Capítulo 12 • Resgatando meu coração
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Sarah pegou seu celular e discou o número tão conhecido por ela, sorrindo boba assim que leu na tela ligando para Harry. Não estava tarde da noite, mas esperava que o mesmo atendesse, talvez estivesse ocupado com o trabalho, mas para sua felicidade ele atendeu.
— Oi amor. — Sarah não conteve o sorriso de orelha a orelha ao ouvir a voz dele se referindo a ela desse jeito.
— Oi amor — repetiu.
— Está tudo bem por aí?
— Sim, está e com você? — perguntou.
— Acabei de entrar no carro e estou voltando pra casa.
— Estava trabalhando, não é? Vou desligar, não quero incomodar você.
— Não desliga, estou com saudade de ouvir sua voz — pediu manhoso. — Você sabe que não me incomoda.
— Desculpe — disse tímida. — Eu também estou com saudades, quer dar uma volta no parque amanhã? Se puder, é claro.
— Eu posso encontrar com você no meu horário de almoço, pode ser?
— Claro! Está ótimo pra mim. — Sorriu satisfeita.
— Vou precisar desligar, vou dirigir agora — avisou.
— Me avise quando chegar em casa está bem? Eu te amo — confessou achando-se uma estúpida por deferir tais palavras tão precocemente.
— Sim senhora, também amo você — ele correspondeu, e de repente ela não se achava tão idiota assim. — Nos vemos amanhã.
— Até amanhã. — Desligou e voltou para a cama para o novo dia de amanhã.
Pegou no sono tão rápido que só acordou com o som do despertador no dia seguinte, nem ao menos leu a mensagem que Harry mandou pra ela avisando que havia chegado em casa como ela tinha pedido, respondeu a ele com uma mensagem de bom dia e seguiu sua rotina. Após o café se despediu do seu pai com um beijo delicado na bochecha antes de sair, e esperou pelo seu ônibus.
No caminho até o trabalho, Sarah ouvia músicas românticas e se lembrava dos momentos com Harry, a primeira noite juntos, o primeiro jantar e o primeiro eu te amo. Estava fluindo tão bem, que no fundo ela achava que aquilo não poderia durar, estava sendo tudo perfeito demais, tinha medo que se machucasse outra vez. Mas com Harry era tão diferente, ela queria ser dele e que ele fosse dela, ele a fazia esquecer de suas inseguranças e de todas as incertezas quando estavam juntos, era apenas os dois, completando o espeço que falta no outro. Talvez permitir se machucar por quem ama não fosse tão ruim assim.
O dia estava corrido, logo que abriu a loja a rotina voltou, atendendo clientes, fez a manutenção recinto e recebeu as novas encomendas. Quase havia esquecido que havia marcado de se encontrar com Harry, lembrou-se após receber uma mensagem dele avisando que estaria livre brevemente. Tratou de terminar seus afazeres rapidamente e assim que sua colega chegou para repor seu lugar ela pôde sair.
O parque estava com algumas crianças como de costume, havia muitos pais por lá, vendedor de guloseimas e brinquedos pra chamar atenção dos pequenos. Sarah parou para comprar uma pipoca enquanto esperava por Harry, andou em direção a qualquer banco que estivesse livre, até que uma moça com um bebê em seu carrinho chamou sua atenção, ela a conhecia, Lea, sutilmente se aproximou dela para não assusta-la, não queria que tivesse a mesma reação como foi no último encontro, ela parecia estar fugindo de alguém.
— Se importa se eu me sentar com você? — pediu. Lea a olhou com certa dúvida mas permitiu com a cabeça.
— Hoje está um belo dia não acha? — puxou assunto, talvez se mostrasse-se inofensiva, Lea não se sentisse coagida como a última vez.
— Sim, está — concordou sem parar de balançar o carrinho onde seu filho dormia tranquilamente.
— Ele é tão lindo, ele lembra um pouco você, mas deve ser a cara do pai. Você se casou recentemente?
— Não — respondeu simples, parecia que aquele assunto a incomodava. — Desculpe, mas tenho que ir.
— Lea, eu não sei pelo o que está passando, mas eu gostaria de te ajudar, eu não consigo lembrar de tudo com clareza. Mas lembro que éramos amigas, você me ajudava quando eu me sentia triste ou quando briguei com o Kevin e quando ele morreu. Eu quero te ajudar também, me deixe te ajudar, por favor — pediu antes que ela continuasse o caminho.
— Sinceramente eu não sei como você poderia me ajudar, ou me perdoar. — Ao virar-se, rosto estava vermelho como de quem começaria a chorar.
— Por que acha isso? Claro que pode contar comigo — garantiu.
— Não Sarah, infelizmente você não pode me prometer isso. — Suas lágrimas desciam por suas bochechas. E voltou a andar com o carrinho.
— Lea, por favor, espera! — Rapidamente acompanhou e alcançou seus passos, ficando lado a lado. — Independente do que esteja passando, eu quero te ajudar, você parece estar passando por problemas, você está nitidamente estressada com alguma coisa, não sei se seu problema é financeiro ou familiar mas eu quero poder fazer alguma coisa, eu sinto como se tivesse te devendo isso, mas não sei o porquê.
Lea parou de andar e limpou as lágrimas, respirou fundo e se conteve, seja lá o que Sarah havia dito ou o que ela havia feito anos atrás para ajudá-la, Lea parecia saber a respeito, e confiou nela.
— Jordan é seu irmão.
— O quê? — disse sem acreditar. Lea fez menção de virar as costas, mas Sarah segurou em seu braço.
— Meu pai sabe sobre a existência desse filho? — Lea riu nasalado, como se aquilo fosse algum tipo de piada.
— Sim, ele sabe.
— Eu não entendo — disse confusa. — Mas porque ele iria esconder essa criança de mim? Por favor, eu quero saber toda a verdade!
— Dylan não queria esse filho, porque se viesse à tona o seu casamento estaria acabado, ele sugeriu que eu o abortasse. — Fungou ao lembrar e sua voz vacilou ao continuar. — Mas eu não teria coragem, e eu amava o seu pai. Sua mãe teve depressão quando perdeu o bebê, o casamento deles já não estava dando muito certo e eu pensei que quando ele soubesse da notícia poderíamos viver como uma família, ele me prometeu tanta coisa, dizia que não amava mais sua mãe e que estava preso porque ela esperava um filho dele, e que iria pedir divórcio quando você ficasse de maior.
Mas eu fui tão idiota e burra, depois que ele disse coisas horríveis a mim era como se a ficha tivesse caído e eu percebesse a imensa burrada que eu tinha feito. Mas agora eu estava sozinha e tinha um filho pra cuidar, meus pais se recusaram a me ajudar quando souberam que eu esperava um filho solteira e havia dito que não sabia quem era o pai ou seria um problema maior, eu parei de estudar pra trabalhar e dar tudo de melhor para meu menino. Eu não me arrependo, Jordan é a minha luz, meu motivo para sorrir após um dia difícil e ouvir ele dizer mamãe, você não sabe o quanto isso é maravilhoso. — Sorriu enxugando as lágrimas.
Ao ouvir todas suas confissões, Sarah chorou, compartilhou das mesmas emoções e aflições, chorou por tudo que Lea havia passado só para não perder seu filho e ainda hoje ela vive por ele, dá tudo de si, pra no final do dia ela só querer ter a presença dele para acalmá-la. Depois de absorver toda a informação, Sarah percebeu que sim, Lea havia cometido um erro, mas seu pai havia cometido um maior ainda, e analisando tudo, não era ela que merecia seu perdão.
— Eu não tenho noção de como isso foi e está sendo difícil pra você, ele tem o meu sangue e eu vou ajudar no que puder, eu sei que você errou mas eu não tenho que te perdoar, mas ao meu pai sim, e ele vai pagar por tudo isso que ele te causou.
— Não, não quero que faça nada. Eu consegui até hoje cuidar do Jordan sem precisar de um dinheiro dele — respondeu temerosa.
— A questão não é o dinheiro, Lea! Ele é o pai dessa criança, ele tem que assumir a paternidade e ser presente na vida dele, isso é direito do Jordan, ele não tem culpa do que está acontecendo. Eu não vou te deixar sozinha, eu estou com você e vamos fazer justiça.
Era tudo que ela precisava ouvir, que não estava sozinha e que alguém estava por ela, que as humilhações teriam um fim e que no final tudo ficaria bem, que seu esforço valeu a pena. Sua emoção foi tão grande que não se conteve em abraçá-la, nunca esperou que Sarah tivesse essa atitude nem que se compadeceria com seu caso, mas ela estava imensamente grata por ela estar ao seu lado.
(...) — Alô, bolinho da mamãe.
— Mãe, por favor — Harry respondeu envergonhado. — Ainda bem que essa ligação não está no viva-voz, o que os meus colegas iriam pensar de mim?
— Que você é muito amado por sua mãe e um sortudo por ter todo esse carinho disponível pra você. Quantos médicos gostariam de estar no seu lugar agora, meu bolinho?
— Tá bem mãe, eu já entendi. — Riu ao ouvir sua resposta. — A senhora vai estar em casa hoje?
— Sim, mas depende do horário que você for vir. Tenho aula de costura hoje — disse empolgada.
— Não tem problema, eu passo antes de você sair, vai ser rápido.
— Como assim, não vai jantar comigo hoje? — perguntou desapontada.
— Não, talvez amanhã, mas já que estamos tocando nesse assunto, a senhora ainda tem as chaves da nossa casa no Lago em Holmes Chapel? Ou está com Gemma?
— Estão nas minhas mãos, mas por que, filho?
— Gostaria de passar um período por lá, pra pensar um pouco, vou entrar de férias.
— Ai meu Deus! Achei que esse dia nunca chegaria — gritou animada. — Agora você finalmente vai ter mais tempo pra mim, e pra organizar o casamento!
— É... — respondeu desapontado. — Não precisamos pensar nisso agora, tenho que desligar mãe, estou saindo pra almoçar.
— Está se alimentando bem, não é, mocinho?
— Sim, mãe eu estou. — Respirou entediado. — Eu sei, vou avisar quando chegar em casa também.
— Esse é o meu garoto. Eu te amo. — Escutou o estalar de beijos do outro lado da linha e sentiu como se sua mãe o estivesse o enchendo de beijinhos.
— Também te amo, até mais tarde.
(...) Harry buscou Sarah na floricultura pra almoçarem juntos no restaurante do primeiro encontro, o local não estava tão cheio como da última vez, particularmente ele preferia assim, ambos escolheram o seu prato e comentaram sobre como estava sendo o dia um do outro. Harry estava tão feliz por estar almoçando com ela, era algo tão simples mas para ele era tão importante, como se as coisas começassem a darem certo na relação dos dois, mas no fundo ele sabia que aqueles momentos não durariam por muito tempo. Será que ela o entenderia? Ela o perdoaria? E se ela fosse embora para sempre? Harry afastou suas preocupações antes que o afetassem e ficasse deprimido, não era hora para ter uma crise.
— Eu tenho uma notícia que acho que vai te deixar feliz — disse ele ao terminar com a comida.
— Me diz, eu quero saber, amor — disse animada. Ouvir ser chamado de amor pela garota que ama é tão gratificante, seu coração pulsava cada vez mais rápido ao ouvi-la chamando assim, definitivamente ele era um cara sortudo.
— Eu estou de férias! — anunciou. — E eu quero que viaje comigo, por favor, diz que sim? Eu quero que conheça minha casa onde morei na infância, onde eu nasci. Eu disse que gostaria de ir lá de novo, mas quero que esteja comigo.
— Eu não sei se deveria. — Seu celular vibrou e viu que era Becca ligando.
— Por favor, não me deixe falando sozinho, amor. — Ao ouvir o pedido desligou o celular sem atender a amiga.
— Eu não sei se eu deveria ir com você, Harry. Nós não estamos namorando, na verdade não sei o que nós temos, eu tenho medo de estar acelerando as coisas entre a gente. Ir com você na sua casa de infância é um passo muito grande.
— Então não acha que isso iria nos aproximar? Me conhecer, saber mais sobre minha história está te deixando com o pé atrás? Não quer ter a chance de me conhecer? — Fez uma carinha triste, Sarah não resistiu e riu da cara boba do seu amado.
— Claro que eu quero, é o que eu mais quero. — Segurou sua mão sobre a mesa.
— Então isso é um sim? — incentivou.
— Sim Hazz, você venceu.
— Obrigado. — Beijou sua mão e levantou para roubar um beijo. — Obrigado.
(...) Assim que Eva chegou em casa, foi recebida por beijos e abraços do pequeno Theo, que correu para o colo da mãe assim que a viu chegar. Niall, que estava preparando a comida, enxugou as mãos para falar com sua esposa, também estava morrendo de saudades. Apesar de ela ter ficado ausente por um dia, pra ele havia se passado um ano.
— Oi meu amor, como foi ficar com o papai? — perguntou ao pequeno nos braços. O bebê nada respondeu só batia palmas alegre.
— Oi amor. — Niall se aproximou e a deu um selinho. — Como foi lá com a Sarah? Correu tudo bem?
— Você não vai acreditar! Eu contei toda a verdade pra ela, Sarah sabe sobre o Theo e disse que está ansiosa pra conhecê-lo, conhecer vocês dois e ainda vai me ajudar na primeira festa de aniversário do nosso filho — ela disse tudo tão rápido e tão empolgada, Niall tentou absorver tudo rapidamente e estava feliz por ter dado tudo certo, agora ele não teria com o que se preocupar.
— É maravilhoso, agora sim, somos uma família completa de novo. — Beijou mais uma vez a esposa pra matar a saudade e logo o pequeno apareceu em sua perna pra tentar afastar o pai de beijar a mãe, e começou a chorar com ciúmes.
— Ele é realmente seu filho, Horan — comentou Eva rindo do drama do filho.
(...) Dylan estava passando pelo corredor e de soslaio viu movimentos no quarto da filha, não achou nada de mais espiar, já que a porta estava entreaberta, quando entrou por completou levou um choque. Sarah estava fazendo as malas.
— O que está acontecendo? Você vai embora? — perguntou preocupado. Logo cogitando a ideia de ter que ficar sozinho novamente.
— O quê? — Riu da reação do pai. — Não é nada disso, pai, eu só vou ficar fora alguns dias, estou indo viajar com um amigo. — Continuou pegando as roupas e as dobrando na mala.
— Eu gostaria muito de conhecer seu amigo, você está saindo com alguém? Por que não me diz a verdade?
— Olha, pai, quem sabe um dia a gente converse sobre quem está escondendo o que de quem. Mas agora estou concentrada em dobrar essas roupas, não tenho tempo pra isso.
— Por que está agindo estranho ultimamente? Quem é esse cara? Eu quero saber no que você está se metendo! — exigiu respostas.
— Eu não estou agindo estranho, o senhor está vendo coisas onde não tem! — respondeu sem paciência.
— Eu não permito essa sua viagem com alguém que eu não conheço, você mal acordou de um coma, Sarah! Como pode ter algum amigo? — concluiu irritado com o comportamento imaturo da filha.
— Eu sou dona dos meus atos agora, sou uma mulher adulta e eu posso tomar minhas decisões, com ou sem seu consentimento. — Fechou a mala e, antes de deixar o quarto, avisou. — Não que isso seja da sua conta, mas eu estou saindo com o Harry.
Sarah esperou por uma resposta, ou até uma intervenção, mas nada foi dito. Ele apenas passou por ela e seguiu para o quarto, nem ao menos quis se despedir. Ela não queria viajar se sentindo culpada por brigar com o pai, independente do que ela descobriu sobre ele hoje, ele ainda era quem havia a acolhido quando sua mãe foi embora a deixando pra ficar no hospital. Mas não havia mais tempo, logo escutou a buzina de Harry do lado de fora e se apressou.
Harry ajudou a guardar seus pertences no carro e roubou um beijo antes de dar partida. O celular de Sarah vibrava sem parar na bolsa, ela pegou e quando pensou em atender, Harry pediu.
— Posso te pedir uma coisa?
— Claro. — Deixou o celular tocando dando total atenção pra ele.
— Esse é um momento só nosso, não quero que nada nos atrapalhe, quero que esqueça o mundo a sua volta e que tenhamos toda atenção um do outro, então nada de celulares. — Desligou o telefone na sua frente para incentivá-la a fazer o mesmo. — E também, lá não pega o sinal da rede muito bem, então caso precise falar com alguém é bom que avise antes.
— Tem razão, é minha amiga me ligando, vou mandar uma mensagem. — Concordou e mandou uma mensagem pra Becca antes de desligar o telefone.
Oi Becca, irei ficar ausente por alguns dias, não se preocupe estou bem e não vou fazer nenhuma loucura, na verdade estou vivendo intensamente, tendo uma inesquecível aventura. Estou bem, aviso quando chegar. Sarah <3.