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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Starfall

Escrita porSoldada
Revisada por Lelen




CAPÍTULO 02 • WHEN THE SNOW FALLS

Tempo estimado de leitura: 46 minutos

SKAD • CORTE INVERNAL.

  O peso do pingente em suas mãos parecia maior do que ele desejava que o fosse, e uma parte de si, continha com muita dificuldade o desejo de simplesmente estender a ela. Dizer-lhe em um sussurro “tome-o, é teu” com a esperança que ela compreendesse as palavras por trás de seu gesto, com a esperança que ela o aceitasse, e tornasse sua
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  Quantas vezes ele não havia fantasiado com algo assim, no segredo da noite, e na privacidade de seus aposentos longe de todos? Quantas vezes havia fantasiado o rosto dela, a maneira com que ela sorriria para ele? Como o tocaria ou amaria? E uma parte de Skad tinha quase certeza que ela o faria. Uma parte dele tinha quase certeza que se ele tivesse tido coragem o suficiente para dizer exatamente como se sentia, talvez, ela o olhasse diferente do que o fazia agora, com aquela expressão serena e afeto platônico. As mãos dele envolveram com mais força o pingente, sentindo algo em sua garganta arder. Ele detestava aquele olhar. Detestava a maneira com que ela podia simplesmente enxergar nele um bom amigo e não… não o que ele queria que ela visse também. 
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  E agora, marchava como um condenado, em direção à Fronteiras da Corte Invernal para conhecer sua futura esposa. Supunha-se que deveria estar feliz ao menos, não precisaria se preocupar com o futuro e teria uma aliança com uma das Cortes mais poderosas de toda Prythian. Até mesmo havia ouvido que sua futura esposa era na verdade deslumbrante em beleza. Como ele poderia opor-se a isso, certo? Embora beleza não fosse tudo, não ajudava, afinal? Mas o que sua mente havia se resignado a aceitar, e o que seu coração dolorosamente ansiava, eram dois extremos opostos determinados a dilacerá-lo. 
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  Skad soltou um chiado entre seus dentes, impaciente. Puxou abruptamente as rédeas de seu cavalo, ignorando o grunhido parte soluço exasperado que Lumia soltou em resposta com a movimentação brusca de seu gêmeo, ele saltou em direção ao chão. Indicou com uma expressão neutra para os guardas prosseguirem, apenas murmurando que desejava andar. Sua irmã gêmea, é claro, não pareceu convencida com a súbita vontade de andar que Skad havia tido, pelo contrário, por um segundo, os olhos azuis como os de Kallias, o pai deles, pareceu enxergar a alma de Skad, inquisidores e repletos de um aviso silencioso. Não se atreva, seu olhar parecia querer dizer, mas Skad se atrevia, e muito
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  Estreitou os olhos sustentando o olhar da irmã, observando o trenó deslizando por entre a neve e levá-la consigo, desaparecendo dentro do túnel de árvores altas e verdes escuras, pontilhadas pelos flocos de neve que desabaram do céu, suave e espectral. O olhar foi quebrado pelas costas do trenó de madeira branco, com as inscrições e runas que representavam a família do Grão Senhor Invernal. Skad havia passado tempo o suficiente estudando-as e decorando-as para lembrar-se de olhos fechados o que diziam. Porque estas pesavam em seus ombros, tencionou a mandíbula por um momento, seu olhar repousando na trilha que se abria por entre as árvores, antes de piscar, afastando tais pensamentos de sua mente. 
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  Permitiu-se caminhar com propósito por entre a neve, até que ela estivesse ao seu lado.
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  — Está com aquela expressão de novo — Skad murmurou, inclinando-se à direita dela, com um tom forçado de divertimento, embora seu hálito cálido tivesse tocado a parte de trás da orelha dela, afastando alguns fios de cabelo que repousavam, soltos e selvagens, no ombro direito, ela não pareceu surpresa, só era muito sensível, especialmente na região do pescoço, então ele sufocou um riso quando ela tremeu. Ela cheirava a flores selvagens, canela e alguma outra coisa que ele nunca soubera dizer com exatidão o que era, mas que era único dela; cheirava muito bem. Ele a viu mover sua mandíbula, tentando ignorar o comentário dele com uma expressão neutra e falsamente tranquila. Mas eram seus olhos que o mantinham cativo; tempestuosos e tão… vivos. — Isso tudo é porque teve que deixar Boreas para trás? — Skad especulou, dando um passo mais para a direita, e então caminhando ao lado dela. 
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  Skad não conteve um sorriso satisfeito ao observá-la revirar os olhos, esforçando-se para não o encarar. Mesmo que ela estivesse com uma expressão neutra, seus olhos sempre a traíam, seus batimentos sempre aceleravam, e seu cheiro sempre expunha o que ela sentia. Estava irritada com o comentário dele, isso era perceptível, mas igualmente, parecia incomodada com algo a mais, algo que a havia deixado melancólica, até mesmo preocupada. Skad uniu suas sobrancelhas, questionando-se internamente o que poderia tê-la deixado assim tão incomodada, e então, uma parte traidora dentro de seu peito ousou encher-se de esperança, talvez, ele a tivesse julgado mal, talvez o seu incômodo fosse sobre outra coisa, poderia ser, não poderia? Ela poderia estar… 
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  — Está com ciúmes, %LaFay%? — Skad disse tentando ocultar um sorriso torto, voltando a linha de seu olhar na direção dela, e finalmente, ele tinha sua atenção para si. 
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  %Cerci% o encarou, estupefata, mas nada disse. E isso apenas aumentou as esperanças de Skad. Seria possível então? Seria possível que se ele lhe confessasse exatamente para quem ele havia imaginado entregar aquele colar com a kryovélia, ele ouviria e veria espelhado no rosto dela o que tinha fantasiado por tanto tempo em silêncio? Pela mãe, que a resposta fosse sim, porque se fosse um não, algo dentro de si se partiria permanentemente… 
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  — Dizem que Aurora precede seu nome — %Cerci% respondeu devagar, pronunciando as palavras com calma e uma serenidade que não chegava a seus olhos. Skad sentiu seu coração pesar, seu sorriso diminuindo, ao desviar seu olhar para o caminho. — Que é uma das mais belas de Prythian, de fato. Mas o que eu soube? É que ela atira facas melhor do que Shadowsinger. — Aquela informação era nova para Skad, mas igualmente, não o havia interessado. Skad queria saber o que %Cerci% estava pensando, sentia-se enciumada por ele, se seu coração gritava o desconforto de perdê-lo para alguém formidável como Aurora, como ele sentiria se a situação fosse inversa. Se a situação fosse contrária, não teria ele lutado por ela? Não teria obliterado quem quer que ousasse reivindicá-la? Skad engoliu em seco, unindo as sobrancelhas em uma expressão tensa, o pensamento de outro tomando-a em seus braços, de amando-a da forma que ele sabia que poderia oferecer a ela… era o suficiente para criar uma tempestade em seu peito, e enchê-lo de uma fúria gélida. — Não ouviu o que eu disse, não é? — A voz de %Cerci% despertou Skad de sua espiral hipotética enfurecida com o potencial futuro parceiro de %Cerci% que ele sabia que não existia. Ou, bem, se existia, que fosse ele e mais ninguém… 
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  Skad piscou, pigarreando para clarear sua garganta, tentando afastar seus pensamentos ao voltar seu olhar na direção dela, tentando manter uma postura calma e desinteressada.
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  — Ouvi. — %Cerci% ergueu uma sobrancelha, questionando silenciosamente a afirmação de Skad; ele apertou os lábios desviando os olhos quase imediatamente do rosto dela, de repente parecendo ter desenvolvido um terrível interesse pela trilha irregular e coberta por neve e galhos secos. — Estava falando sobre os atributos notórios da minha noiva. Eu estava ouvindo, viu? Ouvi tudo o que disse — defendeu-se porcamente Skad. Fez uma careta consigo mesmo, considerando bater sua cabeça na primeira árvore que encontrasse por seu caminho, o pinheiro a sua direita parecia um belo espécime para bater sua cabeça até que esta rachasse, certamente Lumia iria adorar assistir a cena. 
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  %Cerci% não respondeu, apenas ficou em silêncio ao seu lado.
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  Skad tentou convencer-se de que não estava curioso para ver a expressão dela, tentou acreditar que poderia simplesmente continuar o caminho com seu ato desinteressado e distraído, mas antes que percebesse, seus olhos já haviam se desviado para o rosto dela outra vez. %Cerci% havia aberto um sorriso, aquele sorriso que iluminava seu rosto inteiro, fazia as sardas cintilarem suavemente como estrelas por sua pele delicada, e expunha os dois caninos um pouco maiores que os outros dentes dela. O fazia lembrar-se de um filhote de felino que sua irmã um dia insistiu em trazer para casa, para o terror de sua mãe; pequeno em estatura, e falsamente convincente em seu papel de fofo, mas que poderia ameaçar até mesmo a mais furiosa de suas renas. O animalzinho acabou fugindo, para o coração partido de Lumia, mas %Cerci% ainda estava ali, isso queria dizer algo, certo? Pela mãe, que significasse algo.
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  — Eu estava dizendo que — %Cerci% repetiu, empurrando gentilmente o braço de Skad com o corpo, fazendo-o sorrir com o gesto, antes de observá-la alçar-se graciosamente por entre os galhos dos pinheiros, ágil e mais rápida, com a graciosidade de um felino. Era tão precisa como uma bailarina, elegante e silenciosa, caminhando por entre os galhos como se não tivesse peso algum, deixando para trás apenas um rastro suave de neve caindo das folhagens, pairando pelo ar como poeira, branca e distinta. Girava distraidamente por entre os dedos aquele colar esquisito que sempre usava: era uma chave, retorcida e com diferentes dentes tortos que não pareciam formar um padrão para abrir algo, enferrujada, que não servia para nada, aparentemente — uma vez que você esteja casado, vivendo o melhor de sua vida, desfrutando de todos os deleites que a Corte Noturna pode lhe oferecer — %Cerci% pontuou com um olhar divertido, significativo na direção de Skad, mas ele ignorou ao que ela provavelmente se referia. Não pela gentileza e respeito sobre tal situação, mas porque não queria discutir sua potencial vida sexual com uma esposa que se tornaria sua obrigação — pedi autorização para o Grão Senhor, para enviar Boreas de volta para as muralhas e o velho urso? Tá animado para ir para casa, tanto que não para de falar nisso, aquele ingrato. — O sorriso doce nos lábios dela, era informação o suficiente para o fazer compreender de imediato que nenhuma de suas palavras realmente possuíam o significado que tinham.
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  %Cerci% tinha aquele jeito esquisito de demonstrar afeto, na maior parte do tempo ela era o completo oposto de Lumia, sempre educada, gentil e até mesmo prestativa, mesmo com aqueles que lhe lançavam olhares debochados ou desconfiados por ser uma mera forasteira, mas então, quando ela gostava de alguém e havia intimidade o suficiente, %Cerci% costumava a usar xingamentos como elogios, a distorcer significado de palavras ruins as tornando boa: ingrato era apenas uma maneira afetuosa dela se referir a Boreas, assim como idiota, era para referir-se a ele. Não havia intenção alguma ali. Quando dizia “te odeio” estava dizendo, na verdade, “te amo” e Skad percebeu que havia algo naquilo que não queria viver sem. Não conseguia.
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  — E, finalmente recebi uma resposta da Corte Diurna, ontem à tarde, enquanto você e Lumia estavam caçando perto das fronteiras sul. O Grão Senhor Helion aceitou me receber por um tempo lá, para continuar a pesquisa. Disse que tem muito interesse nas minhas habilidades especiais. — %Cerci% abriu um sorriso largo, rindo baixinho com o flerte dúbio, Skad não precisava ler a mente dela para saber o que estava pensando. Deveria ter acreditado que o Grão Senhor fizera o flerte por mero gracejo, coisa boba, Skad não tinha assim tanta certeza, não quando ela parecia uma estrela presa em corpo feérico
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  Ainda assim, a notícia roubou o ar de seu peito. Primeiro, pela surpresa de suas palavras. %Cerci% e Boreas eram inseparáveis, desde que ela havia aparecido perdida no meio da floresta ao Leste, próximo da enseada congelada, os dois estavam juntos, ela e o Urso Polar Ancestral, de uma forma esquisita que quase ninguém, nem mesmo Kallias, poderia explicar ou começar a entender a dimensão daquela conexão. Em toda a existência daquela Corte, era conhecido que os Ursos Polares que guardavam as fronteiras e florestas, nunca formavam presenças amistosas, especialmente com forasteiros, eram poucos aqueles com quem os Ursos se permitiam conectar, ainda mais poucos eram aqueles que exibiam o laço entre as criaturas ancestrais.
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  Boreas tinha este mesmo laço com %Cerci%, uma completa forasteira; a princípio algo inusitado e que denotava preocupação de todos os membros da Corte, mas que havia se tornado uma excelente arma e possibilidade de compreensão quando a jovem se mostrou mais do que aberta a explicar o que se passava na mente do animal. O compreendia como mais ninguém, e o velho urso parecia mais do que satisfeito de mantê-la por perto. Mas então, um gosto amargo tingiu sua língua, a ideia de que Helion havia finalmente aceitado o pedido deles para continuar sua pesquisa em uma das bibliotecas do Grão Senhor da Diurna, tendo o auxílio de toda sua sabedoria e anos de experiência como o Quebrador de Feitiços, iluminou o semblante normalmente gélido de Skad e o fez sorrir genuinamente para %Cerci%, sentindo aquele calor gostoso e doloroso se espalhar por seu peito. 
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  Eles haviam conseguido — ela havia conseguido, mas considerava as vitórias dela, dele também. Mas então ele percebeu a diferença em sua fala, pequena e simples, mas que ainda assim o atingiu como uma facada precisa bem ao centro de seu peito. Ela não estava contando com ele. “Uma vez que você esteja casado” ela havia dito, Skad sentiu algo dentro de seu peito se fraturar, rachar, seu sorriso diminuiu quando ele parou de andar, e voltou-se completamente na direção dela. Sua respiração baixa, controlada agora, esvaindo-se como uma pequena névoa esbranquiçada por entre seus lábios e nariz, obrigando-o a piscar algumas vezes para afastá-la de seus olhos. Tentou, quase desesperadamente, manter sua expressão contida e calma, mas a sensação dolorosa instalada em seu peito era o suficiente para distraí-lo de todo o resto. 
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  — Mas… — Skad começou a dizer, sua voz falhando ao final, o fazendo trincar os dentes com força, e praguejar pela vulnerabilidade irritante que havia acabado deixando expor sem querer antes de pigarrear. Clareou sua garganta, encarando-a agora com uma expressão firme, quase irritadiça. — Achei que fosse nossa pesquisa, %LaFay%? Quando se tornou só sua? — Skad retorquiu por fim, sentindo a raiva misturar-se com a urgência, criando um monstro que começava a arranhar suas entranhas. Os olhos queimaram o rosto de %Cerci%, buscando alguma coisa, qualquer coisa que lhe oferecesse o mínimo que fosse de certeza, mas… não havia nada, e isso era o que mais o desesperava. 
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  — Sempre foi só minha, Skad — %Cerci% retorquiu com aquele tom maldito, baixo e cauteloso que ela só usava quando alguém ultrapassava seus limites. 
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  Não era que ela ficasse subitamente ríspida e grossa, era apenas uma defesa que assumia sua voz, como se ela estivesse começando a vestir as armaduras que ao longo dos anos foi desfazendo-se, como se ela estivesse começando a analisar aos poucos até a menor das palavras que lhe eram ditas e que dizia, até que tudo o que restasse fosse apenas murmúrios baixos de concordância e silêncio de sua parte. Ela não era confrontacional, era por isso que Lumia sempre levava a melhor quando discutia com ela; era por isso que alguns guerreiros a tinham como alvo permanente, %Cerci% nunca respondia na mesma moeda, no máximo apenas se silenciava e evitava pessoas como um cervo capturado em flagrante, mas Skad nunca havia imaginado que ela consideraria fazer aquilo com ele.
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  A rachadura em seu peito pareceu aumentar junto do desespero. Ela apertou os lábios cheios, engolindo em seco, lançou um olhar intenso na direção do caminho que o trenó com Lumia e sua mãe havia partido, desaparecido a essa altura já distante o suficiente para os obrigar a andar mais rápido se desejassem chegar a tempo para aquele maldito encontro — Skad não queria. Então, ela voltou a encará-lo, se inclinou para frente, com um olhar gentil, mas ainda assim melancólico. Skad não se moveu um centímetro, sentindo o cheiro dela pairar ao seu redor, sentindo o calor de sua pele, convidativo, a tão poucos centímetros de distância, sentindo as lufadas suaves de sua respiração chocarem-se contra seu rosto, cálidas e familiares como a suas próprias. Desejou poder vencer aqueles centímetros. Desejou simplesmente beijá-la até que tudo desaparecesse e somente ela estivesse à sua frente. A Mãe sabia o quanto ele o queria fazer, mas não poderia, não sem saber o que diabos ela sentia por ele, não sem ter certeza que ela realmente o amava como ele o fazia. 
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  — É meu fardo para carregar — ela sussurrou com pesar em sua voz. Skad trincou os dentes com um pouco mais de força, inclinando sua cabeça para trás, sem mover um músculo, apenas angulando sua cabeça para observá-la atentamente. — Só cabe a mim resolver isso. Fui eu quem causou todo este problema em primeiro lugar, e… — ela pausou suspirando pesado, as sobrancelhas angulosas se uniram, e os cantos dos lábios se curvaram para baixo, entristecidos. — Está ficando insuportável, sabe? Quanto mais os dias passam, mais tenho a certeza de que, em algum lugar de Prythian, existe um garotinho que está sofrendo por minha culpa… preciso entender como tudo isso funciona, e… consertar o erro que cometi. Eu preciso fazer isso, Skad, mais ninguém. Então, por mais que ame o fato de você ter embarcado nesta loucura, quando a pessoa mais sábia teria apenas me dito para sair da biblioteca antes que amassasse as páginas, não posso guiá-lo comigo para um caminho que não tenho certeza que possua retorno, entende isso?
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  Era doloroso quando ela era doce daquela forma. Quando expunha suas intenções tão claramente como vidro. Era doloroso vê-la dizer aquelas palavras com tanta gratidão e até mesmo afeto, mas sem ser da forma que ele desejava que fosse. Era doloroso porque ele não conseguia ressentir-se dela, por mais que tentasse — e ele sabia que ela o entenderia mesmo se ele se ressentisse dela, %Cerci% o aceitaria independentemente do que tivesse a oferecer. Ela nunca pedia, apenas aceitava o que lhe era entregue, sem nunca reclamar. Não havia ajudado em nada que um dos poucos raios de sol que iluminavam os dias sempre cinzentos e obscurecidos pelos céus fechados, tivessem-na tocada como uma carícia.
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  O peito dele doeu outra vez, seu coração pareceu se contrair ficando do tamanho de uma noz, e tudo o que ele pôde fazer foi admirá-la em completo silêncio. Admirar a curva dos lábios dela, a pele de aparência macia e convidativa, tão próxima de si, e ainda assim, tão longe de seu alcance, foi contemplar a maneira com que a íris dela parecia ficar mais clara sob o toque do sol, a cor mais viva, enquanto as pequenas sardas que pontilhavam seu nariz e maçãs do rosto, cintilavam como pequenas estrelas. Alguns fios de seu cabelo pareciam cintilar da mesma forma, como se fossem feitos de pura energia, lhe dava aquele ar etéreo, como se fosse uma estrela que tivesse tomado forma. Um pedido que Skad havia feito há muito tempo que havia se tornado real
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  Ele poderia beijá-la se quisesse. Ela estava próxima o suficiente para que ele pudesse sentir o calor de sua respiração contra a dele, ele poderia beijá-la e, pela Mãe, como ele queria, mas não o fez. Não podia, não sem ter a certeza de que seus sentimentos eram retornados em igual mesura. Todavia, não conseguiu resistir ao impulso de tocá-la. Observou-a arregalar os olhos, parecendo surpresa e até mesmo sem jeito quando as pontas dos dedos de Skad, gélidos pelo inverno e por ser quem era, tocou a pele dela. Era de fato macia sob o toque, delicada, permitiu-se traçar gentilmente a curvatura de sua maçã do rosto, sentindo o calor da pele dela percorrer por seu corpo, derretendo o que ainda estava congelado, e acendendo uma chama no que já havia se aquecido. Seu polegar deslizou suavemente pelo canto do lábio dela, admirando o que tinha em mãos, antes de segurar, gentilmente, seu queixo, obrigando-a a encará-lo.
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  — Promete que irá me escrever? — Skad pediu com uma voz apertada, os olhos cintilando com emoções não dita, seu pomo de adão contraindo-se ao engolir em seco, ainda assim, forçou um sorriso divertido para ela, tentando demonstrar o suporte que ele sempre havia encontrado naqueles olhos verdes tão genuínos e gentis. — Todos os dias, sobre tudo, mesmo que seja sobre algo bobo, como o quanto você vai sentir falta de mim para iluminar seus dias — tentou fazer piada, mas sentiu que começaria a chorar se a ouvisse rir.
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  Não podia deixá-la ir, não queria deixá-la ir nem mesmo para alguns metros de distância de si, mas que outra escolha teria? Não podia implorar para que ela ficasse, para que ela o aceitasse, não quando havia uma noiva o esperando a pouco mais de um quilometro de distância, não quando ele tinha o dever de seguir os acordos que seu pai fizera para assegurar a proteção e prosperidade de sua Corte.
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  Sabia que poderia implorar para seu pai reconsiderar. Sabia que tinha escolha naquele casamento arranjado, mas precisava que ela retribuísse o que ele sentia. Precisava que ela o amasse da mesma forma que ele a amava; Skad tinha quase certeza de que isto era a única coisa que ela jamais poderia fazer. 
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  — Palavra de caçadora — ela prometeu, endireitando-se e escapando de seu toque. O coração de Skad finalmente se quebrou, a rachadura rompeu o que ainda mantinha unido, observando-a sorrir daquela forma doce ao erguer sua mão solenemente. Sufocou um soluço embargado, obrigando-se a sorrir para ela, os olhos brilhando com as lágrimas que não escorreram por seu rosto.
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  — Que idiota, você nunca foi uma caçadora, %Cici% — retorquiu e ela riu. Skad pigarreou, virando seu rosto na direção da trilha, sem conseguir mais olhar para o rosto dela, com a certeza de que estragaria tudo se ele a olhasse outra vez. Iria pedir para ela não ir, iria confessar-lhe o que sentia, iria implorar para que ela viesse com ele, não conseguiria se perdoar, porque sabia que ela também não o faria. — Você deveria ir encontrar Boreas no Selkie’s Tail. — Skad forçou um sorriso tranquilo, endireitando-se, e ajustando suas roupas, tentando ter certeza que continuava impecável para apresentar-se formalmente à sua futura esposa, mesmo que, internamente, uma parte de si estivesse desaparecendo, tomado por %Cerci%.
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  — Tem certeza? — %Cerci% questionou unindo as sobrancelhas e inclinando a cabeça para o lado, observando Skad como um maldito gatinho. Skad praguejou mentalmente, teria que criar resistência, teria que aprender a viver sem o que desejava, por mais doloroso que fosse. Skad assentiu, ainda evitando o olhar para o rosto dela, focou então, na chave que repousava por entre seus seios, o objeto metálico enferrujado deveria ter deixado manchas avermelhadas na pele macia, mas não o fazia, era curioso como se portava, tão curioso quanto as insígnias que a envolviam. 
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  — É apenas burocracia e sei o quanto você odeia tudo isso. Te encontrarei depois, no lugar de sempre, se ainda estiver sóbria — Skad disse forçando um sorriso torto, e lançando um olhar breve na direção de %Cerci%, sentindo uma pequena ponta de satisfação de ver que ao menos uma vez, algo que ele havia dito a havia feito corar; não era o que desejava, não era a reação que havia fantasiado tanto, por tanto tempo encontrar, mas teria que bastar, pelo menos por ora. — Ei, %Cici%, toma cuidado, ok? — Skad disse de supetão, antes que pudesse se impedir, seus olhos encontrando-se com os dela, quando ela fez menção de correr por entre as árvores de volta para onde o velho Urso Polar que lhe era companheiro deveria estar se afogando em hidromel em sua forma humanoide.
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  Os olhos de %Cerci% cintilaram com algo profundo, por um momento, parecendo um espelho, Skad viu algo familiar ali, aquela expressão grata e levemente surpresa que ela exibia como se a ideia de que alguém poderia estar preocupado com ela fosse estrangeiro, e algo mais cálido, algo que fez o coração de Skad martelar com força contra sua caixa torácica, fez sua garganta ficar seca e as palmas de suas mãos suarem frio. Algo que criou inúmeras borboletas em seu estômago, e o fez sorrir sem sequer perceber que o fazia.
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  — Disseram que vai haver uma tempestade mais tarde, então, tome cuidado, a última coisa que você vai querer é virar um cubo de gelo, de novo
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  — Foi uma vez! E você deu a ideia! — ela retorquiu irritadiça, bochechas coradas e olhos brilhantes como um incêndio que poderia consumi-lo, mas Skad apenas a observou, perdido em seu saudosismo e o desejo de poder acompanhá-la com a certeza de que não poderia. O sorriso desapareceu junto com ela. 
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NYX • CORTE INVERNAL.

  — Como você sabe? — Nyx insistiu, mais para antagonizar Aurora do que por outra coisa. Com o canto do olho, viu tio Azriel revirar os olhos, começando a perder a paciência com os dois como sempre acontecia quando Nyx tirava o dia para implicar com Aurora até que esta começasse a chorar. Podia ver, igualmente, o pequeno sorriso de canto que tio Azriel estava lutando para esconder. Aurora bufou, irritada, cruzando os braços por sobre os seios, e erguendo o queixo de forma desafiadora, marchando mais pesado sobre a neve macia. Nyx abriu um sorriso largo, enfiando suas mãos enluvadas dentro dos bolsos de sua jaqueta, e a seguiu quase saltitando como uma gazela. — Você tem prova? Não, não tem. Relatos não são provas, são especulações, Rorie, e se ele for careca, hm? — Nyx provocou, seu sorriso aumentando gradativamente enquanto as bochechas de Aurora enrubesceram com a frustração crescente. Ah, ele ia levar um chute na virilha, mas valia a pena, além disso, era uma forma educada e gentil de conseguir vingar a honra de Emhyr, sem ter que, bem, necessariamente, vingar a honra de Emhyr. Se o fizesse de fato então entraria em um loop pessoal de vingar a honra de Aurora e então a de Emhyr e ele não tinha muita certeza como conseguiria lutar consigo mesmo. Havia tentado uma vez, com um espelho, sua mãe o censurou e Nyx prometeu nunca mais tentar algo parecido. 
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  — Por que você veio mesmo? Não tinha nada melhor para fazer ao invés de estar aqui? — Aurora retorquiu entre dentes, tentando manter a compostura, mantendo seus olhos castanhos fixos na trilha à sua frente, mas parecendo tão irritada quanto Nyx estava divertindo-se. — Se continuar respirando no meu ouvido, eu juro Nyx, eu vou enfiar a Ataraxia no seu c…
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  Nyx a interrompeu com um ofego exagerado.
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  — Pela Mãe, você usa essa boca para beijar a sua mãe? — provocou Nyx, e se arrependeu imediatamente quando Aurora, finalmente cedeu ao seu lado Nestha de ser e chutou com mais força do que era necessário sua virilha. Nyx grunhiu alto, sentindo a dor explodir por entre suas pernas e por trás de seus olhos, suas pernas cederam ao seu peso, e sua respiração foi roubada. Desabou no chão, tentando inspirar por seu nariz e soltar por sua boca o ar, grunhindo baixo. — Golpe… baixo, Rorie… — ele praguejou, e lançou um olhar irritado na direção de tio Azriel, que, convenientemente estava admirando o topo das árvores coberto com neve e os corvos que repousava nos galhos como se estes carregassem o segredo do universo.
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  Nyx fechou os olhos se encolhendo um pouco, irritado. Sentiu a mão de Aurora repousar em seu ombro, tentando ajudá-lo a colocar-se de pé de novo com um olhar quase apologético. Nyx negou com a cabeça, endireitando-se, ainda com a respiração entrecortada e com a virilha latejando, não de uma boa forma.
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  — Tudo bem, tudo bem, eu mereci… desculpa… mas sério, Rorie, por que diabos continuar com isso, você sabe que se não quiser seguir em frente com essa merda de teatro, uma palavra e eu, o seu pai, tio Az, pela Mãe, até Emhyr vem correndo te proteger deles, por que está tão determinada assim a seguir com isso? Acha mesmo que vai ser feliz com… Skad ou Skid, como é a porra do nome dele mesmo?
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  Aurora lhe lançou um olhar frustrado, exalando baixo. Uma lufada de fumaça esbranquiçada se projetou à frente de seu rosto corado, enquanto os dedos dela fincavam-se no braço esquerdo dele. Por instinto, Nyx sentiu aquele familiar repuxo para afastá-la, temendo que ela pudesse se machucar ainda que acidentalmente ao tocá-lo, precisou lembrar-se de que ela não estava segurando sua mão para acalmar-se. Voltou a enfiá-las dentro dos bolsos de sua jaqueta, determinado a não as deixar nem um pouco próximas de Aurora. 
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  — Porque o seu pai disse que precisava de mim — Aurora retorquiu com um tom de voz baixo. A expressão de Nyx se tornou um pouco mais sombria, sentindo o peso daquelas palavras, e das não ditas, em seus ombros. Não conseguiu encarar Aurora, trincou os dentes, a mandíbula tencionando-se com força o suficiente para fazer com que um pequeno músculo em sua mandíbula saltasse, sua respiração tornou-se superficial, e a dor em sua virilha tornou-se esquecida, em segundo plano. Uniu as sobrancelhas, mantendo o olhar fixo no caminho de pedras cobertos por uma grossa camada de neve à sua frente. — Seu pai precisa de um herdeiro, Nyx, e se você não pode o ser, então eu, de bom grado serei para o meu Grão Senhor. — Nyx teve vontade de gritar com Aurora, mas conteve-se. Não era culpa dela que Nyx estivesse na situação que se encontrava, era apenas dele, e da maldita garota que o havia traído e desaparecido no vazio. Todavia não doía menos. — Olha, eu sei que você deve estar com raiva de mim por causa de… Emhyr… — Aurora começou a dizer, hesitante. Lançou um olhar breve na direção de tio Azriel, os dois observaram como as sombras do Shadowsinger se recolheram ao redor da figura obscura que era seu tio contra a alvura da neve. — Mas já perdi as contas de quantas vezes deixei claro que jamais teria alguma coisa com ele. Tentei ser educada e manter uma distância cordial, mas se ele escolheu alimentar sentimentos que não eram recíprocos então não cabe a ele, e muito menos você me censurar por não demonstrar simpatia agora!
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  Nyx a encarou, estupefato. 
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  — Não a estou censurando por não retribuir os sentimentos do meu melhor amigo, Aurora! Pela Mãe, que tipo de pessoa você acha que sou? — A indignação fez com que seu tom de voz se tornasse um pouco mais alto do que o normal, a voz normalmente baixa e arrastada, agora vibrava contra sua traqueia. Ele a fuzilou com o olhar, e Aurora apertou os lábios, lançando um olhar em forma de aviso na direção de Nyx, tentando convir que eles não deveriam chamar a atenção de tio Azriel, mas Nyx tinha quase certeza de que as sombras dele estavam contado tudo de qualquer forma. — Estou a censurando por aceitar ser tratada como uma vaca em benefício de um acordo! — sussurrou Nyx entre dentes, a fuzilando com os olhos, impaciente, antes de puxar seu braço do toque dela, e continuar a marchar.
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  Estreitou os olhos, observando as costas de tio Azriel, as espadas presas ali, e as asas cuidadosamente protegidas do frio. Arrependeu-se de não ter feito o mesmo com as suas, chamavam mais atenção do que deveria, e desde que aquela maldita flecha havia atravessado o músculo de uma delas, recolhê-las havia se tornado um processo doloroso demais para que Nyx o fizesse se não tivesse uma boa recompensa. Que incrível, deficiente e quebrado, não era à toa que seu pai tivesse acabado por escolher Aurora como a futura herdeira da Corte Noturna e não a ele. Quando Nyx passou a ter ciúmes de Aurora? Quando seu pai havia deixado de amá-lo?
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  — Acha que eu estou fazendo isso somente para agradar seu pai? — ralhou entre dentes Aurora parecendo genuinamente ofendida. Nyx não poderia se importar menos com os sentimentos dela. Se queria agir como uma garota durona, então lidaria com aquela situação como tal. Por via das dúvidas manteve seus olhos fixos nas pedras cobertas pela neve do caminho que levava ao ponto de encontro com a família de Kallias. — Você é… — Aurora cuspiu irritada, forçou um sorriso tranquilo para os olhos desconfiados de tio Azriel, negando com a cabeça como se tentasse convir que estava tudo bem. A expressão sombria e tensa de Nyx revelou muito mais para o espião do que o sorriso composto por Aurora. Quando Azriel havia voltado seu rosto para o caminho outra vez, Aurora se aproximou de Nyx, pisando duro. — É um completo bastardo quando quer, sabia? Acho que seu tempo com Lyra finalmente está dando frutos!
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  Nyx abriu um sorriso irônico. Pronto! Toda vez que alguém desejava discutir com ele, sempre, sem falhas, traria o nome de Lyra como se fosse uma carta especial a ser usada contra ele. 
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  — Estou dizendo o que vejo, se não consegue aceitar sinceridade, está mesmo pronta para sequer se apresentar para a Corte Invernal? — retorquiu Nyx, afiado. Algo no rosto de Aurora, a maneira com que ela se encolheu um pouco, a forma com que os olhos castanhos cintilaram por uma fração de segundos com as lágrimas contidas o fez pausar. Sentiu-se um merda no mesmo segundo ciente de que havia dito demais. Ele apertou os lábios outra vez, unindo as sobrancelhas. Seu pomo de adão se moveu algumas vezes quando ele engoliu em seco, buscou por palavras adequadas para dizer a ela, mas não as encontrou, então apenas sussurrou: — Desculpa, Rorie, eu me excedi. 
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  — Tudo o que seu pai tem feito é tentar te alcançar, Nyx, mas se você continua empurrando todos para longe, não reclame quando estiver realmente sozinho, terá merecido. — Nyx não ousou responder a Aurora, sabia que não tinha direito. Deixou seus olhos caírem no chão, ouvindo-a agitar as saias e apertar seu passo, caminhando agora na frente de tio Azriel.
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  Podia sentir a atenção do espião de seu pai, e talvez a única pessoa que o compreendia melhor do que ninguém, o encarou em silêncio, respeitando seu tempo, sem pressioná-lo. Nyx não teve coragem de encará-lo, não quando Aurora estava correta em suas palavras. Ele estava afastando todos, estava os puxando para longe porque sabia o que iria acontecer se os deixassem perto. Arwan era um monstro, mas um monstro inteligente, desde o primeiro dia que Nyx havia atravessado aquele limbo, havia percebido que nada nem ninguém que amasse estaria seguro se os mantivesse por perto. Ainda assim, não apagava todo o ressentimento e frustração que o consumia lentamente, como veneno, corrosivo, destruindo-o de dentro para fora; seu pai estava tentando alcançá-lo? Ao colocar Aurora como sua herdeira? Sem nem mesmo considerar conversar com ele? Rhysand era gentil e caloroso com todos do Círculo Íntimo, mas havia limites, e Nyx havia ultrapassado todos quando havia cometido o terrível erro de cair no Poço. Havia provado a Rhysand que a criação dele era falha e não perfeita como esperava. Deixou sua respiração esvair-se por entre seus lábios, voltando a encarar o rosto sério, mas compassivo de seu tio, sentindo como se a gola de suas roupas estivesse começando a incomodar.
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  — Eu encontro vocês quando a reunião terminar, certo? — Foi tudo o que disse, ouvindo o tio começar a abrir a boca para chamá-lo de volta, mas ignorando completamente, focando em seu caminho, tentando relembrar qual as vielas e ruas ele deveria virar para chegar até o maldito pub que um dos illyrianos do acampamento havia dito que visitara. Não poderia participar daquela reunião mesmo se desejasse, não com Arwan o observando do limbo, mas poderia muito bem passar algumas horas bebendo até que as palavras de Aurora se tornassem fáceis de se digerir. 
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  Então, pelas próximas horas, andou sem um rumo exato, tentando lembrar do nome das ruas ou pontos de referência. O vilarejo era diferente de Velaris, parecia mais rústico, algumas partes construídas sobre palafitas por onde riachos congelados se moviam entre si, as estruturas de pedra se restringiam apenas às ruas e muradas, as casas eram feitas de madeira e materiais mais quentes, guirlandas com ervas enfeitavam algumas portas, outras casas tinham suas entradas pintadas com cores vivas e pulsantes, vermelhas, amarelas, mesmo azuis e esverdeadas. As poucas flores, ainda que secas, permaneciam expostas em vasos elegantes parecendo ter sido feitas de cristal misturado com gelo. Esculturas de gelo envolviam o centro de uma praça, onde crianças brincavam de jogar bolas de neve. Aquele povo era diferente, a seu modo, elegantes e tão friamente belos como neve, misturavam-se com criaturas das montanhas, e seres que viviam dentro de blocos de neve, gnomos com pele azuis, e até mesmo algumas pixies que pareciam ser feitas de neve pura. Dentes afiados, olhos observadores, um silêncio elegante pungente. Nyx sentiu imediatamente um forasteiro ali, destacava-se como um dedão podre, e recebia olhares curiosos o suficiente para obrigá-lo a ocultar suas asas. 
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  A dor fantasma o atingiu, quase o fazendo escorar-se contra um muro de pedra viscoso com limo e neve, e fechar os olhos até que passasse, mas obrigou-se a continuar andando, tentando puxar ao fundo de sua mente a sensação desconfortável que pulsava em suas costas. Já estava nevando, suavemente, quando soltou um suspiro em forma de alívio vendo o letreiro grande, cuidadosamente desenhado com uma caligrafia cheia de arabescos e detalhes florais os dizeres: “Selkie’s Tail” com o desenho de uma calda torta na lateral. Ao menos havia encontrado o local. 
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  Lançou um olhar ao redor, mais por costume do que por qualquer outra coisa, antes de empurrar a porta dupla, quase abrindo um sorriso divertido quando viu um dos clientes, visivelmente bêbado, ser praticamente arremessado para fora por uma criatura alta e larga. Era diferente de tudo o que Nyx já havia visto até o momento. Usava um colete de pelo pesado, branco como a neve, e os cabelos desalinhados eram igualmente brancos. Tatuagens que se pareciam com runas espalhavam-se por seus dois braços, e duas faixas emolduravam seu rosto quadrado e anguloso, começavam abaixo de seus olhos e terminavam em seu peito, grossas e de um tom azul escuro pungente. As narinas infladas pareceram farejar Nyx por um momento, lançando um olhar irritado na direção do homem, antes de uma voz ao fundo do bar parecer o chamar:
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  — Boreas! — gritou a atendente do bar, uma mulher bonita, com cabelos loiros pálidos, quase brancos, olhos prateados e a pele pálida como a neve, erguendo um copo absurdamente largo de bebida. Nyx bufou, lançando um olhar na direção do humanoide alto, tão alto que parecia ter no mínimo dois metros de altura, e pela largura deveria pesar muito mais do que se assumia. 
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  Nyx ajustou o colarinho de sua blusa antes de caminhar em direção a um canto mais escondido, escuro do balcão, oferecendo um sorriso charmoso para a mesma mulher que havia chamado pelo brutamonte gigante e musculoso, o tal Boreas, pedindo apenas a bebida da casa, tentando lembrar-se o que haviam lhe dito para tomar, mas sem ter paciência de revisar sua memória toda. Exalou baixo, batucando ansiosamente contra o balcão de mogno, inspirando fundo, sentindo aquela mistura de cheiros familiares de um pub: suor, álcool, mesmo excitação de alguns machos e fêmeas já perdidos em seus próprios interesses ou demônios. E então, por baixo de tudo aquilo um cheiro pareceu se destacar, estranhamente familiar embora ele não pudesse saber onde colocar ou de onde reconhecia. Nyx uniu as sobrancelhas, franzindo o cenho, deixando seus olhos vagarem pelo espaço, percorrendo os pilares de madeira esculpidos artesanalmente com símbolos da Corte Invernal e ursos polares no meio de um ataque, dentes afiados expostos, o teto em formato de V expondo pequenas lanternas feitas de papel tingidos por uma tinta azulada que fazia o espaço adquirir uma tonalidade esverdeada, quase lembrando a uma floresta, sem neve. Os pequenos enfeites de cristal que simulavam os distintos e únicos flocos de neve giravam criando pequenos reflexos brilhosos conforme as luzes das lanternas os tocavam. 
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  Não havia nada ali que remetesse a flores silvestres, e, no entanto, o cheiro pungente e estranhamente bom lhe invadia o nariz com um soco. Nyx se ajustou em seu banco, apoiando os dois cotovelos sobre o balcão, e sorrindo em agradecimento para a atendente, antes de concentrar-se na bebida à sua frente. Deixou sua mente vagar por um momento até que algo capturou sua atenção. Boreas, o brutamonte gigante ranzinza e ameaçador, estava rindo, divertido. Nyx uniu as sobrancelhas, estupefato, sentindo um pequeno sorriso depreciativo e irônico surgir por seus lábios, mas que diabos… os olhos dele então encontraram-se com uma figura bem menor do que Boreas, com as mãos na cintura, e expressão frustrada. 
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  Nyx conteve o impulso de revirar os olhos. É claro que seria uma mulher. 
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  — Se eu soubesse que você iria tomar meu dinheiro inteiro só em bebida, eu pelo menos teria pedido para colocarem na porcaria da sua conta — resmungou a mulher baixinho, sua voz era suave, soava como uma brisa, calorosa, mas não pegajosa. Nyx estreitou os olhos, porque tinha a sensação de que já a havia ouvido antes. Ajustou-se outra vez em seu banco, tentando encarar a cena que ocorria do outro lado do balcão, onde o brutamontes gigante com as marcas e runas espalhadas pelo corpo se debruçava em seu copo largo com bebida, era confrontado pela mulher mais baixa e mais irritadiça que ele. 
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  O contraste entre os dois era nítido: ela deveria ter no máximo altura o suficiente para bater no abdômen do brutamontes gigante, o que deveria fazer mais ou menos bater na altura do ombro dele em comparação. Parecia ser do tipo que se passava despercebida, ou ao menos tentava não ser percebida, pelas roupas que usava, embora o tecido lembrasse vagamente o que ele vira uma vez um dos representantes de Kallias usar; azul escuro, quase preto adoravam as curvas dela. Nyx tentou manter seu olhar fixo nas costas dela, mas precisava admitir que ela tinha uma bela bunda, acompanhada de pernas grossas — tentou muito não imaginar como seria a sensação de tê-las enroscadas em sua cabeça, ainda que por uma fração de segundos. Se Emhyr estivesse ali, o teria acertado com um tapa pela objetificação, e Nyx não teria reclamado do jeito, seria merecido; ainda assim, não conseguiu evitar. Do capuz erguido feito de pele de corsa, ele podia ver uma trança longa e bem feita pender pelo ombro direito dela, grossa, chegava na altura de seus quadris. Alguns fios mais claros que os outros como se luz percorressem os fios inteiros. Nyx congelou no lugar estreitando os olhos; como se luz percorressem o fio? Algo pareceu acender em alerta com aquela informação, antes que ele pudesse se conter já estava de pé. 
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  — Você paga a bebida, eu me comporto, garotinha, viu? A combinação perfeita — Boreas murmurou com uma ponta de afeto e um senso de humor questionável, lançando um olhar para a mulher que pareceu apenas suspirar pesado, exasperada. 
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  — Só… — Ela suspirou pesado, jogando as mãos para o ar, para o completo divertimento do brutamontes gigante. — Só termina essa e me encontra do lado de fora. — Boreas grunhiu alguma concordância falsa, e ela se virou brevemente para apontar na direção da atendente. — Se ele pedir outra, você manda ele ir embora, é sério Crystal! Ele já bebeu o suficiente. — E então, virou-se para marchar em direção à porta dupla. 
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  — Continua assim e eu vou comer você — ameaçou Boreas, mas sem ameaça alguma em seu tom de voz. Foi recebido por um dedo do meio bem petulante da mulher, o que o fez gargalhar alto, o ruído ecoando como um estrondo pelo pub enquanto o brutamontes gigante desabava de sua cadeira com a crise de riso. 
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  Nyx pouco se importou, manteve o olhar fixo nas costas da mulher, empurrando pessoas para fora de seu caminho, sentindo a tensão aumentar a cada segundo que se aproximava dela. Não podia perdê-la! Não agora! Não quando…
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  A porta se fechou atrás de si, o vento invernal atingiu suas bochechas fazendo-as arder, enrubescendo pelas temperaturas mais baixas conforme a noite começava a cair. O vento assoprou seus cabelos em direção aos seus olhos, enquanto ele buscava pela a figura da mulher quase vidrados. Os lábios se partiram, não para chamá-la, mas pela tensão, sua respiração, entrecortada e tensa, escapando em pequenos arfares baixos, silenciosos, por entre seus dentes. Sua garganta estava seca, um tremor se espalhou por suas mãos, enquanto a adrenalina percorria como uma corrente elétrica por seu sangue. Seu coração martelava em seu peito como se estivesse correndo há muito tempo sem parar. Algo amargo atingiu sua boca, algo pungente e distante, o gosto da bile o fazendo querer cuspir, mas obrigou-se a engolir novamente. Sua garganta latejou. Então seus olhos a encontraram, preguiçosamente sentada sobre a balaustrada de uma ponte de frente para a lateral do pub quando a viela estreita terminava na entrada de outra praça. 
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  As mãos repousavam sobre a superfície irregular e porosa das pedras abaixo de si, segurando-se ali, enquanto o rosto se inclinava um pouco por sobre seu ombro direito, encarando o riacho que corria abaixo. A respiração dele acelerou, mais rápida, mais superficial, a raiva começou a pulsar por sua corrente sanguínea, ecoando levemente por seus ouvidos. Ela estava de frente para ele. E ele podia ver tudo, como havia mudado da criatura raquítica que era: tinha músculos agora, suave sob a pele delicada, mas ainda presentes, preenchiam as roupas com mais segurança do que os trapos que uma vez usava. Sua roupa estava limpa e bem ajustada, acentuando a curvatura da cintura, abraçando seus seios apertado, criando um desenho até mesmo atraente, onde uma corrente delicada e fina, feita de cobre, repousava, desaparecendo dentro do decote da blusa escura franzida. Mas os olhos de Nyx estavam fixos nas sardas dela, em como estas brilhavam como pequenas estrelas sob a pele macia e delicada, na maneira com que o rosto dela havia se desenvolvido, mais firme embora ainda tivessem o mesmo formato que ele recordava, a mandíbula mais acentuada, as bochechas mais carnudas, os olhos mais atentos, ainda eram melancólicos. Ela havia mudado completamente da imagem que ele tinha em sua memória de quem havia sido, da garotinha raquítica que havia destruído sua vida, para a jovem mulher, atraente e deslumbrante, confiante o suficiente em sua pele para não se importar com um estranho aproximando de onde estava, enquanto admirava o riacho, perdida em seus pensamentos enquanto a neve espiralava ao seu redor como uma pintura.
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  Uma onda de adrenalina percorreu o corpo inteiro dele quando ela ergueu os olhos do riacho e o encarou. Tudo pareceu desacelerar até desaparecer ao seu redor, tudo o que importava era ela, ali, naquele momento. O único ponto central de sua vida, tudo o que ele havia desejado poder encontrar outra vez, e destruir. Suas sobrancelhas delicadas se uniram, o rosto se tensionou, deveria ter percebido que havia algo de errado pela maneira com que Nyx a encarava, vidrado, fixos nela. Pela primeira vez, não se preocupou com suas mãos, agora fechadas em punhos trêmulos, se coçavam para agarrá-la. Nada fez, apenas parou a frente dela, a alguns passos de distância, sem desviar os olhos da garota que o havia traído
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  — Posso ajudá-lo? — questionou ela, cautelosa, parecendo confusa. Um arrepio percorreu o corpo dele ao ouvir o som daquela voz suave, doce voltada para si. Os céus sabiam o quanto ele havia odiado aquela sensação. 
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  Nyx abriu, com um exalo descrente, um sorriso desprovido de emoções. Seus olhos azuis se iluminaram com pura fúria.
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  Nota da Autora: o enemies vindo com tudo aí 😀(odeio que a Sarah J. Mass descreve eles tudo por macho e fêmeas para fazer a distinção de raça quando seria mais fácil só escrever “homem” e “mulher” sem desumanizar o restante)




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Lelen

Te contar, Kallias é meu segundo favorito depois do Lucien, então eu estou SIM toda bobinha com o Skad HAHAHAAHAHAH AI, MEU CORAÇÃO. O MENINO TÁ APAIXONADO POR OUTRA, MAS PRECISA CUMPRIR SEU PAPEL DE HERDEIRO E FAZER CONSESSÕES PRO BEM DA CORTE AAAAAAAAAAA
E o Nyx? O bichinho parece que vai voar no pescoço da Cerci. SKAD, VAI PROTEGER ELA. O hate vai ser muito mais da parte dele, né? Ela, mesmo depois de anos, ainda pensa nele como o garotinho que ela abandonou. E agora quer ajudar. Será que vai conseguir? EU QUERO VER QUANDO ESSE ÓDIO DO NYX SE MISTURAR COM O FOGO DA PAIXÃO, SEGUUUUURAAAAAA!

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