Capítulo 31 • VINGANÇA DE LA RAINHA HANNA – EL PASAJE A LA ATLANTIS
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Taehyung passa a luneta para Serena, que espia o horizonte, em meio à densa névoa que rodeava os seis navios da irmandade pirata. As águas que guiavam cada um dos navios estava tão fria quanto o gelo, e a névoa quase os impedia de ver o caminho que seguiam. E tudo isso se dava ao fato deles estarem cada vez mais perto do seu destino final. Ao atravessarem os Atlânticos, indo em várias direções, eles entraram em uma zona perigosa, a trilha certeira para Atlantis. E o Capitão Hanna não poderia estar mais tenso agora, pois eles descobriram que, aparentemente, para se chegar em Atlantis, era preciso lidar com um redemoinho antes.
O mapa para Atlantis terminava em um pequeno desenho de um redemoinho, e os piratas sabiam como um desses poderia ser incrivelmente perigoso. Por outro lado, não apenas Taehyung, mas os outros Capitães da irmandade pirata, tiveram tempo suficiente - de viagem - para analisarem as possibilidades e pensarem no que fariam, pois o redemoinho poderia ser apenas uma armadilha e, no final, Atlantis poderia ser uma grande farsa, atraindo e matando pessoas no grande buraco de água. Mas, entre piratas, eles preferiam morrer em uma grande aventura, do que apenas imaginar se era uma lenda ou realidade, por isso, Capitão Hanna já sabia o que deveria fazer assim que estivesse cara a cara com o redemoinho, embora Serena detestasse sua ideia por ser perigosa demais.
O vento gelado balança com força os cabelos e o vestido de Serena, a fazendo estremecer de frio. Ela afasta a luneta do rosto e suspira, em seguida, entrega o objeto de volta para Taehyung, que estava sério, do mesmo jeito que Namjoon e Jungkook, no convés superior. Apesar dos músicos do Vingança cantarem e tocarem, isso já não era mais capaz de distrair ou amenizar a tensão que flutuava por todo o navio. Os piratas liderados por Inez, no convés inferior, estavam com os olhos fixos no horizonte, apertando os olhos para que pudessem enxergar a pequena agitação na água que se aproximava conforme Taehyung manuseava o leme do navio.
— Temos só mais alguns minutos até chegarmos lá. — Taehyung avisa, e seus cabelos atrás do pano amarrado entre a testa e o começo da cabeça, balançam ferozmente. — Jungkook, vá avisar os outros navios. — O pirata de grandes olhos escuros assente, antes de ir para perto das pilastras do convés superior, segurar em uma das cordas soltas e saltar, se balançando pelo navio até uma das bordas traseiras.
O Vingança era o navio que guiava os outros, por isso, estava na frente, tendo em vista que o mapa estava com Taehyung.
Jungkook se esforça para vislumbrar os outros navios e, com isso, grita uma mensagem, avisando sobre eles estarem mais pertos a cada navegada.
— Namjoon, peça que todos comecem a se preparar para unir os navios. — Taehyung dá outra ordem, fazendo mais uma de seus piratas se mexerem.
Serena suspira de novo e encara Taehyung, que estava concentrado em guiar o Vingança até o redemoinho.
— Taehyung, eu ainda acho que não devemos fazer isso. É muito perigoso. — Serena diz, temente e séria como nunca se viu antes.
Por um segundo, ele desvia seu olhar do horizonte e a encara como um verdadeiro pirata.
— Você tem alguma ideia melhor? — Ele arqueia uma sobrancelha.
Serena comprime os lábios, sabendo que não tinha ideia alguma.
Após o encontro com suas irmãs, Serena contou todas as coisas estranhas que sentia e que vinham acontecendo, e, com expressões surpresas, Uiara e Maressa disseram que quando Serena foi transformada em humana, ela ainda era muito pequena e passava por um treinamento e, por isso, seus poderes de sereia ainda eram muito confusos. Mas, depois de suas confissões, suas irmãs deduziram que, provavelmente, Serena pudesse controlar a água. E, embora parecesse algo a ser esperado de uma sereia, nem todas tinham a capacidade de moldar a forma da água ou até mesmo criar tempestades - que era a base da água. Os poderes de uma sereia podiam variar conforme os elementos da natureza, e o único poder em comum entre essas criaturas, era a habilidade de se comunicar com quase todos os tipos de criaturas do mar. O poder da água é considerado um dos mais importantes, uma vez que a água está em quase tudo, logo, assim, dando fácil acesso para o seu usuário poder invocá-la independentemente de onde esteja.
Os poderes de uma sereia têm grande ligação com suas emoções, e isso fez Serena entender como todas aquelas coisas estranhas aconteceram em situações onde suas emoções e sentimentos estavam completamente em desordem. Uiara e Maressa também disserem que após doze anos de seu exílio do mar, seus poderes estavam começando a se manifestar, mesmo que minimamente, e esse seria o motivo dela ter tido longos anos sendo apenas uma humana. Ser levada para o Vingança, tendo um contato constante e intenso com o mar, literalmente, pode ter despertado seus poderes adormecidos de sereia. E como Serena não sabia como controlá-los ainda e, principalmente, por ter vivido como uma humana por tantos anos de sua vida, a incapacitava de ajudar Taehyung com o redemoinho ou qualquer coisa em relação ao mar, considerando que nem sempre os seus poderes se manifestam, mesmo quando suas emoções e sentimentos estão desordenados. Mas hoje, ela torcia com todas as suas forças para que todas aquelas coisas acontecessem de novo, porque os piratas precisariam de toda ajuda possível.
— Eu não tenho uma ideia, mas essa sua pode matar a todos nós. — Serena insiste.
— Então todos nós morreremos. — Taehyung responde, como se não fosse nada demais para ele e, talvez, não seja mesmo.
Serena o encara incrédula, já que ela sabia que ele poderia muito bem fazer isso mesmo.
— Você não pode fazer isso. — Ela bate seu pé na madeira do convés.
Ele a encara de novo.
— Eu posso e vou, porque eu ainda sou o Capitão desse navio. — Ele responde, firme, a deixando irritada de imediato.
Não querendo arranjar uma briga antes de um momento tão crucial, Serena se controla e vira seu corpo de uma vez, caminhando em direção as escadas do convés, ao mesmo tempo que Namjoon subia. Ele até dá um pouco mais de espaço para ela, ao perceber sua feição completamente irritada, já sabendo o que havia acontecido.
De pé em uma das bordas do navio, Jungkook percebe Serena passando feito um furacão de água pelo convés inferior, indo em direção a Jack, que estava do outro lado, perto de onde Inez checava o armamento da tripulação. Ele segura em uma corda e se balança até à garota de cabelos texturizados e loiros, saltado na frente dela, que acaba se assustando sutilmente.
— Acho que seria uma boa hora para chamar suas irmãs. Talvez perguntar como estão as coisas lá embaixo. — Ele sorri minimamente para ela, tentando acalmar seus nervosos.
Serena respira fundo, realmente se sentindo um pouco melhor. Ela assente e passa por ele, continuando seu caminho. Quando se junta com Jack, as duas se aproximam da proa no navio e Serena pede que os músicos cantem outra música, pois suas irmãs haviam dito que quando Serena quisesse falar com elas, precisava apenas cantar e, dessa forma, seu canto de sereia seria escutado debaixo da água. Mas ela não faria isso de modo que todos no navio a escutassem, por isso, queria que os músicos continuassem e, assim, sua voz não estaria em destaque.
Em Tortuga, antes da reunião com a irmandade, o plano já havia sido montado durante seu encontro com suas irmãs. E não só elas, como outros seres áqueos, ajudariam na caçada a Atlantis, portanto, nesse momento, navegando debaixo do navio, cortando as águas geladas, sereias, tritões e outros tipos de criaturas marinhas, estavam acompanhando o Vingança e a irmandade. E mesmo que soubessem que as intenções dos piratas eram outras, o que os áqueos queriam era o mesmo que Serena: recuperar as memórias da princesa perdida e exilada.
Serena e Jack se sentam na proa, perto da borda e compartilham um olhar. Serena respira fundo de novo e começa a acompanhar os músicos em uma canção.
— Yo-ho... O rei despertou a rainha do mar, num barco a acorrentou. Por onde andares, são teus os mares, quem ouviu, remou. — Ela começa a cantar não muito alto, sabendo que sua voz de sereia encontraria os ouvidos de suas irmãs.
Os músicos continuavam, mas estavam tensos, pois não se deveria cantar em meio a um nevoeiro anormal, era uma das crenças piratas para se evitar a má sorte. Porém, desde que Atlantis se tornou cada vez alcançável, muitas regras piratas foram quebradas.
— Yo-ho... Uns morrerão, outros vivos estão. Outros navegam no mar com as chaves da prisão e o inimigo de prontidão, remando sem parar. — Jack observa em silêncio, completamente encantada pela bela voz de Serena. E se ela soubesse o quão bem sua amiga cantava, já teria a feito cantar antes.
As águas geladas ao redor do Vingança se agitam timidamente até que borrões esguios e coloridos comessem a surgir. A voz que atravessou as camadas de água, trouxe para a superfície, duas belas sereias com feições preocupadas. De toda forma, mesmo que Serena não as chamassem agora, elas estavam prestes a alertar o Vingança, em razão de que tubarões cinzentos avisaram: algo está se aproximando de dentro do nevoeiro.
Bastam alguns segundos observando a feição das sereias para que Serena se torne ainda mais tensa. Palavras não eram necessárias nesse momento, considerando que ela já imaginava, tenebrosamente, o que se aproximava na névoa.
Serena leva a mão até o pescoço e a enfia dentro do decote do vestido, em seguida, ela puxa com força o colar de pedra azul. Depois, se levanta, joga o colar no chão e pisa sobre a pedra cintilante, a estraçalhando em vários pedaços pequenos.
Jack se levanta também e corre em direção a Inez para avisá-la. Ainda de pé na proa, Serena se vira de frente para a extensão do navio, olha em direção ao convés superior e grita por Taehyung. E, no segundo em que seus olhares se cruzam, ele abre um pouco os olhos e puxa sua pistola da cintura, mas já era tarde demais, pois um tiro rápido e certeiro corta a névoa, atingindo no ombro, o pirata que estava parado ao lado do Capitão, era Namjoon.
Serena leva a mão até à boca e arregala os olhos.
Em instantes, o convés vira um caos quando mais disparos começam a surgir de dentro da névoa. Inez corre e começa a dar ordens para os piratas: os mais experientes ficariam no convés inferior, em um confronto direto; enquanto os menos experientes, como Jack, iriam para parte debaixo do navio cuidar os canhões, onde poderiam ficar mais protegidos, embora o mais seguro nesse momento fosse Duque, trancado no quarto do Capitão.
De dentro da névoa, onze navios atravessam a fumaça branca, enquanto dois deles lideravam, o Tripa de Sangue e o navio do comodoro Jung. Uma guerra de disparos entre a irmandade pirata e a aliança do Capitão Infâmia rasgava agressivamente o céu da tarde, derrubando piratas e soldados de todos os lados. Sangue respigava no ar e o cheiro de pólvora que saísse dos canhões, ardiam as narinas. Os navios eram balançados por criaturas do mar. O vento cortava como uma lâmina, sendo comandado por algumas sereias que encantavam homens com suas vozes, os fazendo saltar dos navios apenas serem arrastados para as profundezas ou para serem devorados pelos tubarões.
Braços, pernas, cabeças e tripas boiavam no mar, enquanto manchavam a água de vermelho, apenas esperando o momento certo para serem comidos.
Uma briga íntima entre o Vingança e o Tripa de Sangue parecia ser maior que todas as outras ao redor. De pé na borda de seu navio, Jin atirava, tentando exterminar toda a tripulação de seu irmão; e este, por sua vez, desviava com habilidade das investidas do inimigo. E tudo isso acontecia, enquanto, escondido nas sombras do Tripa de Sangue para não ser visto ou descoberto, o feiticeiro exilado manipulava a névoa para que ela se tornasse cada vez mais densa, assim sabotando a irmandade pirata e permitindo que apenas a aliança do Capitão Infâmia pudesse enxergar com perfeição, seus alvos.
Mesmo com o ombro machucado, dor e com as roupas sujas de sangue, Namjoon assume o lugar de Taehyung no leme, enquanto este salta do convés superior e corre em direção à garota de cabelos loiros que tentava correr por entre os corpos estirados no convés inferior e a bagunça de piratas contra-atacando. Jungkook e Inez, ao mesmo tempo em que tentavam não ser acertados, gritavam para os piratas do navio à esquerda, liderados por Jackson. As ordens eram claras, O Vingança e o Peste Asiática seriam interligados por ganchos e âncoras, para que quando entrassem no redemoinho, ambos os navios fossem o suporte um do outro, se equilibrando e, assim, passando juntos para o outro lado do buraco de água. Porém, como Serena temia, existia uma grande chance de um dos navios tombar e acabar levando o outro consigo, desta forma, afundando os dois navios.
As chances de dar errado eram maiores, mas a vida de um pirata era viver sem saber qual seria o seu último momento, pois o que corria em suas veias não era sangue, e sim o perigo.
As batidas do coração de Serena estavam descompassadas, e seu corpo inteiro estava frio como a água do mar. Ela corre em direção a Taehyung, e quando este a segura em suas mãos grandes e cobertas pelos anéis coloridos, ele contorce o rosto em uma feição estranha, soltando um baixo gemido.
Taehyung não diz nada, apenas se abaixa e abraça as pernas de Serena, a levantando do chão.
— O que você está fazendo, Taehyung?! — Ela pergunta quando ele a joga sobre um dos ombros, a deixando de ponta cabeça e, assim, a fazendo ver o buraco vermelho em sua camisa, do qual minava sangue. — Você foi atingido?! — Exasperada, ela encosta seus dedos no buraco da camisa branca.
— Não toque! — Ele pede entre os dentes, contendo mais um gemido de dor. — Vou te levar para o meu quarto. Você ficará lá até atravessarmos o redemoinho. — Ele avisa assim que chuta a porta do convés, entrando no corredor escuro.
Ele corre pela extensão pequena, fazendo o corpo de Serena balançar e seus cabelos pendidos para baixo irem de um lado para o outro.
— Não, Taehyung! Não me deixe aqui! Você não pode fazer isso, o redemoinho é muito perigoso! — Ela quase grita, tentando se libertar dos braços fortes dele, mas, em mais um chute, Taehyung abre a porta do seu quarto. O pirata joga Serena em sua grande cama, onde Duque estava esperando.
Taehyung a fita uma última vez, um olhar sério e que dizia “Eu sou o Capitão desse navio!”, e então, em seguida, fecha a porta e tranca sua sereia no quarto.
Duque, que pulou em Serena, é jogado para o lado quando ela se levanta e corre até à porta, girando a maçaneta e batendo na madeira.
— Seu cretino! — Ela grita, sentindo seu coração se desesperar. — É bom você conseguir fazer isso! — Com a respiração desregulada, ela acaba se jogando no cão do quarto, sentando com as costas encostadas na porta trancada.
Duque salta da cama e vai para o colo de Serena, choramingando quando percebe a preocupação de sua dona. Ela abraça o cachorrinho com força e fecha os olhos, enquanto pede para todos os deuses do mar para protegerem o Vingança de la Rainha Hanna.