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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Starfall

Escrita porSoldada
Revisada por Lelen




PARTE UM • THE WILD HUNT

PRÓLOGO 1 • THE FALL

Tempo estimado de leitura: 33 minutos

NYX • ANOS ANTES.

  Cassian havia levado um chute doloroso na altura de sua panturrilha, o que deveria ter rendido uma reprimenda e um aviso de castigo para o garoto de 8 anos, se este não tivesse usado a oportunidade de distração para correr o mais rápido que conseguia para longe daquele maldito lugar. Azriel, que a tudo apenas observava, pareceu tentar conter um sorriso torto, observando com divertimento o General Comandante da Corte Noturna ser reduzido a uma série de palavrões desconexos e olhos lacrimejados pelo golpe que havia recebido do sobrinho. O quase sorriso, todavia, desapareceu do rosto do Mestre dos Espiões da Corte Noturna quando os olhos registraram o menino projetando-se para fora das portas duplas do Salão do Trono da Cidade Escavada.
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  Nyx ouviu os gritos de tio Azriel e tio Cassian, comandando para que ele retornasse para a sala do trono imediatamente. Percebeu quando a voz suave de sua mãe acariciou sua mente, questionando o que diabos ele estava fazendo e para que ouvisse seus tios. Nyx sentiu um arrepio de medo genuíno quando ouviu o eco distante da voz de seu pai, comandando para que ele voltasse para a sala do trono imediatamente e que quando chegassem em casa teriam uma conversa séria sobre seu comportamento. Sabia o que aquilo significava; sabia que Rhysand estaria furioso com sua atitude, sabia que o Grão Senhor da Corte Noturna estaria determinado a puni-lo da maneira correta para que Nyx nunca mais tentasse fazer outra “gracinha” igual àquela. Sabia que ficaria sentado por horas ouvindo seu pai discursar sobre como as ações de Nyx refletiam a Corte Noturna, e como ele havia sido irresponsável pelo que havia feito, sabia que Rhysand diria como Nyx havia deixado sua mãe aterrorizada e como isso era ruim, apenas ruim de ser feito, porque quando você se importava com alguém, você nunca o machucava. Você considerava suas atitudes e como elas poderiam afetar aqueles que você amava. Sabia que estaria de castigo por tempo indefinido, e que tio Cassian o iria fazer limpar as espadas do Acampamento Illyriano pelo resto do verão, sem direito a reclamação. 
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  Nyx sabia porque simplesmente não era a primeira vez que ele tentava escapar de uma daquelas reuniões insuportáveis. Mas era a primeira vez que ele conseguia escapar de seus tios. Era a primeira vez que ele conseguia fazer o que queria sem ter que agir como algum tipo de marionete de seus pais, e parecer como a criança perfeita que a tudo aquilo observava, quando todos os outros estavam se divertindo. Nyx não tinha ideia do que havia assombrado seus pais tanto, mas era simplesmente insuportável como eles ficavam terrivelmente super protetores quando se tratava dele. Nyx queria ter a liberdade de se divertir, de procurar as outras crianças da Corte dos Pesadelos e… apenas ser uma criança. Brincar com elas. Até mesmo fazer algumas piadas pela maneira esquisita que se comportavam. Nyx queria se divertir também, e não apenas assistir a todos ao seu redor, tendo um momento incrível enquanto ele assistia a tudo sentado ao longe apenas observando.
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  Foi por isso que o garoto, usando toda sua concentração, havia criado um escudo em sua mente. Ainda estava aprendendo a fazer, mas Nyx não conseguiu conter uma ponta de satisfação quando conseguiu bloquear seu pai de sua mente. O sorriso torto surgiu por seus lábios, os olhos cintilando com satisfação, obrigando-se a correr mais rápido dessa vez. Atrás de si, ele podia ouvir tio Cassian praguejar, tentando alcançá-lo, e em algum lugar entre os corredores escavados e cuidadosamente esculpidos pelas paredes das montanhas, Nyx podia ver as sombras de tio Azriel espiralar, tentando alcançá-lo. Uma delas quase envolveu o pulso do menino. 
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  Nyx lançou um olhar por sobre seu nome, fechou o rostinho deslumbrante que era uma mistura perfeita de seus pais, grunhindo baixo com a visão de tio Cassian esticando os braços para conseguir alcançá-lo. Os dedos longos e calejados do General contorcendo-se quase como garras ao tentar alcançar o colarinho do menino. Tio Azriel havia levantado voou e pousando do outro lado do corredor, tentando bloquear a fuga de Nyx. Mas ele ainda era filho de Feyre Archeron, e sua teimosia e instinto sempre falariam mais alto. Ele prendeu a respiração, os olhos azuis desviaram-se de tio Azriel, buscando alguma coisa, uma janela, uma portinhola secreta, qualquer coisa que ele poderia usar para escapar de seus captores. 
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  E então ele encontrou. 
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  Escavado de forma irregular e mais como se fosse um túnel para animais de estimação, Nyx deparou-se com o que parecia ser um buraco na parede da montanha, rumando em direção aos andares inferiores da Cidade Escavada. Sabia que outros membros da corte viviam ali, membros estes que não eram assim tão gentis quanto os da Corte de seu pai. Rhysand havia sido cauteloso e bem preciso ao informar a Nyx o que ele deveria preparar-se para deparar-se; por isso Nyx deveria ser tão cuidadoso ali. Por isso deveria ficar perto de tio Cassian e tio Azriel para não se envolver em nenhum perigo. Mas Nyx não sentia medo daquele lugar, na verdade, o garoto sentia uma curiosidade mórbida. Queria explorar, descobrir mais sobre aquela misteriosa corte que todos pareciam temer por sua crueldade. Então, sem pensar muito, o garoto fez a primeira coisa que lhe ocorreu. Tentando encolher ao máximo que conseguia suas asas, o menino se lançou para frente, fingindo que iria virar em direção às portas duplas entreabertas a esquerda e seguir para o Salão de Máscaras, dando a tio Cassian e tio Azriel a falsa impressão de que ele seguiria pela esquerda, quando na verdade, ele se lançou para frente, deslizando como uma serpente “pegajosa” pelo piso de pedra negra polida, refletindo como um espelho não apenas as tochas, mas o sorriso incandescente de Nyx, quando o garoto passou por entre as pernas de tio Azriel. 
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  As sombras que sempre acompanhavam o Mestre dos Espiões acariciou vagamente os tornozelos de Nyx, mas já era tarde demais para alcançá-lo, porque o menino havia acabado de deslizar buraco a dentro. Uma gargalhada alta, misturada entre genuína satisfação por ter escapado do alcance de seus tios, e uma ponta de pânico crescente quando ele percebeu que o túnel que havia adentrado era mais apertado e íngreme do que ele havia imaginado. Nyx fechou os olhos, sentindo as paredes do túnel arranharem de leve suas asas, e o atrito do chão abaixo de si desgastar o couro de seu uniforme em miniatura illyriano — presente de tio Cassian no último Solstício, quando Nyx finalmente havia convencido seu pai a permiti-lo aprender a voar com tio Azriel.
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  O túnel terminou mais rápido do que Nyx esperava, e antes que pudesse perceber alguma coisa, um gritinho estrangulado ecoou e a queda do teto de Nyx foi amortecida por uma série de braços e pernas ossudos, além de uma cabeça dura. Nyx piscou, tentando se livrar da poeira que havia se acumulado em si, tossindo e ainda rindo quando seus olhos azuis, incandescentes, piscaram, percebendo tardiamente a figura que havia amortecido sua queda. 
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  O chorinho baixo, meio fungado, escapava em tosses irregulares, como se estivesse tentando ocultar sua própria dor e parecer mais forte do que era. Olhos grandes e expressivos estavam marejados enquanto bracinhos ossudos empurravam Nyx para longe de si. Nyx abriu um sorriso largo, rolando para longe da outra criança, desabando no chão com as pernas abertas, as asas agitando-se atrás de si, e os pés balançando de uma lado para o outro ao ver, pela primeira vez, uma criança ali. 
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  Era pequeno em comparação a Nyx, bem menor, e parecia um tanto quanto frágil. Olhos grandes e expressivos em um rosto sujo por fuligem, cinzas e alguma coisa mais escura que lembrava a sangue seco que Nyx via no Acampamento Illyriano. O rostinho, embora delicado e com bochechas surpreendentemente gorduchas, era polvilhado por sardas delicadas, cintilavam como pequenas estrelas, realmente cintilando pela pele delicada e empalidecida da criança. Nyx inclinou a cabeça para o lado, observando-a atentamente, fascinado, era como se ele estivesse olhando diretamente para o céu noturno de sua casa, mas cravejado na pele daquela criança esquisita. Os cabelos da criança eram curtinhos, e espetados para cima, engraçados, de certa forma, as mechas eram escuras como a noite, e grudentas, bem sujas mesmo, mas as raízes cresciam em outra tonalidade, mais claras, como se o tom escuro do cabelo da criança não fosse realmente o tom verdadeiro de seus cabelos. Usava roupas velhas e desgastadas, havia mais buracos nas mangas do que tecido, e tinha um curativo em seu nariz como se tivesse machucado antes da queda de Nyx. 
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  Pela estatura e expressão bicuda, Nyx assumiu que a criança deveria ser alguns anos mais nova que ele, talvez com no máximo 6 anos, talvez 5. Era fofa, de certa forma, se você estreitasse muito os olhos e tentasse ignorar a sujeira que a envolvia, era sem sombra de dúvidas uma menina. O que era estranho, porque Nyx percebeu que ela estava vestida como um menino. Ao menos, de acordo com o que tia Mor havia lhe dito que meninos usavam na Corte dos Pesadelos. Até onde Nyx sabia, meninas sempre usavam vestidos ali, e não… trapos velhos do que um dia foram uma túnica e calças. Seja qual for a motivação da menina, Nyx não se importava nem um pouco, estava mais curioso com as sardas estelares da garotinha, seu dedo coçando-se para tocá-la. E ele o teria feito se ela não estivesse ainda fungando, os lábios transformados em um bico grande e irritado, as sobrancelhas unidas, nem um pouco contente com a presença de Nyx ali. 
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  Por um longo momento, ele e a garotinha apenas se encararam. Ele, com um sorriso largo, repleto de expectativa, e a garotinha à beira das lágrimas, se esforçando com todo seu tamanho compacto para não chorar, tentando parecer intimidadora com todos os seus 6 anos. Ele achou graça; supôs que se ele quisesse poderia erguê-la sobre sua cabeça e não sentiria peso algum. Ele apertou os lábios em uma linha fina, percebendo, pela primeira vez, com uma ponta de desconforto que ela era diferente das outras crianças de Velaris, mesmo Emhyr, que era magricelo, ainda assim parecia ter mais carne dentro de si do que ela. Ele se questionou o que diabos poderia ter acontecido para que ela ficasse daquela forma. 
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  Nyx estava prestes a perguntar a ela por que ela era daquele jeito, em toda sua inocência e confusão infantil, quando um grito furioso partiu da entrada do corredor largo que estavam. Primeiro ele havia achado que tio Cassian e tio Azriel finalmente o haviam encontrado e ele estaria mesmo encrencado agora, mas então, os olhos azuis do garoto se fixaram na presença austera e ameaçadora de soldados illyrianos que não pertenciam ao seu pai. Nyx engoliu em seco, arregalando os olhos, e por uma fração de segundos congelou no lugar, aterrorizado. 
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  Então uma mão pequenininha enroscou-se em seu pulso, puxando-o de supetão com uma força bem maior do que aparentava, e Nyx encarou a nuca da garotinha, correndo como um ratinho pelos corredores, o mais rápido que conseguia, arrastando-o junto. Ele não precisou de maior incentivo. Sua respiração queimou por sua garganta, escapando por entre seus lábios secos em arfares irregulares e altos, os olhos arregalados voltavam-se ritmadamente para trás, tentando visualizar mais onde os guardas estavam do que para onde a menina estava o levando. 
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  As luzes das velas que se refletiam no chão escuro de pedra polida e pareciam-se com estrelas cintilando em meio ao céu escuro noturno, tremeluziam, instáveis, acompanhando a agitação no ar deixado para trás de si das duas crianças desesperadas. Os guardas os seguiam como cães infernais, dispostos a conseguir seus ossos de gratificação. E a mão da garotinha, enroscada firmemente no pulso de Nyx, tremia. Foi quando o menino teve uma ideia.
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  Se brilhante ou apenas burra, pouco ele poderia saber qualificá-la, mas com os poucos recursos e com o desespero, o menino fez o que achou que conseguiria no momento. Lançou-se para frente, abraçando a garotinha, apertado, e ouvindo-a gritar como um ratinho preso em uma ratoeira, e então saltou janela afora. Lembrou-se de tio Azriel, das palavras dele ao tentar ensinar-lhe a voar. De como haveria um momento em sua vida que ele não teria escolha se não o fizesse, e por um breve momento, Nyx considerou se não seria este. Suas asas se esticaram, estendendo-se em todo seu tamanho infantil, e ele obrigou-se a agitá-las, tentando conseguir estabilizar e voar com a garotinha de volta para o salão do trono… onde quer que isso fosse…
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  Mas Nyx calculou muito, muito mal.
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  Mesmo que ela fosse raquítica e pequena, Nyx ainda era apenas um garoto de 8 anos. 
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  O tempo pareceu desacelerar ao redor das duas crianças, estagnado e prolongando-se à sua frente, consciente de tudo o que acontecia ao seu redor. Ele bateu suas asas com mais força, os membros fazendo um ruído alto ao esticarem-se ao seu máximo e tentarem puxar o menino e a menina para cima. Deslizaram suspensos no ar, os dedos dele fincando-se no corpinho ossudo da garotinha, tentando não a derrubar no breu que se abria abaixo de si ao mais profundo da Cidade Escavada. Por um breve momento, ele teve certeza que conseguia alcançar a outra balaustrada, o mármore a poucos centímetros de acariciar a ponta de seus dedos, se ele somente esticasse um pouco mais, ele conseguiria. As pernas dele enroscaram-se com mais força ao redor da garotinha, tentando não a derrubar na bocarra escura e desprovida de quaisquer traços de luz que se abria abaixo de si em um precipício amedrontador. Sussurrou para si mesmo, em quase um mantra, para não olhar para baixo, que ele só precisava se esticar um pouco mais. Mas então, a garotinha escorregou de seu aperto, e o grito assustado dela, em queda livre, o fez entrar em pânico.
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  Ele se esqueceu de como bater suas asas corretamente, uma acertando dolorosamente a balaustrada do corredor, enquanto ele tentava se esticar o máximo que seu corpo pequeno permitia para alcançar a menina. E antes que ele percebesse, Nyx também estava caindo. O grito dos dois pareceu ecoar pela montanha inteira, reverberando pelas paredes alongadas e esculpidas da Cidade Escavada, vibrando pelos entalhes de madeira e armaduras que envolviam os guardas que perseguiram a menina — e por tabela, o menino também. Alcançando os ouvidos de seus pais com um arrepio gélido e assustador, capaz de corroer os músculos e transformá-los em pedras sólidas presas no lugar, capaz de arrepiar os pelos de suas nucas e dar-lhes a certeza de que: não havia como sobreviver a uma queda como aquela.
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  No desespero, Nyx lutou para continuar estável no ar, esticando-se o máximo que conseguia para alcançar a garotinha. Os olhos grandes e expressivos dela estavam fixos no rosto dele, tingidos com um terror profundo, de revirar o estômago e assombrar aqueles que o vislumbravam — e era culpa de Nyx; inteiramente culpa dele. Então os dedos dele conseguiram envolver o pulso franzino dela, as unhas fincando-se dolorosamente na pele frágil do membro, sequer percebidas. O peso da menina o puxou para baixo, e Nyx gritou entre dentes cerrados, usando suas duas mãos para segurar o pulso dela com toda a força que ele tinha em seu corpo de 8 anos. Lágrimas escaparam de seu rostinho distorcido entre pânico, medo e desespero, sequer percebidas, pingando pesadamente no couro de suas roupas elegantes e especialmente escolhidas por sua mãe para aquele maldito evento, umedecendo o tecido, deixando para trás um rastro molhado em sua pele manchada pela sujeira das paredes da montanha, salgando seus lábios. Suas asas agitaram-se com mais e mais força, tentando ganhar altitude enquanto ele agarrava-se à garotinha, determinado a não a soltar. Custasse o que custasse, ele não a iria soltar, não importava o que ele precisasse fazer, ele não iria soltar ela, não podia, se ela morresse, não seria culpa dele?... 
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  Crack
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  Nyx arregalou os olhos, congelando no lugar, o horror tingindo sua expressão quando, em surpresa ao ruído que ecoou abaixo de si, ele soltou a mão dela. Os olhos azuis, embaçados pelas próprias lágrimas, levaram alguns segundos para registrarem a maneira com que a mãozinha da garotinha estava retorcida, apontando para um ângulo antinatural, enrijecido, e com um osso pálido e fantasmagórico projetando-se para fora. Em seu desespero em tentar segurá-la, Nyx havia falhado em perceber que a pressão que estava fazendo naquele único ponto e o próprio peso dos dois sendo puxados para baixo, havia obliterado os ossos frágeis da mão da menina. 
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  Os olhos das duas crianças se encontraram, compartilhando aquele momento de completo terror. E então, a escuridão os engoliu.
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•••

  Nyx não tinha ideia por quanto tempo ele havia caído, apenas que seu único guia no breu que os consumia eram as sardas estelares da garotinha. 
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  Os pequenos pontilhados de luzes que se iluminavam pela pele dela, como estrelinhas desenhadas delicadamente em sua pele, estavam próximas ao seu toque, mas não o suficiente para que ele conseguisse alcançar, por mais que tentasse. Então, houve o impacto.
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  Ele o sentiu primeiro. Seu corpo foi bruscamente lançado para a direita, uma corrente de ar adjacente e forte o empurrou para fora de seu curso, suas asas se agitaram, descoordenadas tentando recuperar seu próprio equilíbrio apenas para atingirem algo que lembrava a uma parede, dolorosamente estático e firme. Um grito de medo e dor escapou pelos lábios do herdeiro da Corte Noturna. A dor explodiu por seus olhos, criando uma galeria de pontos luminosos por trás de suas pálpebras, explodindo como estrelas e pairando brevemente à frente de si. O impacto reverberou pelos músculos do menino e chegou aos seus ossos, e as lágrimas aumentaram, escorrendo com maior frequência e intensidade. Pontos distintos onde a parede havia acertado sua asa, estavam ardendo, a dor aguda espalhando-se acompanhada pela sensação desconfortável de algo cálido, encorpado e líquido escorrendo da ponta de suas asas para suas costas. 
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  Algo gélido, pegajoso e fedendo a uma mistura profusa de enxofre, ferrugem e escuridão, enroscou-se ao redor do tronco do menino, puxando-o para mais perto de si. Patas afiadas e finas, como as de um inseto, fincavam-se pelas roupas elegantes dele. O cheiro pungente e esquisito, quase adocicado das pontas das patas, queimaram a pele do menino, e o deixaram zonzo. Mesmo no escuro, Nyx sentiu-se como se estivesse afundando, mais e mais, naquele oceano escuro e gélido de escuridão, a pressão das paredes, o gelo da corrente de ar, a sensação de estar, primeiro flutuando, e então, desaparecendo dentro de sua própria consciência.
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  Nyx recobrou sua consciência alguns minutos depois, ao sentir uma mão pequena empurrar seu ombro esquerdo com força o suficiente para fazer com que os ferimentos espalhados em suas asas e seu tronco latejassem dolorosamente. Um grunhido baixo, e um ofego escaparam por entre os lábios do menino que abriu os olhos, mas não viu nada. Piscou várias vezes, até que conseguisse encontrar algo para focar seu olhar, engolindo em seco e sentando-se de supetão. Tudo ao seu redor pareceu girar, desorientado, mesmo estando no escuro. Ele fechou os olhos com força, e então piscou, uma, duas, três vezes, tentando fazer com que sua visão se ajustasse à escuridão que envolvia tudo ao redor, mas teve pouco sucesso com isso. Mesmo que seus olhos se adaptassem, o breu que os consumia parecia maior, consumindo toda a luz que se arriscava a ser acesa ali. Toda luz, com exceção das sardas estelares da garotinha. 
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  Quando os olhos azuis de Nyx encontraram-se com aquele mapa pontilhado de pequenas estrelinhas na pele da menina, ele ofegou. Não soube dizer ao certo o que tomou conta de seu ser: se havia sido o alívio pela visão de que ela ainda estava ali, que não havia morrido, ou se havia sido o afago de conforto em sua consciência ao perceber que não havia sido sua culpa. Ou talvez, ainda, tivesse sido a certeza crua de que ele não estava sozinho naquele lugar assustador. Fosse onde quer que eles tivessem acabado de cair na Cidade Escavada, ele não estava sozinho completamente. E antes que pudesse se impedir, o menino avançou, cegamente, na direção da garotinha, abraçando-a com força. A garotinha grunhiu, provavelmente com dor, tremendo e tentando afastá-lo para longe, mas Nyx não se importou, porque ela estava ali. Porque ela era real e estava ali com ele. Eles estavam juntos naquele lugar terrível. Ela e ele, contra o que quer que viesse. E mesmo que o menino quisesse apenas chorar e gritar por seus pais, mesmo que Nyx estivesse tentando desesperadamente encontrar uma maneira de desfazer o escudo mental que havia criado e implorar para que seu pai viesse resgatá-lo, ele sabia que seria mais assustador se ele estivesse sozinho. Mas ele não estava e, pela mãe, Nyx nunca havia sentido tamanha felicidade em seu pequeno coração.
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  — Me solta! — ela rosnou baixinho, uma mão empurrando Nyx para trás, e o garoto obedeceu, caindo sentado novamente no chão pedregoso e molhado. Um riso baixinho, uma mistura de medo, alívio e incerteza escapando dos lábios de Nyx. 
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  O menino franziu o cenho, sem conseguir ocultar sua surpresa, e agradecendo profundamente por estarem na escuridão porque ele não queria ofender a garotinha, mas, ao mesmo tempo, sem conseguir conter-se.
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  — Você sabe falar? 
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  Nyx não conseguia enxergá-la na escuridão, mas tinha quase certeza que os olhos grandes e expressivos dela estavam fixos no rosto dele com exasperação. Por alguns instantes, a menina ficou em completo silêncio.
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  — O quê? O que foi que eu disse? Dá para sentir que você tá me encarando… eu acho… consegue enxergar alguma coisa aqui? — Nyx resmungou, um pouco mais defensivo, unindo as sobrancelhas e guiando-se apenas pelas sardas brilhantes da menina. Ela ainda assim não respondeu, e Nyx sentiu um pequeno incômodo de irritação começar a aflorar em seu peito, quer dizer, ela iria mesmo lhe dar um tratamento de silêncio assim, do nada? No meio de uma escuridão daquela? Que bobona… 
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  — Não muito — respondeu a garotinha por fim, sua voz um fio baixo e rouco. Nyx estreitou os olhos, unindo suas sobrancelhas. Ela falava mais devagar, como se não tivesse prática em pronunciar as palavras que queria usar ou como se simplesmente não estivesse acostumada a conversar. Nyx achou estranho, mas considerou melhor não comentar. — Silhuetas só.
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  Ele tentou conter um tremor que percorreu por seu corpo, engolindo em seco ao registrar as palavras da garotinha: silhuetas só. O que aquilo queria dizer? Que eles estavam cercados por objetos ali? Como se estivessem em um corredor? Ou havia outras… coisas por ali? Ele prendeu sua respiração, trincando os dentes, mesmo que estes estivessem batendo uns contra os outros, com o tremor que se apossava de seu corpo. A memória vívida de seu pai lhe dizendo com um tom sério de que a Corte dos Pesadelos possuía um motivo para ser considerada perigosa, o fez ter vontade de chorar baixinho, e implorar por sua mãe. Ao em vez disso, Nyx fez a única coisa que podia, agarrou a barra da blusa da garotinha com força, determinado a não a deixar ir, desesperado para não ficar sozinho no escuro.
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  Considerou o quão irônico aquilo poderia soar para si mesmo: o herdeiro da Corte Noturna, com medo do escuro. Mas não era só isso. Era a estranha movimentação desigual das correntes de ar, que deveriam ser gélidas, mas pareciam ter uma pequena secundária, cálida e pulsante que os envolvia de forma desorientadora, ora presente, ora distante. Era a sensação de estar sendo observado por algo em meio às sombras, e não ter a mínima pista de onde estaria; não poder enxergar aquela criatura. Era a sensação desesperadora de perceber-se completamente vulnerável, desorientado, à mercê de quaisquer que fossem os monstros que rondavam aquele lugar. Era o medo de estar perdido para sempre. E as lágrimas, mais uma vez acumularam-se em seus olhos, obstruindo sua garganta como se ele estivesse engasgado. O tremor agora, completamente esquecido, embora presente, ao levantar-se e tentar acompanhar a garotinha.
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  Ela havia agarrado à frente da roupa dele, e os dois estavam praticamente pressionados um contra o outro, cambaleando juntos, tremendo, e cegamente seguindo para onde quer que a garotinha estivesse enxergando. Ofegos eram sufocados pelo menino, que não queria parecer covarde, mas que estava aterrorizado com a situação. Quando ele inclinou sua cabeça para trás, tentando enxergar os corredores onde ele supunha que seus tios ainda deveriam estar verificando em desespero, Nyx deparou-se apenas com a completa escuridão. Seu estômago se contorceu e contraiu, a bile amarga e pungente subiu para sua língua, a saliva de repente parecia mais espessa e desconfortável, como se não coubesse mais em sua boca e ele estivesse desesperado para expeli-la onde quer que fosse. E então, o menino não conseguiu conter-se, projetando-se para frente, Nyx colocou para fora tudo o que havia comido aquela manhã, assustando a garotinha que o sacodiu um pouco sussurrando entre dentes:
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  — Fica quieto! Tem algo… 
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  Antes que a garotinha pudesse terminar sua frase, os dois escutaram um ruído desconhecido e atemorizante. Era como um pequeno arranhar sobre as pedras, vindo de algo afiado, não alto o suficiente para fazer com que seus ouvidos sangrassem, mas o suficiente para se fazer presente. Um sibilo, seguido do arrastar de um corpo pesado, se movendo no topo da cabeça deles. E então, uma das velas dispostas naquele lugar se acende abruptamente. 
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  A luz ofuscou os dois. Nyx grunhiu, cobrindo seu rosto instintivamente, e a menina soluçou, cobrindo o rosto com sua mão boa caminhando cegamente para trás. Acabou por tropeçar no pé de Nyx, e desabar no chão com um baque alto. Nyx, que ainda estava agarrado à barra da túnica puída da menina, desabou ao lado dela, grunhindo abaixo. 
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  — A gente vai morrer? — sussurrou Nyx para a garotinha, aterrorizado, mas para seu completo desespero, ela não respondeu, apenas se encolheu contra ele, tremendo. Levou alguns minutos até que os olhos dos dois se adaptassem, o de Nyx se ajustou mais rápido do que o da menina, o que era estranho e curioso ao mesmo tempo. 
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  Ele engoliu em seco, colocando-se de pé, instintivamente ajudando a garotinha a se levantar, finalmente compreendendo com uma ponta de surpresa e medo onde estavam. Um túnel, espaçoso e alto, que parecia ter sido cravado na pedra escura das montanhas. Estalactites e estalagmites se espalhavam, tanto pelo teto quando pelo chão, mas algumas pareciam quebradas. Arcos esbranquiçados se abriam um pouco mais à frente, em um formato estranho, formando um semicírculo. E então, permeando toda a estrutura das paredes, havia buracos semelhantes ao que Nyx havia usado para fugir de tio Azriel e tio Cassian, mas estranhamente, com uma largura bem maior do que ele havia esperado ver.
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  Inspirou fundo, sentindo novamente aquele cheiro horrível de enxofre, ferrugem e algo sombrio, perigoso, algo que só poderia pertencer a pesadelos. E por baixo de tudo aquilo, novamente, aquele cheiro doce enjoativo que parecia escorrer de determinados pontos da parede. Nyx franziu o cenho, olhando para a garotinha, buscando com seus olhos azuis alguma coisa que indicasse que ela também estava reconhecendo aquele cheiro esquisito, mas ela estava congelada no lugar, o rostinho empalidecido, os olhos quase esbugalhados, e a pele empalidecida. 
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  — O que foi? — questionou Nyx meio desconfiado, meio assustado.
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  Ela olhou para Nyx, os olhos cheios de lágrimas, como se tivesse acabado de perceber que estava vivendo um pesadelo, e não apenas sonhando. Nyx teve quase certeza que havia sentido o cheiro de urina vindo da garotinha, mas para ser sincero, ele não a julgaria, não quando as palavras que ela sussurrou pareciam significar algo muito pior e assustador do que ele jamais seria capaz de compreender.
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  — É o Poço. — O dedinho trêmulo dela apontou na direção do corredor que desaparecia à frente, inclinado para baixo, para mais fundo da montanha. Nyx engoliu em seco seguindo com o olhar para onde a garotinha apontava, unindo as sobrancelhas. 
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  — O que é o Poço? — Nyx ecoou confuso, sabia que deveria ser algo ruim, pela profundidade e aparência, lembrava a uma prisão, mas muito mais assustadora e perigosa do que ele supunha que poderia ser baseada nas histórias que tia Amren contava-lhe durante os jantares. Porque ali, todas as celas estavam abertas. Nyx prendeu a respiração, sentindo as lágrimas voltarem a marejar seus olhos, agora pingando, pesadas sobre o tecido de suas roupas, sujas e queimadas devido à queda, tremendo no lugar. NYX! AONDE VOCÊ…! 
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  Ele piscou pego desprevenido com o eco retumbante da voz de seu pai, misturando-se atrapalhada, com o desespero de sua mãe, pulsando, vividamente, em sua mente. O escudo mental teria desaparecido? Será que havia sido a queda? Nyx sentiu seu corpo quase amolecer com o alívio que o inundou. Seu coração se acelerou, e o menino estava realmente chorando, quando chamou pelos pais, quando implorou pela mãe em sua mente. Ele se voltou para a garotinha trêmula e terrivelmente silenciosa ao seu lado, quase congelada no lugar, olhos arregalados fixos na entrada do corredor escuro que levava para mais abaixo da Cidade Escavada, pronto para assegurá-la que logo seus pais iriam estar ali para resgatá-los, que não demoraria muito para que todo aquele pesadelo acabasse, mas quaisquer que fossem as palavras que Nyx estava desesperadamente tentando formular, nunca deixaram sua boca, porque, seguindo o olhar da garotinha, Nyx deparou-se com o monstro que os observava.
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  Instintivamente, Nyx agarrou a garotinha, quase a esmagando com o abraço que lhe deu. Deveria ter ouvido algum grito de dor da menina, ele podia sentir o osso exposto de sua mãozinha pressionado contra suas costelas, dolorosamente, podia sentir como ela estava tremendo, ou como sequer parecia estar respirando direito. Seus dedos fincaram-se nos músculos magros, provavelmente deixando marcas para trás, mas a garotinha não fez nada. Estava paralisada encarando fixamente a criatura que se movia com um raspar de ossos arrepiantes. 
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  Não era nada que Nyx havia visto em toda sua vida. Não era nada que ele havia lido escondido na biblioteca na Casa do Vento de sua tia Nesta, tampouco algo parecido com as ilustrações perturbadoras que tia Amren tinha em seu apartamento. O monstro que se apresentava para as duas crianças, cambaleando do final do corredor para a entrada onde eles estavam, era humanoide. Arrastava-se de maneira pesada, como se seus músculos e ossos expostos fossem feitos de puro metal maciço, o elmo que tinha preso em sua cabeça possuía chifres curvilíneos, em uma espiral, enterrando-se na parte de trás de sua mandíbula, quebrando-a e fazendo-a pender para a esquerda, torta, de onde um incor escuro como tinta escorria por entre os dentes apodrecidos da criatura. Sua pele parecia estar deteriorada pela putrefação, revelando partes dos ossos de seu crânio, onde o elmo partira-se com o golpe que deveria ter levado, que o matou. Pedaços de seu corpo deteriorado desabavam no chão, a cada passo que era dado em direção às duas crianças. Preso através de seu peito largo estava um arco imponente e grande, quebrado, e na altura de seus quadris havia uma aljava de flechas de freixo obscurecidas, tanto pelo incor que escorria da criatura quase como suor, como pela deterioração do tempo. 
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  A criatura era alta, larga, com pedaços de seu corpo faltando revelava ossos esbranquiçados, mas ainda assim largos como galhos de árvore. Os olhos cintilavam, um completamente obscurecido pelo mesmo incor que escorria de seus ferimentos grotescos abertos, e o outro, leitoso, deteriorado pela morte que lhe infestou, mas sem devorá-lo por completo, ainda se moviam, e estavam fixos nas duas crianças. Estalos de juntas e ossos rangendo ao deslizar contra os mesmos ecoou baixo pelo corredor do Poço. A armadura que se assemelhava com seu esqueleto, escura como a noite e com peças faltando, onde expunha ossos de verdade da criatura, tilintavam, a cada movimento mais próximo de Nyx e da garotinha, as velas precárias que se espalhavam pelo corredor tremeluziam, frágeis em um prenúncio de que quaisquer movimentos bruscos acabariam por apagá-las.
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  Nyx apertou com mais força os ombrinhos ossudos da garotinha sem perceber, suas unhas cortando e deixando para trás meias-luas sangrentas na pele da menina. Os olhos azuis arregalados do menino, registraram o movimento brusco e descoordenado da criatura ao retirar seu arco quebrado de seus ombros. Um sibilo áspero com as lâminas afiadas arranhando pedras até saírem faíscas ecoou pelo corredor inteiro, e Nyx fechou os olhos com força, sufocando um soluço de seu choro. O ruído, o inspirar da criatura, fez os ouvidos do garoto pulsarem, e por um breve momento, tornarem-se abafados. Ainda assim, ele podia entender cada uma das palavras que a criatura tentava sibilar na direção deles. 
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  — Finalmente… — sibilou a criatura, sua voz ecoando áspera e grave, reverberando pelas paredes com pequenos tremores, carregada por ecos e distorções mais graves, como se possuísse mais de uma voz, rastejando-se para fora de sua boca apodrecida e dilacerada, pingando incor escuro e pungente, como espectros. — Os Grãos Senhores nos honram novamente…  — A criatura deixou que sua língua projetasse para fora, salivando pelo queixo quebrado, e Nyx teria vomitado outra vez, se a garotinha não estivesse o puxando para trás, bem, mas bem devagarzinho. A criatura ergueu seu arco e flecha quebrado, apontando diretamente na direção da cabeça de Nyx, sibilando com uma satisfação perversa. — A Caçada Selvagem agradece.
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  Então a criatura soltou a flecha que riscou o ar na direção das duas crianças.
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  Nota da Autora: para não ficar 30/40 páginas para a betagem, o prólogo foi dividido em duas partes.




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Lelen

Gente, no meio da história eu achei que era uma vez a menininha, já tinha pintado uma cena realmente grotesca com esse “crack” OPASMDFPOASMDPO
Ainda bem que não foi nada do que eu tava pensando e foi “só” um bracinho.
E que bicho feio é esse que apareceu, hein?
Assim, eu acho que não dá pro Rhys, Cassian ou Azriel (talvez o Azriel sim, vai) cobrarem nada de aquietar o facho do Nyx não, eles já se olharam no espelho? Eu hein, é CLARO que o menino ia se meter em confusão, né. E esses tios e pai foram muito meninos, subestimaram (ou será que superestimaram, hein?) os poderes que a necessidade faz surgir e as estratégias que a MUITA vontade de escapar concede HAHAHAH
Como será que o Nyx e a menina vão se livrar dessa, hein?

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