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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Starfall

Escrita porSoldada
Revisada por Lelen




CAPÍTULO 03 • ALWAYS THE MONSTER

Tempo estimado de leitura: 39 minutos

%CERCI% • CORTE INVERNAL

  Estreitando os olhos, ela saltou de onde estava sentada, ajustando o casaco em seu corpo. Tensionou a mandíbula com força, um pequeno músculo saltando em seu rosto delicado com a força que o fizera, os olhos verdes, intensos, desviando-se por uma fração de segundos na direção da entrada do bar antes de voltar a fixar-se na figura obscura e sombria do desconhecido à sua frente. Inspirou com cuidado, bem fundo, tentando controlar o pânico que começava a aumentar em seu peito ao analisá-lo com cuidado. Merda, merda… as asas escuras atrás de suas costas, o tom da pele, ainda que de algum modo empalidecido como se estivesse doente, os cabelos escuros como a noite; um illyriano. %Cerci% exalou por entre os dentes cerrados, um quase sibilo escapando por seus lábios ao levar sua mão esquerda em direção a sua lombar, os dedos biônicos da prótese que usava no lugar que faltava o antebraço e a mão, enroscando-se contra o cabo da faca que mantinha escondida atrás de si. Os olhos dele queimavam com uma mistura de emoções difíceis de serem lidas, mas ela conhecia bem o suficiente aquele tipo de criatura para saber que eles desconheciam qualquer outra coisa que não fosse violência e morte. Eram criaturas cruéis, viscerais e implacáveis.
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  E este não excedia a regra, pelo contrário.
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  O silêncio que pairou entre os dois precedia a violência iminente. Vibrava por sua pele como estática pura, pequenos choques percorrendo os músculos tensionados em um aviso gritante e vermelho do perigo que se encontrava. Ela deu um passo para trás instintivamente quando ele deu um em sua direção. Ergueu o queixo, não por petulância, mas sim por um aviso silencioso, os olhos fixos nos azuis, tentando barganhar aquela situação. Tentou lembrar-se do rosto dele, de alguma forma, ele parecia perturbadoramente familiar. Havia algo na mandíbula bem pronunciada, naquela beleza quase etérea e marcante, algo na postura imponente quase de um comandante, os ombros eretos e tensos, as asas escuras atrás de si contorcendo-se brevemente, por instinto, evidenciando o que parecia ser uma falha — um buraco —, que lhe soava estranhamente familiar. Mas então, todos da Cidade dos Pesadelos eram parecidos. Cruéis, monstros vis e violentos. Não possuíam misericórdia nem mesmo pelos seus; %Cerci% se questionou se ele estava ali para arrastá-la de volta ao poço. Ao buraco escuro ao que era mantida quando estavam entretidos demais com qualquer outra merda para precisarem de sua presença — quando caçá-la em meio a Floresta havia se tornado entediante, quando quebrar seus ossos, um por um, apenas pelo prazer de ouvi-la gritar, não mais os entretinham. Seu coração martelou contra seu peito, quase doloroso, acertando com força e impassividade sua caixa torácica, expandindo-se em demasia e falhando, irregular com a onda gélida de pânico que percorria suas veias.
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  — Pense bem no que irá fazer, Illyriano — avisou com um tom de voz baixo, afiado, sua respiração escapando por entre os dentes cerrados em lufadas pesadas e irregulares de ar, condensando a frente de seu rosto e espalhando-se por seus olhos como uma fumaça. Mechas de seus cabelos, presos na trança, escaparam, enroscando-se por seu rosto, enquanto ela dava mais um passo para trás por instinto. Algo no rosto dele pareceu se tornar ainda mais sombrio, uma promessa silenciosa de violência. Percebeu de imediato que ele não estava ali apenas para uma conversa, nem ela seria misericordiosa a indulgir tal coisa. Ergueu o braço direito, a palma aberta, em um gesto silencioso de “apaziguamento”. — Última chance, dê o fora daqui, e não volte, vou fingir que nunca o vi, saia antes que você acabe incitando uma guerra entre nossas cortes. Você não quer isso, quer?
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  Os olhos azuis do homem cintilavam com algo perigoso, quase cruel. Puro desprezo, e algo mais, algo sombrio e sufocante que ela não gostou nada de ter visto ali.
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  — Você… — ele cuspiu, parecendo vibrar com sua própria fúria.
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  %Cerci% estreitou os olhos, prendendo a respiração ao dar mais um passo para trás, seu pé direito deslizando pelas pedras congeladas, quase roubando-lhe o equilíbrio por uma fração de segundos. A voz dele parecia soar distorcida, como um pesadelo, acompanhada por ecos irregulares em tons mais baixos e arrastados que o dele, alguns mais altos e afiados. %Cerci% exalou, sentindo um tremor percorrer por todo seu corpo, uma onda gélida de medo percorreu por suas veias, fazendo suas entranhas se contorcerem, e sua garganta ficar terrivelmente seca. Sua respiração se acelerou, os olhos levemente marejados queimando com o frio e o próprio medo. Os lábios se entreabriram em uma mistura de choque e tensão.
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  — Você se atreve… — ele sibilou entre os dentes, suas palavras escorrendo com o ódio mal contido, os olhos queimando o rosto dela com intensidade. Poder emanava dele. Ela podia sentir a energia correndo por sua pele como uma névoa escura, putrefata e profunda de pura destruição. Morte, em carne e osso, à sua frente. — Você se atreve a me ameaçar? — sibilou ele dando mais um passo em sua direção.
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  %Cerci% quase sorriu, não por achar graça em suas palavras, mas pela descarga elétrica que percorreu por sua espinha, o alerta gritante, vermelho como sangue sob a palidez ofuscante da neve, pulsando, vívido em sua mente, tornando-se agora incapaz de ser ignorado. Era um ruído baixo, meio arfado, repleto de descrença ao encará-lo com uma ponta de frustração. Ele deu um passo na direção dela outra vez, e desta, ela tomou em suas mãos a faca, os dedos mecânicos da prótese que envolvia outrora o que restara de seu braço esquerdo, girando o objeto com habilidade antes de empunhá-lo, a lâmina apontada para a garganta, dele, sua respiração tornou-se mais pesada, irregular, tensa, escapando por entre seus lábios entreabertos como lufadas de fumaça esbranquiçadas, irregular.
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  Sentiu seu coração martelar com força contra seu peito, um tremor percorreu seus músculos tensionados, e ela prendeu a respiração para manter o antebraço estável. Seus olhos verdes permaneceram fixos no rosto do desconhecido. Havia algo de estranho nele, algo corrompido e defasado. Não apenas perigoso em essência, mas violento como uma tormenta. Crescia ao seu redor como uma energia ruim, pesada, que rastejava pela pele dela como vermes, uma criatura consumida por algo vil, ruim e profundo; era quente, mas seu toque gélido o suficiente para fazer com que seu sangue corresse como lascas afiadas de gelo, para que uma onda elétrica permeada por medo e tensão ajustasse em sua coluna. Sua pulsação martelou contra seu ouvido, o gosto ácido da bile misturando-se com algo metálico, quase ferroso. Havia algo muito errado dele, algo que o fazia colocar-se em um limbo entre este e outra coisa completa. Sombras pareceram projetar-se por seus ombros e mãos fechadas em punhos firmes. As luvas grossas e de um material flexível, porém escuro como a noite, tremiam, mal contendo sua própria fúria. %Cerci% estreitou os olhos, tentando colocar um nome ao rosto.
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  Pensou em shadowsinger, um dos braços direito de Rhysand, e talvez um dos homens mais perigosos que já haviam pisado por aquelas terras; as sombras conversavam com ele, lhe contavam tudo, eram suas amigas. Isso o tornava mortal, mas até onde ela sabia, e isso era muito pouco, Azriel não possuía filhos. Não possuía herdeiros, e aquilo que parecia pairar ao redor dele, como sombras, não pareciam ser apenas sombras. Ela engoliu em seco, piscando algumas vezes, sentindo algo estranho dentro de si o rejeitar, como as polaridades semelhantes de ímãs. Uma força invisível que parecia empurrá-la para longe. O tremor em sua mão pareceu aumentar, mas a peça biônica que substituiu sua mão esquerda permaneceu estável.
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  %Cerci% viu quando os olhos dele repousaram na peça e algo que misturava crueldade e surpresa surgiram por seu semblante austero e ameaçador. Os olhos azuis repousaram nos mecanismos dourados que estalavam suavemente a cada mísero movimento de %Cerci%, antes de voltar sua linha de olhar para seu rosto, mais uma vez.
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  — É você que se coloca como ameaça, illyriano — %Cerci% disse baixinho, erguendo o queixo, não por petulância, mas por mero impulso de ser diplomática, determinada a não desviar os olhos dos dele. Uniu as sobrancelhas, e então, apertou os lábios quando algo pareceu cruzar os olhos dele, ela deu mais um passo instintivo para trás, respirando pesado, a neve que pairava ao redor de ambos se agitando com o vento. A tempestade que Skad previu, pensou ela desviando os olhos por uma fração de segundos do rosto de seu inimigo em potencial para encarar os céus obscurecidos pelas nuvens de um cinzento profundo e pesadas, antes de voltar a encará-lo. — Acha mesmo que não tomaria como ameaça um desconhecido invadindo meu espaço, agindo de forma errática, colocando-se como um problema iminente em meio a um local público sendo um estrangeiro? — %Cerci% questionou com um tom de voz exasperado, mas percebeu rapidamente de que embora a lógica nas ações dele fosse falha, não era porque ele fosse estúpido, mas porque simplesmente não parecia se importar.
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  Sentiu seu estômago se contrair outra vez, o espasmo misturando-se com o tremor enquanto exalava por entre os dentes com um pouco mais de força. Piscou algumas vezes, tentando afastar os flocos de neve que pairavam ao seu redor, e agora acumulavam-se em seus cílios, grudavam em sua pele como um alívio vago e distante ao derreter lentamente, escorrendo pela lateral de seu pescoço e rosto.
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  Ele pausou por um breve momento, o que outrora pareciam sombras dançando ao seu redor, eram, na verdade, algo pior, percebeu %Cerci% com uma ponta de horror. A princípio transmutou-se em formas abstratas, quase pulsando em um ritmo particular e único, envolvendo os braços e os ombros dele, mas agora obscureciam os olhos do desconhecido. Tingiam-no com um preto profundo que corrompia como um todo suas órbitas; %Cerci% sentiu seus lábios se partirem, a mistura de medo e choque nítidas por seu rosto, transparentes como um vidro. Não eram sombras, percebeu tardiamente, eram pedaços de seu próprio braço, desintegrados de si mesmo, reduzidos a cinzas.
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  — Não se lembra de mim? — questionou por fim, e %Cerci% franziu o cenho um pouco mais, dando outro passo para trás, e então mais um, sentindo as solas de suas botas gastas deslizarem pelas pedras cobertas pela neve. Ela lançou um olhar ao seu redor, tencionando a mandíbula, por um segundo, os olhos verdes registraram os olhares que começavam a voltarem-se em sua direção, analisando os dois; curiosos resmungavam entre si como sempre, lançando olhares céticos na direção de %Cerci%, e tensos na direção do desconhecido. Mas não demorou para tornar-se mais tenso, preocupados, eles podiam sentir a violência que pulsava pelo homem a sua frente como uma sombra pesada, projetando-se sobre todos de forma sufocante. Implacável em sua fúria; além da diplomacia e até mesmo racionalidade.
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  Quem diabos era ele, afinal? Pensou ela assustada.
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  — Eu deveria? — A honestidade em sua voz foi gritante, e pairou entre os dois como um corpo putrefato boiando em meio a imensidão de água. Feio, cheirando mal, e impossível de não ser percebido. Os olhos completamente obscurecidos deles parecem apenas acenderem-se com ainda mais raiva, e %Cerci% tremeu. Os olhos, agitados iam para o homem, e então a entrada do bar onde Bóreas estava, ciente de que, a essa altura o Urso Polar já deveria ter a sentido através de sua conexão, ciente de que o desastre realmente aconteceria se ele saísse pela porta.
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  Bóreas era uma criatura antiga, de sabedoria e conhecimentos imensuráveis, já existia antes das Cortes serem formadas, já protegia as fronteiras e vivia sob suas próprias regras antes disso, e continuaria a existir naquele lugar sagrado até mesmo muito tempo depois. Mas ele ainda era apenas um Urso Polar disfarçado sob forma humanoide para encaixar-se sem atrair tamanha atenção. %Cerci% sabia o quanto o mestre e velho amigo poderia incomodar-se com o disfarce, dizia-lhe que o fazia para que %Cerci% já não chamasse mais tanta atenção quanto fazia quando pequena, para que não fosse tratada como estrangeira em um lugar que não parecia hesitar em buscar motivos para isolá-la mais ainda; mas odiava aquela forma. Era limitadora, sufocante e desconfortável para estar sob. Se Bóreas sentisse o perigo, ele viria até ela como sempre fizera, mas viria em forma de Urso. Um Urso Polar Gigante solto em pleno vilarejo tomado por uma fúria cega para defender-lhe seu território? Não sobraria nem mesmo uma alma viva ali, inocente ou não, o fim era certo. Isso significava que as guerreiras de Vivianne viriam, significava que ele seria executado, e a ideia foi o suficiente para a deixar em completo desespero. Não podia perder Bóreas. Não Bóreas.
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  Um riso gélido, furioso partiu do illyriano à sua frente, e %Cerci% piscou voltando seu olhar para ele. Grunhiu baixinho, dando alguns passos para trás, à sua esquerda, a neve levantando-se e arrastando-se com suas botas com a força que ela se obrigou a movimentar-se quando percebeu que ele havia se aproximado demais. Manteve a faca empunhada, firme, apontada para o pescoço dele. Ela viu a maneira com que os olhos dele se acenderam com fúria mal contida ao absorver as palavras dela. Viu como sua frustração pareceu aumentar a seu limite com incredulidade e desprezo, com a percepção do que ela havia dito: não o conhecia. Não tinha ideia de quem ele era. Via-o como era apresentado agora: um desconhecido, desesperado para iniciar uma guerra que sequer tinha consciência de que faria.
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  — Quem é você? — ela questionou baixo, um sussurro quase inaudível, mas genuíno, permeado por medo e choque, tentando encaixar o rosto dele em alguma lacuna de seu passado. Tentando reconhecê-lo. Ela piscou, algo pesado se formando por seu tronco, corroendo seu peito como uma avalanche desenfreada, soterrando todo o resto para aquele único ponto focal em sua frente. Sua garganta pareceu ficar ainda mais seca do que outrora, raspando com a velocidade que sua respiração escapava por entre suas narinas e dentes, a pressão em seu peito espalhou-se por seus olhos, embaçando-os levemente quando ela finalmente conseguiu colocar o rosto dele em uma das lacunas de sua mente; um corpinho pequeno, aterrorizado, com olhos esperançosos, segurando sua mão com força enquanto corriam pela escuridão do Poço. Ela arfou, piscando algumas vezes, tentando clarear sua visão ao encará-lo, em choque. — Não, não pode ser você, ele era só… — balbuciou tentando dar mais um passo para trás, mas percebeu-se congelada no lugar.
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  Seu choque foi gradativamente substituído pela sensação sufocante de culpa e frustração quando ele soltou um riso; era uma risada cruel, baixa, controlada, que percorreu por sua pele como um arrepio nauseante, um aviso silencioso do perigo que ela estava. O garotinho que ela havia deixado para trás, em meio ao completo pânico de ser capturada pelos guardas de Lorde Thanatos, o menino que atormentava seus pesadelos mais profundos mesmo após tantos anos, havia se tornado uma criatura de imensurável poder, mas não menos monstruosa do que o guerreiro caído da Caçada Selvagem. Os olhos verdes dela se encontraram com os completamente tingidos de preto dele, tentando buscar alguma coisa, qualquer coisa do que poderia ter restado do garotinho gentil que havia oferecido sua amizade a tantos anos atrás. Mas não achou nada; o que quer que ele tenha sido, e o que quer que ele tenha se tornado, eram duas coisas completamente diferentes, monstruosas demais para restar algo bom ali.
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  — Você não tem ideia de quanto tempo eu esperei por isso — ele rosnou entre dentes, o sorriso largo, amargo e afiado como navalhas.
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  %Cerci% encolheu-se instintivamente, o tremor finalmente alcançou sua mão, mesmo biônica e projetada para se manter estável. Os dedos metálicos pareceram contorcer-se, reconhecendo os estímulos contraditórios que recebia. O impulso de lutar e o de correr, travava-a no lugar sem saber ao certo o que fazer. Ele avançou na direção dela, passos comedidos e elegantes, como um fauno em território familiar, e não o estrangeiro que se portava alguns minutos atrás. %Cerci% trincou os dentes com força, erguendo o queixo de maneira desafiadora, tentando manter a faca estável apontada para o pescoço dele, mas as lágrimas que queimaram por trás de seus olhos verdes evidenciavam diferente história: evidenciaram medo. Puro medo, dele. E ele parecia estar adorando a sensação.
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  — Ver o horror em sua expressão ao reconhecer-me um pouco antes de eu finalmente te matar — ele cuspiu, e %Cerci% tensionou sua mandíbula com força.
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  A culpa venenosa e pungente que a corroía poderia ter lhe causado uma letargia gritante, poderia ter congelado seus músculos e retardado suas reações, mas seu instinto de sobrevivência sempre falaria mais alto.
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  — Se o fizer, irá construir não apenas a vala em que deitará, mas a de muitos outros inocentes aqui, é o que você quer? — avisou, uma última vez, tentando manter sua voz estável, mas a maneira com que havia escapado de sua garganta, em meio a um arfar sem ar, trêmula ao seu final, irregular e terrivelmente vulnerável, não parecia ter o convencido de que aquilo era uma péssima ideia, parecia apenas tê-lo incentivado mais.
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  — Posso viver com isso — cuspiu ele, arrancando as luvas de suas mãos. Antes que ela pudesse responder-lhe algo, avançou em sua direção, implacável.
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  %Cerci% soltou um grunhido alto, cortando o ar a frente da garganta dele, antes de lançar-se para a esquerda, rolando por sobre seu ombro, e girando a tempo de lançar a faca de sua mão biônica para a mão de carne, e agarrar, agora com a mão livre, o pulso dele. Os olhos verdes dela se arregalaram um pouco mais, uma mistura de surpresa e tensão surgindo por seu corpo quando observou o metal deliberadamente ser envolto por aquela camada estranha de cinzas, antes de parecer ser corroído, bem lentamente, enferrujando o metal, desgastando-o. Não doía, pois Sagan, o assistente de Thesan da Corte Crepuscular, havia tomado cuidado o suficiente para não ligar suas terminações nervosas com o objeto, apenas os impulsos musculares e dos neurônios para que lhe fosse garantido o movimento, mas observar o metal lentamente enferrujar-se apenas com o toque dele, foi o suficiente para fazê-la perceber que, o que quer que ele tenha sido no passado, o garotinho que ela erroneamente havia deixado para trás quando entrou em pânico com a possibilidade de ser morta por aqueles que a mantinham cativa, havia desaparecido. Completamente.
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  O que estava â sua frente era um monstro, corroído por seu próprio ressentimento e fúria desenfreada. Um monstro que corroía e apenas tomava; e como tal ela o iria parar. Se não por si mesma, com a certeza de que ele não iria destruir a Corte que a havia acolhido e oferecido uma casa. Se não por ela, por seu Grão Senhor, por Bóreas… por Skad. %Cerci% trincou os dentes com um arfar baixo, dando alguns passos para trás, tentando colocar distância entre ela e o illyriano, antes de chutar com força a lateral do joelho dele. Ouviu-o gritar com o choque do golpe, mas não se deixou parar, usando como apoio o joelho dobrado dele, %Cerci% apoiou o seu pé esquerdo, usando-o como alavanca para alçar-se para cima, passando as pernas ao redor do pescoço dele, travando-as ali com força. Sentiu quando as mãos dele agarraram suas roupas, tentando puxá-la para longe de si, tentando arremessá-la de volta ao chão. Gritou entre dentes, quando tentou fincar a faca dela no pescoço dele, mas ele a impediu, redirecionando-a e fazendo-a fincar a faca em sua coxa. A dor explodiu por trás de seus olhos, e o aperto de suas pernas ao redor do pescoço dele afrouxou o suficiente para que ele conseguisse agarrar o colarinho de sua jaqueta.
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  %Cerci% tateou seu sinto arrancando um fio resistente de lá, apesar de fino, e então enroscou no pescoço dele com força. Não teve tempo para fazer nada se não agarrar as duas pontas do fio com força, quando ele finalmente conseguiu arremessá-la na direção do chão. Um grito abafado escapou do fundo de sua garganta quando seu corpo se chocou com violência contra o chão. O ar foi brutalmente roubado de seus pulmões, a dor a cegou por um breve momento, e tudo o que ela conseguiu fazer foi tossir convulsivamente. Suas costas doeram profundamente, imobilizando-a em seus movimentos, ao tentar rolar para o lado, colocando-se de barriga para baixo, piscando algumas vezes sentindo-se desorientada, os cantos de seus olhos obscurecendo-se por um momento, ao passo que seus ouvidos pareceram ficar abafados, martelando apenas sua pulsação de forma contínua.
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  Enroscou a linha em seus dedos, enrolando-a, tentando criar tensão o suficiente para puxá-la em sua direção antes que ele a alcançasse, mas não foi rápido o suficiente. Com um agitar de suas asas largas e escuras, levemente curvadas como as de um morcego, ele alçou voo o suficiente para deslizar pelo chão antes de agarrá-la pelo pescoço e então jogá-la novamente contra a parede mais próxima. %Cerci% tentou agarrar-se ao punho dele, sentindo os dedos ásperos e calejados fincaram-se contra a pele de seu pescoço, um ardor desconfortável se espalhou por sua pele, as unhas fincaram-se na carne do pulso dele, arrancando sangue, tentando chutá-lo desesperada para se libertar, antes que ele a arremessasse para trás outra vez.
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  %Cerci% gritou quando a dor se espalhou por seu corpo inteiro. O choque reverberou por suas costas ao acertar a parede de pedras envolta por neve e limo. As pedras da parede se desfizeram, caindo sobre o corpo dela quando ela desabou outra vez no chão, cobriram-na como uma coberta insuportável e dolorosa, acompanhados pela neve pesada que se projeta sobre ela como um manto. Por um momento tudo o que ela conseguiu fazer foi gemer de dor, tateando cegamente o chão. Os músculos estavam trêmulos, espasmódicos, ao tentar rastejar para fora da pilha de pedras. Sangue quente e pegajoso, escorria por suas têmporas e seu ombro esquerdo, acumulando-se em suas roupas, a dor em sua coxa ardente como brasas pressionadas com metal sob sua pele. Tossiu algumas vezes, as lágrimas escorrendo por seu rosto não porque estava realmente chorando, mas porque havia se acumulado em seus olhos com o impacto violento.
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  Cuspiu o sangue que se acumulava em sua boca, a tatuagem que a ligava com Bóreas pareceu queimar, intensamente, em um aviso silencioso de que seu parceiro já sabia o que estava acontecendo, e que não demoraria a projetar-se porta a fora do pub e instaurar sua fúria destrutiva. À distância, ela pôde ouvir o rugido vindo do Urso Polar, o que apenas aumentou a urgência em seus movimentos. Rastejando-se para fora da pilha de destroços e neve, %Cerci% aproveitou a momentânea distração do illyriano, para girar o pulso que ainda se agarrava a corda, soltando um grunhido entre dentes, trêmula, ao rolar para frente, e então passar a corda ao redor de sua cintura, prendendo seu braço atrás de suas costas, firme, antes de pisar com força na corda tensionada, finalmente conseguindo o efeito desejado: sufocá-lo.
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  Mechas de seus cabelos escapavam de sua trança, pendendo a frente de seu rosto, emoldurando-o em meio ao sangue que agora escorria por sua pele, tingindo-a de vermelho e pingando ritmadamente sobre as roupas bem feitas da guarda da Corte Invernal, a respiração pesada e dolorosa, expandia seu peito com força e então o contraía, o tremor visível, enquanto ela enrolava um pouco mais a corda ao redor de seu pulso, caminhando mais um passos para frente ao ver o illyriano desabar no chão com força. Ele levou suas duas mãos em direção a corda presa em seu pescoço, agora, sufocando-o, os dedos tingidos pelas cinzas que pulsavam ao seu redor como sombras abstratas, enroscaram-se contra a linha, apertado o suficiente para tentar arrebentá-la, mas sua expressão torna-se ainda mais sombria quando percebeu com surpresa que não podia quebrá-la, quando não podia quebrá-la. A prata fundida nas cordas queima as mãos de %Cerci%, mas ela não as solta, os olhos fixos no illyriano com intensidade, sangue escorrendo por entre seus lábios e a lateral de sua têmpora.
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  O grito que rompeu da garganta dele foi uma mistura de rugido feral quase como uma criatura selvagem ao se deparar com uma armadilha, ao mesmo tempo permeada por fúria pura. %Cerci% sustentou o olhar dele com impassividade, fria como a neve que envolvia seus pés, sangue escorria por entre seus dentes, pingando ritmadamente contra a frente de sua roupa, escorrendo por entre sua clavícula e desaparecendo para dentro de seu decote. Sua respiração irregular e pesada, escapando como lufadas por entre seus dentes, o tremor presente em sua pele. O queixo erguido desafiadoramente, observando-o subjugado no chão, sustentando os olhos completamente obscurecidos do illyriano com uma determinação contida.
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  — Não posso mudar o passado — ela cuspiu as palavras, sangue escorrendo pelos cantos de seus lábios, as mechas revoltas, agitadas pelo vento gélido, pendendo por sobre seus olhos e grudando contra a lateral de seu pescoço. As sobrancelhas unidas, as sardas cintilando suavemente com aquele brilho etéreo como estrelas por sua pele, intensificando as íris verdes de seus olhos. — Mas isso aqui é entre você e eu, mais ninguém — Puxou com um pouco mais de força a corda, fazendo-o erguer seu queixo bruscamente para cima. — Desiste — comandou ela com uma ponta de urgência.
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  O Illyriano soltou um riso cruel, frio como lascas de gelo que percorriam por sua corrente sanguínea, os dentes brancos impecáveis expostos de maneira ameaçadora. %Cerci% percebeu, em meio a violência que a cercava como um manto sufocante de que, apesar de tudo, o illyriano era deslumbrante — inegável, até. Os cabelos escuros como a noite, desalinhados pelo vento, pendiam por seu rosto de traços elegantes e finos, angulosos, emoldurando sua face com elegância. Alto e imponente, com algo de majestoso nele, algo que informava, ainda que silenciosamente, que ele não fazia ideia do que era servir alguém — ou do medo de ter sua vida reduzida a uma mera compreensão de objeto sobre si. Algo que a fez perceber que ele nunca havia tido que lutar para ser livre; ele nasceu assim, via-o como direito, não uma dádiva. O ressentimento começou a aflorar por seu peito, venenoso, pungente, espiralava por seu corpo como ondas atingindo a beira-mar, poderiam ser lentas, poderiam demorar um pouco, mas eram presentes, constantes. Ele era lindo, mesmo entre os faes, era sem sombra de dúvidas digno de um rei, os lábios cheios e curvados naquele sorriso selvagem, cruel e desprovido de alma. Ombros largos e corpo atlético, evidenciando sua familiaridade com batalhas. E tudo o que ela conseguiu sentir foi o absoluto e mais profundo nojo por quem ele era. Pelo que ele era.
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  Aquele Illyriano era igual a todos os outros: poderia ser belo a princípio, mas os olhos obscurecidos e desprovidos de alma lhe revelavam tudo o que precisava saber. Ele era um monstro, igual a todos os outros da raça. O rugido voraz de Bóreas ecoou à sua direita, o corpo pesado chocando-se contra o chão enquanto disparava de forma desenfreada em direção onde os dois estavam. %Cerci% não precisou olhar na direção de onde o barulho vinha, para saber que ele havia se transformado. Os gritos assustados dos moradores do vilarejo, o eco de casas sendo obliteradas pelos caminhos, das patas pesadas de Bóreas chocando-se contra o chão eram o suficiente para que ela soubesse que ele estaria ali em cinco, quatro, três…
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  O rugido alto, de ensurdecer qualquer um, ecoou atrás de si, o hálito cálido e fétido da criatura, uma mistura de álcool, sangue e carne crua espalhou-se por suas costas, invadindo suas narinas com o ar gélido que pairava ao seu redor, aquecendo de sua cabeça até os pés. O eco reverberou pelo espaço enquanto o Urso Polar ergueu-se atrás de %Cerci%, sua sombra projetando-se.
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  O sorriso do illyriano pareceu desaparecer gradativamente, ao passo que o de %Cerci% surgiu. Havia uma ponta sombria de satisfação em observar o rosto cruelmente belo dele se contorcer com uma tensão outrora inexistente ao compreender o motivo da presença de Bóreas atrás dela. %Cerci% torceu o pulso mais uma vez, puxando com mais força a corda, os dentes trincados com força, os olhos queimando o rosto dele com intensidade. Ela observou quando as órbitas dos olhos dele aos poucos começaram a esbranquiçar novamente, revelando por trás daquele brilho escuro profundo as íris azuis intensas outra vez. Mas ele não estava feliz, pelo contrário, a fúria que envolvia seus traços finos e elegantes parecia apenas mais pungente, mais tátil. %Cerci% percebeu de imediato que nunca haveria uma trégua ali; ele era seu inimigo, e não pararia até que conseguisse matá-la. Então que ela o fizesse primeiro.
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  — Eu avisei — ela disse, severa, contida como uma brisa antes da tempestade se aproximar. Bóreas grunhiu baixo, o eco de seu rosnado reverberando como vibrações ao redor dela, familiar como sua própria respiração. Sentiu quando o Urso Polar arreganhou ainda mais os dentes, caminhando em direção do illyriano. %Cerci% não fez menção em comandar o Urso Polar a parar, não fez menção de soltar o illyriano, apenas o observou, severa, impassível como o gelo que congelava o rio agitado abaixo. O chão pareceu tremer a cada passo de Bóreas.
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  Então um risco metálico cortou o ar, seguido pelo riso nasalado do illyriano. %Cerci% sentiu quando a adaga rompeu sua corda, libertando o illyriano de sua armadilha, e a fazendo dar um passo para trás, cambaleando. Bóreas rugiu alto, virando a cabeçorra na direção de onde a adaga havia partido, os dentes arreganhados se fechando com uma mordida violenta no ar. Mas o outro illyriano, este coberto por sombras de fato, foi mais rápido, e já havia deslizado pelas pedras cobertas de neve, girando a espada no ar em um arco elegante antes de cortar a pata direita de Bóreas. O rugido de dor do Urso Polar foi ensurdecedor, e %Cerci% sentiu, como se fosse em si mesma, o corte. Sua pele se rompeu, o sangue encharcou seu antebraço pingando ritmadamente contra as pedras. Foi tomada por uma fúria cega, uma violência primal e selvagem que era residual de Bóreas e sua natureza.
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  Shadowsinger.
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  Os olhos dourados de Azriel, o braço direito de Rhysand, fixaram-se no rosto de %Cerci% com uma mistura de frieza contida e brutalidade premeditada, mas por uma fração de segundos, ela percebeu uma mistura de surpresa e até mesmo cautela. Não importava. Lançou-se contra ele como quem lançava-se ao fogo cegamente, determinada a ser queimada. Um zunido metálico ecoou muito perto de sua orelha esquerda, antes de atingir a murada de pedras da ponte. %Cerci% lançou-se contra o chão, girando para a direita, usando seu pé como uma alavanca para jogar neve ao ar, propositalmente tentando cegar Azriel, enquanto arrancava com um grito selvagem a faca entalhada em sua coxa. Girou-a no ar antes de acertar em cheio a parte de trás dos joelhos de Azriel.
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  Shadowsinger grunhiu alto, girando a espada novamente em um arco, cambaleando para a esquerda, mais surpreso pelo ataque que %Cerci% havia conseguido deferir-lhe do que pela dor que se espalhou pelo membro machucado. Bóreas rugiu outra vez, avançando na direção de Azriel. Os dentes grandes e afiados expostos, mordem desta vez, a espada, tentando quebrá-la ao meio. Mas Azriel, mais uma vez, foi mais rápido. Girou o pulso forçando a espada a ser disposta horizontalmente e então puxou com violência para a esquerda, cortando a lateral da boca e bochecha de Bóreas. %Cerci% gritou com a dor lancinante que percorreu por seu rosto, o corte abrindo-se, igualmente, no canto de sua boca, enquanto braços fortes e firmes enroscavam-se como serpentes traiçoeiras em seu tronco, imobilizando-a. O illyriano, o garotinho que ela havia deixado para trás em meio a seu pânico há tantos anos, agora a tinha presa em seus braços. A pressão em seu pescoço era dolorosa enquanto ele arfava entredentes contra a lateral de seu ouvido direito. Dedos fincados na pele de sua mandíbula, dolorosamente, seu sangue encharcando as mãos dele, escorrendo pelo antebraço do illyariano, enquanto ele puxava sua cabeça para trás com força.
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  — Agora você paga pelo que roubou de mim… — rosnou o Illyriano.
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  %Cerci% o encarou com o canto dos olhos, queimando, a fúria contida ali, enquanto engasgou-se com o sangue que se esvaía do novo ferimento. Bóreas rugiu com mais raiva, preparando-se para avançar na direção de Shadowsinger, no momento em que uma voz terrivelmente familiar, e imponente retumbou pelo caos causado pelo illyriano, e por Azriel Shadowsinger, o braço direito de Rhysand, o Grão Senhor da Corte Noturna.
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  — Já basta! — A voz frustrada, imponente, de Kallias reverberou pelo espaço.
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  O Grão Senhor da Corte Invernal saltou elegantemente no chão enquanto a neve que espiralava ao seu redor finalmente se dissipou. Os olhos azuis cristalinos, intensos, focaram imediatamente no rosto de %Cerci%, um comando silencioso passando-se pela expressão impassível e implacável de seu grão senhor que a fez quase rugir com frustração. Sabia que esta não era sua reação, mas a de Bóreas, a frustração e a necessidade de seguir um comando de uma criatura como Kallias sendo um animal selvagem como era. Mas ainda assim, %Cerci% trincou os dentes, erguendo deliberadamente para o alto, em rendição, mesmo que seu orgulho ferido a impossibilitasse de aceitar tal coisa, mas o illyriano não a soltou. Shadowsinger estreitou os olhos, ainda com o olhar fixo em Bóreas, o Urso Polar estava com os pelos esbranquiçados eriçados, grunhindo, e com os músculos gigantes tremendo, visivelmente furiosos.
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  — Chame-o de volta, %Cerci%. Agora — Kallias comandou sem deixar espaço para argumentação para %Cerci%.
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  Ela, resignada, voltou a linha de seu olhar para o Urso Polar. Com os braços do illyriano ainda presos em seu pescoço, %Cerci% assentiu em silêncio em um comando para Bóreas voltar a sua forma humanoide. Bóreas, é claro, resistiu aquela ordem, não era ele que seguia as ordens, era %Cerci% que os fazia, mas quando os braços do illyriano apertaram-se mais ao redor do pescoço de %Cerci%, fazendo-a engasgar-se com o sangue de seu novo ferimento, o Urso Polar Gigante grunhiu selvagem, mantendo os olhos no illyriano atrás de %Cerci%, retornando a sua forma humanoide de dois metros e meio. Os olhos prateados de Bóreas fixaram-se como adagas no semblante do illyriano, sem mover-se. Kallias, todavia, voltou sua atenção para Shadowsinger, impassível, uma expressão que deixava claro que aquele incidente não lhe passaria despercebido, ou sem consequências.
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  — Peça ao seu sobrinho para que a solte, Shadowsinger — Kallias pediu, mas a frieza que pairava em sua voz não era similar à de um pedido, mas sim um aviso silencioso. Um comando que pareceu fazer Shadowsinger, mesmo com todo o seu orgulho illyriano, pausar. Aquilo havia acabado de se tornar um incidente diplomático sério, do que apenas uma briga de rua entre dois desconhecidos. — Não terei membros da minha corte ameaçados pelos seus, por mais que os considere aliados, lembre-se que o meu respeito se restringe ao que vocês oferecem em retorno. Não lhes devo nada, portanto não faça uma dívida inconsequente.
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  Azriel tencionou a mandíbula com um estalo, um músculo projetando-se pela lateral da mandíbula bem marcada, ao voltar o rosto bonito na direção de seu sobrinho. Os olhos dourados repousaram no rosto de %Cerci% por um momento, e então, suas sobrancelhas grossas se ergueram brevemente, uma mistura de desconfiança e surpresa surgiram por seu semblante ao perceber o corte que se abria no canto da boca da jovem. %Cerci% viu quando ele lançou um olhar breve na direção de Bóreas, e então novamente para o rosto de %Cerci%, parecendo compreender ainda que superficialmente, o não dito ali. Algo pareceu cruzar seu semblante, algo que parecia ser calculado e deliberado, quase estratégico; %Cerci% se questionou se ele estaria anotando-a como uma potencial ameaça para a Corte Noturna. Ela teria rido, amarga, se o antebraço do sobrinho de Azriel não estivesse lhe esmagando a traqueia.
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  — Nyx, solte-a — Azriel comandou, a voz baixa, mas severa. %Cerci% estreitou os olhos ao ouvir o nome. Nyx? Como em Nyx, o filho dos Grãos Senhores da Corte Noturna? O gosto metálico do sangue que invadia-lhe a língua pareceu se misturar com o amargor pungente da bile de seu estômago, sentindo sua saliva acumular-se em sua boca, ao passo que a náusea se tornava mais intensa. O garotinho no poço, o illyriano que agora a tentava matar… era Nyx Archeron. O filho de Feyre Archeron, talvez uma das mulheres, se não a feérica mais poderosa que já havia andado por Prythian. A Grã Senhora Feita.
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  Mas Nyx, por sua vez, não a soltou. Suas unhas fincaram-se com mais força contra a pele delicada de sua mandíbula, as unhas cortando o tecido delicado, marcando-a com meias luas, ao caminhar para trás, arrastando-a consigo. Azriel pareceu ficar surpreso com a reação do sobrinho, e %Cerci% sentiu o desprezo borbulhar por seu peito — por que diabos Azriel Shadowsinger, o braço direito de Rhysand, ficaria surpreso com aquilo? Mentir e deliberar não eram seus moldes? Crueldade e violência não eram parte de seu sangue maldito? Eles não eram os monstros que se escondiam nas sombras dos pesadelos apenas à espera do momento certo para atacar? Parecia adequado.
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  — Ela é minha — retorquiu Nyx, a voz entre dentes, sibilada, acompanhada por aquele eco provindo das profundezas dos pesadelos que os assombravam, projetando-a em diferentes tons, como se gritos de condenados o acompanhassem como um lembrete de seu eco, de quem era, e do poder que possuía. Morte encarnada, igual ao pai. %Cerci% sentiu vontade de rir, de desespero talvez, ou de pura frustração. Ela tentou se debater contra o aperto de Nyx, mas os braços dele ao seu redor eram como barras de ferro puro, não a permitiam fazer nada, sequer respirar. Seus pés escorregaram contra a superfície lisa das pedras envoltas pela neve e lama, quase desabando contra Nyx quando ele a empurrou junto consigo.
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  — Não foi um pedido, Nyx — Azriel retorquiu, mais severo desta vez, mas Nyx soltou um riso nasalado, desafiador.
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  %Cerci% encarou Bóreas em silêncio, erguendo seu queixo como quem tentava inspirar o máximo de oxigênio que poderia, sentindo a pressão dolorosa em seu peito aumentar gradativamente, os cantos de seus olhos obscurecendo-se com a brutalidade imposta. %Cerci% assentiu para Bóreas, que pareceu trincar os dentes com um grunhido, controlando seu temperamento para não avançar e arrastá-la para longe dali — sabia que ouviria um belo sermão se sobrevivesse a isso, uma parte de si mesma estava até mesmo tentada a não sobreviver para não ter que o ouvir, mas que escolha tinha? Que escolha possuía o restante quando Nyx, o herdeiro da Corte Noturna, parecia determinado em matá-la? O que quer que ela fizesse, acabaria com ela, de joelhos, a frente do maldito Grão Senhor e da Grã Senhora da Corte Noturna, a espera de sua sentença de morte.
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  Trincando os dentes com um grunhido, %Cerci% agarrou os braços de Nyx com força, seu antebraço biônico estalou alto ao travar no membro, antes de usar toda a força de seu corpo para lançar-se para a esquerda. O movimento pareceu pegar Nyx de surpresa, ainda focado na discussão com seu tio, que não lhe deu tempo o suficiente de reação. %Cerci% alavancou sua perna esquerda contra a murada da ponte, usando todo seu peso, e o de Nyx para empurrar a si mesma, e a ele, para fora da ponte, em direção ao rio congelado. Ouviu quando seu Grão Senhor chamou por seu nome, uma advertência nítida em seu tom de voz, mas já era tarde demais.
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  Nyx não a soltou, mas engasgou-se com o movimento inesperado. A queda abriu-se abaixo deles, e ela ouviu quando ele agitou suas asas. Mas já era tarde demais. Usou seu peso e o dele para empurrá-lo para baixo, conectando seus dentes com toda força contra o antebraço dele, obrigando-o a soltá-la com um grito, quando os dois se chocaram com força contra a corrente gélida e sufocante do rio torrencial.
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  Então, havia apenas sangue, por todo lugar, em tudo.
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  Nota da autora: obrigada por ter lido, a minha depressão bateu nessas duas últimas semanas, e tá sendo uma merda tentar me concentrar em algo, mas o esforço ao menos me mantém em rotina.




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Lelen

AAAAI, O KALLIAS APARECEU. MEU LINDÃO. MEU JACK FROST DOS FEÉRICOS <3
BOTA ORDEM NESSA CASA, HOMEM!
E a audácia do Nyx em estar totalmente “foda-se” pro caso de iniciar uma guerra entre cortes? E QUE DIABOS DE SANGUE FOI ESSE? E TANTO SANGUE ASSIM? O MENINO EXPLODIU? WHAAAAAT?
E assim, só vou deixar aqui registrado que: por mim você pode matar Prythian INTEIRA, mas deixa o Bóreas quietinho e vivo. E feliz. NÃO MACHUCA O URSINHOOOOO.
Vamos ver no que vai dar o próximo capítulo. E agora que o Nyx encontrou a Cerci, o cara lá do Poço que eu já esqueci o nome vai ficar p da vida? Ou será que ele estava contando exatamente com essa desobediência do Nyx pro plano dele? /hmmmm

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