Superar


Escrita porThicy Porto
Revisada por Luba


Capítulo 11 • Porque gosto de você

Tempo estimado de leitura: 14 minutos

  Sarah terminava de conferir sua bolsa, seu pai estava sentado no sofá analisando sua vestimenta. Não, ela não estava vulgar, mas estava arrumada e maquiada como uma mulher e aquela cena pra ele causou estranheza. Algum tempo atrás Sarah era só uma menininha, não usava roupas justas assim e nem usava batom vermelho, ele não acreditava que ela havia se tornado uma mulher diante de seus olhos, e questionava com quem a filha iria sair. Ouviu um carro buzinar e espiou pela janela, deduziu que fosse alguém que sairia com ela, era uma Ranger Rover e Dylan não conhecia nenhum amigo de sua filha que tivesse condições para um carro como aquele.
  – Vai sair? – perguntou bebendo da sua cerveja.
  – Hum... Sim – respondeu pegando as chaves de casa em cima do balcão.
  – De quem é aquele carro? – perguntou calmo.
  – De um amigo do meu trabalho.
  – Agora você tem amigos que eu não conheço? Quem trabalha em uma floricultura não tem como ter um carro desses – disse desconfiado.
  – E desde quando isso importa? Eu estou saindo com um amigo e isso é tudo que precisa saber – respondeu ríspida, ela sabia que não podia responder ao seu pai dessa maneira, mas Sarah não estava com paciência para discutir com um bêbado.
  – Me desculpa, pai, é só que... Eu quero viver, entende? Parece que o tempo escorre por entre meus dedos a cada segundo, eu não posso me privar de momentos como estes, o senhor precisa confiar em mim. – Tentou acalmá-lo.
  – Você já é uma mulher adulta – respondeu embolado. – Quer viver o que lhe foi tirado? Vá em frente e faça como sua mãe!
  Sarah não sabia ao certo o que ele quis dizer, apenas ignorou e saiu de casa, hoje seria um dia especial ela não queria se estressar com coisas insignificantes. Harry abaixou o vidro do carro assim que viu Sarah sair e lançou seu melhor sorriso pra ela, toda vez que ele a via ficava assim, transbordando emoções, vulnerável e constantemente feliz. Harry não queria esconder como seu corpo reage quando está perto de Sarah, ela trás a tona o que há de melhor nele. Quando sentou no banco de passageiro e colocou os cintos, Harry lhe roubou um beijo, a fazendo corar.
  – Você está linda – comentou dando um sorrisinho bobo, a maneira como sorria dizia tudo: estava apaixonado.
  – Obrigada – agradeceu com um sorriso tímido. O olhar esmeralda de Harry queimava sobre ela a deixando sem reação, arrepiando-a, Sarah não conseguia esconder o modo como seu corpo reagia com Harry.
  – Tenho uma coisa pra você, mas preciso que feche os olhos e vire-se.
  – O quê? – sorriu empolgada e fez o que ele pediu. Sarah sentiu os braços de Harry passando sobre seu pescoço e depois um beijo sendo depositado em sua nuca.
  – Pode abrir agora – disse e assim que ela abriu vislumbrou um lindo colar em seu colo, era um colar de ouro que continha um pingente de uma rosa no centro com lindas pedras vermelhas, era o presente mais delicado que já havia recebido de alguém.
  – Nossa, Harry, é tão lindo – comentou sem jeito. – Eu não tenho nada para você.
  – Você está aqui comigo, vamos passar a noite juntos. Ter você ao meu lado já é tudo pra mim. – E como um gesto de carinho e gratidão, Sarah selou seus lábios mais uma vez.

(...)

  Uma música romântica tocava em volume ambiente, o espaço era iluminado por pisca-piscas pendurados como um varal, as mesas forradas com panos de detalhes rosa bebê e bege, a mesa era decorada com arranjos das mais belas orquídeas, o lugar parecia mágico, como se saísse de um contos de fadas. Como o restaurante era no telhado, a mesa que Harry reservou possuía uma incrível vista do alto, a brisa do fim de tarde balançava sutilmente seus cabelos e a luz do pôr-do-sol refletia em seus olhos. Harry observava cada detalhe, gravava cada gesto, ele queria lembrar dessa noite, torná-la inesquecível para ambos.
  – Esse lugar é magnífico, parece que tiraram de um conto de fadas, realmente encantador – Sarah comentou dando uma olhada a sua volta.
  – Também gosto muito de vim aqui, é o restaurante favorito da minha mãe e minha irmã.
  – Gostaria de conhecê-las. – Harry desviou o olhar rapidamente.
  – Quem sabe um dia? – respondeu e logo mudou de assunto antes que ela tivesse a chance de dar continuidade. – Tá gostando da comida?
  Sarah levantou o olhar e encontrou com os seus de cor esmeralda.
  – Está maravilhoso, assim como todo o resto. – Harry sorriu desconcertado, mas charmoso.
  – Que bom, quero que esta noite se torne uma boa lembrança. Para que você possa sempre sorrir quando pensar nela. – Ele ergueu a mão em busca da mão dela sobre a mesa. Sua respiração entregou em como o que ele havia dito mexeu com ela. Sarah queria se lembrar dele, lembrar de tudo, e queria que isso não fosse apenas um momento. Queria que fosse contínuo, que outras vezes tivessem momentos assim, um curtindo a presença do outro.
  – Eu gosto de você, Harry, queria mais noites assim ao seu lado.
  Ele se sentiu vitorioso, como se estivesse cada vez mais perto de conquistá-la, era tudo o que ele queria.
  – Podemos ter todas que quiser. – Ele sorriu e acariciou seus dedos, que estavam entrelaçados com os dela, parecia que tudo parava quando estavam juntos, Harry se entregava por inteiro e todo o vazio que ele sentia quando estava só era preenchido por ela. Ela preenchia muito além do que apenas companhia.
  – Uma vez você havia perguntado sobre meus sonhos e o que eu lembrava da minha vida antes do acidente. Mas eu nunca o questionei sobre e agora que estamos mais próximos eu gostaria de saber mais sobre seus sonhos e seus desejos para o futuro.
  – Pretendo viajar para minha terra natal passar um período por lá nas férias. Mas não é um plano tão distante, quero ir o mais breve possível. Pro futuro, gostaria de encontrar uma garota com quem eu possa partilhar meus sonhos, a quem eu ame, porque assim eu sei que não vai ter muita coisa que importe além disso. Por fim, uma boa casa e ter uma filha que seja tão linda quanto a mãe, porque assim serão as duas garotas mais bonitas que terei conhecido.

“No verão
Como as flores lilás florescem
O amor flui mais profundo que um rio
A cada momento que eu passo com você”

  Uma música lenta começou a tocar, era o convite perfeito para dançar lado a lado, ninguém estava dançando mas Harry ignorou esse fato e estendeu a mão pra Sarah.
  – O quê? – Sarah o encarou confusa.
  – Vem, levante-se, vamos dançar.
  – Só pode ser piada. – Sorriu achando graça. – Harry, não tem ninguém dançando aqui.
  – E isso a incomoda? Talvez eles precisam que algum casal os encoraje a fazer o mesmo, e se não, não precisamos deles, precisamos um do outro apenas. O que me diz?
  Sarah não conseguia dizer não a ele, mesmo envergonhada aceitou a proposta, afinal hoje era uma noite para se lembrar, então por que não se permitir?
  Ela pegou a mão dele e deixou ser guiada. Harry a trouxe para mais perto dele, onde podia deitar a cabeça em seu peito, dançando juntinhos, tão perto que ouvia as batidas do seu coração e inalava seu aroma doce que ela tanto amava.
  – Não quero que pense que estou usando você – sussurrou em seu ouvido. – Eu quero que entre a gente aconteça naturalmente, quero conquistar você mas não quero acelerar nada, então um passo de cada vez, lembra? – Sarah concordou de olhos fechados.

“Existem perguntas que não devemos fazer, mas como você iria se sentir
Se eu dissesse à você que eu te amo?
É apenas algo que eu quero fazer”

  Passos desajeitados e sorrisos embaraçosos, Harry colou sua bochecha na orelha dela e fechou os olhos para sentir a música, apertou sua cintura para provar a si mesmo que não era um sonho. De repente, abriu os olhos e, para sua surpresa, alguns casais estavam dançando também, ele deixou um beijo em sua testa e voltou a fechar os olhos.

“Eu estou tomando meu tempo
Gastando minha vida
Me apaixonando cada vez mais por você
Então me diga que você me ama também”

(...)

  – Minha irmã me ligou – disse Niall ao entrar no quarto onde a esposa ninava seu bebê no colo.
  – Está tudo bem com ela?
  – Aparentemente não, ela está arrasada. Elisa me disse que o relacionamento com Harry está esfriando, ela está preocupada, acha que ele não a ama mais e diz que é tudo culpa dela.
  – Tadinha – disse comovida. – Eles já tentaram conversar? Ou quem sabe uma terapia de casal. Talvez seja porque ela está distante dele.
  – Foi o que eu disse. Acho que ela deve voltar e tentar salvar o casamento ou dar logo um ponto final nisso, não acho justo continuarem juntos se não está como antes.
  – A gente sabe quando chega a hora, digo o casal sente, a corda sempre arrebenta no lado mais frágil, então uma das partes vai se magoar, é inevitável. Quando o fim chega, é inevitável.
  – Eu espero que nunca aconteça isso conosco, eu a amo demais pra deixar você ir embora. Você é a mulher que mudou a minha vida pra melhor, acho que só acabaria se eu deixasse de te amar, mas isso nunca vai acontecer da minha parte – respondeu Niall acariciando a cabeça do bebê. – Olha o que você me deu, uma família, eu serei eternamente grato por isso, e não existe nada no mundo que eu possa fazer para retribuir todo o amor que você me proporciona. – Beijou a cabeça do filho.
  – Eu também amo muito você, Niall, você na minha vida já é um presente. – Ambos pararam para observar a criança, que dormia tranquilamente. – Veja como ele está crescendo tão rápido, e a cada dia ele está mais parecido com você, isso não é justo. – Riu.
  – Ele já vai fazer um ano, temos que começar a preparar a festa. Talvez Sarah possa te ajudar com as escolhas da decoração – sugeriu o loiro.
  – Sarah não sabe sobre o Theo, ainda não tive uma oportunidade para tocar no assunto – disse cabisbaixa.
  – Tenho certeza que ela vai amar quando descobrir que tem um irmãozinho – garantiu o marido.
  – Eu espero que sim – sorriu para ele.

(...)

  Dias depois

  Eva esperava pela filha, observava ansiosa o entre e sai das pessoas na esperança de encontrar Sarah no meio delas. Antigamente Eva gostava de trazer a filha na cafeteria na volta do trabalho, onde faziam uma pausa para o lanche e perguntavam sobre como havia sido o dia uma da outra. Na realidade, a mesma não esperava que a filha aceitasse o convite para encontrá-la, visto a situação, estava em débito com Sarah pelos anos que se afastou quando ela mais precisou, mas era algo que ela lutava para mudar.
  – Bom dia – disse Sarah sentando a sua frente, estava tão distraída que nem notou quando havia chegado.
  – Bom dia, meu docinho. – Sarah sorriu, desconcertada, não queria forçar, mas ela reconhecia que era sua mãe e tinha que ser o mais leve possível.
  – Fico muito feliz que tenha vindo.
  – Não poderia negar isso a senhora. Nós precisamos por os pontos nos “i” – comentou.
  – Quer pedir alguma coisa? Eu pensei em pedir empada doce mas fiquei com receio. Ainda continua sendo seu lanche favorito?
  – Eu adoraria – respondeu simpática e sua mãe levantou para fazer o prato. Assim quando trouxe Sarah saboreou a empada que há anos não saboreava.
  – Então, não sei por onde começar – confessou constrangida.
  – Por que a senhora me abandonou quando eu estava internada? – perguntou confusa. Ela queria saber a verdade, queria encaixar as peças dos quebra-cabeças.
  – É mais difícil de entender do que imagina – respirou fundo –, mas eu lhe devo a verdade, Bom... O meu relacionamento com seu pai nunca foi lá um mar de rosas, tivemos altos e baixos durante nosso casamento, eu amava seu pai mais do que a mim mesma, mas quando eu perdi meu bebê eu comecei a perceber que eu não dependia dele, que ele não era saudável pra mim, seu pai só ama a si mesmo, mas eu tinha esperança de que o casamento podia o mudar, mas ele não mudou. Eu sei que eu errei com você, Sarah, de ter lhe deixado pra trás uma vez, mas todo mundo comete erros, e eu estou pedindo humildemente por uma segunda chance, por favor.
  – O que a senhora quer dizer com relação ao meu pai? – ignorou sua fala.
  – O seu pai me traiu. Sempre, durante anos, desde a época do colégio, mas ele não queria que eu me separasse dele por que ele é obsessivo, não suporta a ideia de perder aquilo que acha que tem na palma da mão. Eu engoli muito de sua arrogância porque eu não conseguia ver uma vida sem ele, e era mãe, não podia simplesmente destruir minha família. Mas aí eu descobri uma coisa que me fez mudar totalmente de ideia e me fez encher que a de separação era o melhor caminho para nós dois.
  – E o que a senhora descobriu do meu pai de tão ruim? – quis saber intrigada.
  – Ainda não é o momento certo para tocarmos nesse assunto, já faz muito tempo, e não acho justo que descubra por mim, você devia pergunta a ele porque nos separamos. – Esticou a mão para tocar a filha. – Mas não vim aqui pra isso, eu gostaria de te contar uma coisa.
  Sarah apertou a mão da mãe na mesma intensidade, para que ela entendesse que podia continuar, que apesar de toda mágoa, ela poderia contar com a filha.
  – Eu casei de novo... E você tem um irmão.
  Seus olhos piscaram mais de uma vez para processar a informação. Um irmão? Sua respiração mudou o ritmo, ela estava surpresa, mas não sabia como reagir, ela tinha a sensação de que já havia passado por isso antes.
  – Um irmão – repetiu e tentou sorrir feliz pela notícia, mas era diferente, ela nem ao menos conhecia o pai da criança.
  – Eu trouxe uma foto dele. – Pegou o celular da bolsa e mostrou a foto dele.
  – Ele é tão lindo, como se chama? – disse admirada.
  – O nome dele é Theo, vai fazer um ano. Niall, meu marido, sugeriu que talvez fosse uma boa ideia prepararmos juntas a primeira festa de aniversário dele, mas claro, antes íamos marcar um dia para que você possa conhecê-los. O que me diz?
  – Eu adoraria, vai ser um prazer planejar a festinha dele. – Sorriu simpática.

(...)

  – Bom dia, eu gostaria de pegar meu atestado de consulta médica – disse Becca à recepcionista do hospital.
  – Só um segundo, querida, irei carimbar agora – respondeu a mulher. Becca pegou o celular do bolso e começou a responder suas mensagens enquanto esperava pelo atestado.
  –... Eu sei... Ela tem toda razão. – Reconheceu a voz de Harry passando por ela, ele falava ao telefone, estava tão concentrado na ligação que nem a reconheceu e continuou seguindo seu caminho.
  – Aqui está, meu bem, assine aqui por favor – anunciou a recepcionista e logo Becca fez o que ela pediu.
  – Obrigada – agradeceu e disfarçadamente seguiu o mesmo trajeto que Harry para escutar sua ligação, parou em um ponto estratégico onde ficou a espreita, ele estava em um corredor vazio próximo a escada de emergência enquanto Becca estava na parede que dividia a visão dele, mas ela conseguia escutá-lo.
  –... Mas... É, você tem razão. – Becca pegou o celular e fingiu estar digitando algo quando as pessoas passavam em sua frente, mas estava atenta no que ouvia.
  –... Eu simplesmente não me sinto mais como antes... Eu ainda gosto dela, mas.. Já não é mais a mesma coisa. Não! Claro que não. Eu não jogaria tudo que construímos fora, assim, de uma hora para outra. – Ele soava falso, como se estivesse tapando o sol com a peneira, dando desculpas claramente vagas e clichês.
  – Eu a pedi em noivado! Só não aguento pensar nisso como um peso. – Os olhos de Becca se arregalaram com tamanha surpresa. Dr. Styles está noivo.

Capítulo 11
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