Sol do Inverno

  Há dias os burburinhos em Winterland não paravam. Como bem sabia %Elsa%, o vilarejo não estava preparado para o fim do inverno repentino. O prefeito estava preparando um mutirão de moradores para descobrir o que estaria acontecendo, e %Elsa% não poderia estar mais preocupada. Tirando %Chris%, a família dele e %Anna%, ninguém sabia dos poderes de %Elsa%. Por isso, quando a senhora Panfrey surgiu na pousada à procura de %Elsa%, ela não se espantou.

  %Chris% estava no observatório de novo, desde o dia que as flores primaveris surgiram, ele se prostrou a observar pacientemente as montanhas geladas de Winterland. Naquela manhã, %Elsa% acordou sentindo-se forte, porém mais desanimada do que de costume. %Anna% notava que a irmã estava ainda mais pálida do que o normal, e seus olhos azuis pareciam clarear mais e mais. Perguntou se ela sentia-se mal, mas a resposta de %Elsa% era tão direta quanto contraditória à imagem: “— Me sinto ótima!”.

  %Anna% foi até %Christopher% falar que estranhava como %Elsa% parecia ainda mais... fria. E enquanto os dois se falavam do lado de fora da pousada onde a caçula havia ido encontrá-lo, no observatório, os cristais da entrada da pousada tilintaram e %Elsa% saiu da sala de materiais para a recepção. A senhora Panfrey estava ainda parada a porta, com a mão abaixo dos cristais, esperando para vê-los pingar.

  — Eles não estão derretendo. Nada aqui no cume da pousada está derretendo, afinal — %Elsa% a respondeu sorrindo.

  — Querida! — A quase mãe adotiva dela se aproximou curiosa observando a palidez ainda mais forte de %Elsa%. — Isso me deixa quase aliviada... Há tanto verde nascendo na vila que eu me preocupei se... Você estaria bem, %Elsa%.

  As duas se abraçaram, e a senhora Panfrey, antes que pudesse pensar, sentiu-se gelar.

  — Brrrrr... — A senhora Panfrey vibrou os lábios num claro sinal de friagem. — Como você está gelada!

  — É... — %Elsa% sorriu sem jeito, aproximando a mulher da lareira e se afastando antes que o fogareiro apagasse. — Eu tenho estado assim. Mais fria, mais gelada e congelando tudo ao redor. Acho que é por isso que o degelo não chegou aqui na pousada.

  — Mas... você está se sentindo bem? Sua aparência não é das melhores e isso nunca aconteceu, não é? Você sempre controlou isso!

  — Sim, mas... — %Elsa% pegou uma caneca e serviu-a do chá quente que ficava na garrafa térmica da recepção, em seguida foi entregar a senhora Panfrey, mas quando a mais velha olhou para o líquido, estava sólido. Encarou %Elsa% boquiaberta e preocupada e então a mais jovem deu um sorriso de auto sarcasmo. — Aparentemente o inverno de Winterland está vindo para mim.

  — Minha querida... como iremos lidar?

  — Eu não sei. %Chris% e eu estamos tentando...

  E antes que ela pudesse terminar de responder, o som da sirene do observatório soou junto a um grande estrondo. As duas direcionaram-se para fora dali quando viram o grande pico de gelo na montanha descer como uma avalanche ao longe.

  — %Chris% estava certo! — %Elsa% bradou olhando a imensidão de gelo derretendo rapidamente e o burburinho de desespero soar lá embaixo na vila: — A montanha estava degelando!

  — Será que nos atinge? — perguntou a senhora Panfrey preocupada, segurando seu agasalho contra si cada vez mais apertadamente.

  — Não, mamãe! Vai bloquear a estrada, mas precisamos imediatamente fazer algo! — %Chris% surgiu atrás de sua mãe a beijando em cumprimento junto com %Anna% e disse à %Elsa%: — Estou indo à vila, não saia daqui.

  — Não irei a lugar algum, se precisar de algo me avise.

  — Tenha cuidado, %Chris%! — murmurou %Anna% preocupada para o homem que sorriu e entrou na caminhonete apressado.

  A senhora Panfrey pegou a mão da irmã caçula e sorriu. Sabia que ela era apaixonada por seu filho e fazia gosto dos dois, já %Elsa% não conseguia tirar os olhos da montanha. Em trinta anos havia gelo demais acumulado para ele derreter tão rápido. E o pior... Ainda não havia descido nem metade do que havia ali. Aquele era um grande risco para o vilarejo, e %Elsa% ao menos saberia se ela tinha culpa.

  As três entraram de volta à pousada, os hóspedes estavam se agitando quanto àquilo, alguns preocupados com suas partidas, outros curiosos, outros deslumbrados. Enfim... uma verdadeira confusão, e %Elsa% nem mesmo poderia servir um cafezinho.

  Depois de três horas de reunião com os bombeiros, o prefeito e parte dos moradores da vila, %Chris% surgiu na pousada dizendo que iriam para a estrada liberar o gelo. Ainda não havia uma solução para a situação, mas precisavam liberar a estrada. Não poderiam esperar que aquele gelo também derretesse. E ficaram uma semana ali limpando. O que %Elsa% pôde notar ainda mais estranho, é que... naquela uma semana, todas as flores que haviam descongelado estavam ainda mais coloridas e vivas. E todas as plantas e natureza estavam quase todas descongeladas. Preocupada, ela partiu novamente até a flor do inverno. Ainda estava intacta. %Anna% também notou que a montanha onde %Christopher% e os outros estavam derretia ainda mais. Ela assumiu o posto de %Chris% no observatório, observando preocupada a cada dia da semana em que os homens estavam ali.

  — %Elsa%! — gritou a irmã com o binóculo ainda em seu rosto. — A montanha parece que vai descongelar novamente!

  — Oh céus... — murmurou a irmã mais velha que estava no chão observando, ao lado do observatório, o gelo distante e então pegou seu rádio comunicador a procura do amigo, que logo a atendeu. — %Chris%, como estão as coisas aí?

  — Já estamos voltando, conseguimos tirar todos os grandes blocos caídos.

  — Certo... tenham cuidado, %Anna% disse que a montanha parece ainda derreter.

  — Pode deixar!