— E como vamos rastrear isso, %Charlotte%? Milhares de empresas e laboratórios podem usar isso. É uma pista em potencial, sim, mas pode nos levar a lugar nenhum.
%Alex% sentiu um pico de frustração. A agulha parecia ser a única coisa que destoava do
modus operandi meticuloso e genérico do assassino, mas Liam parecia querer minimizar a sua importância. Era como se ele estivesse sempre um passo à frente dela, ou um passo atrás, desdenhando as pistas que ela considerava cruciais. A falta de progresso já estava começando a corroer sua paciência.
— Mas é uma pista, Liam! É a única coisa que não é genérica. Precisa ter um registro, uma patente, um fornecedor específico — %Alex% insistiu, sentindo um calor no rosto.
— Pode ser um protótipo antigo, ou algo roubado — Liam argumentou, sua voz mantendo a calma exasperante. — A gente precisa de algo mais concreto, %Alex%. Um motivo, uma testemunha, algo que ligue a Leslie a esse assassino. A agulha é um detalhe que pode nos consumir tempo precioso e não levar a nada.
A discussão se estendeu, mas Liam parecia convencido de que a agulha era um beco sem saída. A frustração aumentou, a sensação de estar andando em círculos começou a apertar o peito de %Alex%. O caso de Leslie Walsh esfriava a cada dia, e o monstro que a havia assassinado parecia ter evaporado no ar, deixando para trás apenas a imagem perturbadora de um pentagrama.
Nos dias seguintes, o caso de Leslie Walsh foi gradualmente se transformando em um
cold case, um arquivo que, embora aberto, estava longe de uma resolução. A mídia, após o frenesi inicial, começou a se voltar para outras notícias, e a pressão sobre a Divisão de Homicídios diminuiu, mas a angústia de %Alex% só crescia. Ela se viu presa em um ciclo de relatórios repetitivos e buscas infrutíferas, a imagem da professora de jardim de infância assombrando seus pensamentos. O Assassino do Pentagrama havia vencido, por enquanto. E %Alex% sentia isso na pele.