Sirena del Atlantis


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 8

Tempo estimado de leitura: 28 minutos

  Quando uma grande parte já estava armada, combinamos que começaríamos a render todos, invadindo os quartos e emboscando os piratas de surpresa para que não tivessem a oportunidade de se armarem contra nós.
  Já havíamos nos dividimos, uma parte no corredor das mulheres e a outra no corredor dos homens. Eu, como líder do motim, estava encarregada de ir atrás do Capitão. Todos me dariam algum tempo, e após exatos cinco minutos, o motim começaria, já que se rendêssemos Taehyung antes de todos, isso não o daria chance de fugir.
  Eu estava nervosa enquanto caminhava pelo corredor escuro em busca do alçapão. Minha mão suava um pouco ao redor do cabo da pistola, enquanto carregava uma lamparina com a outra. Quando vejo o alçapão, acabo deixando a lamparina sobre um dos degraus, os iluminando para que eu conseguisse subir até dar no pequeno corredor de duas portas que eu conhecia muito bem.
  Coragem, Serena. Nós vamos conseguir.
  Repito como um mantra em minha cabeça, antes de apoiar minha mão na maçaneta reluzente. Por debaixo da fresta da porta, eu conseguia vislumbrar uma fraca claridade, então, talvez, ele ainda esteja acordado.
  Completamente nervosa, giro a maçaneta, escutando o barulho da porta se abrindo. No fundo, eu esperava que ela estivesse fechada. Engulo toda a saliva e me obrigo a ter um pouco mais de coragem, assim, abrindo a porta de vez.
  O quarto estava minimamente iluminado por apenas uma lamparina, mas eu ainda podia ver com perfeição o seu corpo encostado na cabeceira da cama, enquanto ele tinha as mãos atrás da cabeça de cabelos bagunçados. Ele não se importava com as botas sujas sobre a cama limpa, e muito menos com a camisa branca que estava completamente aberta, deixando a vista os músculos de seu tronco e a grande cicatriz que ia do começo do seu peito até quase o final do abdômen. Sua pele, levemente bronzeada pelo sol de todas as suas viagens no mar, parecia brilhar diante a luz vinda da lamparina, assim como o intenso olhar que ele sustentava em minha direção.
  Respiro fundo e miro a pistola em sua direção com confiança, mesmo que eu estive completamente nervosa por dentro. Eu só precisava não deixar ele perceber isso.
  — Estamos fazendo um motim, por isso, se levante da cama e venha comigo. E é melhor você não tentar nada ou eu atiro. Estou falando sério.
  Mantendo seus olhos em mim, calmamente ele se levanta da cama e começa a caminhar para perto e, por um segundo, recuo um passo. E isso o faz rir sem humor e de forma nasalada.
  Ele passa por mim como se eu não estivesse com uma pistola apontada em sua direção, e quando sai do quarto, a porta no final do corredor é aberta.
  — Capitão! — Inez grita, e quando ela me vê, seus olhos se arregalam.
  Jack surge amedrontada atrás dela, com uma pistola apontada para sua nuca.
  Inez encara Taehyung e ele assente para ela, assim a fazendo sair com Jack.
  Encosto o cano da pistola em suas costas largas, empurrando sutilmente seu corpo para frente.
  — Ande e não tente nenhuma gracinha. — Falo, alto e firme.
  Minhas botas batem no chão, fazendo barulho e acompanhando as suas, e o barulho se mistura ao amontoado de vozes altas que vinha do outro lado do corredor, seguido por alguns disparos e gritos.
  Aos poucos, a luz da lua começa a nos receber, e logo entramos no convés, fazendo todos nos olharem.
  Com força, seguro em um dos braços de Taehyung, enquanto aponto a pistola para sua cabeça.
  — Se tentarem alguma coisa, eu atiro! — Aviso para todos os piratas que lutavam com os prisioneiros do motim.
  Éramos em um número menor que os piratas, mas eu reconheci alguns rostos diferentes que pareciam terem se juntado a nós. Mas, grande parte da tripulação parecia apenas assustada no meio da grande confusão de socos, chutes, gritos e disparos.
  Tendo Inez como refém, Jack me encara sem saber o que fazer, então, aponto com a cabeça para o convés superior, antes de puxar Taehyung até os degraus de madeira, quais, subo de costas para ter certeza de que não seria atacada.
  — Eu preciso de uma corda! — Grito, e a prisioneira extremamente magra e de cabelos presos, faz menção de ir atrás, mas Stu a imobiliza. — É melhor deixar ela fazer isso! — Grito para ele, indicando Taehyung na minha mira.
  Stu me encara enfurecido, mas solta a mulher, que corre entre todos no convés.
  — Vem, aqui. — Chamo Jack, que começa a subir com Inez.
  — O que vocês duas estão fazendo? — Uma voz familiar grita muito alto, e quando procuro por sua dona, vejo Dana atravessar o alçapão dos quartos.
  Jack me encara com desespero, soltado Inez por um momento.
  — Não! — Digo para ela, antes de encarar Dana. — Nos desculpe, mas precisávamos fazer isso. — Meus dedos se apertam ao redor do braço de Taehyung, enquanto minha voz sai mais baixa.
  A prisioneira magra logo volta, e sobe para o convés superior com rapidez.
  — Me ajude a amarrá-los aqui. — Indico as pilastras de madeira da barreira que havia no convés.
  Empurro Taehyung para o lado e mando que ele se sente, e, sem pestanejar, ele me obedece; Inez acaba fazendo o mesmo.
  Pego a corda que a prisioneira me entrega e começo a passá-la ao redor de Taehyung, enquanto ainda seguro a pistola.
  O vento da noite rodopia, balançando sua camisa aberta, deixando seu tronco ainda mais exposto. Os meus olhos se perdem em sua pele descoberta por um segundo, antes que eu chacoalhe sutilmente a cabeça e comece a contornar seu corpo com a corda, dando alguns nós para prendê-lo.
  Taehyung me encara de perto, com o rosto próximo ao meu, e quando o fito, ele sorri de lado, me fazendo afastar abruptamente.
  Enquanto Jack e a prisioneira amarravam Inez, me levanto do chão. Me aproximo das pilastras do convés, ficando na frente do leme, de modo que, todos possam me ver.
  — Estamos tomando o navio agora e o Capitão de vocês, está sob nossa posse! Então, é melhor que se rendam e nos obedeçam, caso contrário, ele vai morrer! — Por um momento, entre o aglomerado de pessoas, os meus olhos encontram os de Jungkook, que está sério, o que não era habitual em sua expressão sempre animada e descontraída. — Todos os tripulantes que se juntarem a nós, também terão sua liberdade de volta. E o resto... — Engulo em seco, ainda sentindo Jungkook me encarar, quase me fazendo sentir mal. — prendam todos os piratas. — Sem coragem de encará-lo, dou a ordem, suspirando de forma pesada.
  A prisioneira conosco, desce para o convés inferior para ajudar.
  — Vocês duas! Parem com isso agora! — Escuto a voz de Dana gritar de novo, e logo ela vem apressada para as escadas do convés superior.
  Contorno o leme para tentar me aproximar dela, mas acabo tropeçando em algo, percebendo que Taehyung esticou sua perna propositalmente, me fazendo cair de joelhos enquanto solto a pistola que escorrega para o lado.
  Olho da pistola para ele, antes de o ver forçar seus braços para frente, conseguindo se soltar de todos os nós que eu pensando estarem fortes o bastante para ele.
  Tento me jogar para frente, mas Taehyung segura meu tornozelo, me puxando para trás.
  — Jack, a pistola! — Grito, a encarando com exaspero.
  Ela tenta correr até a pistola, mas Inez chuta a arma para longe, perto dos degraus onde Dana havia parado na metade, nos observando com choque.
  — Dana, a pistola! Pega a pistola! — Grito assim que Taehyung me prende debaixo do seu corpo e ajuda Inez a se soltar, a fazendo ir agilmente para cima de Jack, que grita assustada.
  — Te peguei. — Taehyung prende os meus pulsos contra o chão, enquanto sorri.
  Me debato debaixo dele até conseguir nos rolar para o lado, ficando por cima.
  — Parece que não. — Sentada sobre suas ancas, sorrio também, me levantando antes que ele me atrapalhe mais uma vez.
  Escorrego para perto da pistola, vendo Dana ainda paralisada em seu lugar. E assim que os meus dedos tocam a arma, os braços de Taehyung passam ao redor da minha cintura, fazendo vários piratas gritarem no convés debaixo, enquanto se rebelavam contra os prisioneiros ao verem o seu Capitão solto.
  Taehyung ergue meu corpo do chão, me levando para trás enquanto sacudo as pernas no ar.
  Com apenas um braço ao redor da minha cintura, ele tenta arrancar a pistola da minha mão. Mas, assim que ele me coloca de volta no chão para me virar e tentar pegar a arma, vejo um dos piratas afastando Dana dos degraus, enquanto Inez fazia Jack de refém agora.
  — Você já perdeu, então é melhor se render logo. — Taehyung rosna entre um sorriso de escárnio, me encurralando entre seu corpo e as pilastras do convés.
  Me inclino para trás, sentindo as minhas costas penderem no ar e, por um segundo, quase o agarro quando penso que vou cair.
  — Eu vou sair desse navio! — Grito, irritada, afastando sua mão da minha, conseguindo apontar a pistola em direção ao seu rosto, mas ele era muito mais forte que eu, e quando eu aperto o gatilho, ele empurra meu braço para cima, fazendo o tiro voar para as alturas.
  Alguns tripulantes gritam.
  — Você não pode fazer isso comigo! Não tem o direito de me manter aqui! — Grito quando ele consegue segurar o cano da pistola, a puxando rudemente da minha mão.
  Taehyung me vira, passando um braço ao redor da minha cintura, enquanto encosta a saída da pistola no meu pescoço. Depois ele me obriga a andar para frente do leme.
  — Meus queridos piratas, vocês sabem o que não pode ser tolerado de jeito nenhum em um navio pirata?! — Taehyung pergunta, encarando a confusão no convés de baixo.
  Seu tronco descoberto encosta em minhas costas, deixando o meu corpo tenso, e seu braço se aperta ainda mais ao redor da minha cintura.
  — Um motim! — Os piratas, que levavam a melhor nas brigas no convés, gritam em uníssono.
  — Sim, um motim. — Taehyung aproxima seu rosto da minha orelha, falando as palavras perto demais.
  O meu corpo inteiro se arrepia de forma ruim, enquanto engulo em seco, sentindo o gelado da pistola contra minha pele.
  — E o que fazemos com amotinados?! — Taehyung pergunta, e logo um borrão rápido se balança na nossa frente, antes que Jungkook salte para dentro do convés superior.
  — Mandamos para a prancha. — O garoto de olhos grandes e de cabelos castanhos, responde, enquanto me encara.
  Taehyung ri atrás de mim.
  — Preparem a prancha! — Ele grita e os piratas no convés inferior comecem a se mexerem para todos os lados.
  Taehyung me arrasta em direção aos degraus, me obrigando a descer com ele, enquanto Inez trazia Jack atrás de nós.
  — Todos aqueles que participarem do motim, também andarão na prancha! — Ele avisa, ao mesmo tempo que, começamos a passar pelo aglomerado de pessoas. — Tragam todos!
  — Não! Por favor, Capitão, não faça nada com elas! Serena e Jack não fizeram por mal! — Dana grita de algum lugar, mas Taehyung não me deixar virar para vê-la.
  Em uma das bordas do navio, uma prancha longa foi estendida, sendo segurada por dois piratas, e um deles era Stu, que sorria de forma desprezível para mim.
  — Eu preciso de uma faca. — Taehyung fala, e logo um de seus piratas lhe entrega o objeto reluzente e afiado. — A segure por um instante. — Ele me empurra para Jungkook, que me prende com mãos fortes.
  Calmamente, Taehyung sobe na prancha, parando no meio dela. Ele retira sua camisa aberta e, em seguida, usa a faca para fazer um corte em sua mão, não expressão qualquer feição de dor.
  — O erro de vocês, além de terem iniciado esse motim — Taehyung encara a longa fila de prisioneiros presos por piratas que estava atrás da prancha. — foi terem feito um motim antes mesmo de saberem em que águas estão. — Ele sorri, enxugando o sangue que escorria de sua mão com a camisa branca, depois, a soltando em direção ao mar. — Nós estamos em Tiroy, um lugar conhecido pelos seus amigáveis moradores... — Seu olhar encontra o meu e era como se suas íris estivessem mais escuras agora, em um sombreado maligno. — Tubarões.
  Bastam alguns segundos para que escutemos uma agitação vindo da água, e quando o olhar de Taehyung vai para baixo, Jungkook me leva até à borda do navio, me fazendo ver o alvoroço de bolhas ao redor da camisa manchada de Taehyung. As barbatanas acinzentadas saem para fora da água, seguidas por grandes bocas com dentes afiados que rasgaram o tecido em questão de segundos.
  — Como Serena parece ter sido a responsável pelo motim, ela será a primeira. E que ela sirva de lição para qualquer um que pensar em me desafiar outra vez. — Taehyung caminha pela prancha, voltando para o convés.
  Ele para na minha frente, sorrindo de um jeito que me fazia querer estapeá-lo muitas vezes.
  — Se você fizer isso, nunca vai encontrar Atlantis. — Aproximo meu rosto do seu, falando entre os dentes.
  — Acho que vou correr esse risco. — Como fez da primeira vez que me ameaçou, ele dá um rápido beijo na ponta do meu nariz, tentando me amedrontar. — Para a prancha!
  Jungkook me empurra até que eu estivesse de frente para a tábua longa de madeira.
  — Capitão, por favor, me deixe fazer isso. — Stu fala entusiasmado, quando me aproximo. E então, Taehyung joga sua pistola em direção a Stu e ele troca de lugar com Jungkook que passa a segurar a prancha.
  Engolindo em seco, olho sobre os ombros, vendo a fila de prisioneiros assustados - contando com Jack - que me encaravam de forma apavorada.
  — Anda, suba! — Stu me cutuca rudemente com a pistola, me obrigando a subir.
  O meu coração acelera quando me coloco de pé na prancha, já não vendo mais os tubarões na água.
  — Agora caminhe! — Stu dispara para cima, me assustando desprevenidamente.
  Com as pernas medrosas, começo a dar curtos passos pela tábua de madeira, sentindo o vento da noite me atingir, assoviando ao meu ouvido como um aviso da minha derrota.
  Escuto os passos de Stu atrás de mim antes que ele encoste o cano da arma nas minhas costas, me empurrando para frente até que eu estivesse na beirada da prancha. Metade dos meus pés pendem para fora, fazendo o suor gelado molhar minha nuca e as mãos.
  As batidas do meu coração se aceleram, e o medo me abocanha por completo. Espio pelos cantos dos olhos, tentando encontrar uma saída. Mas, mesmo se eu conseguir contornar Stu, ainda haverá vários piratas armados prontos para acertarem, antes mesmo que eu consiga voltar para o convés.
  Quando penso em pedir desculpar e implorar pelo perdão daquele maldito pirata que se diz Capitão do navio, escuto o barulho de mais um tiro, e uma dor extremamente forte e ardente surge na minha perna, que falha, fazendo o meu corpo cambalear para o lado e cair da prancha, enquanto escuto os gritos de Jack.
  Os gemidos de dor nem têm tempo de saírem da minha boca, pois logo o meu corpo se choca contra a água gelada, me afundo na imensidão do mar. O vermelho do meu sangue mancha tudo ao meu redor, trazendo de volta os tubarões que nadavam por perto.
  Em uma mistura de dor e desespero, tento nadar para cima, tendo dificuldades por conta do tiro em minha perna. Quanto mais eu me debatia mais eu afundava.
  Um tubarão vem rápido em minha direção, me fazendo abrir a boca para gritar, mas apenas uma grande quantidade de água a enche, seguido por bolhas. O animal vai para baixo, encostando seu corpo nos meus pés, antes de começar a me empurrar para cima até que eu alcance a superfície.
  Tusso incessantemente, engasgada, ao mesmo tempo que tentava puxar o ar para os pulmões. O tubarão permanece embaixo dos meus pés, como um suporte para que eu não afunde, e mais dois surgem do meu lado, mas eles não me atacam, apenas ficam parados na minha frente, como se me encarassem como humanos.
  Cinco novo tubarões acinzentados emergem atrás dos que me encaravam, nadando com rapidez em direção ao navio, chocando seus corpos grandes contra o casco de madeira do navio até que ele começasse a balançar.
  Com o peito subindo e descendo rápido, arregalo os olhos, não entendendo o que estava acontecendo.
  — B-Bruxa! — Alguém grita do alto do navio, e quando olho, vejo todos me encarando com espanto.
  — Ela é uma bruxa e está controlando os tubarões para que derrubem o navio e nos matem! Vejam, eles não a atacam! — Mais gritos vindos do alto.
  — Capitão, a traga de volta para o navio antes que ela nos rogue uma praga! Um navio amaldiçoado por uma bruxa tem como destino o fundo do mar! — Inez surge do lado do Taehyung. Eu não podia ver com perfeição suas expressões, mas sabia que ela estava assombrada apenas por seu tom de voz.
  Taehyung estava olhando em minha direção e, em mais um baque dos tubarões no casco, ele ergue sua mão em um gesto que seus piratas logo entendem, correndo para longe da borda.
  — Lançar âncora! — Alguém grita, e todos se afastam, abrindo caminho para que o objeto reluzente seja jogado no mar, não muito perto de onde eu estava.
  Tento me mexer e nadar até a âncora, mas minha perna dói agudamente.
  — Droga! — Resmungo baixo, antes de sentir o tubarão embaixo de mim, nadar para frente, me levando com ele, assim me deixando de frente para a âncora.
  Através da transparência limpa da água, observo o tubarão em forma de borrões tremeliquentos, enquanto ainda me sinto completamente surpresa e confusa sobre tudo que aconteceu.
  Com um impulso para frente, seguro na corrente da âncora, me sentando de lado sobre ela, ficando com o corpo bem espremido. E, quando faço isso, os cinco tubarões param de atacar o casco de navio - que ganhou algumas rachaduras - e se afastam, nadando para longe. O tubarão debaixo da água também vai embora, e os dois que me encararam antes, o seguem.
  A âncora começa a ser puxada para cima e, em segundos, já estou sendo colocada de volta no convés do navio. Uma grande roda se formou ao meu redor, acompanhada por olhares assombrados.
  Jack estava de pé no começo da prancha, com certeza seria a próxima. Ela salta para o convés e corre em minha direção.
  — Você está bem? — Ela me encara com tanta preocupação que me fazia sentir culpada.
  Jack segura minha perna que ainda sangrava, a esticando com cuidado, enquanto sinto muita dor.
  — Foi um tiro de raspão. — Um pouco aliviada, ela solta o ar pesadamente pela boca.
  Encaro o corte pequeno, mas fundo em minha panturrilha, vendo a carne vermelha me saltar os olhos.
  — Me ajude a levantar. — Peço e Jack assente.
  Passo um braço ao redor do seu pescoço e, assim, nos levantamos juntas. Piso a perna esquerda no chão, sentindo todos os músculos dela arderem, mas isso não me impedia de andar, apesar de ser bem doloroso.
  — Não! Não! Devolva ele!
  — Capitão, veja o que eu encontrei!
  A algazarra de vozes faz todos os olhares se desviarem de mim, indo até Dana, que subia pelo alçapão, tentando perseguir um pirata que estava com Duque em seus braços.
  Os meus olhos se arregalam, e sem pensar muito, tento correr até o pirata, sentindo muita dor e sangue escorrendo na panturrilha.
  — Me dê! Ele é meu! — Puxo Duque do colo do pirata sem um dos dentes da frente, quando Duque estava prestes a mordê-lo.
  — Animais são proibidos no navio.
  — Então todos vocês piratas sujos deveriam sair do navio. — Rebato, nervosa e com dor. E a minha expressão faz o homem se afastar.
  — Bruxa. — Ele fala baixo, me encarando como se eu fosse algo estranho.
  — O que você é?! — Sinto uma mão segurar meu ombro, me virando de um jeito rude. Era Inez e ela me encarava da mesma forma que o outro pirata.
  Meu olhar vai dela para o de Taehyung, que estava a alguns passos atrás, me encarando de forma séria, completamente diferente de antes de me mandar para a prancha.
  — Vocês todos já disseram, não é? Acho que sou uma bruxa. — Rio nervosa e sem humor, pelo nariz.
  — O quê? Do que você está falando? — Dana se aproxima, me encarando confusa e preocupada.
  Nesse momento, a ignoro e caminho para perto de Taehyung, parando na sua frente, enquanto o fito com todo ódio que tenho.
  — Se você não quiser que eu amaldiçoe essa porcaria de navio, é melhor não mandar mais ninguém para a prancha. Estou falando sério. Você viu o que eu fiz lá na água. — Falo firme, impondo a minha voz sobre ele.
  O maxilar de Taehyung fica rígido, assim como seu tronco despido.
  — O cachorro vai ficar comigo e você não fará com ele, e nem com ela. — Aponto para Jack.
  Taehyung estreita seu olhar.
  — Tudo bem. — Ele dá um passo para frente e curva seu corpo, quase fazendo nossos rostos se tocarem. — Eu não farei nada com a sua amiga ou com o cachorro, mas nós estamos mudando a rota agora. Vou te levar até Darcy, a bruxa do pântano, e ela saberá me dizer a verdade. Então, eu espero mesmo que você seja uma bruxa, porque se estiver mentindo enquanto ameaça o meu navio e os meus piratas, eu mesmo me encarregarei do próximo tiro. — Sua voz sai baixa e grave, mas não me permito intimidar.
  Aperto Duque em meus braços quando ele se encolhe, se sentindo intimidado por Taehyung.
  — Levem o restante dos amotinados para a prisão. — Sem desviar o seu olhar do meu, ele dá a ordem.
  — Não! Você não pode prendê-los mais! — Me apresso, enquanto vejo os piratas puxando os prisioneiros em direção ao alçapão.
  — Meu acordo é com você. Além do mais, já prometi não machucar dois dos seus e isso é mais do que você merece. — Sua respiração quente acerta o meu rosto molhado, em um contrataste que me arrepia.
  — Eu poderia trazer o próprio Davy Jones para esse navio agora.
  — Você não consegue fazer isso. — Jungkook se aproxima, me encarando com desconfiança.
  — Não me tente. — Ralho para ele, antes de me virar e me afastar, sabendo que Taehyung não cederia. Eu não tenho qualquer poder de bruxa para cumprir a minha ameaça, por isso, é melhor ir enquanto eles ainda acreditam na minha mentira.
  Dana e Jack me ajudam a descer o alçapão, e depois me ajudam a chegar no quarto.
  Quando estamos em segurança, Dana sai por um momento e depois volta com bandagem velha e uma garrafa de rum. Ela se agacha na minha frente e segura na minha perna, derramando o rum em cima do meu machucado, e um grito agudo de dor escapa da minha boca.
  — Você estava naquela água com essa ferida, é preciso desinfetar. — Ela diz, antes de começar a enrolar a bandagem ao redor do machucado.
  Duque vem para o meu colo, choramingando quando percebe minha expressão de dor. Ao menos agora não vou mais precisar escondê-lo aqui vinte quatro horas por dia.
  Assim que termina, Dana se levanta e fica de pé na minha frente e de Jack, que estava sentada do meu lado.
  — Qual o problema de vocês duas?! Um motim, é?! Meu Deus, eu acho que vou enlouquecer! — Dana grita abruptamente, nos assustando por um momento.
  — Eu passei a noite inteira amarrada naquele mastro, eles mereciam e eu queria fugir desse navio. — Respondo, me sentindo chateada com seu tom de voz.
  Dana suspira, antes de apoiar as mãos na cintura.
  — Eu sei que deve ter sido horrível, mas você não pode esquecer que esse é um navio pirata, Serena. Você poderia ter morrido hoje. E se isso acontecesse, como você acha que os seus pais ficariam?
  Desvio meu olhar do seu e encaro o chão. Duque choraminga mais uma vez.
  — Eles já devem pensar que estou morta mesmo.
  — Mas não está, e ainda pode vê-los algum dia.
  — Nos desculpe. — Jack fala baixo e Dana suspira outra vez.
  — E que história era aquela de bruxa?
  Meu corpo molhado fica tenso, e de canto de olho, procuro o olhar de Jack.
  — Quando a Serena caiu do mar... — Sua voz vacila, em um tom ambíguo. — ao invés de a atacarem, os tubarões a ajudaram. Se não fosse por eles, a Serena provavelmente teria morrido.
  — O quê? — Dana arregala os olhos e enruga as sobrancelhas. — Do que ela está falando, Serena? Isso é verdade? Eu fui trazida para cá quando tentei impedir que levassem vocês para a prancha. Não vi nada disso.
  Assinto fracamente, emburrando minha expressão como a de uma criança culpada.
  Dana inclina levemente a cabeça para trás, tendo o mesmo olhar surpreso da tripulação.
  — Mas... como?
  Expiro alto e profundamente.
  — Eu não sei. — Respondo, sincera, me sentindo completamente perturbada com o que aconteceu no mar.

LAÇOS DE SANGUE: EL PLANO

  — Finalmente! — O feiticeiro exclamou um pouco alto demais, quando a imagem da bruxa do pântano surgiu dentro do pequeno espelho com bordas de ouro.
  — O que você quer? — Ela pergunta, rispidamente, de dentro do espelho.
  Este artefato mágico era um dos muitos que Darcy já havia feito. O espelho de ouro, em especial, permitia a qualquer um conversar com a bruxa, independente do lugar que estivesse. E, às vezes, Darcy se arrependia de ter dado o espelho para Jimin.
  — Por favor, me trate com um pouco mais de carinho. — Jimin desdenha, apoiando os pés sobre a pequena mesa de madeira coberta por suas quinquilharias de feiticeiro.
  — Diga logo o que você quer, estou ocupada.
  — Ocupada devorando sapos e outros insetos asquerosos?
  O rosto de Darcy se contorce atrás da venda, e se ela não fosse tão perdidamente apaixonada pelo feiticeiro, ela, com certeza, já teria o matado.
  Percebendo que a bruxa não daria uma resposta, Jimin espia a porta fechada de seu quarto no navio do Capitão Infâmia, antes de fazer sua próxima pergunta.
  — Onde ela está? — Jimin pergunta, enquanto rola um anel de pedra roxa pelos dedos.
  — Mais perto do que você imagina.
  Ele arqueia as sobrancelhas, sorrindo com a resposta.
  — Então não vai demorar para que os navios se cruzem? — O feiticeiro ri baixo.
  — Não. — A resposta de Darcy vem junto de um coaxar de sapo ao fundo.
  — Isso é bom. Muito bom, na verdade.
  — Por que você não vai até ela sozinho? — Darcy pergunta sem paciência.
  Jimin encara o pequeno espelho, fitando a venda de Darcy.
  — Serena não me ajudaria, ela não se lembra de mim e sei como pode ser difícil ganhar sua confiança, afinal, sou seu tio e sei como ela herdou essa característica irritante do meu irmão. — O desdém escorria do seu tom de voz, o fazendo sorrir logo em seguida ao pensar em como seu irmão estava agora: morto.
  — É mais simples do que parece, Darcy. — Jimin lança o anel no ar, antes de pegá-lo de volta. — Só estou nesse navio imundo, porque preciso do Capitão Infâmia para encontrar as partes do mapa de Atlantis. Quando elas estiverem reunidas, vou fazer com que ele e seu irmão digladiem pelo que não terão, lutando até a morte. E então, nesse momento, eu coloco meu terceiro soldadinho em jogo. — Um sorriso completamente perverso pinta os lábios cheios do feiticeiro. — Como você sabe, antes de vir para essa ratoeira flutuante, eu fui atrás do rei e convenci a sua guarda a se juntar ao meu plano. Confesso que não foi fácil, o comodoro Jung tem um grande senso de justiça e não queria se unir ao Capitão Infâmia. Mas, quando eu prometi que tudo isso era apenas um plano para atrair o Capitão Hanna e, assim, prender os dois piratas mais procurados de uma só vez, o comodoro não pôde recusar a minha oferta.
  Os olhos do feiticeiro vagam para longe, em pensamentos onde ele conseguia imaginar todo o seu plano perfeito se concretizando.
  — Quando o comodoro entrar na briga com os piratas, ele com certeza vai tentar prender a Serena também, porque ela faz parte da tripulação do Capitão Hanna. E será nesse momento que eu a salvarei e contarei toda a triste história de como seu pai morreu por mãos humanas, enquanto tentava encontrar Atlantis. E como sendo o último desejo de seu pai, minha doce sobrinha vai me ajudar a encontrar Atlantis antes que eu a mate de vez.
  — Árie não morreu por mãos humanas, você foi a causa da morte dele. — Darcy cospe as palavras através do espelho mágico.
  — Isso é só um detalhe, minha querida. Não acho que Serena precise saber disso. — O feiticeiro fala de forma despreocupada.
  Na mesma intensidade que o amava, Darcy também odiava Jimin, pois em todos os seus longos anos de vida, ela nunca conheceu ninguém tão cruel como o feiticeiro exilado dos confins do mar.

Capítulo 8
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