Capítulo 5
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— Você tem certeza? — Sussurro para Jack, que estava sentada na minha frente, de pernas cruzadas.
Ela encara o pequeno saco de pano cheio de moedas de ouro, que estava entre nós duas sobre o colchão do beliche de cima.
Jack assente, em silêncio.
Nós já havíamos planejado tudo, ficaríamos perto de Namjoon ou Jungkook durante a saída, visto que, dessa forma, seria muito mais fácil despistá-los para que pudéssemos arrumar um jeito de comprar, ao menos, uma arma. Jack sugeriu que usássemos as moedas que ela ganhou no navio por seu trabalho. Eu realmente estava receosa quanto a isso, pois sabia que Jack costumava enviar suas economias para sua família, e se ela usasse as moedas para comprar uma arma, esse mês sua família se viraria por conta própria. Mas ela insistiu tanto e, de qualquer forma, nós não tínhamos muitas opções.
— Você não acha que devemos contar pra ela? — Jack sussurra e aponta com a cabeça para Dana, que estava mexendo no guarda-roupas.
— Contamos depois que conseguirmos a arma. Ela pode implicar se souber o que pretendemos fazer. — Sussurro de volta, sabendo que Dana era do tipo superprotetora e não apoiaria nosso plano, pois ele é um pouco arriscado.
— O que tanto vocês duas cochicham aí em cima, posso saber? — Olho assustada para Jack, quando a voz de Dana nos pega de surpresa.
A mulher de cabelos vermelhos e presos não nos olhava, continuava concentrada em buscar algo dentro do móvel de madeira, enquanto Duque corria ao redor dos seus pés.
A revista aconteceu hoje cedo e, por sorte, deu tudo certo. Não havia nada suspeito em nosso quarto, que foi examinado em cada canto. Eu gostaria de deixar Duque lá embaixo até que eu voltasse, mas como Dana e Jack me alertaram, é comum que os piratas se livrarem dos animais e prisioneiros durante as ancoradas, por isso, tive que trazer Duque de volta para o quarto.
— Só estamos falando bobagens, mamãezinha. Não se preocupe. — Jack diz, de um jeito descontraído, amenizando as suspeitas.
— Pois vão falar bobagens lá fora, porque já estou pronta. — Dana puxa uma pequena bolsinha de pano de dentro do guarda-roupas e a coloca sobre o ombro esquerdo. Em seguida, ela fecha as portas de madeira e ajeita Duque em sua gaveta/cama.
Jack pega seu saco de moedas e desce do beliche, e eu a sigo. Depois, me aproximo de Duque, agachando-me nos joelhos.
— Seja bonzinho e não faça barulho, certo? — Beijo o topo da sua cabeça peluda e ele me lambe animado. — Prometo que dessa vez, nós dormiremos juntos. — Faço um rápido carinho na parte debaixo do seu focinho, e me levanto, juntando-me a Jack e Dana, que me esperavam perto da porta.
— Tchau, floquinho de neve peludo. — Jack acena para Duque, e Dana ri, antes de abrir a porta para que saíssemos do quarto.
Já haviam algumas mulheres no corredor, todas prontas para pisarem em um chão de terra depois de uma semana navegando em um navio pirata.
De manhã, durante o café, Inez fez um comunicado geral, pedindo que todos se arrumassem, pois iriamos ancorar e a tripulação toda poderia sair por algumas horas do navio.
Os murmurinhos pelo navio pareciam ansiosos e felizes, e me pergunto o que essas pessoas fariam ao pisarem em terra firme.
Após fazermos o nosso caminho em uma pequena fila, subimos para o convés, onde grande parte da tripulação já se reunia, desde nós, os novatos, os músicos e piratas experientes, como, o Capitão, que estava no convés superior ao lado de Namjoon, que manuseava o leme.
Pela primeira vez, Namjoon não estava com um pano na cabeça, por isso, vi pela primeira vez seu cabelo preto, que era um pouco baixo nas laterais e maior em cima.
Todos estavam agitados e olhavam para uma única direção: o pequeno montinho que a cada minuto se tornava maior. Nossa primeira visão que não fosse água. Era uma pequena cidade que se materializava no horizonte.
Jack me cutuca sutilmente e eu a encaro, sabendo exatamente o que deveríamos fazer. De forma rápida, passo os olhos por todo o navio até encontrar Jungkook. Se Namjoon estava com o Capitão agora, então o pirata de pé na borda do navio seria o nosso escape.
Pedindo licença a todos que estavam no caminho, passo por entre o aglomerado de tripulantes, até chegar do outro lado do navio.
— Ei! — Chamo, enquanto faço uma careta ao tentar passar por entre dois homens que estavam ocupados demais deslumbrando a cidade que se aproximava.
— Serena. — Jungkook diz, afastando a mão esquerda do rosto, cuja ele usava para tampar o sol e enxergar melhor o nosso destino.
— Pra onde estamos indo?
Segurando uma das cordas do navio com a mão direita, Jungkook se balança nela e pula da borda, para o chão do convés.
— Ilha Suli.
— E você já foi nesse lugar antes? — Pergunto, tentando soar despreocupada.
— Sim. — Ele assente, enquanto me encara. — Por quê?
— Então me fará companhia, certo? — Seguro em um dos seus braços e sorrio para ele. — Você poderia nos mostrar alguns lugares legais, o que acha?
— Dana já foi em Suli também, ela pode te ajudar.
— Dana tem as coisas dela para fazer. Disse mais cedo que gostaria de comprar algumas roupas novas, porque essas que vocês nos dão, não são nada bonitas. — Digo, e Jungkook ri.
— Tudo bem. Então fique comigo e eu te mostro tudo que você quiser. — Ele sorri, mas não percebo nenhuma intenção mascarada nisso.
— Obrigada, pirata. — Aperto meus braços ao redor do seu, devolvendo o sorriso.
— O que você pensa que está fazendo com ela? — Dana surge com Jack por entre a tripulação.
Dana encara Jungkook com os olhos estreitos, e ele arregala os olhos castanho-escuros.
— Eu não fiz nada. É ela que não me larga. — Jungkook me encara atordoado, como se pedisse ajuda, fazendo Dana rir, enquanto solto seu braço.
— Só estou brincando, garoto. Eu fico feliz por ver o meu peixinho se dando bem com outras pessoas. — Dana sorri gentil para mim.
Jungkook respira aliviado, enquanto bagunça os cabelos escuros que estavam amontoados debaixo e em cima de um pano amarrado em sua cabeça. E acabo o achando adorável por isso.
— Atenção, piratas malcheirosos! Estamos prestes a ancorar! — Namjoon grita do convés superior, fazendo todos ficarem agitados enquanto conversam.
Ilha Suli estava muito próxima agora, se alguém pulasse na água, conseguiria chegar na cidade em questão de segundos, e isso me faz ficar ansiosa um pouco, o momento estava chegando.
Discretamente, olho para Jack, e a vejo apertar o topo do seu saco de moedas, com força. Ela também estava nervosa.
Os meus olhos se fixam na cidade, enquanto vejo o navio cada vez mais perto da arreia. Alguns tripulantes correm para perto da borda, para observarem mais de perto seu pequeno momento de liberdade.
Os murmurinhos estavam muito altos nesse momento, a tripulação realmente era grande.
Um alto assobio corta cada uma das conversas agitadas, fazendo todos se calarem e olharem para trás.
O Capitão Hanna afastava os dedos da boca e havia ido para frente do leme, cobrindo Namjoon.
— Escutem, todos! — Taehyung grita, ao mesmo tempo em que o navio bate na areia, criando um pequeno tranco que nos impulsiona para frente. Ele segura no batente das pilastras de madeira do convés superior, enquanto passa seus olhos por toda tripulação. — Nós estamos ancorando agora! E darei a vocês algum tempo livre! Mas, estejam cientes de que aqueles que não retornarem para o navio antes do entardecer, serão caçados e colocados nas celas do navio!
Um alto barulho me faz desviar o olhar, e vejo quanto alguns piratas abrem e descem a porta do navio, deixando-a em forma de rampa. Me sinto ansiosa quando encaro a saída para a cidade. Era como se eu pudesse tocar a minha liberdade, mesmo sabendo que teria que voltar para navio ainda hoje.
— Senhoras! Senhores! — Os dedos cobertos de anéis coloridos do Taehyung deslizam sobre o batente das pilastras de forma lenta. — Aproveitem a saída de vocês! — Ele sorri e, com isso, todos começam a andar apressados até à rampa improvisada, sem perceberem que por trás daquele sorriso do Capitão, ele estava apenas esperando ansiosamente para que algum dos novatos cometesse um mísero erro para que ele pudesse agir com toda sua crueldade de pirata. Essa era a sua emboscada.
— Vamos? — Dana olha para mim e Jack.
Respiro fundo e assinto para ela. Assim, com isso, nós quatro também fomos em direção à rampa, descendo por ela lentamente.
No momento em que os meus pés pisam na areia, me sinto livre por um segundo, mas quando os dedos de Jack tocam de leve minha mão, percebo que preciso me concentrar no que viemos fazer.
Juntos, nós atravessamos a praia, que era menor da que havia em Marlli. E, progressivamente, o som da cidade começa a encher os meus ouvidos, e isso me deixa um pouco reconfortada, pois me fazia sentir mais perto de casa.
— Aqui tem uma loja que vende roupas bem baratas. Eu conheço a dona, já conversamos algumas vezes. Acho que posso melhorar ainda mais o preço. — Dana comenta, animada, enquanto entramos em uma rua de pedra, onde pessoas passeavam com seus familiares.
Quando nos percebem, mais especificamente, a Jungkook, alguns moradores se afastam, ou têm olhares de medo ou desaprovação, mas o pirata conosco não parece se importar com isso.
O sol era agradável e nos atingia enquanto virávamos em uma nova rua completamente coberta por caixotes, tendas e pessoas gritando. E, assim, começamos a caminhar pelo meio da feira, que vendia desde frutas até legumes e algumas quinquilharias.
Ao passarmos em frente a uma tenda que vendia belas maçãs vermelhas e verdes, percebo Jungkook se abaixar por um momento, retirando de dentro da sua bota, uma pequena faca, cuja ele usa para espetar uma das maçãs vermelhas.
Despreocupadamente, ele morde a fruta, enquanto o dono da tenda o encara com descrença.
— Ei, seu maldito pirata! Você vai ter que pagar por isso! — Cheio de irritação, o homem de cabelos castanhos, esbraveja, levantando seu punho no ar.
Sem pressa, Jungkook se vira para ele e aponta sua faca em direção ao homem, que se inclina para trás e arregala os olhos.
— Se continuar falando, vou arrancar sua língua. — Jungkook o encara por alguns segundos, antes de manusear sua pequena faca, que gira algumas vezes em sua mão e volta para dentro de sua bota marrom.
O vendedor de maçãs fica imóvel, visivelmente assustado com a ameaça. E com os olhos atentos, ele permanece fitando Jungkook que, ainda despreocupado, começa a se afastar da tenda, como se nada tivesse acontecido.
— Senhor, me desculpe. Tome isso. — Dana se apressa a meter a mão dentro de sua bolsa de pano, pegando duas moedas de outro e entregando para o dono da tenda.
Dana agiliza seus passos, indo atrás de Jungkook, que já estava quase terminando de comer a maçã que ele roubou.
— Garotinho, você não pode sair por aí surrupiando o que não é seu. — Dana encara seriamente Jungkook que, ao terminar sua maçã, joga o que sobrou no chão.
— Você já me viu fazendo isso muitas vezes, não é novidade. Eu sou um pirata. — Ele se inclina em direção a Dana com um olhar ameaçador, tentando fazê-la se acuar como fez com o vendedor de maçãs.
Dana estreita seus olhos, sustentando o olhar de Jungkook, antes de o segurar por uma das orelhas, apertando-a com força.
— Não é porque você é um pirata que isso quer dizer que está certo roubar dos outros. — Ela torce a orelha de Jungkook, que começa a reclamar de dor, enquanto pende seu corpo para o lado. — Diga que não vai mais fazer isso, Jungkook.
— Ai! Ai! Tá bom! Tá bom! Eu nunca mais vou fazer isso! Agora solta a minha orelha!
Algumas crianças que corriam pela feira, começavam a rir de Jungkook.
Ainda séria, Dana larga a orelha de Jungkook, que a tapa com as duas mãos, enquanto faz uma careta emburrada.
— Você quase a arrancou. — Ele resmunga como se fosse uma criança também.
— Eu deveria ter arrancado mesmo, assim você aprenderia. — Dana ajeita sua bolsa sobre o ombro e depois cruza os braços.
— Eu não ia mostrar a cidade pra vocês? — Jungkook encara Jack e eu. — Não quero mais ficar perto dessa velha rabugenta. — Jungkook solta sua orelha, que havia ficado um pouco vermelha.
— Veja só, nem parece mais um pirata. — Dana caçoa de Jungkook, rindo logo em seguida, e isso o deixa ainda mais carrancudo.
Jack me olha de maneira significativa. Esse era o momento, e para que ele dê certo, Dana não pode estar perto, ou, caso contrário, ela poderia intervir.
— Dana, tudo bem se formos com ele? Jungkook prometeu nos levar em alguns lugares legais. — Digo, e Jack agarra o braço da mulher de cabelos vermelhos.
— Não sei se os lugares legais dos piratas são adequados para vocês duas.
— Não se preocupe, se for algo muito libertino, nós o deixamos para trás. — Jack tenta tranquilizá-la.
Dana fica em silêncio por alguns segundos, pensando.
— Não se preocupe, mamãezinha.
— Certo, mas tomem cuidado e me encontrem na entrada do navio antes do entardecer. E você, Jungkook, se comporte viu. — Ela encara o pirata, que finge não a ter escutado.
Nos despedimos brevemente de Dana, antes de voltarmos pelo caminho da feira, seguindo em uma direção diferente.
— Então, aonde vai nos levar? — Pergunto, me colocando do lado de Jungkook.
— Cabaré.
Encaro Jack, que estava do lado esquerdo do pirata.
— Jungkook, você quer nos levar ao Cabaré? — Incrédula, Jack encara Jungkook com desaprovação.
Ele dá de ombros.
— Vocês me pediram pra mostrar lugares legais. E o Cabaré é o lugar mais legal que eu conheço nessa cidade.
Os meus planos para essa ancorada, definitivamente não eram acabar em um Cabaré com um pirata e uma sequestrada. Mas já escutei boatos sobre esse tipo de lugar, e sei que todo tipo de gente costuma frequentar essas casas de shows, por isso, talvez eu encontre o que quero por lá.
***
Levamos algum tempo para chegar até o lugar, ele não ficava escondido como pensei, na verdade, estava bem localizado. A fachada chamava a atenção com suas cores escuras e que combinavam com perfeição: preto e vinho.
— Hanna's Cabaret? — Me viro para Jungkook, surpresa e curiosa.
Ele dá de ombros, caminhando até à entrada.
Jack e eu nos apressamos para segui-lo.
Em meio as placas que anunciavam os shows, Jungkook sobe os dois pequenos degraus e abre a porta pintada de preto, sem nem se dar ao trabalho de bater antes.
— Estou entrando. — Ele anuncia, de forma alta.
Jack fica um pouco receosa, e acabo tendo que segurar sua mão, puxando-a para dentro, em um ambiente muito bem iluminado e com cores escuras e sensuais. Havia um grande palco com a borda circular, muitas cortinas elegantes e várias mesas espalhadas por todos os lados, assim como muitas mulheres usando apenas lingeries e roupas pomposas andando de um lado para o outro.
— Bonitinho! — Uma das mulheres fala alto, fazendo as outras olharem em nossa direção.
A mulher usando apenas um espartilho, uma calcinha vermelha e meias pretas corre para perto, recebendo Jungkook com um abraço.
— Há quanto tempo. O que faz aqui?
— Ancoramos em Suli e pensei em visitar. Fiz mal?
A mulher sorri abertamente para ele.
— Claro que não. Você sabe que são mais que bem-vindos aqui.
— Quem são? — Uma outra mulher, essa usando um vestido com uma enorme fenda, pergunta, depois de se aproximar também.
Jungkook nos encara sobre os ombros, e faz um gesto de mão para que nos aproximássemos mais.
— São parte da tripulação agora. Elas me pediram para mostrar um lugar legal, então as trouxe aqui.
Mais duas mulheres se aproximam e uma delas aperta a bochecha de Jungkook.
— Oras, obrigada então. — Ela ri. — Você continua uma gracinha. Na próxima vez que vier, me procure e eu farei um show particular para você, como agradecimento. — Seus lábios pintados de rubro sorriem para Jungkook, que ri.
— Jule está por aqui? — Ele pergunta.
— Não. Ela ainda não chegou, mas já estamos nos ajeitando para o show dessa noite. — Uma das mulheres, responde. — E o Capitão, onde está?
— Resolvendo alguns assuntos dele.
— Oras, ele é sempre tão ocupado. Eu adoraria vê-lo agora. — A mulher de lábios rubro, suspira, fazendo uma feição desapontada.
— Bem, mas venham, se acomodem um pouco. — Duas das mulheres seguram Jungkook pelos braços, o levando para uma das mesas.
— Não sejam tímidas, vocês também. Toda a tripulação do Capitão Hanna é bem-vinda no nosso Cabaré. — Outras se aproximam de nós, nos levando junto.
— Alguém já te disse o quanto você é linda? — Uma mulher de cabelos bem curtos segura meus ombros enquanto me encara. — Adorei o seu cabelo. Se um dia você resolver largar os piratas, nos procure, posso te arrumar um emprego aqui. Com certeza, você atrairia muitos clientes novos. — Suavemente, ela me empurra para baixo para que eu me sente em uma das cadeiras ao redor da mesa onde Jungkook estava.
— Certo, tudo bem. Obrigada. — Sorrio para ela, que retribui.
— Quem é? — Jungkook pergunta para as mulheres que nos rodeavam, enquanto aponta com a cabeça para algo em sua direção, mas um pouco longe.
Em uma mesa afastada, havia um único homem muito magro e de olhos fundos. E nos braços da sua cadeira, estavam sentadas mais duas mulheres.
— É um viajante. Ele apareceu aqui hoje cedo, tentamos dizer que estava fechado e que só abriria de noite, mas ele insistiu, disse que só queria companhia e nos mostrou um saco de joias. Bem, Ingrid e Sofi não se importaram, elas conseguiram muitos anéis e colares.
— Jule não vai gostar disso, tenho certeza. — Jungkook apoia os cotovelos no alto da sua cadeira.
— De qualquer forma, ele já vai ter que ir. Está aqui faz tempo e já bebeu duas garrafas de licor, sozinho.
— Quem é Jule? — Jack pergunta, do meu lado.
— A dona do Cabaré. Ela é um pouco estabanada, sempre se atrasa, mas é rígida e não gosta de ninguém fuxicando o Cabaré antes das apresentações, exceto pela tripulação do Capitão Hanna. — A mulher que nos recebeu, responde.
— Vocês gostam mesmo dos piratas. — Comento.
— Mais do que você pode imaginar. — Uma delas diz, fazendo todas rirem.
— Bonitinho, você vai ter que nos desculpar agora, mas precisamos nos preparar para o show dessa noite. Mas fiquem à vontade.
Jungkook assente para a mulher de espartilho.
— Drika guardou uma garrafa daquele licor que você tanto gosta. Ela estava esperando você voltar para te entregar.
Essas palavras são o suficiente para fazer Jungkook se levantar.
— Me esperam por um segundo? Vou buscar a garrafa e já volto. — Jungkook nos fita com os olhos grandes, quase brilhando.
— Não demore. — Jack diz seriamente, fazendo algumas das mulheres rirem de novo.
— Eu não vou. — Ele sorri, antes de começar a se afastar com elas.
Eles passam perto do homem das joias e, sutilmente, a mulher de espartilho toca o braço de uma das que estava sentada com o homem, e ela logo entende que precisava encerrar seu tempo. Então, ela e a outra se levantam dos braços da cadeira e se despedem do homem magro, levando consigo o saco de joias.
O homem de olhos fundos nem prestou atenção nas duas, pois ele passou a nos encarar.
— Que estranho. — Jack comenta comigo e eu assinto.
Quando as duas mulheres se vão de vez, o homem se levanta e começa a caminhar em direção à nossa mesa, puxando uma das cadeiras e se sentando conosco, mesmo sem ser convidado.
Jack e eu o olhamos sem entender. O homem passa, ao menos, uns dois minutos apenas nos encarando do outro lado da mesa.
— Vocês não são novinhas demais para estarem andando com piratas? — Ele pergunta com uma voz falhada, fazendo o cheiro do seu hálito carregado, chegar até as minhas narinas. Fedia a álcool puro.
— Ele só estava sendo gentil e nos mostrando alguns lugares da cidade. — Jack responde.
O homem aperta seus olhos.
— E o que há de interessante em um Cabaré?
— Eu poderia fazer a mesma pergunta para o senhor. — Rebato, e o homem ri, jogando seu corpo para trás, na cadeira, fazendo com que o longo casaco que usava, balançasse com seu movimento, revelando uma pequena parte da pistola enterrada no seu cinto de couro.
De canto de olho, fito Jack, que devolve o olhar, tão atenta quanto eu.
— O senhor é um viajante? Foi o que as dançarinas nos disseram. — Pergunto.
O homem sorri de lado, mostrando alguns dentes de ouro que ele tinha em meio aos dentes amarelados.
— Estou por aqui e por ali. — Ele apoia as mãos atrás da cabeça escassa de cabelos.
— Então presumo que não conheça muito dessa cidade. — Continuo, sabendo exatamente o que deveria fazer.
Ele arqueia as sobrancelhas.
— Por que a pergunta? — Seu olhar se revezava de Jack para mim e vice-versa.
Suspiro falsamente.
— É difícil ser uma mulher nos dias de hoje, a todo momento alguém tenta tirar proveito de nós. — Me inclino sobre a mesa e abaixo meu tom de voz para continuar. — Nós estamos atrás de algo como o seu. — Desvio meu olhar até o seu cinto, e o homem acompanha, arqueando as sobrancelhas de novo.
— Uma arma? Vocês querem uma arma?
Jack puxa o pequeno saco que havia escondido debaixo do seu agasalho, e as moedas dentro dele fazem barulho quando o saco é colocado sobre a mesa.
— Cinquenta moedas de outro por uma pistola. — Ela diz, também baixo.
O homem de olhos fundos, observa o saco amarrado com um barbante de cipó.
— Não posso vender a minha pistola, ou ficarei sem. Mas posso levá-las até um lugar que vende aqui em Suli. Se quiserem, venham comigo. — Ele sorri.
Troco um olhar com Jack, antes de puxar o saco de moedas e guardá-lo dentro da minha bota.
— Tudo bem, eu vou com você. Jack, você fica aqui e distrai o Jungkook, qualquer coisa, diga que fui atrás de Dana. Não vou demorar.
Jack parece meio incerta, mas sabendo que precisávamos de uma arma, ela acaba assentindo.
— Tome cuidado. — Ela encara o homem que já se levantava.
— Não se preocupe. Estou de olhos bem abertos. Estou indo. — Toco o ombro de Jack, antes de começar a me afastar com o homem que era um pouco menor do que eu.
***
Após sairmos do Cabaré, o segui, sempre mantenho uma distância segura, ficando atrás do homem, enquanto mantinha os meus olhos atentos.
Eu não conheço Suli, mas, com certeza, esse homem me levou para longe do Cabaré, e sei disso porque andei ainda mais do que antes. Eu estava em alerta com ele, mas também sei que lugares que vendem armas não ficam expostos em todo canto, pois se a guarda encontrasse, poderia fechar o lugar para sempre e prender seu dono.
O vento suave e levemente gelado do dia ensolarado, balançava a barra do meu vestido azul a um palmo e meio acima das minhas botas marrons.
— Fica logo ali. — O homem se vira para me olhar e aponta para uma virada que ficava entre duas construções velhas e, aparentemente, abandonadas.
Assinto, em silêncio.
Ele entra na virada antes de mim, e quando o sigo, percebo se tratar de um beco sem saída, repleto de caixotes velhos de feira.
— Não tem nada aqui. — Digo, parando atrás dele, que estava de costas para mim.
— Acho que já estamos longe o suficiente dos seus amigos. — O homem se vira, e seu olhar parecia mais fundo do que antes. Ele me olha da cabeça aos pés. — Que tal me deixar brincar um pouco com você e, no final, você me entrega essas moedinhas de ouro que tem aí?
Em seguida, ele sorri com seus dentes amarelados e tenta me agarrar, beijando meu pescoço. Meu corpo se arrepia em nojo e o empurro para trás, com força, o fazendo cair em cima de alguns caixotes que se partem.
— Fique longe de mim. Estou falando sério, seu porco. — Asperamente, passo a mão no lugar onde ele beijou, sentindo ainda mais nojo. — Eu deveria te bater.
— Bater? — Ele ri fraco, sem me olhar, enquanto afasta as madeiras quebradas, percebendo que a palma de sua mão havia sido cortada e estava sangrando. — Eu não queria usar a violência, mas você não está me dando escolhas.
O homem leva a mão machucada até seu cinto, e sei exatamente que ele procurava por sua pistola.
Ligeira, me viro para correr, mas acabo esbarrando em algo, ou melhor, alguém.
— Nem pense em fazer isso. — A voz grave ecoa por todo o beco, enquanto um dos braços do Capitão Hanna, rodeia meu tronco, me mantendo perto dele.
O encaro surpresa, sem nem o ter percebido se aproximar.
O homem magro volta a me encarar após escutar a voz do Capitão, e sua expressão muda no mesmo segundo. Seus olhos se arregalam e qualquer vestígio do seu sorriso nojento, some.
— Você é o Capitão Hanna? — O homem pergunta, visivelmente tenso.
Ainda me segurando, Taehyung me gira, colocando meu corpo atrás do seu.
— Pegue as suas coisas e dê o fora de Suli, porque se eu o ver aqui de novo, vou te matar, entendeu? — Até mesmo eu, sou capaz de ficar tensa com suas palavras.
Inclino minimamente minha cabeça para o lado, vendo por trás de suas costas, o homem assentir e se levantar com rapidez do chão.
— M-Me desculpe, Capitão. Eu não sabia que ela estava com você. — Ele abaixa sua cabeça rapidamente e sai correndo para fora do beco.
— Como sabia que eu estava aqui? — Pergunto assim que o homem amedrontado some de vista.
Taehyung se vira para mim com uma expressão séria.
— Estava por perto, resolvendo algumas coisas, e vi quando você o seguiu para dentro do beco. Por que fez isso?
— Eu me perdi dos outros e ele disse que me ajudaria. — Encolho os ombros e sorrio sem graça, torcendo para que ele acredite na minha mentira.
Ele suspira alto, fazendo seu peito inflar, marcando levemente a blusa branca que usava.
— Não confie em homens que não sejam o seu pai.
Assinto.
— Pode deixar, não vou. — Forço outro sorriso.
Ele me encara por alguns segundos e nega com a cabeça.
— Vamos. — Taehyung passa por mim e começa a caminhar pelo beco.
— Vamos? Para onde? — Corro para alcançá-lo.
— Você virá comigo e depois voltaremos para o navio.
Fico em silêncio, enquanto sinto vontade de suspirar, sabendo que enganar ele era muito mais difícil do que os outros piratas. Eu havia perdido a minha chance e nem ao menos sabia quando seria a próxima ancorada.
***
Lado a lado com o maior empecilho para o meu plano, caminhei por Suli até voltar para ruas movimentadas. Ele não me disse para onde iriamos, mesmo que eu perguntasse isso ao menos umas cinco vezes. Seu semblante não mudou, continuo sério e ele em silêncio.
Taehyung parecia chamar mais atenção do que Jungkook, provavelmente porque seu rosto está em cartazes espalhados por todos os cantos dos sete mares. Alguém capaz de amedrontar sem nem fazer algo, como aconteceu com o homem no beco.
Distraída nos meus próprios pensamentos, preciso virar com rapidez quando ele deixa de andar reto, quase me fazendo trombar com suas costas. Taehyung havia parado em frente a uma taverna chamada "Pó de Osso".
Assim que entramos no estabelecimento, o barulho de conversa alta, gargalhadas e música, nos recebe. Muitos homens e poucas mulheres bebiam e jogavam cartas.
A dois passos na frente, Taehyung começa a caminhar para o fundo da taverna, em direção a uma mesa mais escondida, onde Namjoon ocupava uma das cadeiras.
— Até que enfim você voltou. O que ela faz aqui? — Namjoon me encara confuso quando me sento do lado de Taehyung.
— Encontrei no caminho. — Ele apoia seu braço no topo da minha cadeira.
Namjoon me observa, mas acaba deixando de lado.
— E descobriu alguma coisa?
— Reno está em Suli. Vai estar aqui no horário de sempre. — Taehyung responde.
— O que vocês vão fazer? — Pergunto, fazendo os dois me olharem.
— Essa será sua segunda aventura como tripulante do Vingança, Serena. Primeiro, participou da invasão ao navio atacado pelo Capitão Infâmia, e agora participará de um acerto de contas. — Namjoon sorri.
— Acerto de contas? — Franzo meu cenho e ele assente.
— Um maldito porco está com algo que é meu, e agora irei pegar de volta. — Taehyung diz ao meu lado.
— O que é?
— Uma bússola. — Ele me encara.
— Uma bússola? Mas vocês já não têm uma?
— Essa é especial. Mas ele a perdeu após apostá-la em um jogo de cartas. — Namjoon ri, fazendo Taehyung o fitá-lo sério.
— Eu estava bêbado e ele se aproveitou.
— Se ele ganhou sua bússola nas cartas, então foi de forma justa. Você não pode roubá-la. — Taehyung me encara de novo e aperta os olhos, antes de inclinar seu rosto em direção ao meu.
— Não é roubo se a bússola é minha. — Ele fala tão próximo que sinto sua respiração atingir meu rosto.
Levanto as sobrancelhas.
— Isso é uma besteira.
Ele ri nasalado, de forma sarcástica, e se afasta.
A taverna se torna mais barulhenta e grito animados cumprimentam alguém que havia chegado.
— Bem na hora. — Namjoon fala e aponta com a cabeça para perto da porta, onde um homem alto e gordo entrava.
O homem estava acompanhado de mais dois, e começava a caminhar em direção ao único balcão do lugar, cujo o provável dono servia bebidas. E conforme andava e cumprimentava algumas pessoas pelo caminho, a bússola dourada e fechada balançava presa no seu cinto preto.
Espio Taehyung e o vejo estreitar os olhos enquanto observava com atenção o objeto.
— É agora. — Ele avisa, batendo as mãos na mesa e se levantando de supetão, fazendo Namjoon o seguir de forma desajeitada.
Permaneço sentada em meu lugar, vendo os dois se aproximarem do balcão. Algumas pessoas os acompanham com os olhares e Taehyung para atrás do tal Reno, cutucando seu ombro para que ele o olhe.
O homem que segurava um grande copo vira parcialmente, e quando percebe ser Taehyung, ele se vira por completo em sua direção. A taverna inteira fica em silêncio, até mesmo os músicos que param para observar a cena.
— Ora, ora, se não é o temido Capitão Hanna. O que quer comigo? Veio perder nas cartas de novo? — Reno provoca, fazendo seus dois companheiros rirem, assim como algumas pessoas por perto.
Noto as mãos de Taehyung se fecharem em punhos, ao lado do seu corpo.
— Devolva a minha bússola. — Taehyung estava de costas para mim, mas sei que sua expressão deve estar tão intimidante quanto sua voz.
Reno ri alto, jogando a cabeça para trás, e depois encara seus companheiros, antes de dar um gole em sua cerveja, batendo o copo de vidro no balcão.
— Todos aqui viram quando eu te ganhei nas cartas. A bússola não é mais sua. — Ele dá um passo em direção a Taehyung, deixando seu rosto bem próximo do dele. — Mas se faz tanta questão assim, por que não tenta pegá-la de mim? — Reno também deixa sua voz intimidante e, com isso, bastam apenas milésimos de segundos para que Taehyung acerte em cheio seu rosto com um soco, o fazendo cair no balcão e derrubar alguns copos, que quebram.
— Na minha taverna de novo não! — O homem atrás do balcão grita, fazendo assim, uma onda de gritos surgirem dentro do estabelecimento quando Reno parte para cima de Taehyung.
Os músicos voltam a tocar como se quisessem fazer uma trilha sonora para a briga.
Reno consegue acertar Taehyung com um soco também, o fazendo cair sobre uma mesa. Mas quando Reno tenta golpeá-lo de novo, Taehyung chuta sua barriga com a sola da bota, fazendo-o se curvar de dor.
Os dois companheiros de Reno tentam partir para cima de Taehyung, que consegue acertar um deles com uma cadeira de madeira, enquanto Namjoon cuida do outro, batendo tanto no homem que em questão de segundos ele já estava nocauteado no chão.
Me sinto um pouco nervosa por ver essa briga, e os gritos eufóricos de todos na taverna só deixavam as coisas piores.
Namjoon parte para cima do outro companheiro de Reno, enquanto ele volta a atacar Taehyung, o segurando e jogando seu corpo no balcão. Taehyung cambaleia um pouco e depois chacoalha a cabeça, quase pulando em cima do homem que tinha o dobro do seu tamanho, o derrubando no chão e acertando seu rosto com vários socos.
De onde eu estava, conseguia ver com perfeição sua mão fechada ser manchada com o sangue de Reno. Taehyung estava batendo no homem mais do que deveria.
Involuntariamente, me levanto da cadeira e tento me aproximar da briga, enquanto empurro para o lado algumas pessoas pelo caminho.
— Taehyung, chega! Assim você vai matá-lo! Pegue a porcaria da bússola e vamos embora! — Grito, no mesmo instante em que Namjoon e o outro homem quebram uma mesa quando caem sobre ela.
Paro de andar quando Taehyung me encara, e percebo o que acabei de fazer. Meu corpo gela por um momento e engulo em seco diante do seu olhar.
Ele para de bater em Reno e sai de cima do corpo dele, se levantando com raiva.
Ainda consciente e com dificuldade, Reno tenta se levantar do chão, apoiando-se em uma mesa que estava por perto; e é nesse momento que posso vê-lo aproximar sua mão da parte detrás de suas calças, debaixo do seu casaco. Os meus olhos se arregalam quando ele toca no cabo da pistola.
De forma exasperada, olho ao meu redor, temente pelo que podia acontecer e, assim, acabo pegando uma das muitas garrafas vazias distribuídas pelas mesas. Em seguida, corro em direção ao tumulto, acertando a cabeça de Reno com a garrafa, no instante em que ele saca sua pistola e aponta para Taehyung. A garrafa se parte e seu corpo fica mole antes de cair desacordado no chão, fazendo todos ao nosso redor vibrarem alto.
Fecho os olhos e respiro aliviada, soltando o gargalo quebrado que eu ainda segurava.
— Serena, isso foi demais. — Namjoon se aproxima, ofegante, após finalizar sua briga.
O encaro com desaprovação enquanto suspiro, pensando no tipo de vida que eu estava tendo agora. Antes, tudo que eu fazia era servir pães e rum na loja dos meus pais, e hoje, além de invadir navios, já me meti em uma briga de bar.
Taehyung se aproxima de Reno e puxa a bússola presa no corpo desmaiado.
***
Eu me pergunto, o que acontecerá? Se em uma semana eu já tive mais agito do que em dezenove anos, tenho medo do que possa me acontecer antes que eu fuja daquele navio.
— Aqui. Uma boa dose de rum cura qualquer coisa. — O dono na taverna surge atrás do balcão, entregando um copo cheio para Taehyung, que estava sentado na minha frente, enquanto eu tentava limpar o corte em seu supercílio. Isso parecia doloroso, mas ele não reclamou nenhuma vez.
— Desculpe pelo bar. — Taehyung fala, antes de beber o rum em apenas um gole, como se fosse água.
— Não se preocupe, Namjoon já cuidou de tudo. — O dono da taverna mostra o grande saco cheio de moedas.
A maneira contente como ele sorria, me fazia pensar que ele adorava as brigas do Taehyung, contanto que pagasse pelos prejuízos no final.
— Se você tinha tanto dinheiro, por que simplesmente não comprou a bússola do Reno? — Pergunto, enquanto passo delicadamente a parte molhada do pano sobre o seu corte.
— Você pode ficar quieta um pouco? — Ele ergue seu olhar para me encarar, já que eu estava de pé entre as suas pernas abertas na cadeira.
— Não, não posso. Ele ia te dar um tiro, sabia?
Taehyung dá de ombro, fazendo um som nasalado de deboche.
— Não é como se eu nunca tivesse levado um antes.
Paro de limpar seu machucado e o fito séria.
— E se você tivesse morrido?
Ele arqueia as sobrancelhas, fazendo seu machucado voltar a sangrar.
— Se eu tivesse morrido, essa seria sua chance de fugir. — Ele sorri fechado, de forma provocativa.
Sem saber o que dizer, volto a encostar o pano úmido no seu machucado, limpando-o com mais força, de forma proposital. Taehyung deixa um baixo suspiro de dor escapar e segura meu pulso, me impedindo de continuar.
— A bússola era do meu pai. — Ele expira com força, e eu arregalo os olhos sutilmente.
— A bússola era do seu pai e você a apostou em um jogo de cartas? É ainda mais idiota do que roubá-la depois de perdê-la. — Falo, incrédula.
Taehyung desvia o olhar e bufa alto.
Isso era inacreditável. Os piratas são tão irresponsáveis quanto dizem; eles invadem navios, roubam mercadores, se metem em brigas por qualquer motivo e ainda apostam coisas importantes em jogos de cartas.
— Taehyung! Serena! Hora de irmos! — Namjoon nos grita da entrada da taverna, acenando com a mão que segurava a bússola dourada.
— Acho que agora vai parar de sangrar. — Afasto o pano do seu machucado, o colocando sobre o balcão.
Taehyung se levanta sem pressa e, de forma inesperada, me prende no balcão entre ele, antes de aproximar seu rosto da curva do meu pescoço.
— Eu escutei quando me chamou pelo nome. Não pense que esqueci. Você pode ter me ajudado nessa briga, mas ainda terá o seu castigo quando voltarmos para o navio. — Ele diz perto da minha orelha, fazendo o meu corpo se arrepiar.
Taehyung se afasta lentamente e eu engulo em seco, paralisada no lugar. Ele ri nasalado e sai, indo para à saída da taverna.