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ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Starfall

Escrita porSoldada
Revisada por Lelen




PRÓLOGO 2 • THE FACE STEALER

Tempo estimado de leitura: 37 minutos

NYX • ANOS ANTES

  Nyx fechou os olhos, esperando pelo impacto da flecha, sentindo o corpinho da garotinha se jogar contra o seu, puxando-o para a direita, chocando-se contra a parede. Mas o impacto da flecha nunca chegou.
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  Por uma fração de segundos, tudo pareceu estático, congelado ao redor deles, o tempo desacelerou ao seu redor, acompanhado com o eco distante, porém presente de sua própria respiração, escapando em rápidos e fortes, quase estrangulados, arfares. Sua pulsação ecoava alta por seus ouvidos martelando contra suas veias, arrastando-se como agulhas afiadas, fincando-se por seu corpo, gélida e precisa. Ele abriu seus olhos, segundos depois, prendendo sua respiração quando voltou seu rosto na direção da garotinha. A princípio, ele não registrou o que havia acontecido, os olhos azuis do menino se fixaram no rostinho horrorizado da menina, os olhos arregalados em choque, os lábios entreabertos em um grito mudo, mas então Nyx seguiu o olhar dela para seu braço quebrado.
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  Não havia mais nada ali.
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  Onde outrora a mãozinha dela estava quebrada, pendendo para trás de forma antinatural, com o osso pálido projetando-se para fora, e até mesmo sangrando copiosamente, causada pela tentativa de Nyx de segurá-la e evitar a queda no Poço, agora o membro faltava-lhe. Em seu lugar, não havia mais nada, apenas uma extremidade residual ensanguentada, expelindo para fora de acordo com a pulsação acelerada da menina, formando uma poça de sangue no chão poroso e irregular que se estendia abaixo de si. O ferimento era profundo e sério, a mão retorcida da garotinha jazia um pouco mais atrás no chão, e a flecha que havia arrancando-a havia se enterrado na parede um pouco mais atrás de si, onde a cabeça de Nyx deveria ter estado. 
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  A flecha deveria tê-lo acertado, deveria tê-lo matado, mas a acertou em seu lugar. Ela havia se colocado na frente dele, havia o protegido. E a percepção disso era assustadora e, ao mesmo tempo, havia despedaçado algo dentro do peito do menino. Teria chorado pelo peso da culpa que recaiu em seus ombros, sufocante e pegajosa, grudando-se a figura do menino como veneno, podia ter de soluçar, desolado, pela tristeza que havia recaído sobre si, enroscando-se como tentáculos ao redor de seu pequeno coração e o apertando, como se estivesse à beira de o espremer. Se não tivesse fugido aquela noite…
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  O ruído da criatura ecoou atrás de si, mais próximo, despertando-o do torpor de sua própria culpa e desalento. Outra flecha riscou o ar tremeluzente daqueles corredores de prisões, apagando em sua trajetória ao menos uma das velas que iluminavam o caminho, acertando com força a ponta superior das asas fechadas do menino, fincando-se ali. Nyx sequer a percebeu; sequer registrou a dor ou a maneira com que seu sangue escorreu por entre os veios de suas asas, não percebeu a maneira com que o veneno se espalhou por sua corrente sanguínea. Aterrorizado, o foco de Nyx estava fixo na garotinha. Antes que ela desmaiasse no chão, ele a agarrou com força, tentando correr, enquanto a arrastava. 
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  Nyx correu cegamente pelos corredores. Cambaleou e rolou degraus abaixo, escorregou com a água que cobria as pedras irregulares dos degraus, chocou-se contra aberturas curvas das pedras escuras maciças que se abriam como portais por entre as celas e prisões que existiam abaixo da Cidade Escavada. Seus dedos apertaram-se no corpo da garotinha, os braços tremendo com o esforço de carregá-la e arrastá-la pelo caminho, soluçando entre arfares e lágrimas. Os olhos azuis do menino voltando-se por momentos por sobre seu ombro esquerdo, tentando localizar aonde a criatura encontrava-se e o quão perto de alcançá-lo poderia estar. Virou para a direita e então esquerda, e então, direita, direita, esquerda e direita novamente, deparando-se com uma bifurcação. Tremendo, Nyx olhou para a garotinha desacordada, a quem se agarrava, percebendo com horror como ela havia empalidecido durante toda aquela correria desenfreada. O coração de Nyx se apertou ainda mais, tremendo, sem ter ideia do que poderia ter acontecido com ela, e temeroso de verificar — e se ela tivesse morrido? E se tivesse parado de respirar e ele sequer tivesse percebido? E se ela já estivesse…?
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  — Por favor… — o menino soluçou baixinho, uma oração que se esvaia em meio a escuridão que os consumia. — Eu não sei pra onde ir… — confessou assustado. 
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  Mas não houve resposta da garotinha. 
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  Nyx tremeu, fechando os olhos e se abaixando para colocá-lo no chão quando o ruído de asinhas batendo agitadamente como pequenos besouros chamou sua atenção. Um pouco mais a frente, no túnel que abria-se a sua esquerda, o menino viu algo pontilhando o teto alto e escuro, iluminado precariamente pelo que pareciam ser pequenas pixies com dentinhos afiados e olhos grandes como os orbes de vidro que ele usava para brincar com Emhyr e as outras crianças em Velaris. Eram completamente brancos, leitosos, como se não possuíssem pupilas o que evidenciava que eram cegas. Espalhavam-se sobre o teto alto e curvado do poço como pequenas estrelas cadentes, riscando o ar ao seu redor, agitadas, dando pequenas investidas ao sentir o menor movimento pelo caminho ou nos menores ruídos. Nyx tremeu encarando o rosto da garotinha em seus braços e então as pixies, obrigando-se a inspirar fundo, uma, duas, três vezes. Então ele correu com toda a força que ainda restava em seu corpinho de 8 anos. 
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  Correu o mais rápido que conseguia, ouvindo o chiado e zumbidos que escapavam das pequenas criaturas, vendo-as riscar a escuridão que os engolia, mergulhando com dentinhos afiados e prontos para mordê-lo conforme Nyx adentrava mais e mais na escuridão profunda que os cercavam. Dentinhos afiados se curvaram ao redor do ombro do menino, na ponta de sua orelha esquerda, no couro cabeludo, nas asas, fincando-se como pequenas agulhas afiadas, a dor aguda forte o suficiente para o fazer estremecer e se encolher, até mesmo se debater cegamente, mas não parar de correr. Arrancavam pequenos pedaços, formavam um enxame ao redor de Nyx, mas não tocavam a garotinha.
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  Ele não a soltou. 
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  Não ousou, igualmente, olhar para o rosto dela, temendo o que encontraria ali se o fizesse — se as pixies estavam o atacando, mas não a menina, isso só poderia significar que ela… que ela não estava mais…? 
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  Os olhos azuis arregalados disparando ansiosamente pelo espaço, observando o corredor virar bruscamente para a direita e então, o ar deixou os pulmões de Nyx. O arfar genuíno de surpresa e terror escapou por entre os lábios ressecados do menino, quase o fazendo engasgar-se com suas próprias lágrimas. O túnel finalmente abria-se para uma galeria massiva no coração da montanha que a Cidade Escavada havia sido esculpida. Era grandioso, uma bocarra escura e curvada que se abria mais a frente em uma conjunção de túneis, como, a muito, houvesse existido alguma criatura viva, que sozinha escavou a pedra maciça a sua forma, criando padrões serpenteantes por entre o lugar, deixando para trás os ossos curvados do que viria a ser costelas massivas, como se estes fossem pilares esbranquiçados, contrastando contra as paredes escuras. Um pouco mais a frente, por entre declives e buracos que se abriam no terreno, o menino podia ver com clareza o que parecia ser um riacho que nascia por entre as fissuras e chão. Nyx não saberia dizer o quão fundo era, mas ele podia ver que a água se alastrava bem mais a frente, desaparecendo com a escuridão do restante do caminho. A corrente de vento, vindo do topo de sua cabeça, parecia surgir a sua direita, bem acima de onde estavam, e seguir para onde o riacho ia.
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  Uma ponta de esperança quase surgiu na mente do menino, ao considerar que: onde havia entrada de ar, haveria uma saída. Ele engoliu em seco, se ele pudesse ao menos encontrar uma forma de alcançá-la. Ele assentiu para si mesmo, arrastando a garotinha mole em seus braços e então repousando-a com cuidado no chão, o enxame de pixies espiralando e debatendo-se contra as paredes, seguindo o cheiro do sangue de ambos que agora misturava-se na poeira e água parada dos dois. 
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  Ele havia acreditado que se derrubasse ela no chão, com só um pouquinho mais de força, ela iria acordar. Abriria seus olhos e iria gritar com ele; uma parte esperançosa do menino, até mesmo queria que ela o fizesse, mas quando Nyx a repousou no chão, perto do banco de pedras molhadas ao lado do riacho, não houve reação alguma. Ele engoliu em seco, tentando sufocar o próprio choro, esticando a mão direita, os dedos trêmulos, hesitando tocá-la. Os dedos pairavam sobre o rostinho imóvel dela, observando as sardas que envolviam as maçãs do rosto, a ponta de seu nariz e mesmo o queixo dela, que cintilavam como pequenas estrelas e constelações únicas em sua pele, oscilavam agora, o brilho tornando-se menor, como se estivesse, aos poucos, desaparecendo. Nyx trincou os dentes com força, seu rosto se crispou, o peso da culpa era quase enlouquecedor, as lágrimas acumulando-se e escorrendo por seu rostinho manchado, criando caminhos limpos por sua pele, enquanto ele hesitava, congelado pela ideia de tocá-la. Os soluços que escapavam por entre seus lábios, agora se tornavam mais altos, desolados. 
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  O que ele tinha feito? Por que havia fugido? Se ele tivesse apenas ficado ao lado de tio Azriel e tio Cassian… se ele não tivesse sido tão bobo… tão estúpido… por quê?... por que ele só não havia escutado seus pais e esperado…? 
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  — Por favor, acorda… — Nyx sussurrou, sem saber para o que estava implorando. Se para os céus, ou para a própria garotinha, se para a escuridão ou sua própria consciência, mas o fazia mesmo assim. A voz escapando estrangulada por entre os soluços baixinhos. A pele dela estava fria quando as pontas dos dedos dele a tocou, empurrou com cuidado o rostinho da garotinha, sentindo o desespero dentro de si, o medo e a culpa aumentarem mais e mais. — Por favor, por favor, não me deixe aqui sozinho… eu não quero ficar… por favor… — Nyx chorou baixinho, sem conseguir conter-se mais.
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  O menino se afastou dela, arrastando-se para trás até sentir suas costas se chocarem contra o pilar de osso. Encolheu-se até que virasse uma bolinha: joelhos pressionados contra o próprio peito, os braços envolvendo sua cabeça, apertado, os olhos fechados com força, a testa repousando sobre seus joelhos. Os soluços de seu choro se tornaram mais altos, sua pulsação martelando contra seu próprio ouvido enquanto ele chorava copiosamente, desolado, assustado, e… sozinho.
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  Percebeu que ele nunca tinha tido medo da Cidade Escavada. Percebeu que, embora as histórias de tia Mor fossem propositais para assombrá-lo e mantê-lo alerta, ele até gostava. Gostava da ideia de lutar contra monstros e a glória que acompanhava as batalhas. Percebeu que não eram os ruídos esquisitos que ele ouvia dentro da floresta, ou até mesmo no fim da biblioteca que o perturbava. Não eram as sombras que acompanhavam tio Azriel, e tampouco o olhar silencioso e reprovador de seu pai. 
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  Nyx percebeu, com horror agarrando-se em suas entranhas, transformando-se em vinhas repletas de espinhos afiados e cravando-se mais e mais fundo no coração do menino, que, na verdade, seu maior medo estava diante de si. Era aquele; estava completamente sozinho. Perdido. Sem ideia de como voltar para casa, se um dia sequer voltaria. Sem mais ninguém ao seu lado para ajudá-lo. E esta percepção do menino apenas aumentou seu choro convulsivo. 
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  Por favor, papai! Por favor! Por favor… me encontre… me encontre de novo… não me deixe aqui…
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  Mas não houve resposta de seu pai ou sua mãe. Não houve reconhecimento de ambos quando o menino tentou alcançá-los com sua mente. Houve apenas silêncio. Desconexo, distante e doloroso. Então  algo aconteceu; dos fragmentos estilhaçados em seu peito, da desolação e tristeza profunda que consumia sua pequena e jovem alma, o menino sentiu algo estranho o envolver. Algo que o fez pausar por uma fração de segundos. Ele sentiu paz. Abaixou os braços de sua cabeça, repousando-os sobre o topo de seus joelhos. Pequenos cortes e arranhões se espalhavam na pele do menino, que não estava acostumado com a visão de mordidas e rasgos mais largos do que escalar os muros do Acampamento Illyriano poderiam deixar. Os ferimentos que tinha agora eram mais profundos, ardiam e sangravam. Nyx repousou o queixo sobre suas mãos no topo de seus joelhos, observando as sardas da garotinha se escurecerem, com uma ponta de conforto distante.
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  Ele não ficaria sozinho por muito tempo. Quando o enxame de pixies os alcançasse, elas provavelmente iriam devorá-lo. Nyx se encolheu, imaginando a dor que iria sentir, mas também, quando acabassem, não haveria mais nada, certo? Sentiu-se culpado por seu pai e sua mãe, eles ficariam furiosos com Nyx, e uma parte de si queria apenas pedir desculpas para eles. Mas logo tudo teria acabado. Talvez a garotinha até mesmo esperasse por ele do Outro Lado. Talvez eles pudessem ser amigos lá também; talvez Nyx pudesse pedir desculpas por ter a arrastado para aquela confusão, certamente, sentia-se suficientemente culpado. 
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  Mas quando o enxame de pixies os alcançou, elas dispararam primeiro na direção da garotinha.
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  Ele se encolheu, as unhas cravando-se em sua própria pele, fundo, observando o enxame fincar suas presas pequenas mas afiadas na pele dela. Nyx teria chorado se ainda restassem lágrimas em seu rostinho, ao em vez disso, ele apenas assistiu, em silêncio, no escuro, o enxame de pixies banquetear-se com o corpo da garotinha. Até que uma gritou. 
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  O ruído era fino o suficiente para machucar os ouvidos, mas havia desespero ali também. Pungente, arrepiante, como se algo estivesse machucando a pequena pixie de dentro para fora. Então, mais gritinhos se seguiram em uma cacofonia desesperada. Nyx tentou tapar com suas mãos seus ouvidos, se encolhendo com a dor afiada que percorreu seu crânio. O menino se encolheu com a dor. Os olhos, semicerrados, capturaram parcialmente o pandemônio desperto que afligira as pixies. Nyx viu por entre os cílios grossos algumas pixies se contorcerem, tentando escapar, antes de suas luzes tremeluzirem, e então… virarem pó.
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  Observou com as sobrancelhas unidas, pego desprevenido, observando em choque, e então, com uma confusão admirada, quando a luz que outrora pertencia às pequenas pixies, deslizaram pelo ar, desaparecendo pela pele da garotinha, iluminando suas veias, parecendo oscilar e pulsar ao guiar-se para o peito dela. Ele assistiu fascinado e estranhamente assustado, sem conseguir entender como aquilo era possível, quando as sardas que permeavam o rostinho da menina voltaram a se ascender. Nyx franziu o cenho, surpreso, e saltando para trás, quando a menina arfou alto abrindo os olhos. 
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  Talvez pela correria, ou talvez pelo medo, o menino não tinha se dado ao trabalho de vê-la propriamente, na verdade, percebeu apenas o que era difícil não perceber. Mas agora, deparado com o silêncio sepulcral daquela galeria abaixo da Cidade Escavada, com apenas pequenos pontos de luzes precários que ofereciam silhuetas e não clareza a sua visão, ele pôde finalmente ver a cor dos olhos dela. E eram lindos. À primeira vista pareciam ser de um tom prateado bem claro, quase como gelo, mas então ele percebeu, não era prateado, mas sim, esbranquiçado.  Brilhavam como estrelas, assim como as sardas que ela tinha em seu rosto, iluminando os cílios curvados dela. Eram igualmente brancos, e pareciam brilhar tanto quanto o resto. Pequenas sardas que se espalhavam pelos braços dela, pontilhadas como minúsculas estrelas, a faziam parecer como…
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  Como se fosse uma
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  Nyx prendeu a respiração, imóvel, observando a garotinha se colocar sentada, piscando confusa e ofegante, olhando ao seu redor, antes de voltar sua atenção para o bracinho esquerdo.  Ainda lhe faltava a mão e boa parte do antebraço, mas o ferimento havia ao menos parado de sangrar, uma camada estranha de energia e carne envolvida no membro mutilado, impedindo-o de esvair-se em sangue. Ele a viu mover o braço para cima e para baixo, como se estivesse registrando a falta do membro, antes de suas sobrancelhas se uniram, entristecidas. Os lábios dele se partiram, as palavras presas em sua língua, quando houve um pequeno tremor ao redor, e então as velas se acenderam outra vez, iluminando a galeria que eles se encontravam. Iluminando o caminho que o riacho deveria os levar. As palavras morreram nos lábios de Nyx.
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  Levou alguns longos minutos de completa estupefação e admiração contida para que o menino, enfim, percebesse que, na verdade, o Poço estava reconhecendo ela, não ele. Nyx pouco havia tido tempo para pensar desde que ambos haviam caído. Haviam corrido em desalento, desesperados para sobreviver do segundo em que ele esbarrou com ela no corredor abaixo da sala do Trono. Todavia, era apenas agora que o menino percebia que ela não era normal. Que se aquele lugar, como ela havia chamado, o Poço a reconheceu, era porque ela era um deles… 
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  A garganta dele se apertou, um nó sufocante formando-se ao perceber, tardiamente, que estava condenado desde o começo. Que a garotinha deveria tê-lo condenado desde o começo. Ele exalou a respiração que prendia por entre seus dentes, um pequeno sibilo baixo que não passou despercebido dos olhos estelares da menina. Queimaram, primeiro em surpresa e até mesmo alívio, e então, mágoa. Algo no rosto de Nyx deveria ter exposto o que ele estava sentindo para ela, porque ela se encolheu como se ele tivesse acabado de a acertar. 
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   — Você… — Nyx sussurrou assustado e com uma ponta de ressentimento, quase traído ao encarar os olhos estelares da menina. — Você é como eles… — arriscou-se a dizer, com raiva da menina, e, ao mesmo tempo, assustado com o que ela poderia acabar fazendo com ele. E se decidisse o matar? Pior, e se decidisse o manter ali, como prisioneiro também? Ele queria só encontrar alguém para brincar, ou talvez tentar pregar alguma peça em tio Cassian, já que era sempre mais fácil conseguir fazer alguma pegadinha com tio Cassian do que com tio Azriel, mas… agora?
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  Agora o menino percebia com profunda tristeza que talvez nunca mais fosse ver ninguém que amava.
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  Nem a tia Nestha, com as caixinhas de músicas mágicas e os elogios de que ele era um bom dançarino. Ou tia Elain, com os bolinhos de blueberries que Nyx sempre encontrava uma maneira de roubar sem que sua mãe ficasse sabendo. As aulas de história com tia Amren, e etiqueta com tia Mor, e como as duas pareciam se frustrar rapidamente com Nyx quando ele ativava o “modo Rhys” de ser — algo que vinha acontecendo com mais frequência conforme os anos se passavam. Ou os dias inteiros em que ele passava tentando imitar tio Azriel, seus trejeitos e postura, tentando adquirir aquele tom pausado e reservado com que seu tio falava com ele, esgueirando-se pelas sombras, tentando assustar Nuala ou Cerridwen, antes de correr por sua vida e com uma risada borbulhando seu peito. Até mesmo de Gwyn ele sentiria falta, dos jogos de palavras com a sacerdotisa que sempre acabava com uma competição escalando para uma guerra de cócegas. Não teria mais guerra de qualquer coisa que encontrasse pelo caminho — comida, tinta, neve, até pedaços de lama e grama — com tio Cassian no quintal, e tampouco esgueirar-se no meio da noite para o quarto de seus pais e pedir para dormir ali, abraçado com sua mãe, e ouvindo distante a voz de seu pai murmurar aquela familiar canção de ninar. 
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  Muito menos haveria implorar para seu pai o levar junto nas reuniões da Corte, para deixá-lo usar suas espadas e facas, tentando mostrar o quão grande e adulto ele já era. O quão parecido ele era de seu pai, ansioso para ver aquele brilho orgulhoso em seu olhar, para o ouvir mesmo que fosse só um “meu garoto” do mais velho. Não haveria mais correr pelas ruas de Velaris com Emhyr e Mav, os dois meninos com idade próxima de Nyx que lhe faziam companhia sempre que sua mãe lhe permitia brincar na rua — ou quando Nyx categoricamente escapava de casa para ir explorar a cidade sozinho. Não haveria chutar bolas cegamente e acertar vidros sem querer. Não haveria disputas para ver quem chegava primeiro na loja de tia Emerie, ou quem poderia enfiar mais bolinhos de blueberries na boca sem se engasgar. Não haveria disputas ou apostas sobre quem conseguiria irritar a prima de Nyx, Aurora, até que ela saísse correndo, chorando, e gritando pela mãe. Ou as desculpas baixinhas que sempre se seguiram, com os risos sufocados quando tia Nestha viesse censurá-los por atormentar sua filha.
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  Até Basilius, o austero e severo Capitão que ficava de olho em Nyx no Acampamento Illyriano quando seu pai ou o tio Cassian precisava resolver assuntos de adultos, faria falta. Ele percebeu com tristeza e resignação: sentiria falta dos gritos, das correções de sua postura e especialmente, da liberdade de poder acordar um outro dia exasperado por levantar cedo, e por ter que ir para o acampamento outra vez.
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  Estava tudo perdido, como a si mesmo. E em troca do que?
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  — Por que mentiu para mim? — Nyx sussurrou, sua voz baixinha, e ecoando com o peso do sentimento de traição que empestava seu pequeno peito. A garotinha franziu o cenho, defensiva, se encolhendo um pouco mais contra si, encarando-o irritadiça.
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  — Não menti! — ela sussurrou de volta, encarando-o com irritação, e ao mesmo tempo, um medo enraizado que não parecia ter sido despertado por Nyx, apenas lembrado. Um medo que não pertencia aos ecos das criaturas que se espalhavam ali embaixo, nem a escuridão que os envolvia densa como um manto, tampouco pelos ferimentos que agora ambos exibiam e carregariam pelo resto de suas vidas a vir. Era algo mais profundo que isso, algo que ele não conseguia compreender, mas que partia dele. De dentro dele. A garotinha fungou baixinho, como se estivesse se esforçando muito para não chorar, abraçando seus joelhos com um pouco mais de força. — Eu nem te conheço…
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  O comentário dela doeu.
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  Ela falava como se eles não fossem amigos, mas verdade seja dita, com tudo o que eles estavam passando juntos, desde a escapada de Nyx da sala do trono, ela havia sido sua única companhia. Eles estavam juntos ali, para o que desse e viesse, para o bem ou para o mal, Nyx estava feliz em acreditar que ela seria sua amiga, que eles já eram mais amigos do que ele era até mesmo com Emhyr, e, todavia, ela falava como se ele fosse apenas um estranho. E a pior parte disso?
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  Ela estava certa. De certa forma, Nyx era só um estranho para ela, mesmo que ele não quisesse ser…
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  — Você me olha como eles — ela lamentou, melancólica e acusatória. Os olhos, aqueles olhos expressivos e estelares, pareciam envergonhados, abaixaram-se do rosto de Nyx para encarar os pezinhos sujos. Foi somente naquele momento que Nyx percebeu: ela estava descalça, os pezinhos sujos de fuligem, poeira, e agora escoriações causadas pela corrida e queda, pareciam pequenos e maltratados, até mesmo queimados. Ele sentiu algo em seu peito doer, mas igualmente sentiu algo em sua mente se erguer, pegou-se de repente defensivo, pronto para retorquir as palavras dela, antes mesmo que ela prosseguisse com sua fala. — Você acha que eu sou um monstro também, não é?
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  — Mas você é — ele sussurrou de volta, desviando o olhar da garotinha, sentindo-se culpado pela admissão, mas sem conseguir conter-se. Não gostava do jeito que ela falava com ele, como se ele fosse alguém ruim…
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  Ele esperou que ela gritasse com ele. Esperou ouvi-la defender-se, que lhe dissesse que era mentira, que Nyx era um grande mentiroso, e que não sabia nada sobre ela. Ele podia quase sentir os pensamentos dela, tão transparentes e sinceros, pulsando por sua cabeça, e ele não precisaria usar seus poderes para sequer lê-los. Ela era transparente como água. 
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  Mas ela não disse nada.
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  Ele havia magoado ela, percebeu com surpresa e culpa. Ele ponderou, unindo suas sobrancelhas, introspectivo por uma fração de segundos, considerando suas palavras. Elas eram verdadeiras, aquela garotinha era um monstro e isso era explícito. Que tipo de criatura era capaz de absorver luz daquela forma? Que tipo de criatura seria mantida naquele lugar horrível se não fosse puramente por ser um monstro ruim? Ela só podia ser um monstro, ele não estava errado em sua conclusão! Todavia, ele imaginou como as suas palavras deveriam ter soado aos ouvidos dela.
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  E se a situação fosse inversa e ele tivesse ouvido chamá-lo de monstro… Nyx encolheu-se contra si, seus ombros pesando com a culpa, e projetando-se para frente, em uma silenciosa derrota. O menino enterrou o queixo em suas mãos, hesitando por um momento antes de voltar a encará-la, sem ter certeza do que encontraria em seu rosto. Não o surpreendeu quando se deparou com uma profunda tristeza que fazia os olhos brilhantes dela ofuscados. E no fundo de tudo, havia dor. Uma dor que Nyx supôs que não viria de seus machucados.
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  O menino queria se desculpar. Queria retirar suas palavras e assegurar a ela que ele não a via como um monstro, havia dito aquelas palavras porque queria magoar ela, porque ela o magoou quando havia dito que ele a encarava como os outros da Corte dos Pesadelos. Seu pai sempre havia dito que a Corte dos Pesadelos era composta por pessoas ruins, dizer a Nyx que ele era como eles, significava claramente que ele era ruim também. Ele estaria mentindo, todavia, se o fizesse. Porque, querendo ou não, ela era e sempre seria um monstro.
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  — Como sabia que aqui era o Poço?— Nyx questionou, tão baixinho que por um momento ele achou que ela não havia escutado sua pergunta e que ele teria que repeti-la. Então, após alguns longos minutos em silêncio, ele imaginou se ela sequer se daria ao trabalho de responder. Era provável que não, depois do que ele havia dito, ele não a culparia se ela não quisesse mais falar com ele… ainda assim, o silêncio o irritou.
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  Ela deu de ombros, ainda sem encará-lo, parecendo ainda tão envergonhada e cabisbaixa que antes. A culpa arranhou a consciência dele, mas ele a silenciou tentando focar apenas nas palavras dela. Precisava de informações para saber o que deveria fazer daqui para frente. Como sobreviver naquele lugar.
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  — Quando a senhorita Lyra não precisa mais de mim, eles me mandam para cá — a garotinha disse com um tom de voz simples, baixinho. Os olhos estelares dela se fixaram no riacho um pouco mais longe de onde eles estão, balançando-se um pouco para frente e para trás, fosse por ansiedade ou medo, Nyx não era capaz de compreender.
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  Ele repassou o nome em sua mente. Lyra… lhe era familiar, como o de um desconhecido o seria. Não era que ele pudesse dar um rosto para o nome, ou tampouco fosse completamente desconhecido, ele já havia ouvido o nome ser mencionado em um ou outro jantar quando o Círculo Íntimo de seu pai estava reunido para o jantar. Ouvira que era mimada, e que era muito bonita, não tão bonita como Aurora, mas bonita como uma Grã Feérica. Ouvira também o lamento de alguém vindo da corte que havia desejado que ela fosse, na verdade, um macho, e assim, teriam um herdeiro digno para o trono. Sabia que os comentários afiados não deixavam seu pai feliz, mas se tivesse que apontar quem poderia ser a menina e o que significava, Nyx não o poderia fazer, por mais que tentasse.
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  — Quem é Lyra? — Nyx ecoou, inclinando a cabeça para o lado, observando-a em um silêncio cauteloso, não menos curioso.
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  Ela deu de ombros, voltando a encará-lo com olhos grandes e expressivos. Ela inclinou a cabeça um pouco para o lado, repousando-a em seu bracinho direito, e então bocejou. 
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  — Ela é a neta do Lorde Thanatos — a garotinha resmungou como se a informação fosse algo óbvio, embora não o fosse, ao menos não para Nyx. É claro que ele conseguia colocar as peças nos lugares certos para compreender de quem se tratava e a quem ela se referia, mas igualmente não deixava de ser confuso. A garotinha se ajeitou no chão, parecendo ter tornado seu propósito agora, enterrar seus pezinhos descalços no amontoado de cascalho que se formava ali. — Ela não gosta de bonecas. Diz que são feias e para crianças. Então o avô dela me levou para ela.
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  O silêncio sepulcral se estendeu por um longo momento enquanto Nyx franzia o cenho confuso. Levou para Lyra? Como assim? Por que a garotinha falava como se ela fosse uma… coisa de Lyra? Uma boneca viva, talvez? Nyx sentiu sua cabeça girar um pouco mais, desconfortável, sem conseguir compreender como era possível aquilo acontecer. 
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  — Então quer dizer que você… — Nyx começou a dizer, categoricamente e com cuidado, franzindo o cenho um pouco mais, confuso. — Você é amiga dela?
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  A garotinha pareceu pausar por um momento, encarando Nyx com confusão.
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  — O que é… amigo? — A pergunta que escapou dos lábios da menina era inocente, confusa com a palavra desconhecida, e Nyx emudeceu. Observou-a encará-lo a espera de uma resposta, os olhos brilhando com uma curiosidade inocente, parecendo tentar calcular o que diabos ele estava se referindo. O que poderia vir a ser. Nyx abriu sua boca para respondê-la, mas sua voz não saiu. 
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  Tentou encontrar suas palavras, tentou encontrar uma forma de explicar para ela o que era um amigo: uma parte da sua alma que te completava e que não te abandonaria, não importava o quão difícil ou ruim as coisas poderiam se tornar? Alguém que havia nascido de outra pessoa, mas que você sabia que era seu irmão? Como ele poderia explicar para ela o que era um amigo, se nem mesmo ele era capaz de compreender a dimensão da palavra ainda. 
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  O que quer que o menino estivesse prestes a falar, foi interrompido pelo eco de uma voz familiar, chamando por seu nome. Nyx se tencionou no mesmo segundo, colocando-se de pé, e lançando um olhar ao redor ansioso.
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  — Nyx! — Feyre o chamou de algum lugar da escuridão, o tom desesperado e preocupado, e o alívio inundou o peito do menino. Ele abriu um sorriso largo, imediatamente colocando-se a correr, tentando encontrar de onde o som havia partido. Podia ouvir, meio aparte, o barulho dos pezinhos da garotinha seguindo-o, podia ouvi-la dizer alguma coisa, mas estava concentrado. Precisava encontrar sua mãe. Precisava… — Nyx, filho onde você está!?
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  O sorriso de Nyx desapareceu lentamente de seu rosto cansado e assustado, ao perceber que a voz adquiriu um tom sibilante ao final de sua fala. Não vinha dos túneis e tampouco das aberturas de ar ao topo abobadado do teto daquela galeria, não, ela vinha de cima da cabeça dele. O grito morreu na garganta do menino, quando ele inclinou sua cabeça para trás, os olhos azuis seguindo os veios e irregularidades das paredes até repousarem no que parecia ser um corpo grande e molenga enroscado entre as estalactites do teto.
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  — Não reage! — a garotinha gritou, e então se silenciou abruptamente quando a criatura avançou na direção dela. Nyx congelou no lugar, tentando manter sua expressão neutra, prendendo sua respiração por instinto. 
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  A criatura tinha um cheiro horrível, uma mistura profunda de ferrugem, escuridão e algo podre, intragável, como enxofre, mas por baixo disso havia um aroma estranho, que se destacava, um aroma doce, enjoativo, fazia com que seu estômago se contraísse. A bile subiu por sua garganta, sufocante e o fazendo engasgar-se, enjoativo o suficiente para fazer com que ele ficasse zonzo, mal respirando direito. Mas o que era assombroso era a visão desta. Possuía um corpo largo, pesado, e repleto de dobras tal como um inseto, rastejava-se pelas paredes, mesmo que suas patas afiadas e finas, como ponta de flechas, se fincassem com força contra o chão, arrastando o corpo pesado e espaçoso até estar contorcido, parado a poucos centímetros do rosto da garotinha. E ao centro, onde deveria ficar sua bocarra ameaçadora, encontrava-se na verdade um rosto
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  Nyx não ousou se mexer, mantendo sua expressão neutra, tentando imitar a garotinha, os olhos azuis dele encontraram-se com o rosto que a criatura usava naquele momento. Um Grão Feérico, macho, com cabelos longos e de aparência macia, de pele pálida como neve e olhos escuros como a escuridão que os cercava, talvez mais. Possuía uma cicatriz que atravessava seu rosto inteiro e foi somente naquele momento, ao ver aquela cicatriz que um arrepio gélido percorreu a espinha do menino. Seu estômago contraiu, e um aperto envolveu seu peito, e ele achou que iria vomitar, embora estivesse esforçando-se para manter seus olhos fechados. Era o monstro que havia os perseguido mais cedo. O rosto vivo da criatura agora pertencia a esta, moldado da forma que assim desejava, e Nyx teve a terrível sensação de que se expressasse qualquer coisa, por menor que fosse, aquele monstro iria não apenas matá-lo, como roubaria seu rosto para si. Quando o medo se tornou demais, Nyx fechou os olhos com força. 
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  — Estrelinha, solitária… arrrrrrhhh… quanto tempo… hsssssss…. levaria para se…. apagar — cantarolou a criatura com uma voz áspera, um ruído aterrorizante que lembrava as garras afiadas sendo fincadas contra as paredes de pedras e violentamente puxadas para baixo, arranhando o ar ao seu redor e fazendo seus ouvidos doerem. Ele mordeu sua língua tentando silenciar quaisquer ruídos que ele pudesse fazer; o sangue percorreu pelo interior de sua boca, adentrando por sua garganta e escorrendo pelos cantos, vagarosamente, encorpado e denso. — Não há… nada… eerhh… que possa… amaaaaarrrr… você… 
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  Nyx abriu os olhos virando-se para a criatura, irritado.
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  — Não fale assim! — Nyx advertiu, impulsivo, e arrependeu-se no mesmo segundo, porque em um piscar, a criatura estava à frente de seu rosto. 
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  Um sorriso vagaroso surgiu no rosto roubado da criatura, a cabeça inclinando-se para a esquerda, os olhos fixos nos de Nyx, sem desviar, sem sequer piscar, o manto escuro de seus cabelos acariciando o ar como se não possuíssem gravidade alguma. Uma mãozinha pequena, trêmula e gelada envolveu a direita de Nyx, os dedinhos, ainda que pegajosos pela poeira e sujeira, deslizando firmemente pelos dedos dele, entrelaçando em um aperto surpreendentemente forte. Algo no peito dele se apertou, e então se aqueceu. Nyx não voltou seu rosto na direção da garotinha, mesmo se desejasse, não poderia, estava travado no lugar, preso no poder do que quer que aquela criatura composta de pesadelos e escuridão possuía. 
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  — Defende-a… como se fosse sua... rrrhhhamiga… — sibilou a criatura com um ruído alto e estridente. Nyx sentiu o impulso de fazer uma careta, de se encolher, fechar os olhos e tentar desaparecer com as sombras, mas manteve-se firme, sustentando o olhar do monstro à sua frente. O tremor aumentou por seu corpo, vibrando por sua pele com espasmos irregulares. Manteve sua expressão vazia, seus olhos fixos nos da criatura, tentando se forçar a ser corajoso, tentando forçar-se a ser como seu pai… — E ela nem é… hssss... uma de... vocêssss…
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  — Não me importo — Nyx disse com convicção, talvez mais convicção do que sentia, mas não havia mentido. Os olhos percorreram os poços escuros dos que a criatura vestia, e com uma ponta de horror, observou-a trocar de rosto lentamente para o de uma fêmea, linda, de cabelos ruivos longos, pele repleta de sardas e olhos verdes como grama. Tinha um rosto gentil, suave, quase reconfortante, e lembrava, estranhamente, a garotinha atrás de si… como…? 
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  O rosto da criatura terminou de girar em 360 graus e então voltou a se inclinar na direção de Nyx, o hálito putrefato da criatura aumentando a náusea que o garoto sentia. 
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  — Um herdeiro… — a criatura sibilou, o sorriso largo. — Hssssss…. Há escuridão…. dentro de você… Nyyyx… há… morteee… e culpa… e raiva… muita raivarrrhhh… augh que criatura… fascinante… você.. ééée… 
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  Nyx estava prestes a questionar a criatura o que diabos aquilo significava quando a voz baixa da menina ecoou:
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  — Pode dizer para onde é a saída daqui? — ela pediu, atrás de Nyx, hesitando. A cabeça da criatura girou novamente, daquela forma quase mecânica e antinatural, projetando-se sobre Nyx e inclinando-se na direção da menina. 
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  — Posso… hhsss… mas com… uma… condição… — a criatura sibilou, um estalo esquisito e ruidoso escapando pela maneira com que alongava as palavras. Nyx engoliu em seco, esforçando-se para manter sua expressão vazia. Ele não se moveu, não porque não queria, mas porque estava considerando o que diabos a criatura poderia querer deles. Seu pai havia dito um tempo atrás que Nyx deveria ser cuidadoso, deveria escolher suas palavras da forma correta e com cuidado, deveria estar atento, pois havia truques escondidos em todas as barganhas oferecidas, mesmo aquelas de bom grado. Palavras tinham mais poder do que ele imaginava, dizia Rhysand, e ele deveria ser cuidadoso com o que prometia. — Um de… vocêsss… precisa ficar… aquiii…
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  Por um longo momento, os dois ficaram em silêncio. Nyx em choque, a garotinha perturbadoramente calma, e então, para o horror de Nyx, os dedinhos que se enroscavam com os seus, apertado em um suporte silencioso, se puxaram, gentilmente, para baixo, desfazendo o aperto, mesmo que ele tivesse tentado agarrar-se a mão da menina, ele ainda sentiu quando esta desapareceu. E tudo pareceu ficar mais frio ao seu redor.
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  — Eu fico. — Nyx voltou-se na direção dela, em choque, mas ela parecia resignada em sua escolha, encarando o olhar sufocante da criatura, começando a sorrir.
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  Nota da Autora: 🤠essa porra de prólogo é a coisa mais longa que eu já escrevi, tive que dividir em TRÊS PARTES para que o contexto inteiro da história pudesse ser estabelecido, o ano será 2089 e a gente ainda vai estar no prólogo KSKSKSKSKS 




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Lelen

Gente, COITADO DO NYX, SÓ QUERIA UM POUCO DE AVENTURA E FUGIR DO PROTOCOLO CHATO DOS ADULTOS E SE ENFIOU (LITERALMENTE) EM UM BURACO QUE SÓ POR DEUS!!
E a menina e a mão dela? COITADA. E a tal da Lyra? Já julguei de mimada HOASPDNAP
Esse bichão feio eu fiquei imaginando ele como o “kaonashi” de A Viagem de Chihiro, só que ao invés de ser “sem rosto”, com um rosto roubado no lugar da máscara PONASDPOASND
Tô imaginando como essas crianças vão crescer e virar adultos traumatizados… ALGUÉM GUARDA ELES NUM POTINHO E PROTEGE DESSE MUNDO CRUEL, POR FAVOOOOR!

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