Epílogo
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Acordo sozinho em um quarto de hotel, sonhando com ela outra vez, em meio aos meus devaneios pergunto-me onde você deve estar, Sarah? Angustiado e sem respostas, tento voltar a dormir.
Na manhã seguinte, fiquei bêbado ao meio-dia, nunca me senti tão desleixado, não nos falamos desde quando você foi embora, o silêncio se tornou confortável e isso é tão superestimado. Sinceramente, não sei como vou fazer para continuar minha vida, se o amor que morreu nela ainda vive em mim.
Meus amigos e minha família dizem que eu devo seguir em frente, eles acham que eu tenho tudo, mas estão enganados, porque eu não tenho nada sem você.
Observo o quadro pendurado na parede do meu quarto, aquele quadro que fizeste de mim, que fiz questão de emoldurar para que eu pudesse lembrar dos nosso último momento juntos, assim como a nossa foto que guardo em minha carteira.
Por que você não pode ser a primeira a ceder? Durante esses dois anos eu nunca deixei de te procurar, mas parece que não quer ser encontrada, até meu telefone sente falta das suas ligações.
Eu encontrei Niall uns dias atrás, e me precipitei em perguntar sobre você, ele disse que você estava bem, foi tudo que conseguir saber.
Eu vi estampado no rosto dele decepção e desprezo, novamente o silêncio torna-se adequado. Por que nunca dizemos o que queremos dizer? Sem dar mais uma palavra, seguimos nosso caminho.
Acordei ao lado de uma garota que parecia com você, Sarah, quase eu disse seu nome. Por alguns instantes eu queria fugir de dentro de mim e desaparecer, para bem longe disso tudo, mas ainda tenho esperanças de que você volte.
Talvez um dia você me ligue e me diga que você também sente muito, mas você nunca liga.
– Chega! Eu não posso mais permitir isso – diz Gemma na mesa de jantar. – Você não pode continuar desse jeito.
– Gem, talvez ainda não seja o tempo dele – continua minha mãe.
– Eu ainda estou aqui – avisei.
– Nós estamos preocupados com você, meu filho, você mudou e não está nada bem.
– Eu estou bem. Não precisam se preocupar. – Volto a comer.
– A gente poderia sair mais tarde – sugere minha irmã. – Ir no bar, distrair a mente, Liam disse que chegou uma nova colega de trabalho, poderíamos dar boas vindas a ela.
– Eu não quero me envolver com ninguém, não quero repetir o que fiz com Elizabeth.
– Gem, filha, eu concordo com o Harry – diz minha mãe. – Cada pessoa tem seu tempo para se recuperar, essa é uma decisão que só ele pode tomar.
Depois o nosso jantar, volto pra casa a pé. No caminho deparo-me com a floricultura onde costumava comprar, o mesmo lugar onde ela trabalhava e as lembranças só me fizeram me sentir pior, lembrar de você ainda dói. Mais uma vez, entrego-me as bebidas e volto pra casa com ajuda do meu amigo, Louis.
Dias depois, minha mãe me leva para a livraria comprar livros novos, ela diz que preciso aquecer um pouco esse coração solitário, acho que agora você entenderia o porque eu acredito em histórias de amor. Caminho ao redor, observando despretensioso, explorando, até que um livro chama minha atenção, “o que o sol faz com as flores”, interesso-me pelo título.
Quanto mais eu avançava as páginas mais me identificava com o livro, de alguma forma era sobre a gente, nas linhas era possível notar as semelhanças. “Contei para as flores o que faria com você e elas se abriram.” De alguma maneira, esse livro me fez sentir próximo de você, voltar no tempo, quando te conheci.
Quando soube que a minha nova autora favorita estaria nas proximidades para sessão de autógrafos, não pensei duas vezes em comprar as passagens para a oportunidade de conhecê-la e enaltecer seu trabalho.
O lugar estava lotado, como esperado, em meio ao aglomerado de pessoas alguém se esbarra acidentalmente em mim, uma garotinha correndo pelo corredor que tropeçou em meus pés, ajudei a se levantar no exato momento que sua mãe surgiu.
– Darcy! – diz ofegante. – Por favor filha, sem correr, e não solte minha mão de novo ok?
Era ela, depois de dois anos sem notícias, Sarah estava diante de mim e sinto que quase meu coração parou de bater.
– Sarah? É v-você mesmo? – Repreendo-me internamente por gaguejar na frente dela.
– Styles? – Encara-me por breves segundos para me reconhecer. – Minha nossa, quanto tempo!
Ela me abraça, e por um instante traz todo o conforto que eu precisava apenas com aquele simples toque, e quando nos separamos, tento disfarçar minha insatisfação por me afastar dela.
– Que coincidência, também veio para sessão de autógrafos?
– E-eu... bem, sim, você também? – Outra vez me atrapalho com minhas palavras.
– Sim! Não poderia perder essa chance, ela é minha autora favorita. – Ela sorri, ainda continuava sendo meu sorriso favorito.
– Mamãe, eu tô com sede.
Saindo do transe, meu olhar foca na criança que estava entre nós. Ela disse mamãe?
– Sua filha? – digo surpreso, bastante abismado.
– É – confirma feliz. – Essa é a Darcy, diz oi, filha.
– Oi – diz tímida entre as pernas da mãe.
– Uau, você é mãe, meus p-parabéns. Então você está casada?
– Não, sou uma mãe solteira. – Ri como se o que eu havia falado fosse uma piada. – Vamos, a fila começou a andar.
– Sarah... será que podemos conversar um pouco, mais tarde? – pergunto rápido antes que ela fosse embora.
– Por mim tudo bem, mas depois do meu autógrafo. – Sorriu e automaticamente sorri de volta.
Ela estava tão linda, os cabelos castanhos nos ombros lhe caiam perfeitamente bem, seu sorriso contagiante só me fez contestar que não importa quanto tempo ficássemos longe um do outro, sempre iria me apaixonar como se fosse a primeira vez. Após conseguirmos nossos autógrafos, Sarah ficou tão empolgada que me deixou feliz sua animação, concordamos em ir dar uma volta na praia, comprei um sorvete para a pequena Darcy, que se deliciou lambuzando-se. Sentamos nas escadas que davam em direção a praia enquanto víamos a garotinha molhar os pés no mar.
– Então.... como tem sido os últimos anos? O que tem feito? – perguntei curioso.
– Bem, eu estou trabalhando em uma editora de livros infantis, sou ilustradora, e nas horas livres pinto quadros para vender na Internet, com a companhia da minha filha, ela adora pintar comigo. Duas vezes por semana, faço trabalho voluntário no orfanato, sou contadora de histórias com fantoches. E você?
– Bom, eu ainda sou um simples médico. – Sorri. – Eu não fiz muitas coisas desde a última vez que nos vimos, mas eu e Elizabeth nos separamos de vez, perdi contato com Niall depois daquele dia, ele ficou tão irritado, foi tão vergonhoso e eu nunca tive a oportunidade de me desculpar com você. Me perdoe Sarah, por tudo que eu causei a você.
– Eu te perdoo, Harry – diz sincera e eu meu coração se aquece, talvez ainda haja esperanças. – Mas perdoar não significa que vou voltar.
– Por que não? – Mesmo que a resposta fosse óbvia, eu só conseguia questionar o porquê.
– Harry, eu tenho uma outra vida agora, é uma visão completamente nova, sou mãe e estou investindo na minha carreira, não sei se é uma bom momento para me relacionar com alguém, estou bem do jeito que está. E mesmo se voltássemos, nada seria como antes.
– Mas... eu pensei que podíamos tentar, já que passou tanto tempo, eu sei que nunca vou consertar o passado mas eu ainda te amo, e tudo que eu mais quero é uma segunda chance. Me deixa cuidar de você e da sua filha, você é a família que eu sempre quis ter – confesso.
– Eu sinto muito, Harry, mas não podemos, mesmo que haja amor, os erros são irreparáveis – explicou.
– Então você nunca me amou? – Eu precisava saber, ainda que dilacerante, a verdade era necessária.
– Eu queria dizer sinceramente que não, mas você realmente despertou algo em mim. – Tento sorrir mas as circunstâncias deixam-me frustrado. – Mas eu te perdoo por ter deixado a impressão de que a qualquer momento alguém vai me deixar.
– Eu gostaria que você tivesse ficado, porque eu não queria apenas você, queria nós dois – confesso, sentindo minhas bochechas queimarem.
– Não podemos mudar o passado. – Ficamos um tempo em silêncio, apenas observando o quebrar das ondas do mar, enxugo algumas lágrimas teimosas do rosto, suspiro profundamente antes de insistir uma última vez.
– Você poderia pelo menos pensar no meu pedido?
– Por favor, Harry, não me peça para ficar ou para voltar, eu preciso seguir em frente e você tem que me deixar ir. Há um ano atrás eu descobri que existem diferentes perspectivas sobre amar, eu acreditava que para ser feliz eu precisava de um companheiro, um homem ao meu lado, mas quando eu conheci a Darcy no orfanato, percebi que é apenas uma questão de desfrutar aquilo que te faz feliz, e não é necessário estar com alguém ao seu lado, minha filha me inspira, me faz lembrar que todo dia é um novo começo. Talvez isto esteja faltando em você. E eu te desejo todo amor e felicidade do mundo – continuou. – E que você encontre alguém ou um motivo que te faça tão feliz como eu sou hoje, nós merecemos isso.
– Mamãe, tô com soninho – diz a garotinha, manhosa, coçando os olhos.
– Tenho que ir. – Pegou a pequena no colo. – Foi bom te ver, Harry, nos vemos por aí algum dia.
– Bem... foi um prazer te encontrar. Talvez ainda podemos ser amigos?
– Claro, sem problemas.
– É que eu perdi seu número. – Ri nasalado.
– Aqui. Esse é o meu cartão. Obrigada pela tarde, fique bem. – Despediu-se antes de entrar no carro.
De volta ao quarto de hotel em que estava hospedado para aquela última noite, encaro o cartão que ela havia me dado, virei a noite pensando em tudo que conversamos aquela tarde, eu precisava tomar uma decisão.
MESES DEPOIS Em meio a tantas caixas de encomendas sobre a mesa, quase passou despercebido por mim um envelope, parecia uma carta, mas na fachada não havia remetente, apenas o endereço de onde vinha. Curiosa, abro a mesma atenciosamente, é tão raro receber cartas nos dias de hoje, com uma olhada rápida observo que a letra era familiar. Eu não sabia o que esperar, o quem poderia ter enviado, aproveitando que Darcy ainda dormia, sento-me com calma no tapete e leio atentamente.
Hoje lembrei de você, e isso me fez sorrir, é estranho o modo como sua falta ainda me afeta e sua ausência se torna presente nas mínimas coisas que me fazem lembrar de você, quando ouço uma música ou quando vejo nosso filme favorito sozinho, desde que você se foi tem sido assim, revivo nossos momentos para não me sentir tão vazio.
A questão é que eu nunca vou conseguir me perdoar pelo o que eu causei a você, e não importa o tempo que passe, eu só quero te dizer que sinto muito, e que esse foi meu maior erro, mesmo que eu repita várias vezes durante anos: me perdoe, ainda não seria o suficiente, porque sei que você não volta.
Depois de nossa conversa na praia, refleti sobre o que me disse, sobre encontrar um amor e seguir em frente, mas como é que irei saber que está na hora de seguir em frente? Quando deve ser a hora de deixar pra trás?
Então eu percebi, a questão não é sobre deixar de sentir ou forçar-me a te esquecer. Você me ensinou o valor de amar alguém, mas certos amores foram feitos para existir e não para acontecer. Mas amar é assim mesmo, não é?
Não há um dia que eu não pense em você. Talvez superar seja isso, quando as lembranças param de doer. E só eu sei o quanto doeu ver a melhor coisa que já tive ir embora, mas infelizmente é a perda que ensina o valor das coisas.
Nunca foi fácil te amar, e nem por isso eu desisti de você, eu não imaginava que seria tão intenso esse sentimento, quantas vezes me repreendi por continuar alimentando o que sentia, acreditava fielmente que tinha enlouquecido, mas algo acendeu dentro de mim quando te conheci e não foi necessário um beijo, um abraço ou um toque para que eu me apaixonasse perdidamente por você. E eu me perguntava, o que você tem que me atrai tanto?
Foi inevitável não sentir tudo outra vez assim que nos reencontramos, quando te vi depois de tantos anos pensei que o universo estivesse conspirando ao nosso favor para que finalmente ficássemos juntos, era impossível encarar seus olhos e não me apaixonar novamente.
E se pudéssemos voltar no tempo, poderíamos aprender a viver do jeito certo? Não teremos a resposta. Mas preciso por um ponto final, voltar a viver sem me culpar por o que nos aconteceu, talvez esta carta seja a mudança, para que eu mude por mim mesmo.
Após diversos dias, ainda em relutância, tomei uma decisão, a qual deveria ter tomado a muito tempo. Decidi que entregaria essa carta quando estivesse preparado para seguir em frente, e acho que já está mais do que na hora de ter feito isso.
Talvez uma parte de você acredite em mim, em tudo que eu digo, ou talvez não. Mas por favor jamais esqueça de mim, quem eu fui pra você, não esqueça de todos os momentos que tivemos juntos, não faça parecer ter sido uma perda de tempo para nós dois.
Eu sei que não há nada que eu possa fazer para mudar isso, é impossível saber se depois disto ainda podemos ser amigos. Eu sei que não irei encontrar alguém como você, mas dessa vez, quando eu lembrar de você vou sorrir, porque nós demos certo, o tempo suficiente que tinha que dar.
All the love, H.
FIM