Capítulo 04
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3 meses depois...
Elisa parou em frente à uma loja onde estava exposto um manequim com roupas de marca masculina. Entrou na loja em busca das peças, encontrou com facilidade e sorriu satisfeita ao sentir a qualidade do tecido em suas mãos. Imaginou Harry usando-o.
- É esse! - Falou virando-se para Gemma, que a acompanhava. - Acha que o Hazz vai gostar?
- Tá brincando? Essa roupa é a cara do meu irmão, você conhece bem o estilo dele. - Respondeu com convicção.
- Obrigada, precisava da sua confirmação. Vou levar duas. - Falou pegando outra peça e seguindo ao caixa.
(...) Niall esperava pacientemente do lado de fora enquanto a irmã e cunhada faziam as compras para o Natal. Suas mãos estavam ocupadas, tinham uma família grande, por isso o motivo das inúmeras sacolas. Assim que avistou as duas saindo da loja se levantou caminhando até elas para ajudá-las.
- Precisam de ajuda, senhoritas? – Ofereceu.
- Niall você está cheio de sacolas, não acho que seja necessário! - Respondeu Gemma.
- Elas estão leves, eu aguento! – Insistiu, mas sua irmã interferiu.
- Obrigada, mas, essas, pode deixar que nós levamos. - Sorriu.
Elisa era idêntica ao irmão, com exceção do nariz afinado e suas íris verde-água, já que as do seu irmão era azul-claro. Niall é o caçula da família, mas sua altura fazia com que pensassem que era o mais velho.
- Que tal um lanchinho? - Propôs Liza ao descer na escada rolante.
- Eu aceito! - Responderam em uníssono.
- Ah, vocês vão tomar café, não é? - Falou Gemma como se a resposta fosse óbvia vendo os dois seguindo à cafeteria.
- Eu não gosto de café, então vou comprar milkshake e me entupir de marshmallow, não saiam daí! - Concluiu indo para direção oposta.
- Pãozinho de queijo com cappuccino bem quente, certo? - Perguntou para se certificar.
- Você sabe a resposta, obrigada Nialler. - Respondeu ajudando o mesmo a deixar as sacolas.
Enquanto esperava sentada na mesa o seu irmão fazer o pedido, pegou o celular para se distrair e olhar suas notificações, mas ao ouvir seu nome ser pronunciado parou o que estava fazendo.
- Elisabeth? - Uma moça ruiva e de uma pele tão branca que chegava a ser rosada chamou seu nome.
- Daphne? Senhora Blake! - Disse ao reconhecer a amiga e sua mãe.
- Olá, querida, como está? - Disse a mais velha abraçando-a.
- Oh sentem-se comigo, por favor. - Ofereceu e assim fizeram.
- Amiga, você não vai acreditar no que aconteceu! Tenho tantas novidades. - Disse a ruiva toda eufórica.
- Conte todas! Tem muito tempo que não nos falamos, desde a sua viagem romântica com o Joe, então quais as novidades? - Perguntou Elisa.
- A viagem foi incrível, parecia um sonho. E a melhor parte de tudo foi o pedido de casamento. Amiga, eu vou me casar! Olha que anel maravilhoso. - Daph mostrava o anel de brilhante orgulhosa e deslumbrada, transbordava alegria.
E nesse momento, enquanto a ruiva contava cada detalhe do pedido de casamento, tudo em seu redor parecia estar lento, o seu humor mudou drasticamente, não prestava atenção em mais nada no que ela falava. Seus pensamentos estavam longe, não estava com inveja, mas também não conseguia ter a mesma emoção transmitida por ela. Questionava em sua mente por que o mesmo ainda não havia acontecido com ela, já que há 3 anos estava com Harry e em seu coração ansiava tê-lo como marido. Saiu de seus devaneios quando ouviu a voz grossa do seu irmão se aproximar.
- Olá, senhoritas. – Saudou o mesmo todo sorridente.
(...) O corredor estava mais cheio do que o de costume naquele hospital.
Evangelina observava toda a agitação com o olhar vago, era véspera de Natal e, nessa época, é quando ocorre mais acidentes por conta da neve. Há um ano, nunca imaginaria que estaria comemorando a data em um ambiente como aquele. Todos estavam presentes, desde seu pai até os sobrinhos, todos estavam preocupados, mas esperançosos. Estavam ali por ela, para confortá-la de certo modo.
Parada sem se mexer a deixava enjoada, sentia a tensão do cansaço nos seus músculos como se a suas preocupações começassem a pesar, seu marido, vendo sua inquietação se prontificou para buscar um lanche. Nada disse, apenas assentiu com a cabeça, então continuou sentada esperando. Até que a lembrança do Natal passado surgiu em sua mente.
Um ano atrás...
"O pisca-pisca dançavam em sintonia na árvore de Natal, o aroma do tempero transbordava pela casa emanando um cheiro delicioso. Eva trabalhava com agilidade na preparação da ceia junto com sua irmã, Ellen, que terminava de colocar o peru no forno. Com quase tudo pronto levaram as porções para a mesa de jantar. A casa estava cheia, seu marido conversava descontraidamente com o seu cunhado, os sobrinhos estavam entediados e não escondiam o mau humor por não usar o celular, seu pai cochilava serenamente na poltrona da sala e Sarah tentava falhamente ser discreta usando o celular embaixo da mesa, ela sorria ao receber as mensagens.
- Pensei que tivesse dito que não queria nenhum celular até depois da ceia. - Disse ao se aproximar da mesa.
- Ah! - Pulou com o susto de ser flagrada. – Desculpa, mãe, não consegui evitar. - Respondeu colocando o aparelho no bolso.
- Conheço esse seu sorriso. Com quem conversava? - Perguntou como se não tivesse interesse.
- Um amigo. - Disse simplesmente.
- E eu o conheço? - Insistiu.
- Não, ninguém o conhece ainda. Ele é o primo da Becca, se chama Kevin, ele está passando as férias da faculdade aqui.
- Paquerando um cara mais velho que faz faculdade? Ele não tem namorada? - Perguntou desconfiada.
- Mãe, eu não estou paquerando ninguém! Ele é o primo da minha amiga que eu conheci no baile, ele não namora e também nem é tão velho assim. - Protestou Sarah se defendendo.
- Tudo bem, calma. Só estou pedindo para tomar cuidado, esse tipo de cara pensa de maneira diferente, só não esconda nada de mim. - Pediu à filha.
- Claro, mãe, não precisa se preocupar, só estamos nos conhecendo melhor. Irá saber de tudo se acontecer alguma coisa. - Sorriu para tranquilizá-la quando o celular apitou.
- Certo, entendi. Agora nada de celular, preciso de ajuda na cozinha. -Disse a levando dali."
Uma dor aguda em seu ventre a trouxe para realidade, levou a mão ao local do incômodo e gemeu com o desconforto. Levantou-se para ir ao banheiro, sua cabeça girava e estava começando a perder os sentidos, em passos largos foi até a pia do banheiro e molhou o rosto para despertar e refrescar a face, limpando o suor. A dor ainda era presente e sua cabeça ardia de tão quente, sentiu um líquido molhar suas calças brancas, olhou para a mesma. Era sangue. Desesperada, foi às pressas busca ajuda na enfermaria.
(...) Era o intervalo para o almoço, normalmente Harry almoçaria dentro do hospital, mas dessa vez queria fazer diferente. Foi até o seu vestiário e se agasalhou devidamente para sair, pois o tempo estava frio.
Tempo depois, já em seu carro, Harry observava a mudança do cenário a sua volta, todo o colorido se transformando em branco por conta da geada. Notou também que a movimentação das pessoas na rua era mínima e, enquanto procurava um bom restaurante pela cidade, uma senhora vendendo rosas chamou sua atenção. Estacionou e desceu do carro.
Horas mais tarde, de volta ao trabalho, ainda restavam minutos de seu intervalo e decidiu ir até o quarto de Sarah. Abriu a porta do cômodo e a encontrou imóvel na cama, como se ainda estivesse em um sono profundo depois de um dia cansativo. Toda vez que ele a via não sabia como agir, além do cordial, dizia coisas como "Olá, Sarah, como passou a noite?" ou "Está se sentindo melhor hoje?". Mas não entendia por que sentia essa necessidade de vê-la ou de se comunicar. Talvez por ela ser sua paciente e era seu dever cuidar dela, nada anormal, era o que ele acreditava.
- Oi - falou simplesmente, mas logo voltou ao silêncio da sala. - Trouxe uma coisa para você. Gosta de rosas brancas? - Continuou a fala e direcionou o buquê para o criado mudo.
- Lá fora está bem frio, sabia? Está nevando. Minha época favorita do ano. Desde criança - sorriu tímido, mas prosseguiu. - Não era só por conta da neve e as brincadeiras que eu gostava, mas por ser a única época que eu tinha minha família reunida. A minha infância foi complicada, tenho que admitir, minha mãe foi um pai e mãe pra mim, não estou reclamando da criação que tive, sempre com as melhores roupas, brinquedos e a melhor escola. Nunca me faltou nada. Bom, com exceção do meu pai. Meus pais se separam quando eu era muito novo, ele era uma pessoa difícil, segundo mamãe. Nos víamos uma vez por ano, sempre ocupado para os filhos. Mas eu sentia a falta dele, entende? Um exemplo de homem, o amor de pai e de um amigo. - Fez uma pausa para afastar a mágoa que sentia.
- Mas quando chegava o Natal, tudo mudava. Eu tinha as pessoas que eu amava para desfrutar a presença, a felicidade contagiante de todos e o espírito natalino que surgiam deles e, sendo sincero, eu nem me importava com o que iria ganhar, porque eles estariam comigo. Então chegava a hora dos presentes, minha família tem um jeito diferente de compartilhar isso, gostamos de fazer o amigo oculto. Era tudo organizado com antecedência, colocávamos os nomes de todos em um papel e depois fazíamos um sorteio onde cada um tirava o seu amigo e era secreto, só a pessoa que tirou podia saber. Na hora da entrega do presente, a pessoa tinha que descrever as características de seu amigo oculto, tanto fisicamente quanto personalidade, era divertido ver a agitação e animação deles para adivinhar o nome. - Sorriu com a nostalgia.
- Foi com esse propósito que eu trouxe as rosas, no caso eu sou seu amigo oculto e mesmo não a conhecendo suficiente pensei que iria ser uma boa ideia, afinal é Natal e no final das contas o que todo mundo quer é sentir. Se sentir amado, se sentir realizado, se sentir indispensável. Apenas sentir. - Disse e fez uma pausa para observá-la, mas logo continuou novamente.
- Espero que goste das rosas, não pode negar que tive uma boa intenção, elas me lembram você. Deve estar se perguntando "porque lembrei de você". Simples, as rosas brancas significam perdão, inocência, a pureza, paz e lealdade. E eu vejo isso em você. - Foi até a porta e antes de sair disse: - Feliz Natal, Sarah.
(...) Já era tarde da noite, o dia de compras de Elisa no shopping tinha terminado, mas sua noite estava longe de acabar, tinha outros planos. Assim que chegou no prédio do namorado, o segurança a reconheceu abrindo a passagem para garagem. Como tinha as chaves do apartamento de Harry, acreditava que tinha permissão para entrar quando ele estivesse ausente.
Como já era de se esperar, o apartamento estava vazio, mas impecavelmente limpo e com tudo em seu lugar. Harry era perfeccionista. Sem perder tempo foi para cozinha, onde a mesma era bem equipada com aparelhos modernos, iria colocar seu plano em prática.
Desde criança, Elisa mostrava interesse em cozinhar, não gostava de ser como suas amigas que, só por terem condições, eram acomodadas. Cozinhava por prazer, achava mágica a realização dos pratos. O talento herdou do pai, já que era dono e chefe de um restaurante famoso, bastante elogiado.
Após a preparação dos pratos para sua pequena ceia, deixou tudo pronto na mesa para quando ele chegasse. Vestiu um vestido vermelho bem alinhado e justo em seu corpo, havia comprado especialmente para a ocasião. Então pegou uma taça de vinho e restou esperar.
E esperou horas e mais horas, ficara em pé de um lado para o outro. Parou na enorme janela de vidro da sala e observou as luzes que deixavam a cidade iluminada à noite. A taça em sua mão tinha esvaziado outra vez, não iria se embebedar, mesmo decepcionada iria manter o controle. Estava indo guardar os pratos da mesa quando ouviu o barulho da chave na porta, rapidamente tomou postura.
- Eliza? O que tá fazendo aqui? - Perguntou confuso.
- Oi Harry, resolvi fazer uma surpresa... Surpresa! - Disse um pouco sem graça.
- Ah, obrigado, mas não precisava ter se incomodado, pensei que estaria viajando com seus pais. - Disse indo ao quarto tirando a roupa.
- Mudei de ideia e escolhi ficar com você. Nós quase não temos tempo juntos, você sempre tá dedicado ao trabalho e esquece que tem uma vida.
- Olha eu realmente estou cansado pra ter uma discussão agora, quero tomar um banho e relaxar. - Respondeu pegando a toalha, entrou no box, mas deixou a porta aberta.
- Não, eu não estava discutindo. Eu só queria que jantasse comigo. - Disse e não teve resposta, ele estava no banho não seria inconveniente. - Vou esquentar a comida.
(...) Depois de um banho demorado e quente, Harry saiu com a toalha na cintura em busca de roupas. Encontrou na cama peças já escolhidas, tinha um bilhete escrito: "Lembrei de você. Com amor, Liz".
Vendo seu reflexo no espelho, sorriu satisfeito com o conforto do tecido e com como havia ficado bem em seu corpo, como se fosse feito para ele. Ela realmente o conhecia bem, pensara.
Foi até a cozinha e se encostou no balcão prestando total atenção em seus movimentos, seu esforço e agilidade para que tudo saísse especial para ambos.
- Me desculpe por ter falado daquele jeito... Mas você que não precisava. - Falou fazendo-a olhar para si.
- Eu sei, pra você tudo está sempre bem, mas eu quis fazer. É véspera de Natal e você gosta de se reunir com quem ama. - Respondeu e sorriu ao ver que usara a roupa que havia comprado com o relógio do seu aniversário. - Vejo que gostou do presente.
- Sim. - Disse abraçando-a por trás. - Você tem um bom gosto. O que vamos comer?
- Arroz com ervas, rocambole de frango e tomates recheados com ragu de pernil. - Respondeu orgulhosa do resultado do seu trabalho.
- Parece estar delicioso. - Beijou sua nuca.
Caminharam para a mesa e se serviram. Comeram em silêncio, tendo o único som do tilintar dos talheres no prato. Elisa quase não comia por pensar demais, procurando o melhor jeito de se abrir com ele. Assim que percebeu que Harry ia levantar, pediu.
- Por favor, fique. Tenho uma coisa a dizer. - Ele a olhou e respirou como se buscasse paciência. Vendo a tensão pairar e ela não continuar, se pronunciou.
- Estou ouvindo.
- Eu... - suspirou espantando o nervosismo e prosseguiu. - A verdade é que eu vim pensando nisso há algum tempo, em como nos damos bem, cada dia eu me apaixono mais por você, desde que te conheci minha vida mudou para melhor, eu senti que era amor porque via o tempo passar e o sentimento não mudar. E eu quero viver mais momentos assim com você. Talvez pense que estou indo rápido demais ou que não é o momento certo para decidir isso, mas eu não quero ter que esperar. Por que eu quero ficar com você, essa é minha certeza. Harry Edwards Styles, aceita se casar comigo?
Nenhuma resposta. Seu semblante era impassível, com o olhar vazio. Era inacreditável.
- Diga alguma coisa. - Pediu. Ele continuou calado. - DIGA ALGUMA COISA! QUALQUER COISA DÓI MENOS QUE ESSE SILÊNCIO! - Eliza alterou seu tom de voz, o estresse e a frustação tomou conta de si.
Harry ainda mantinha os olhos fixos nela sem se pronunciar. A verdade era que ele não sabia dar uma resposta para aquela situação, o seu semblante era indecifrável.
- Qual é o seu problema? - Elisa explodiu chamando ele para a realidade. - Você não tem certeza se quer ficar comigo? É isso? - Disse com a voz embargada, seus olhos marejavam.
- Não vejo motivos para se descontrolar. - Harry disse calmamente. - Eu só estou pensando em sua proposta. - Completou recebendo um bufar irritado de Elisa.
- Talvez porque obviamente não era essa reação que eu esperava vir de você, normalmente não se pensa em responder um pedido de casamento. É espontâneo, sim ou não! A não ser que esteja procurando uma resposta para me dar um fora. - Descarregou sua mágoa, limpou rapidamente as lágrimas e continuou. - Olha, se você não sabe decidir o que vai me dizer, só me diga: por que você realmente está comigo, Styles? - Perguntou confusa.
- Se eu não gostasse de você não seria minha namorada, isso é fato. Eu gosto e muito, amo você. Só estou surpreso, não esperava, e não é só a questão de casar da boca pra fora. Casamento é comprometimento, cuidar um do outro, conviver com os defeitos, errar e aprender a cada dia e compartilhar uma vida. Sem arrependimentos. Não estou dizendo que você não seria capaz de me proporcionar isso, mas... Acho que não estou pronto. Preciso de um tempo pra pensar. - Disse sincero.
- Ah, claro. Vai ter todo o tempo que precisar. - Respondeu sarcástica e amargurada. - Só me faça um favor, não venha atrás de mim até ter a certeza do que sente por mim, ou então não me procure. - Levantou irritada, indo embora.