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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Starfall

Escrita porSoldada
Revisada por Lelen




PRÓLOGO 3 • THE BETRAYAL

Tempo estimado de leitura: 24 minutos

NYX • ANOS ANTES

  Ele agiu impulsivamente, da única forma que conseguiu pensar no momento.
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  Antes que a garotinha pudesse esboçar qualquer reação para a criatura, antes que o monstro pudesse roubar o rostinho dela e transformá-la no que quer que fosse aquela coisa murmurando sobre a Caçada Selvagem, Nyx se lançou para frente, empurrando-a em direção ao chão. Ela poderia ter um aperto forte, mas ainda era franzina, bem mais franzina do que Nyx, e ele desconfiava que quaisquer que fossem as habilidades dela, ela nunca havia treinado no acampamento illyriano como ele. Não tinha chance de debater-se ou escapar de um ato dele, então, ele deveria ter calculado muito mal a força que havia projetado quando a empurrou para trás, porque ela voou para trás, chocando-se contra uma das estalactites. Nyx teria gritado pelo nome dela se o soubesse, mas com a atenção do monstro em si agora e a adrenalina pulsando por seu corpo, o garotinho não teve outra escolha senão correr o mais rápido que conseguia.
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  A garotinha por sua vez, piscou algumas vezes, desorientada, tossindo com força e franzindo o cenho, buscou com olhos assustados pela figura de Nyx. O grito que rompeu pela garganta da menina foi abafado com o choque do corpo pesado e molenga da criatura ao lançar-se em direção ao menino. Chocou-se outra vez contra o chão, mas desta vez, não sentiu dor. Ofegou, trêmula, cobrindo o rostinho por instinto, tentando gritar por ele, mas ela não sabia o nome dele, não sabia como formular a frase, como expeli-la, então tudo o que escapou de sua garganta foi um gorgolejo sufocado, esquisito. Mas chamou a atenção de Nyx, ao menos.
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  — Não vou sair daqui! — Nyx bradou, firme, determinado. A garotinha pareceu surpresa, mas algo no rostinho dela pareceu iluminar pela primeira vez; menos assustado, mais receptivo, até mesmo cálido. Nyx teria aberto um sorriso largo, sincero, pela primeira vez sentindo alívio, se não fosse pela criatura. — Não sem você! — prometeu Nyx, antes de se jogar para frente, rolando até a margem do riacho gélido que se alastrava pelos túneis adentro. Sentiu a água encharcar seus pés e joelhos, sentiu o tecido de couro de suas roupas como as de tio Cassian, grudassem contra sua pele, soltando pequenos estalidos de absorção conforme o garoto se debatia para se levantar.
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  Por muito pouco, a criatura não arrancou, com as patas finas e afiadas de inseto, a cabeça de Nyx; o movimento cortou o ar, o peso e a velocidade do gesto que foi feito ecoou como um zunido quase metálico pelos ouvidos. O grito nunca escapou de sua garganta. Tateou cegamente pelo chão em busca de alguma coisa que pudesse usar para se proteger da criatura, quando seus dedos encontraram apenas os pequenos cascalhos que se espalhavam pelo chão umedecido, Nyx entrou em pânico. Buscou alguma coisa para tentar se defender, mas não encontrou nada. Grunhiu baixo, lembrando-se da flecha de freixo enterrada em sua asa, e com um grito baixo, a arrancou. A dor o cegou por um momento, e Nyx teve vontade de encolher-se em uma bolinha, chorando com as onda de dor que se espalhavam pelos nervos e os músculos de suas asas, mas a adrenalina havia o deixado no limite, e antes que ele pudesse sequer registrar o que deveria fazer, uma pedra do tamanho de uma mão atingiu com violência a cabeça da criatura.
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  Um rosnado ensandecido ecoou pelo espaço. Fez o chão vibrar com as ondas sonoras, percorrendo pelo chão e vibrando abaixo das mãos espalmadas de Nyx, enquanto a criatura corpulenta se dobrou para trás, debatendo-se brevemente antes de voltar-se na direção da garotinha. Nyx exalou bruscamente, a lufada de ar escapando de sua garganta mais áspera do que de fato deveria ser, fez os músculos arderem, como se fogo estivesse tocando-lhe os músculos. Os olhos do menino se arregalaram um pouco mais, os lábios se entreabrindo em choque ao observá-la virar-se com um movimento brusco e, cambaleante, correr em direção a entrada do corredor que eles haviam vindo.
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  Nyx exalou, por um segundo surpreendendo-se com o quão corajosa ela poderia ser; sentiu uma pequena pontada de inveja, mesmo que não desejasse admitir para si mesmo, com o tempo de reação dela, pela maneira com que ela havia conseguido reagir e tentar ajuda-lo sem hesitar quando ele havia congelado por alguns minutos, cedendo ao choque ou por puro e intrínseco medo. Piscou algumas vezes, tentando se obrigar a focar na situação em mãos, prendendo a respiração com um pequeno ofego, antes de olhar para suas mãos, buscando alguma coisa que pudesse ajuda-lo.
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  Encontrou um galho entortado, ainda levemente molhado pela água do riacho, tentando manter suas mãos estáveis enquanto hiperventilou baixinho, os olhos buscando rapidamente por alguma linha, ou qualquer coisa que estivesse disponível a seu alcance tentando lembrar das palavras de tio Cassian e especialmente das palavras de sua mãe para construir um arco de improviso. Nyx arrancou um pedaço de sua túnica, levando a faixa em direção aos dentes e então, usando toda sua força, a cortou até a metade, sem romper a fibra ao final, antes de amarrar cada extremidade em uma ponta, tentando lembrar-se de tudo o que sua mãe havia lhe ensinado sobre arcos. Sua respiração estava tão irregular, escapando tão rápido por entre seus dentes, que Nyx estava começando a sentir vertigem, à beira de vomitar. O tremor não ajudava em nada o menino com a tarefa em mãos, nem os guinchos assombrosos da criatura que caçava a garotinha.
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  Não teve tempo para verificar se o arco improvisado estava suficientemente seguro e iria funcionar, não quando a garotinha deixara escapar um dos gritos mais terríveis que Nyx havia escutado. Não era desespero, era puro terror. Prendeu a flecha que havia se fincado em sua asa, os olhos azuis arregalados buscando por um breve momento pela criatura, piscando seguidas vezes, desesperado para limpar as lágrimas que se acumulavam ao redor de seus olhos, antes de inspirar o mais fundo que conseguia. Tentou concentrar-se em obrigar-se a parar de tremer, prendeu a respiração, mirando na parte de trás da cabeça da criatura, e então exalando, Nyx soltou a flecha.
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  O galho partiu em sua mão, fazendo-o quase projetar-se para frente, tropeçando em seus próprios pés, mas a flecha ainda assim disparou. Rápida. Certeira. Enterrou-se na parte de trás da cabeça da criatura. Um grito alto rompeu da garganta da criatura, uma mistura esquisita de gorgolejo e rosnado animalesco. Mas não a matou.
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  A criatura se dobrou pela metade com um grito ensurdecedor, a nuca encostou na parte de trás do corpo, antes de girar em 360º até que a cabeça estivesse no mesmo nível e no mesmo sentido que a dele. Nyx imediatamente obrigou-se a manter seu rosto neutro quando os olhos monstruosos da criatura repousaram nos seus, dando um e mais um passo para trás antes de disparar a correr outra vez quando a criatura avançou.
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  Mais uma vez, a garotinha arremessou uma pedra pesada na direção do monstro, e Nyx ouviu o sonoro crack de quando uma das patas do monstro se partiu. Com o coração martelando em sua caixa torácica, Nyx entendeu, um tanto tardiamente, a ideia da menina. Lançou-se para frente, rolando por seu ombro esquerdo, escondendo-se por trás de uma larga estalagmite. Agarrou a pedra mais afiada que encontrou no chão, e então, arremessou de volta, tentando acertar a cabeça da criatura novamente, acertou a carapaça, mas foi o suficiente para atrair a atenção da criatura outra vez. Nyx voltou a se esconder contra a estalagmite, buscando pela próxima pedra que encontrasse pelo caminho para arremessar, torcendo para que a garotinha continuasse com aquela dança, tentando imaginar uma maneira de livrar-se da criatura. Talvez, se eles continuassem naquele ritmo, Nyx e a garotinha poderiam cansar a criatura e ganhar tempo o suficiente para escapar daquele lugar. Era arriscado, era puro desespero, ainda assim, a única escolha que eles tinham.
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  Um grito estrangulado escapou da garotinha, mas Nyx ouviu, ainda assim, o eco da pedra atingindo a criatura. Nyx exalou, aliviado, o princípio de seu sorriso começando a aumentar enquanto ele comemorava baixinho. “Isso!” queria ter dito para a menina, ciente de que ela concordaria com a esperança que voltava a surgir em seus olhos azuis. O rosnado animalesco gutural da criatura fez o chão tremer outra vez. Contou até dez, tateando cegamente o chão até que conseguiu encontrar o que parecia ser uma ponta das estalagmites que se espalhavam pelo terreno, e então tomou o máximo de coragem que possuía em seu corpo, antes de projetar-se para frente, correndo o mais rápido que conseguia.
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  Podia sentir que sua energia estava acabando. Podia sentir o peso de seus próprios músculos, tremendo por baixo de sua pele, tensionando-se e relaxando, trêmulos pela exaustão. A dor amortecida pela adrenalina, começava a tornar-se muito mais intensa do que o hormônio era capaz de amortecer. Seus pulmões queimavam em seu peito, o ato de respirar estava começando a machucá-lo, a barriga doía. Água e suor misturavam-se, fazendo o tecido de suas roupas grudarem em sua pele, quase como uma segunda, desconfortáveis, sujas e, a essa altura, fedendo de forma pungente. Seus cabelos estavam encharcados, grudando em suas têmporas e pescoço, gotículas de suor escorrendo ao redor de sua face, pingando de sua mandíbula e ponta do nariz. Mas ele não parou.
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  Nyx continuou a correr, tentando tomar o máximo de velocidade que seu corpo de 8 anos lhe permitisse. Tentando lembrar-se de tudo o que tio Cassian já havia lhe dito em seus primeiros treinamentos. Não era convencido, tampouco egocêntrico, sabia que não tinha muita chance; estava agindo pelo puro instinto, pelo puro desespero de conseguir um pouco mais de tempo para eles. Era a necessidade de escapar dali, de encontrar uma saída e implorar para que seus pais o perdoassem por sua estupidez em tentar aventurar-se pela Corte dos Pesadelos, por ter se feito convenientemente ignorante aos avisos que lhe foram dados. Eles só precisavam aguentar um pouco mais. Só um pouco mais…
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  A criatura preparou-se para avançar na direção da garotinha. Nyx saltou pedra por pedra, forçando suas asas a se moverem, ignorando a dor lacerante que percorreu a asa ferida, tentando se obrigar a voar mais uma vez, mesmo que fosse somente aquela chance. Trincou os dentes com força, tentando mirar no pescoço esticado da criatura, antes de arremessar a arma improvisada com toda força que conseguia. Com a asa ferida, Nyx mal consegue fazer muito se não pairar brevemente no ar, antes de se chocar violentamente no chão, rolando algumas vezes, e tossindo com força ao sentir a dor do impacto se espalhar pelos músculos exaustos. 
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  Ele errou miseravelmente. 
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  A criatura teria arrancado a cabeça da garotinha se algo não tivesse surgido atrás dela em um disparo prateado que havia se enterrado com violência no pescoço do monstro, rompendo-o pela metade, e fazendo parte da cabeça da criatura pender para a direita, inerte. Um grito gutural, misturando fúria e dor, e então, Nyx, tentando se colocar sentado, com a cabeça latejando e os pulmões queimando em seu peito, assistiu a menina agarrar com sua única mão boa, a outra metade gorgolejante da criatura, e então empurrá-la na direção de onde o disparo havia vindo. Nyx prendeu a cabeça quando os olhos da criatura repousaram no rosto retorcido do Arqueiro que havia tentado os matar quando caíram no Poço
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  A criatura se contorceu, parecendo absorver o rosto do morto-vivo. O monstro desabou em seus joelhos, parecendo estar prestes a vomitar, quando o poder da criatura atraiu os músculos de seu rosto, rompendo e rasgando o restante da carne, pele e músculos que ainda restavam no crânio do monstro, atraindo como se fosse algum tipo de ímã, uma polaridade oposta muito mais forte do que o monstro possuía. O corpo se curvou para frente, as mãos esqueléticas agarraram o chão com violência, como se estivesse tentando manter-se fixo no lugar, mesmo que estivesse sendo atraído para aquele ponto central. Então, havia acabado.
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  Quando o monstro estava com apenas seu crânio exposto, icor escuro como piche pingando pelo corpo corroído, formando uma poça por seus joelhos dobrados e mãos, a criatura finalmente desabou no chão, em espasmos intensos. A garotinha soltou a cabeça da criatura, desabando no chão abruptamente, antes de voltar seus olhos na direção de Nyx. 
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  Por uma fração de segundos, as duas crianças apenas se encararam. Os refletindo as mesmas emoções: medo, exaustão, desespero e, ao mesmo tempo, aquela pequena fagulha, efêmera e delicada de esperança que se arriscava a florescer mesmo em um momento tão incerto. Então, para a surpresa de Nyx, a menininha se levantou rapidamente, como um ratinho, correndo em sua direção. Ajudou Nyx a colocar-se de pé, segurando-o com toda sua força, que não parecia ser assim muita, mas já era apoio o suficiente para que Nyx pudesse se mover. 
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  — Pensei que tinha morrido — confessou ela, baixinho, sem certeza, os olhos não encontravam os dele, mas sim, permaneciam fixos no monstro. O morto-vivo parecia estar preso em uma tormenta, murmurando alguma coisa inteligível abaixo de sua respiração escassa e irregular, ruidosa. Nyx tremeu, mas não afastou a menina. 
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  — Eu também. — Os olhos azuis dele observaram por um momento o rosto da menina, a maneira com que as sardas dela brilhavam suavemente por baixo de sua pele, sua intensidade oscilando como se fosse viva também. Nyx sentiu vontade de esticar sua mão e tocá-las, fosse pela curiosidade ou estranheza, era algo que ele nunca havia visto em toda sua vida, como podia ela…? — Como a gente sai daqui agora? — Nyx obrigou-se a encarar o morto-vivo, assim como a garotinha o fazia.
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  A menina pareceu hesitar por um breve momento antes de soltar o braço de Nyx. Ele tencionou a mandíbula, tentando não cambalear para trás, seguindo com a linha de seu olhar para onde o dedinho machucado dela apontava a garganta do morto-vivo.
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  — Não tem como sair daqui sem que algum Lorde comande — a menina sussurrou, mas então o brilho prateado capturou a atenção de Nyx. O menino piscou algumas vezes, tentando focar sua visão exausta, unindo as sobrancelhas ao perceber algo incomum cravado na pele da criatura. Como se tivesse sido derretida por algum calor extremo, junto a pele da criatura, fosse magia ou o que quer que aquilo fosse, encontrava-se uma chave. Enroscava-se como uma série de vinhas entre si, distorcida, e enferrujada pela a passagem de tempo, formando três dentes tortos e afiados, em pontos diferentes o que evidenciava uma complexidade demasiada para a tranca. Nyx não fazia ideia do porquê precisariam de algo tão difícil de ser imitado, mas certamente, não lhe assegurou de nada, pelo contrário. O que mais havia ali que deveria ficar ali? — Ele tem a chave. Posso pedir…
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  — Não. — A menina franziu o rosto, encarando-o como se ele fosse apenas um grande idiota sem habilidade para pensar direito, e Nyx teria ficado ofendido se já não estivesse obrigando-se a mover-se. — Tenho outra ideia — mentiu Nyx, e algo no rosto da garotinha pareceu se torcer, mas Nyx não soube dizer ao certo o que poderia ter sido.
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  Nyx a ignorou completamente, cambaleando e mancando um pouco, enquanto retirava da garganta da criatura que roubava rostos a flecha que ali jazia, soltando um chiado baixo quando o sangue composto de veneno queimou superficialmente sua mão esquerda, os dedos do menino fechando-se com mais força no freixo encantado, sentindo o peso do objeto e o poder ancestral que ali parecia pulsar suavemente. Podia sentir o pequeno tremor que pulsava pela flecha, podia ouvir aquele pequeno chiado e estalido de energia, e Nyx uniu as sobrancelhas, voltando os olhos na direção da menina. Ela estava encolhida, uma mão ainda lhe faltava, e os olhos arregalados, não se desviavam do morto-vivo, mas não era a menina em si que havia atraído sua atenção naquele momento, mas a forma com que a flecha parecia repelir sua presença. Estranho… 
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  Nyx obrigou-se a aproximar-se da criatura moribunda, trincando os dentes com mais força, o suficiente para sentir o incômodo começar a se formar ao redor de suas têmporas. Engoliu em seco, sentindo o rosto agora com cavidades onde deveriam haver olhos e nariz, e arcada dentária exposta acompanhava seus movimentos. 
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  Sabia que o morto-vivo não poderia vê-lo, mas poderia senti-lo ainda assim, se ainda lhe restava alguma coisa. E para o completo assombro do menino, ainda havia algo ali. 
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  — Freixo não funciona… criança — cuspiu o morto-vivo, e Nyx se encolheu, colocando-se de cócoras na frente da criatura. Ele congelou no lugar, prendendo sua respiração, tentando manter sua mão firme na flecha. Não seria atacado, ele podia sentir que o monstro em si estava à beira de sua morte, sequer parecia ter forças para falar. Era questão de tempo, ainda assim, o instinto sempre falaria mais alto do que qualquer racionalidade. — Não sou… parasita… — cuspiu, e as sobrancelhas de Nyx se tencionaram ainda mais, sem conseguir compreender direito o que diabos aquela criatura estava falando. O rosto esquelético voltou-se então para a garotinha, a alguns passos atrás, tentando segurar, em um ato falho, as duas mãos juntas. — Um sai… outro fica… escolha…
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  — Não. Ou nós dois vamos, ou nós dois ficamos — Nyx disse, teimoso. A garotinha assentiu, em concordância. Pareceu perceber tardiamente o que havia acabado de fazer, porque alguns segundos depois havia dito um pouco mais alto do que um sussurro um: “isso”, para o morto-vivo que soltou um riso frio, desprovido de quaisquer tipos de emoção. 
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  — Essas são as regras… — é tudo o que a criatura rosnou voltando o esquelético para Nyx, como se pudesse vê-lo. O menino supriu um chiado entre dentes, estendendo a flecha de freixo, fincando-a na carne do morto-vivo. Olhou assustado para aquele crânio vazio, com incor escorrendo pelos ossos expostos, pingando lentamente pela mandíbula esbranquiçada. Não havia dor ali, percebeu, mas o gesto, não havia sido bem-vindo igualmente, porque o monstro se inclinou mais na direção de Nyx, ficando a centímetros de seu rosto. Nyx continuou a empurrar a flecha contra a carne deteriorada do monstro, tentando escavar a chave para fora. — Só posso libertar um de vocês, o outro, tomará meu lugar
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  Nyx encarou a garotinha surpreso, observando o semblante dela ficar confuso.
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  — Aqui? No Poço?
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  A voz do monstro pareceu se suavizar quando se referiu a menina, para a surpresa de Nyx. Não se permitiu demorar em tal detalhe, empurrando com mais força a flecha, sentindo o pedaço de metal começar a descolar da pele derretida da criatura. 
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  — No exército dos Tylwyth Tegs. — Nyx estreitou os olhos, confuso com a palavra desconhecida, tentando pensar se tia Amren já teria dito tal coisa algum dia, se já havia ouvido, ainda que por acaso, entre as conversas baixas e sussurradas que os adultos tinham entre si quando não queriam que Nyx soubesse de algo. Não conseguia lembrar-se de nada. — Na Caçada.
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  — O que são…? — a garotinha começou a questionar, confusa, quando o ruído alto reverberou pelo local, fazendo o chão tremer e o ar ficar momentaneamente envolto por vibrações que abafaram suas vozes.
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  Nyx projetou-se para frente acidentalmente, conseguindo colocar a pressão necessária para empurrar parte da chave para fora do morto-vivo quando o eco de portas pesadas sendo abertas reverberou de algum lugar dentro do corredor que Nyx e a garotinha haviam escapado. Distraiu-se, não com aquele ruído em questão, mas o que se seguiu após, um grito, alto, desesperado e terrivelmente familiar. Seu coração acelerou de imediato ao ouvir aquela voz, alívio espalhou-se por suas veias amortecidas pela exaustão e o cansaço, e lágrimas quase transbordaram outra vez pelo rosto do menino, acompanhado pelo suspiro que parecia ter o libertado do peso e da culpa profunda que carregava. 
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  — NYX! — A voz de tio Cassian ficou mais próxima.
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  — Aqui! — bradou o menino, colocando-se de pé em um movimento rápido, tentando encontrar com a linha de seu olhar onde a figura do tio se projetaria. Talvez esse tenha sido seu erro. Este pequeno momento de mera distração, de esperança e até mesmo felicidade que havia o amortecido para realidade ao redor; para a maneira com que a garotinha havia se encolhido ainda mais, aterrorizada, como havia agarrado a frente de suas roupas puídas, como os olhos marejados, arregalados se fixaram na entrada do corredor, como ela havia soluçado baixinho um desolado “não”
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  O que ocorreu em seguida foi muito rápido para que Nyx compreendesse completamente, viera perceber o quadro geral muito tempo depois, quando já estava a salvo em seu quarto, abaixo de suas cobertas, desejando poder desaparecer. A voz de Nyx havia, de fato, atraído a atenção que ele desejava, porque não demorou muito para que tio Cassian o chamasse outra vez, então foi tio Az, e Nyx estava cambaleando em direção a entrada do túnel, acreditando que a garotinha o tinha seguido. Mas a garotinha havia avançado na direção da chave
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  Tropeçou em seus próprios pés, arrancando com um soluço baixinho a chave do peito do morto-vivo que gargalhou alto, sua voz ruidosa e assustadora enviando uma onda de arrepios e tremores pela pele do menino. Um grunhido baixo escapou da garganta da garotinha que desabou no chão brevemente, antes de se levantar, ofegante, olhos arregalados fixos em Nyx, que parou de correr e a encarou de volta. Horror tingiu o semblante de Nyx quando os olhos azuis dele repousaram na única mão boa dela envolver apertando a chave que o morto-vivo oferecia. 
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  Nyx a encarou, incrédulo, sem entender a princípio antes que finalmente percebesse a traição ocorrida. A garotinha, apertou a chave contra o peito, ofegante, as lágrimas caindo por seu rostinho, balançando a cabeça de forma negativa, enquanto dava um passo para trás, e então, outro, e mais um. Dor o envolveu em um casulo sufocante, abafou tudo ao seu redor, misturando-se com algo estranho, algo que ele nunca havia sentido em toda sua vida… fúria. Nyx deu um passo na direção da garotinha, e então mais um, e então mais um, começando a obrigar-se a correr, mesmo que cambaleasse, tentando alcançá-la. Mas a garotinha era mais rápida.
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  Nyx esticou seu braço tentando alcançá-la, mas seus dedos apenas tocaram o vazio quando a garotinha se tornou pura poeira a sua frente, desaparecendo completamente. Seus joelhos cederam, por fim, o fazendo se chocar contra o chão abruptamente, um grito estrangulado de “não” sendo bruscamente interrompido quando o rosto do menino atingiu os cascalhos. Tudo pareceu girar quando a onda da magia ancestral reverberou pelo espaço, pulsando ao redor do garoto, envolvendo-o antes de atacar suas mãos. 
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  O soluço misturando-se entre as lágrimas e a desolação por começar a perceber que, àquela que ele havia achado que poderia vir a ser sua amiga havia o traído tão facilmente, havia o deixado para trás, tornou-se um grunhido de dor trêmulo. Seus olhos embaçados registraram parcialmente como o icor do morto-vivo pareceu pulsar, deslizando como algo vivo e pegajoso pelos cascalhos, até enroscar-se em suas mãos. O icor escuro como a noite pareceu infiltrar-se por baixo de sua pele, queimando e derretendo como lava, deformando-a. A dor foi tamanha que o cegou, e então, o deixou inconsciente. 
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  Quando despertou, sob o toque de tio Azriel, as pontas de seus dedos, as palmas de suas mãos estavam completamente obscurecidas, e os cascalhos ao redor, onde repousava, abaixo de seu toque, não passava de cinzas, o cheiro intenso de enxofre e decadência preso em sua garganta. Não conseguiu responder as perguntas de tio Azriel, e se encolheu assustado do toque de tio Cassian, os olhos fixos em suas mãos, e na maneira com que o icor havia se espalhado por entre suas veias, fazendo-as ficar visíveis por baixo de sua pele, como se esta fosse apenas um fino pedaço de papel empalidecido. E abaixo do interior de seu pulso esquerdo, Nyx podia ver a runa antiga, inquestionável, ligando-o ao que o morto-vivo outrora pertencera. 
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  A Caçada Selvagem
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  Nota da Autora: salto temporal de 15 anos no próximo capítulo.




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Lelen

COITADO DO NYX, MEU DEUS DO CÉU, NÃO TEVE UM SEGUNDO DE DESCANSO NESSAS TRÊS PARTES DOIFNASOIDNASOIDNOP
Mas ainda assim merece uns petelecos por aprontar OINSDOIASPD
E a menininha? A ousadia da criança? E o que vai rolar com o Nyx agora? Coitado, traumas para uma vida inteira e mais um pouco.
Tô doida pra ver quando esses dois se reencontrarem HEHEHEHEHEH

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