Capítulo 06
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Mil pensamentos metralhavam sua mente, Harry se sentia confuso diante de toda situação, questionava se realmente tinha tomado a decisão certa, porém mesmo que se arrependesse nunca iria demonstrar. O problema seria não saber fingir que não sentia nada. Porque nunca se sabe quando é da boca para fora ou do coração para dentro. Por isso aceitou se casar com Eliza, porque sabia que era o sensato a se fazer, talvez não o apropriado mas também não poderia arriscar o certo pelo duvidoso, e com isso conformou-se.
Fazia bastante tempo que Harry não via Sarah desde sua férias de natal, e durante todo esse período ele não conseguia parar de pensar nela e querer estar com ela a cada dia, pois sentia sua falta. Mesmo que negasse a si mesmo, ela havia realmente despertado algo nele. Esse era o problema do amor, ele aparece nos lugares mais inesperados, Harry sentia que estava morrendo aos poucos desde que Sarah entrou na sua vida.
– Olá Sarah – falou assim que entrou. – Teve um bom natal? Eu espero que sim. Sabia que eu fiquei com minha família nas férias? Por esse motivo não apareci antes, mas agora voltei. – Ele dizia tão convicto que nem parecia um monólogo.
– Aconteceram tantas coisas nesse pequeno período que você não faz ideia. Trouxe rosas pra você. – As rosas já haviam se tornado um hábito, já que sempre trazia quando ia vê-la. – Escolhi dessa vez lilás porque a cor é fascinante, o lilás é uma das cores mais raras e doce e são muito usadas para expressar intenções românticas. – Achou graça da última frase.
O silêncio tomou conta do cômodo, enquanto ele pensava consigo mesmo e a olhava intensamente, como se estivesse em transe.
– Alguma vez seguiu seu coração sem pensar nas consequências? Já se sentiu cobrado pela vida como se estivesse em constante pressão? Seguir o que acha ser coerente e não por sentimentos? – perguntou ele angustiado.
– Não acha a vida às vezes injusta? As pessoas ao nosso redor nunca reparam nossa dor ou tristeza, até mesmo quando se está feliz ninguém repara o seu sorriso, mas todos sabem julgar quando você erra. Eu não sou tão forte como todos pensam que eu sou, as vezes eu também choro, me desanimo, porque eu ando tão cansado de tudo.
– Mas aí eu lembro de você, por incrível ou tolo que pareça, você é a única coisa que vale a pena no meu dia. – Por um breve momento se atreveu a segurar sua mão, seu primeiro contato físico com ela e sentiu uma imensa vontade de beijá-la, até que foi interrompido.
– Doutor? – Becca perguntou desconfiada diante da cena que presenciara.
– Eu só estava checando se estava tudo ocorrendo bem com sua pulsação, já estou de saída. – Verificou o mesmo e se preparou pra sair. – Boa tarde senhorita.
(...) Os anos se passaram e o relacionamento entre Eva e Dylan só esfriava cada vez mais. Eva estava o afastando involuntariamente, desde a perda da sua gestação ela tinha o rejeitado como homem, conversavam sobre o necessário, não trocavam carícias como faziam, quem visse de longe pensariam ser irmãos pelo forma como se tratavam, deixaram de ser um casal e isso incomodava Dylan. Seu casamento estava arruinado, não sabia mais o que fazer para reconquistar sua esposa já que todas as suas tentativas foram fracassadas. Talvez não existe mais o amor como antigamente, mas para Dylan era uma questão de domínio, mesmo que a amasse de seu jeito torto e errado ela só poderia ser somente sua e de ninguém mais.
– Não dá mais – comentou Eva durante o jantar. Ela ainda não havia tocado na comida.
– Do que está falando, querida? – perguntou ele ao beber seu café.
– Não precisamos mais fingir. Nós sabemos que isso não está dando certo, não somos mais felizes, eu quero seguir minha vida, recomeçar do zero. – Justificou.
– Claro que somos felizes, que conversa sem sentido é essa? – A preocupação era notável em sua voz.
– Mais do que nunca eu tenho certeza do que eu quero e isso faz sentido pra mim, eu não posso continuar mentindo para mim mesma, eu tentei, Dylan, de verdade, mas eu não amo mais você. Eu quero o divórcio.
– Isso só pode ser uma piada, você não conseguiria viver sem mim, – disse convencido e notou que a feição da mulher a sua frente era séria. – Você não pode estar falando sério, não pode fazer isso comigo.
– Por que insiste em mentir? – indagou ela. – Nunca foi profundo, nunca houve sentimento algum da sua parte, nunca houve amor.
– Eu amo você. E é a verdade.
– Ah, ama? Como se eu não soubesse das suas amantes, você nunca foi fiel a mim, desde o colegial! – Cuspiu sua raiva nele. – Achou que eu nunca soubesse? Eu sempre soube, mas era muito cega de amor por você que aceitei para continuar meu casamento. Mas meu casamento acabou faz muito tempo.
Dylan estava em choque, não acreditou naquelas confissões, se fosse anos atrás teria culpado Lea, mas a mesma tinha sumido da sua vida, mal sabia do seu fim desde então. Entrou em desespero com tais palavras, mesmo que a traísse ou cometesse erros ele gostava dela, tinha se apegado aquela rotina, não seria a mesma coisa sem ela ao seu lado. Ela tinha amor para dar e não recebia.
– Me desculpe por todos esses anos. Infelizmente o que eu fiz não tem volta, cometi muitos erros, mas só peço que fique. – Sua voz falhou devido ao nó em sua garganta, seus olhos marejavam.
– Não foram erros, foram escolhas. – Pegou sua bolsa em cima do sofá. – Quando eu voltar quero que esteja com malas feitas, caso contrário, eu saio.
Dito isso, Eva saiu de sua antiga casa deixando um Dylan confuso e pasmo. Era mais do que uma solidão de fim de noite, soava como abandono.
(...) As suas respirações estavam entrecortadas. Com movimentos repetitivos Harry penetrava Elisa, a mesma intensificou os gemidos, marcou de arranhões suas costas. Elisa ao chegar em seu ápice segurou firme o lençol como se fosse rasgar, logo em seguida Harry ejaculou, abraçando-a em sua última estocada.
Nenhuma palavra foi dita, existem momentos que não precisam de palavras. Eles curtiam o silêncio de ambos, apenas o som da respiração sendo normalizada, e os olhares perdidos no teto do quarto. Elisa se aproximou do peitoral de Harry que subia e descia freneticamente e depositou um beijo ao se apoiar com seus braços nele.
– Tão intenso. – comentou a loira. – No que tanto pensa amor?
– Nada, absolutamente nada. – Abraçou a cintura nua da noiva.
– Sabe, eu tenho pensado sobre minha especialização em pediatria, – disse ela cortando o silêncio.
– O que decidiu? – Mudou sua mecha de lado.
– Estou querendo fazer minha graduação na França. Tenho seu apoio? Se você disser que não concorda posso fazer aqui em Portland.
– Eu nunca diria isso, impedir de você fazer algo que gosta seria egoísmo de minha parte, acho que você deveria ir. sei que adora a França e sempre quis estudar fora, esse é o momento. – Foi sincero.
– Tem certeza? Não vai sentir minha falta? Esse curso o prazo é de 1 ano ou 2.
– Posso te ligar por Skype quando sentir sua falta, não se preocupe, vou me cuidar. Não se prenda a mim, siga sua vontade. – Sorriu de lado.
– Eu te amo. – Beijou o noivo ao terminar a frase.
(...) Após a entrada existia um curto corredor com LEDs e que logo se abria numa diagonal para o pub em si, o balcão com o barman ficava a direta e não tinha muita gente sentada ali, com exceção no resto dos lugares, nas paredes e ao redor de mesas. Mas para Eva ainda parecia um lugar vazio, nunca havia frequentado um local assim antes, tudo estava sendo uma novidade. O ar de cigarro não a incomodava, as gargalhadas sem moderação ou muito menos as bebidas alcoólicas. Queria experimentar, se entregar e embebedar-se para que assim afagasse o peito.
– Boa noite senhorita, – disse um rapaz loiro ao sentar do seu lado, que foi ignorado por ela.
– É uma moça tão bonita, porque está sozinha em um lugar como este? – Insistiu ele.
– E você é um rapaz muito jovem para estar flertando com uma senhora como eu, – respondeu bebendo seu drink.
– Uma senhora linda por sinal, não vejo o porque não me interessaria, já que não estou vendo nenhuma aliança.
– Não sou mulher que costuma sair com garotinhos, tenho idade de sua mãe.
– Podemos conversar, então? Eu pago a bebida. Acho que conversar não tira pedaço. – O rapaz lançou seu melhor sorriso e conseguiu convencê-la.
– Você venceu. E qual o nome do galanteador? – Virou-se para fitar seus olhos.
– Sou Niall. Niall Horan. – Pegou sua mão onde gentilmente depositou um beijo.
(...) Meses depois.
Aconteceu o que Dylan mais temia no momento, perdeu a única mulher que o respeitava e cuidava dele. Ela havia superado bem rápido, estava saindo com um rapaz mais jovem, que ele pensava que só os homens faziam isso. Encontrou os dois na rua e soube pela maneira como se olhavam e tratavam um ao outro que estavam apaixonados e isso causou uma dor horrível em seu coração. Dizem que só damos valor quando perdermos, e naquele momento ele realmente sentiu isso. A dor virou ódio e amargura, havia perdido a casa, seu casamento e sua mulher para um garotinho que mal tinha barba. Não tinha porque manter qualquer rastro que existiu deles um dia, queimou as fotos e rasgou o papel do divórcio. Dylan não via mais porque continuar com falsas esperanças e na hora da raiva tomou uma decisão. Foi a caminho do hospital.
– Quero falar com o doutor Styles, médico responsável pela cirurgia da minha filha, – disse ele a recepcionista, que logo o comunicou.
– O senhor queria falar comigo? – anunciou Harry ao entrar em seu consultório, onde o mesmo esperou por 30 minutos.
– Vim aqui porque tomei uma decisão quanto ao estado de Sarah e seus resultados durante esses anos. Eu quero desligue as máquinas. – Ao ouvir aquilo Harry teria cambaleado se não estivesse sentado. Não pode demonstrar o quão desesperado havia ficado com a possibilidade.
– E o por que o senhor vai fazer isso? – Manteve a voz firme. – Sarah ainda não consegue respirar sozinha sem o auxílio dos equipamentos, se o senhor realmente fazer isso vai matá-la aos poucos.
– E não é isso que está acontecendo? Ela mal reage ao tratamento, já está morta, continua viva porque estou pagando, eu não quero insistir com isso. Quero acabar logo de uma vez.
– E onde está sua esposa? Por que ela não está com o senhor? Gostaria de ouvir as duas versões. – Deu qualquer desculpa para adiar o que estava por vir.
– Ela já esqueceu que tem uma filha, Sarah se tornou um peso morto. Onde eu assino o papel para autorização?
– Não pode fazer isso, – disse trêmulo. – O coração dela ainda bate, admito que com dificuldade, mas ela não se foi por completo.
– Eu conheço as leis do hospital, sei como funciona, o doutor não deveria interferir em minhas decisões, ainda mais com uma paciente que está ocupado uma vaga. Eu quero que desligue as máquinas, porque eu não irei pagar por mais nenhuma despesa dela. – Levantou, preparado para sair da sala. – Amanhã faça o favor de providenciar isso.
Ao ficar sozinho Harry se apressou a ir ao quarto de Sarah, não controlava mais suas emoções, suas lágrimas escapavam por suas bochechas, seus passos eram largos, quase tropeçando, tudo parecia lento a sua volta. Quando chegou no quarto quase caiu de joelhos, seus lábios nem se moviam de nervosismo e suava frio. Naquele instante ele apenas queria fugir de si mesmo e ir para bem longe de tudo isso.
– Me desculpe, mas eu não posso mais esconder. Talvez seja a última vez que eu a veja, preciso confessar ou não conseguirei seguir em frente. – Com esforço começou a falar, sua voz quase falhou.
– Eu senti algo diferente em você, algo que sempre me fazia querer voltar. Porque quando eu fico um dia sem falar com você, esse dia não é bom. É errado querer você, mas eu sempre tive uma queda por erros e meus sentimentos são confusos e não posso controlar. Me diz o que fazer com todo esse amor que é todo seu e eu não posso te dar? – O nó em sua garganta impediu de continuar, limpou as lágrimas e pigarreou.
– Eu espero que você precise do meu amor assim como eu preciso de você. Dizem que amar é ficar na ponta de um penhasco em meio a ventania. E agora eu entendo perfeitamente, porque quando você ama uma pessoa, é dar a habilidade de destruir você mas confiando que não fará isso, você suporta tudo, mesmo perdê-la. – Respirou fundo.
– Eu nunca esperei tanto por algo na minha vida, como eu espero por você, o seu despertar. Quero me entregar a você, mas pra isso você tem que vir, tem que me querer tanto quanto eu te quero. Eu não posso perdê-la. Perder-te seria... Como perder a mim mesmo.
Depositou um beijo demorado em sua testa e a olhou como se fosse a última vez, uma despedida. Mas algo realmente havia mudado, talvez suas palavras tivessem um efeito positivo sobre ela, os sons do bips eram mais frenéticos, os pulmões buscavam por ar além dos tubos, e seu coração batia pulsante, clamando pela vida. E foi assim que Sarah acordou.