Capítulo 02
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O corpo de Sarah, completamente inconsciente, adentrou o hospital em cima de uma maca enquanto uma equipe de enfermeiros e paramédicos a levavam para a ala de emergência.
– Coloquem um tubo torácico e levem-na! – Ordenou um dos paramédicos que a acompanhava bombeando um pequeno balão de plástico para ajudar em sua respiração.
Ao entrar no centro cirúrgico, Harry faz uma analise para saber a proporção dos ferimentos.
– Contusões cerebrais, – disse ao olhar o exame da tomografia computadorizada da cabeça da garota. – também há hemorragia interna e costelas quebradas. – Respondeu olhando os outros exames.
– Não há muito que possamos fazer em relação ao cérebro. Temos que esperar para ver. – Ordenou. – Enquanto isso chamem o banco de sangue. Precisamos de duas unidades de O positivo e mais duas de reserva. – Dito isso, fez a higiene e proteções necessárias para começar a cirurgia.
A sala de cirurgia era pequena e estava cheia, repleta de luzes fluorescentes, o que destacava as marcas de ferrugem no chão que, apesar de polido, é perceptivelmente manchado de sangue antigo. Os médicos são precisos nos movimentos, cortando e costurando como se fosse um quebra-cabeça, só que com bastante cuidado com as peças, pois é uma vida que está em jogo. E era isso que pesava nos ombros de Harry. Nunca queixou-se da responsabilidade que ser medico o trazia, ao contrario, sentia como se tivesse um dom, como se outra pessoa tomasse conta de suas mãos e o mostrasse como fazer. E sempre tinha um resultado positivo em relação a isso. Porem, não deixava de haver tensão na hora da cirurgia, o medo de errar e falhar com o paciente o deixava bastante aflito.
Apesar de ser jovem e com poucos anos de residência no local, Harry mostrava ser um médico competente. Mostrava resultados no que fazia e com isso adquiriu o respeito de todos.
A anestesista ao seu lado observava os sinais vitais da garota, ajustando a quantidade de líquidos, gases e drogas que são injetadas. Qualquer cuidado é pouco em um trabalho duro e complicado como esse, a cirurgia parece interminável, mas Harry ainda consegue energia para continuar ali, em pé, trabalhando.
Depois de 4 horas no centro cirúrgico, terminaram os procedimentos e a levaram para a sala de recuperação. A Unidade de Tratamento Intensivo. No meio do quarto havia um computador que registrava os sinais vitais de Sarah, e uma escrivaninha enorme com uma enfermeira sentada e mais duas enfermeiras que a observam, além de inúmeros médicos ligando os tubos em sua garganta – para ajuda-la a respirar – outro em seu nariz – mantendo o estomago vazio – em seu peito - registrando seus batimentos cardíacos - e em seu dedo, registrando sua pulsação.
Os pais de Sarah aguardavam na sala de espera noticias da cirurgia. Eva ainda não acreditava no que estava acontecendo. Saiu do trabalho indo direto para o hospital, recebendo a noticia de que sua filha tinha sofrido um acidente de carro, e o mesmo havia capotado. Seu estado era grave, pois não usava sinto de segurança. Tentava acalmar-se nos braços do marido, mas isso não afastava a agonia que sentia por não poder fazer nada.
– Por que diabos demoram tanto? – Perguntou, já sem paciência, levantando e saindo do abraço do marido.
– Ei, amor, não se agite tanto, pode fazer mal para o bebê. – Disse o mesmo, levantando também.
– Eu não consigo ficar calma! Sinto-me uma inútil por estar aqui parada sem poder fazer nada! – Alterou seu tom de voz, descarregando sua aflição.
– Eu também estou preocupado, mas temos que esperar! Não temos outra escolha. – Respondeu calmo e se aproximou para um abraço, que foi retribuído.
– Porque ela faria uma coisa dessas? Não faz sentido! – Falou com a voz entrecortada. – Não quero perdê-la, Dylan!
– Ainda estou tentando entender as coisas, assim como você. Vai dar tudo certo, a Sarah é forte, vai sobreviver. – Disse para confortar a esposa, que manchava seu ombro com as lagrimas.
– Sr. E Sra. Poesy? – Uma voz feminina soou na sala, atraindo a atenção do casal. Uma enfermeira de pele escura e cabelo curto leu o nome dos responsáveis em sua prancheta.
– Somos nós! – Pronunciou o pai. Os dois caminharam em sua direção.
– Como ela está? – Eva perguntou receosa.
– Ela ainda está sedada devido a cirurgia e continua respirando com ajuda de aparelhos, enquanto seu corpo se recupera do trauma. Mas, está em coma. Para os pacientes nessa situação, ajuda muito escutar a voz de seus familiares. – Explicou a enfermeira.
– E quando podemos vê-la? – Perguntou sua mãe.
– Agora mesmo. Sigam-me, por favor. – Disse e os mesmos a seguiram.
Depois de caminharem a passos largos no corredor da UTI, entram no quarto em que Sarah se encontrava. Então Eva, ao ver o estado da filha, desaba em lagrimas. Deitada naquela cama completamente imóvel e com o rosto cheio de curativos e arranhões por todo o corpo, parecia que Sarah havia entrando em um sono profundo. Lembrou-se que a filha quando criança era fascinada pela história da bela adormecida, que fantasiava que um dia seria acordada por um príncipe que se apaixonaria por ela dormindo. Mas a vida real não é como um conto de fadas, em que os príncipes aparecem e se apaixonam do nada e com um simples beijo despertam a princesa de uma maldição. E no momento em que ia se aproximando da filha, uma sensação de alivio tomou conta de si, talvez haja uma exceção, talvez ainda reste esperança. Aconteceu um milagre, minha filha ainda está aqui, ainda está viva! – pensava positivamente a mulher.
– Oi, meu docinho! – Disse entre soluços, acariciando cuidadosamente a cabeça da filha.
– Ela pode realmente nos ouvir? – Perguntou Dylan evitando o contato visual na cena.
– Não duvidem nem por um segundo que ela consegue ouvi-los. A presença de vocês pode ser reconfortante desde que o que disserem possa realmente ajudá-la. – Respondeu a enfermeira. – Com licença, vou deixa-los a sós.
Ainda sem coragem de olhar diretamente para filha, Dylan se aproximou e sentou-se ao lado da esposa, que não desgrudava da menina. Sentia-se culpado por ver sua filha naquele estado, fingia não saber o motivo pelo qual Sarah estava em seu carro. Certamente não soube o que fazer ao presenciar o pai tendo um caso com a empregada e agiu por impulso. O que era compreensível para ele, mas vendo o que seu erro causou pesou em sua consciência. Era seu momento de se redimir com sua filha e rezar para que ficasse bem e que o perdoasse um dia. Tinha que manter o equilíbrio, mas algumas lágrimas foram difíceis de evitar. Mesmo que não quisesse, ele era o culpado por tudo que aconteceu com ela.
– Nós estamos aqui, meu amor! – Dizia a esposa – Está se sentindo melhor agora? – Perguntou, como se fosse possível obter uma resposta. – Você me assustou, pensei que iria... – Fez uma pausa – Seja qual for o motivo, eu te perdoo, estou aqui e e-eu... Eu... – Não conseguiu completar a frase e apagou no colo de Dylan.
– Eva? – Perguntou balançando seu corpo. – Eva? Acorda! – Chamou pela segunda vez, preocupado. – Eva? Enfermeira! – Gritou, segurando o corpo desfalecido da esposa nos braços.
(...)
Após encher o copo de café pela segunda vez, Harry andava pelo corredor para o quarto da paciente que operara horas antes e não tivera notícias. Aproximou-se e viu que a porta estava entre aberta, abriu por completo e encontrou uma enfermeira ali.
– Doutor Styles. Boa noite. – Falou quando a jovem entrou.
– Boa noite senhorita Moore, como ela está? – Perguntou olhando o ritmo do respirador.
– Bem, seus pais estiveram aqui, e sua mãe passou mal. Apesar do susto, não houve alteração quanto ao seu estado. Então Sarah ainda continua inconsciente, mas seus sinais vitais estão melhorando. – Respondeu, escrevendo em sua prancheta. – Também, mais tarde os fisioterapeutas virão fazer os testes para averiguar como estão os pulmões dela, para saber se consegue respirar sem a ajuda dos aparelhos.
– Se ela conseguir respirar sozinha será um bom sinal. – Disse olhando para a garota – É triste ver uma garota jovem desse jeito. – Comentou sentindo pena. Deu uma ultima checada nos registros antes de se retirar. – Com licença, senhorita Moore.
(...)
Já se passavam da meia-noite e o trafego de carros era ameno. Aumentou a velocidade e ligou o radio para saber das noticias. Harry tinha pressa para chegar em casa, tudo que mais desejava no momento era relaxar e se desligar um pouco do seu trabalho. Ao chegar ao prédio de imediato o segurança o reconheceu e abriu a garagem. Saiu e desligou o carro, indo para o elevador. Naquele momento nada passava em sua cabeça, era apenas mais um dia comum para ele. Pegou o molho de chaves, abriu a porta e tomou um susto quando acendeu a luz.
- SURPRESA! – Muitas pessoas disseram em uníssono.