Capítulo 05
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1 mês depois…
O dia do novo ano estava ensolarado, perfeito para comemorar em uma praia ou sair para curtir com os amigos, mas para Becca Watterson iria começar de um jeito menos provável. A garota de longos cabelos ondulados com leves luzes que lembravam raios de sol e de pele naturalmente bronzeada olhava atônita diante a cena em sua frente, se aproximou ainda receosa e aflita até onde estava a cama com o corpo desacordado de sua amiga.
– Oi – Conseguiu dizer mesmo com as lágrimas atrapalhando sua vista e a fazendo fungar.
– Eu me sinto a pior amiga do mundo. – Confessou, sentia-se culpada por ter demorado tanto tempo para aceitar a verdade.
– Me perdoe por não estar ao seu lado no momento em que mais precisou de mim. – Respirou fundo já regularizado a respiração e passou a mão nos cabelos.
– Eu não posso te perder, eu não suportaria isso. Eu só consigo pensar que... Eu nunca deveria ter te apresentado a ele.
Um ano antes…
“ esse amor faz até os fracos de coração se apaixonarem
Quando existe amor, ele é resistente
O amor de verdade é resistente.“
O refrão da música ecoava pelo quarto de Becca, o volume estava consideravelmente alto mas não ao ponto de incomodar seus pais. Hoje era a noite do pijama, que se resumia somente entre ela e sua amiga Sarah, como qualquer noite do pijama as conversas principais eram: difamar ex-namorados, assistir filmes românticos, entupir de doces e, claro, fazer bagunça como por exemplo guerra de travesseiro.
No momento Becca mantinha sua concentração em pintar as unhas de Sarah.
– Prontinho. – Disse ao finalizar.
– Que gracinha. – Respondeu Sarah analisando suas mãos. – Eu amo essa cor, minhas unhas ficam tão perfeitas.
– Ela realmente fica linda em você, assim como qualquer outra coisa. – Esboçou um sorriso confortante para Sarah a olhando intensamente.
– Então... Já escolheu o que vamos assistir ? – Perguntou levantando-se, quebrando o contato visual com ela.
– Quatro amigas e um casamento. – Disse ao desligar o rádio.
– Por favor, não seja romance, porque não aguento mais ver sempre os mesmo filmes de amor incondicional e absoluto. – Comentou Sarah, desmotivada.
– Você não pode julgar um filme por um título, calma, é uma comédia romântica. – Justificou recebendo um bufar dela indignado.
– Qual seu problemas com filmes românticos ? – Questionou Becca.
– Assim como existem pessoas que não gostam de terror eu não gosto de romance. E eu não acredito na forma em que é colocado o amor nos filmes, é sempre a mesma coisa, amor à primeira vista, o amor proibido, amor não correspondido onde é vivido ao extremo e no final o casal fica junto. Não existe esse amor sem moderação na vida real.
– Pra mim o que você tem é medo, sabia? Medo de se apaixonar de verdade, se entregar de corpo e alma a alguém, de encontrar alguém que esteja disposto a fazer tudo por você, de se tornar vulnerável e se permitir amar e ser amada como você merece. – Becca disse tudo olhando em seus olhos fixamente, como se ao mesmo tempo que justificasse estivesse se confessando.
– Talvez esse seja o problema de amar demais, qualquer coisa que o outro faça vai te afetar muito. – Depois de longos segundos sem falar, Sarah completou. – Vamos assistir logo esse filme antes que eu durma.
O filme passava no computador, uma do lado da outra na cama, algumas vezes Becca olhava de relance para Sarah, e quando os olhares se encontravam ela desviava o olhar rapidamente voltando sua atenção a tela do computador.
– Sabe.. Eu estava pensando, você vai ao baile de máscara? – Perguntou Becca.
– Não sei. – Respondeu Sarah sem tirar os olhos da tela. – Você quer ir?
– Só iria se você fosse comigo. – Disse ouvindo uma risada como resposta.
– Mas eu nem tenho um par.
– E por que não vai comigo? Poderíamos ser um casal. – Sugeriu ela.
– Como minha acompanhante? – Sorriu debochada.
– Você aceita? – Perguntou esperançosa.
– O que ? Não! Nem combina. – Riu como se fosse uma piada. – A festa é para casais.
– Eu não vejo problemas, mas se você se importa tanto, desculpa. – Respondeu voltando atenção ao filme.
– Okay, vamos melhorar isso. – Parou o filme e sentou na cama – Eu recebi alguns convites de garotos que querem ir ao baile comigo, posso conseguir um para você, o que acha?
– Não, obrigada não estou tão necessitada ao ponto de roubar seus pretendentes – Respondeu sem ser grosseira. – Eu já tinha conversado com meu primo a respeito, ele já estudou lá uma vez e a diretora o conhece e permitiu ele ir comigo.
– Que bom! Agora você precisa me ajudar a escolher o meu. – De repente, Sarah teve uma ideia. – Podíamos fazer uma seleção e descobrir qual combina mais comigo.
– Ah, posso ajudar. – Becca forçou um sorriso. – mas agora vou dormir, meus olhos estão se fechando sozinhos de tanto cansaço, resolvemos isso amanhã, okay?
– Claro. Boa noite, Bae – Disse Sarah tirando o computador do colo e desligando o abajur, em seguida deu as costas para dormir.
– Boa noite. – Sussurrou a olhando por trás e respirou fundo dando as costas também.
O dia do baile. O salão do baile era improvisado na quadra da escola, a decoração era branca e dourada com vários verdes e orquídeas ao redor, iluminação em tons amarelado, assim como as mesas, o espaço era bastante amplo, as mesas formando círculos dando uma abertura para dançar no centro. A fachada da escola estava lotado com carros chegando a cada instante, todos estavam devidamente mascarados, realmente estava um lugar aconchegante.
Sarah esperava impaciente sua amiga, seu par do baile parecia não querer se entrosar, sua única preocupação era em se alimentar, isso era constrangedor, ele nem ao mesmo tentava ser gentil ou cavalheiro. Sua situação fazia-se recordar em como aconteceu a escolha do seu par e lembrou-se que eram poucas opções, e Eliot parecia ser o que mais se encaixava para a tarefa, não que ele não estivesse se esforçando mas também não era como planejado.
Apesar da musica agitada o movimento era tranquilo, poucos se arriscavam a dançar, as mesas estavam mais ocupadas do que a pista de dança. Sarah havia enviado mensagens e vasculhando todo o local e não encontrava Becca de modo algum, portanto esperou pela mesma sentada, distraída no seu celular e entediada por não estar se divertindo como deveria. Ouviu seu nome ser chamado e levantou o olhar.
Foi então que seus olhares se cruzaram pela primeira vez, seus olhos eram castanhos escuros, mas com uma intensidade tão profunda que se assemelhava a uma noite cheia de estrelas, brilhantes e encantador, e a máscara o deixava ainda mais misterioso e elegante. Era como se nesses breves segundos o tempo havia parado e só existissem eles no local, seus olhos eram tão hipnotizantes que a fez perder a fala ao se aproximar.
– SARAH – A saudou Becca toda empolgada. – Você está tão linda! Quero que conheça alguém.
– Prazer, meu nome é Kevin. – Aceitou seu cumprimento educadamente, sem esconder o sorriso bobo que brotou em seus lábios.
– O prazer é todo meu.
Momento atual – Você me trocou por ele, desde quando o conheceu, no baile só enxergava o Kevin, você me deixou de lado descaradamente! – Desabafou Becca ao se recordar do tal dia.
– E olha o que esse amor causou. Olha onde você está agora. – Encarou seu rosto com ternura – Você não faz ideia do meu esforço pra fingir que estava feliz por vocês dois, você nunca percebeu não é? Eu precisava que me fizesse sorrir, mas você estava ocupada demais sorrindo pra outra pessoa. – Segurou sua mão com delicadeza,
– Mesmo assim ainda continuo aqui por você, irei esperar e ficar ao seu lado. Porque eu amo você e não posso perdê-la, me ouviu bem? Você é forte, vai superar isso como superou todo o resto. Feliz ano novo. – Beijou sua mão para se despedir e saiu do quarto.
(...) – Aqui está. – Disse Léa ao entregar o copo de vitaminas.
– Oh, muito obrigado. – Agradeceu Dylan e, antes que o mesmo fizesse menção de sair, ela o chamou novamente
– Tenho uma coisa que preciso te contar. – Falou receosa.
– Pode falar.
– Gostaria de que fosse em um lugar em particular, não acho um bom momento agora.
– Ah – Grunhiu ele como se entendesse o recado. – Safada hein? Ok, mais tarde me encontre na cafeteria pública de sempre. – Foi tudo que disse antes de seguir ao quarto de sua esposa.
O quarto estava mal iluminado por conta da cortina que cobria a passagem dos raios de sol. O corpo de Eva estava estirado sobre a cama, espalhado junto ao lençol bagunçado em suas pernas, sua cabeça mantinha em direção a parede, suas pálpebras nem sequer piscavam ou seu corpo fazia qualquer movimento. Desde que começou todo o pesadelo em sua família sua vontade de lutar estava cada vez menor, e ao perder a gestação avacalhou ainda mais.
– Sou eu, amor. Hora da sua vitamina. – Chamou gentilmente tocando-a. Ela continuou imóvel. – Por favor, só estou pedindo que beba sua vitamina, está trancada aqui fazem dias, não se alimenta, não vive, olha só como está deixando isso tomar conta de você!
– Eu perdi meus filhos, Dylan. – Disse de costas. – Não sinto vontade de nada.
– Não pode dizer isso, Sarah ainda respira e vai voltar para nós, o que aconteceu com nosso bebê poderia acontecer com qualquer outra pessoa. Talvez não seja uma boa hora para ter filhos...
– Está dizendo que sou velha demais para ser mãe de novo?
– Não foi o que disse. Estou tentando dizer que se essa criança não veio foi por algum motivo, talvez não estamos tão preparados ou não era pra ser.
– E por que logo comigo? Tantas meninas conseguem ter filhos e são rejeitados e eu, uma simples mulher com 40 anos, não consigo sustentar nada em meu ventre.
– Ouça, você é a mulher e mãe mais incrível que eu conheço, e juntos nós conseguiremos vencer essa dificuldade. Na saúde e na doença. – A esposa olhou em seus olhos buscando confiança neles e aceitou o copo com vitaminas.
(...) – Então você disse que precisava conversar, pode começar, estou pronto para te ouvir. – Falou Louis bebendo o resto do seu drink.
Harry parecia um tanto receoso em se abrir com ele. Ele sabia que podia confiar no seu amigo, mas ao mesmo tempo parecia que aquilo não passava de uma bobagem da sua cabeça.
– Eu e a Eliza demos um tempo faz um mês, ela está me pressionando para nos casarmos. – Disse por fim.
– Vocês se gostam, estão juntos há um bom tempo, mostra que ela quer ter um relacionamento sério. – Respondeu enchendo o copo. – Deveria saber que a maioria das mulheres esperam por esse momento, sabe? Casar com o cara que ama.
– Esse é o problema, não me sinto totalmente pronto. – Confessou. – Posso saber uma opinião sua?
– Uhum. – Confirmou, bebendo seu drink.
– O que você faria se se apaixonasse repentinamente por uma garota mas não tem certeza se é correspondido? – Perguntou fitando seu copo já vazio. Louis demorou um pouco para processar a informação.
– Chamaria ela pra sair comigo e revelaria meus sentimentos.
– E se ela não tivesse como sair com você? Não tivesse como saber sinal algum?
– Bom, se não fosse recíproco minhas tentativas, eu continuaria com minha namorada.
– Mesmo se não conseguir tirá-la da cabeça? Sentir que falta algo?
– Continuaria com minha namorada, já que tentei com a outra e ela não me deu a mínima. – Respondeu Louis e percebeu a inquietação de Harry no sofá. – Está apaixonado por outra? É por isso que não aceitou se casar?
– Isso é loucura! – Explodiu irritado consigo mesmo, depois retornou a tom normal. – Não é tão simples como você pensa, e tocar nesse assunto me deixa nervoso porque é um situação um tanto complicada.
– Eu não vou te julgar. – Falou sincero. – Como conselho de amigo eu digo, não se sinta obrigado a se casar com a Eliza por achar que se entregar a outra pessoa é um erro ou seja lá o que esteja havendo, é a sua vida e você merece ser feliz, busque isso pra você. Quanto homem eu aconselho, pense bem antes de qualquer decisão, uma escolha errada e você perderá o que tem, que agora acha ser pouco. A vida é uma só, não podemos viver com medo, sem nos arriscar quando preciso.
Harry repassava as palavras de Louis em sua mente refletindo sobre seu conselho. O que ele precisa é ser cético e tomar uma decisão. Mesmo sabendo o caos que estava em sua mente ele sabia que por dentro era mais sentimento do que razão.
(...) Dentro de seu novo carro Dylan esperava por Léa na porta do local marcado. Não sabia o que esperar dela, em sua mente só imaginava sexo, ele estava implorando por isso, mas algo parecia incomodá-la quando disse que tratava de algo sério. O que poderia ser tão grave assim? Mais do que estava bagunçada sua vida, não poderia. Era consideravelmente tarde, então seja o que fosse pra resolver naquela noite não poderia ser demorado, sua esposa poderia acordar a qualquer momento, mesmo tomando os remédios pra dormir. Logo avistou uma silhueta conhecida por ele se aproximar do seu veículo, que imediatamente foi aberto para mesma.
– Gostosa. – Atacou dando beijos agoniados em seu pescoço. A garota virou o rosto, evitando carícias. – Nossa, o que deu em você?
Não respondeu, apenas continuou séria, sua feição era de preocupação. Entregou um envelope e um teste de farmácia.
– O que é isso? – Ele quis saber.
– Eu estou grávida, e fui ao medico e ele confirmou.
– Você só pode estar brincando comigo. – Riu debochando. – Eu não vou ter essa criança, essa coisa vai acabar com meu casamento.
– Coisa? – Repetiu triste. – Como pode ser tão cruel com um filho seu? – Seus olhos lacrimejaram era notável sua decepção.
– Não seja tão inocente, Léa. Você sabia desde o começo que era só sexo e eu te avisei para tomar seus remédios, pra evitar esse tipo de situação. VOCÊ NÃO PODIA ENGRAVIDAR, PORRA – Alterou o tom de voz, irritado.
– E como eu fico agora? Eu não posso criar essa criança sozinha, eu preciso de você. – Tentou tocar seu rosto, mas foi a sua vez de a ignorar.
– Eu não quero esse filho. Eu vou te dar duas opções, ou você se demite e se resolve com seus pais ou faz aborto. Eu não vou assumir de qualquer jeito.
– Mas Dylan, eu não posso me demitir, tenho que pagar minha faculdade e se eu voltar pra casa grávida meus pais me matam, eu não tenho coragem de abortar. – Disse com a voz trêmula por segurar o choro.
– Escuta aqui, sua vadia. – Pegou em sua face apertando com violência, fazendo olhar em seus olhos. – Isso não é problema meu, se você sonhar em contar algo pra Eva eu acabo com você, quero você longe dela, me ouviu bem? Agora saia do meu carro sua vagabunda. E assim jogou seu corpo praticamente pra fora de seu carro, como se estivesse expulsando o problema, sem se importar com nada além de si mesmo<.
(...) Suas mãos estavam trêmulas, assim como seus lábios que não conseguiam se controlar pensando no que seria correto a dizer quando a visse. Tinha que admitir estava bastante nervoso. Queria acreditar que estava fazendo a coisa certa, mas em seu coração não era isso que sentia, era como se soubesse que estava enganado a si mesmo, suas emoções eram confusas, ele achava que isso o faria forte, que assim tiraria a loucura de sua cabeça, esquecendo uma dor para que tenha outra.
Tocou a campainha três vezes, logo foi recebido por uma loira de cabelos bagunçados.
– Harry? – A loira ficou surpresa. – Você... Não esperava que apareceria essa hora da noite.
– Me desculpe por incomodar em um horário tão inconveniente, mas precisava te ver.
– Você quer entrar? – Propôs, dando mais espaço.
– Não, serei breve, só peço que me ouça atentamente. – Passou a língua entre os lábios, preparando-se. – Há um mês atrás você tinha me dito que eu só deveria procurá-la quando tivesse certeza dos meus sentimentos por você. Passei esses últimos dias pensando em ti em como sua presença me preenchia e sua falta me deixava um vazio completo. Eu gosto muito de você e sei que posso amá-la com o tempo, mas para isso teria que aceitar uma coisa.
– O quê? – Seu coração acelerou ao ver a caixinha vermelha na mãos do seu amado.
– Diga-me Elizabeth Mills, você aceita ser minha esposa?
– Sim.