Capítulo 07 • O Despertar
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Aos poucos, Sarah abriu os olhos, suas pálpebras piscavam mais de uma vez para se acostumar com a claridade da lâmpada que causava ardência, a fazendo lacrimejar. Sua visão ganhava foco aos poucos, mas logo conseguiu perceber que se tratava de um quarto de hospital. Sentia dificuldade em se movimentar até com uma simples virada de cabeça para analisar o quarto que estava, apenas seus olhos varriam pelo cômodo, estava com os músculos comprometidos e não conseguia se mexer. Não podia falar, pois ainda estava entubada. Uma enfermeira entrou e ao vê-la sua feição foi de extrema surpresa.
– Você despertou! – disse a enfermeira de pele negra. – Meu nome é Moore, sou enfermeira, consegue me entender querida? Poderia piscar duas vezes para me responder? – perguntou a enfermeira e assim Sarah o fez.
– Ótimo, querida, vou chamar o Doutor Styles – disse empolgada após sair às pressas chamar o médico.
(...) A felicidade parecia transbordar de seu corpo, Niall não conseguia esconder o sorriso bobo nos lábios ao carregar seu filho no colo pela primeira vez. Estava bastante nervoso, ainda era uma novidade para ele, estava inseguro e aflito por não saber segurar um recém-nascido, tinha medo de quebrar seu corpinho frágil, mas deixou a preocupação de lado para admirar a semelhança entre ele e o filho, era sua cópia fiel. Carinhosamente depositou um beijo em sua testa, o pequeno se remexeu em seus braços e exibiu um sorriso como se quisesse dizer “oi papai” emocionado ele sussurrou “oi filhão”.
E nesse breve contato entre eles, Niall sentiu algo em seu coração, um sentimento nunca sentido por ele antes, como se a partir daquele momento estivesse entregue a ele uma missão de proteger seu pequenino a qualquer custo, disposto enfrentar qualquer dificuldade por aquele sorriso, e isso foi o bastante para confortar seu coração.
Desde a notícia da gravidez de Eva na lua de mel, Niall teve a certeza de que queria que seu filho nascesse em sua terra natal, Mullingar. Há meses o casal fazia planos para se mudar por completo para sua cidade, mas Eva não poderia partir e simplesmente abandonar a filha doente, o que Niall compreendeu perfeitamente. Pois com a chegada desse filho, enxergava como a chave para todos os problemas, um ponto de esperança que ele precisava para realizar seu desejo de ter uma família ao lado de Eva.
(...) Harry higienizou bem as mãos antes de adentrar, respirou fundo e parou com a mão na maçaneta, buscando coragem para se preparar para o que viesse encontrar a seguir ao abrir a porta. Tinha recebido a notícia de que Sarah havia acordado ainda cedo pela manhã, antes de chegar no trabalho. Ele ainda estava processando tudo que havia acontecido, não acreditava que finalmente ela estava ali, lúcida outra vez. Estava nervoso, era um fato, mas ele havia se preparado para aquele momento durante 4 anos e agora parecia mais difícil lidar com a situação. Sem esperar por mais tempo, entrou no cômodo.
– Bom dia, Moore. Olá Sarah, sou o médico responsável por você. Doutor Styles, – disse o mesmo. Então foi como uma cena de filme, seus olhares se encontraram pela primeira vez, os olhos castanhos avelã de Sarah tinha um brilho tão intenso e hipnotizante. O tipo de olhar pelo qual ele venderia sua alma. Fingiu uma tosse para prosseguir a fala já que havia perdido sua concentração.
– Há quanto tempo ela está acordada? – perguntou à enfermeira.
– Não sei ao certo doutor, – respondeu. – Quando cheguei já a encontrei assim. Isso é um bom sinal, não é?
– Ótimo sinal, pra ser sincero. Precisamos mantê-la em observação por uns dias e ver como ela reage aos medicamentos. – Cautelosamente levantou sua pálpebra e colocou uma lanterna em seus olhos, e fez com que seguisse o movimento da luz. – É muito bom tê-la conosco novamente Sarah.
“Por que sua voz me soa tão familiar, doutor Styles? Eu nunca o vi antes e sinto que já o conheço a muito tempo.”
Sarah até então não tirou os olhos de Harry desde quando o mesmo havia chegado no quarto. Harry tentava disfarçar para não transparecer o quanto aqueles olhares sobre ele faziam seus batimentos acelerarem de tal modo que ele achou que fosse possível ouvir as batidas de seu coração pelo cômodo.
– Agora se me dão licença, tenho que ir, – disse trêmulo, deixando o quarto.
(...) O eco do toque do celular pela casa o fez despertar do sofá, com relutância Dylan levantou e foi cambaleando, desviando das garrafas de álcool vazias pelo chão e se esticou para alcançar o aparelho.
Já havia se tornado rotina amanhecer os dias assim desde sua separação, andando desleixado, jogado pelos cantos, embriagado e satisfazendo os desejos da carne, mas toda vez que voltava para casa o vazio predominava, aquela sensação de porto seguro e afeto havia perdido assim que perdeu a esposa, restando apenas solidão e angústia. Ele sabia o que faltava, e sabia que não tinha volta.
– Alô? – perguntou com a voz rouca. – O QUÊ? Como é possível? Claro, estou a caminho. – Desligou o telefone e tratou de se vestir.
(...) Harry organizava em seu escritório as fixas de seus pacientes enquanto aguardava ansiosamente a chegada do pai de Sarah, sentia uma euforia inexplicável dentro de si, queria mostrar o quão estupido estava agindo com sua própria filha e fazê-lo se arrepender, mas prometeu a si mesmo que não permitiria seu lado emocional atrapalhar o lado profissional. As batidas na porta sinalizaram que o homem havia chegado, assim que o mais velho adentrou em sua sala Harry pediu educadamente para que sentasse na cadeira a sua frente.
– Eu quero que me explique como ela despertou do nada, sendo que há 3 dias eu o pedi para que desligasse as maquinas para que minha filha morresse em paz.
“Talvez porque eu não me perdoaria se a deixasse morrer, por não suportar o buraco que se formaria em meu peito por ficar sem ela. Porque me apaixonei por sua filha.”, pensou Harry.
– O que o senhor tem que entender é que Sarah está entre nós novamente, ela lutou por sua vida cada segundo, teve reações positivas quanto os medicamentos e está voltando a consciência. Isso não traz nenhum sentimento ao senhor? - questionou sem ser rude.
Dylan ainda não tinha parado para pensar com clareza, ainda não tinha absorvido a notícia completamente, tanta coisa havia mudado nos últimos 4 anos desde seu acidente que ele tinha esquecido dessa sensação. Aquela sensação de saber que ainda há alguém que precisa de você, e que você não está mais sozinho. Piscou algumas vezes como se trouxesse para realidade com as palavras do rapaz.
– Eu tentei me comunicar com sua esposa, mas desde o ano passado que ela não frequenta o hospital e não atende as nossas ligações e...
– Evangelina não está mais em Portland. Nos separamos tem uns meses e desde então ela ignorou que tem uma filha e não se preocupou com mais nada que a envolvesse, e não faço ideia de seu paradeiro agora, que sinceramente pouco me importa, – respondeu ríspido.
Harry, constrangido, não soube como reagir diante de sua declaração, o que ele poderia dizer? Um sinto muito? Na dúvida, achou sensato concordar em silêncio a espera de que ele continuasse.
– O que acontece agora doutor? Sarah vai ficar bem? – perguntou preocupado.
– Em seu atual estado é comum sentir dificuldades para se mover, seus ossos estão atrofiados, seus músculos estão comprometidos e por conta disso não pode se mexer, nem pode falar. Seus rins não funcionam sozinhos, e o abdômen precisa de uma atenção constante, até sua melhora. Que se ela continuar dando resultados positivos será uma recuperação breve.
(...) Elisa estava tão animada com o nascimento de seu sobrinho, a empolgação do seu irmão era contagiante, era um momento muito especial de sua vida, ela nunca tinha o visto tão feliz antes. Horas atrás a mesma soube da notícia por telefone e, apesar de estar distante do irmão fisicamente, quis ser a primeira a conhecer o sobrinho, por isso resolveu fazer uma chamada de vídeo. A intensidade de sua emoção era tanta que parecia estar o vendo pessoalmente, lagrimas de orgulho caíam de sua face, comentou o quanto o bebê era semelhante ao irmão, que estava ansiosa para conhecer sua família e que estava louca para contar a novidade ao noivo, se despediu e declarou saudades.
Ela contava os dias para voltar para casa.
(...) Sarah olhava fixamente para o teto, queria se distrair com alguma coisa, estava farta daquele cenário, queria poder gritar. Era como se sua alma estivesse presa ao estado de seu corpo, impossibilitada, tudo que ela queria era entender o que estava acontecendo e se livrar daquela inércia. Consolou-se ao ver seu pai entrando no quarto.
“Pai! Porque estou aqui? Eu quero entender o que está acontecendo comigo!”
– Oi, meu anjinho – disse ele, Sarah notou pelo seu tom de voz que seu pai estava cansado, em todos os sentidos. – Sei que você deve estar cheias de perguntas e confusa, mas não poderei responder nenhuma delas, você passou por tanta coisa, foi forte até o final e precisa continuar sendo, pois a luta está apenas começando, nunca duvide da sua força.
“O que o senhor quis dizer? Onde está a mamãe? Eu quero vê-la!”
– Vai ficar tudo bem, seu corpo está bastante frágil, não deixe as preocupações tomarem conta de você, não quero correr o risco de testar sua força. Apenas peço que dê tempo ao tempo, eu estou aqui agora e vou cuidar de você, – disse convicto para confortar sua filha. E naquele momento ele jurou a si mesmo que, desse dia em diante, tudo será diferente.
Dois dias depois... Sábado à noite, esse era o dia da semana mais esperado por Harry, pois era o dia em que se reunia para jantar em família. Na maioria das vezes ele faltava devido ao trabalho, o que o desapontava bastante, já que considera como um momento sagrado, nada se compara com a comida caseira de sua mãe, nenhum restaurante sofisticado chegaria aos pés dela. Anne tinha um dom para cozinha, ela sabia exatamente o que fazer para agradar o filho e deixá-lo feliz.
Aquele ambiente o fazia tão bem, que toda vez quando ia visitá-las sentia-se como uma criança novamente, a definição perfeita de lar. Sua irmã Gemma, não estava em seu melhor momento, discutiu com seu namorado, Liam, e se manteve em silêncio durante o jantar.
– Como vão as coisas no seu trabalho querido? – perguntou sua mãe.
– Estão indo bem, – disse sorrindo. Voltaram a comer silenciosamente, então pronunciou-se novamente. – Mãe, sei que minha pergunta não vai fazer sentindo algum mas, a senhora se arrepende de ter conhecido meu pai? – Anne e Gemma se olharam e depois para ele.
– Pra mim a palavra arrepender não costuma fazer parte do meu dicionário. Eu amava muito seu pai quando jovem, e mesmo ele sendo quem ele é, feito o que fez com nossa família eu me casaria, se não fosse por ele, eu não estaria falando com você agora. E agradeço todos os dias por vocês estarem em minha vida.
– Então não mudaria nada mesmo se tivesse a oportunidade de voltar no tempo?
– Talvez sim, talvez não. Porque a pergunta, filho? Algo está o incomodando, consigo sentir, – questionou, Harry sabia que qualquer coisa poderia contar pra sua mãe os piores segredos, ela sempre iria o aconselhar sem julgar, ele sentia seguro com ela.
– Mãe, eu não sei se quero mais casar com Elisabeth porque estou apaixonado por outra pessoa, – disse e os talheres trincaram o prato, as duas prestando atenção em sua declaração.
– Me sinto culpado, como se tivesse a traindo sem nem mesmo ter realmente chegado a esse ponto. Estou confuso e não sei como agir diante a isso, não sei se arrisco ou se continuo com a Elisabeth já que ela é tão boa comigo e faz tudo pra me agradar. Eu tenho medo de me arrepender e perder tudo depois, – confessou tudo que angustiava.
– Você ama sua noiva? – Gemma quis saber e Harry abaixou a cabeça. Ele gostava muito, sentia um carinho imenso por ela, mas não chegava a amar. – E quanto a essa nova garota? Ou garoto não sei.
– É uma mulher sim, Gemma. – Riu nasalado de sua pergunta. – Eu sei que em geral, eu prefiro estar com ela do que estar com qualquer outra pessoa, ela tem algo que me hipnotiza e me prende, eu me sinto melhor quando estou ao seu lado, é como o arco-íris colorindo o céu.
– Sabe meu filho, a vida toda queremos saber para onde devemos ir, sendo que o mais importante é quem nos acompanhará. A gente precisa ter algo para acreditar, se você gosta dela deve ir atrás, não existe tempo perdido, nós que vivemos perdendo tempo. Falo por experiência própria, nunca deixe de tentar por medo de se arrepender, você nunca vai saber o que lhe aguarda. Apenas siga seu coração. E se der errado, você ainda tem a mim, não é, meu bolinho?
– Mãe! – repreendeu manhoso. – Obrigado, eu te amo. – Sorriu mostrando as covinhas e beijando as mãos da mais velha.
– Quem quer sobremesa?
Horas mais tarde, após sair da casa de sua mãe, Harry já se encontrava pronto em sua cama para dormir, pegou o notebook que estava em cima do criado mudo e se aconchegou entre os lençóis. Desde que Elisabeth tinha ido para França, Harry passou a vê-la por Skype todas as noites em que tinha um tempo livre, o fuso horário não colaborava muito então por isso ele decidiu ligar para ela somente em fim de semana.
– Oi amor! Como está? – saudou calorosa como sempre.
– Oi amor, bem cansado sinceramente. Que horas são aí?
– 11 horas da manhã do domingo. E aí deve ser madrugada certo?
– Correto, e as novidades da graduação?
– As correrias de sempre com seminários pra apresentar e livros pra estudar. Mas hoje tem uma novidade que você vai amar saber!
– Conta aí pra mim, por favor.
– Meu sobrinho nasceu e ele é tão fofo! Você devia ter visto, o Niall está tão encantado, eu tenho a foto dele aqui e vou te mandar, – contou animada. Harry sorriu.
– Que notícia maravilhosa! Eu sou oficialmente tio! – Tentou demostrar empolgação, já que se sentia culpado pela confissão horas antes. – Qual o nome do bebê?
– O bebê se chama Theo, ele é tão lindinho, meus pais foram viajar para conhecê-lo. Eu não vejo a hora de conhecer a esposa de meu irmão pessoalmente, Niall está pensando em fazer um jantar em família para quando eu voltar. O que acha amor?
– Acho uma ótima ideia, – ele concordou, Harry sabia pouco sobre sua nova cunhada, tinha visto apenas a foto do casamento, mas nunca foram apresentados pessoalmente. E ele acreditava que daqui até a volta de Elisa ele já teria resolvido seus problemas amorosos.
– Eu sinto tantas saudades de vocês, qual seus planos pra amanhã?
– Dormir o dia todo, é meu dia de folga, vou aproveitar claro. E você?
– Tenho trabalhos pra terminar e livros pra estudar pro meu seminário. Graduação não é nem um pouco mole, tá acabando comigo. Bom, tenho que ir agora e você também precisa dormir. Tchau amor, boa noite.
– Tenha um bom dia Lisa, tchau. – Sorriu forçado e desligou o computador.
(...) Eva admirava a paisagem através da janela de sua casa enquanto amamentava seu filho, carregado nos seus braços. Finalmente ela encontrara o que havia faltado nos últimos anos, sentia-se completa outra vez, reconstruída, e seu coração estava em paz. Niall se aproximou trazendo o telefone, com cuidado ela colocou a criança ao berço e pegou o aparelho de sua mão. Quando a mais velha atendeu o telefonema, seu humor mudou drasticamente, havia ficado perplexa. Seu marido, curioso, perguntou o que havia acontecido e ela disse.
– Minha filha acordou do coma.