Sirena del Atlantis


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 3

Tempo estimado de leitura: 26 minutos

  Esta é minha segunda manhã presa no navio pirata. Assim que fugi da sala do Capitão, escondi todo o meu nervosismo e fiz como Dana me instruiu. Namjoon encontrou seu molho de chaves e não suspeitou de nada. Acabei tendo que inventar uma desculpa qualquer para o corte em minha mão, mas Jack estava atenta e permaneceu me encarando com desconfiança. Quando nossa tarefa acabou e voltamos para o quarto, contei para ela e Dana sobre o que aconteceu. Jack se desesperou tanto por mim que tive que acalmá-la. Dana, que havia ajeitado uma cama improvisada para Duque na última gaveta da cômoda, suspirou com pesar quando contei sobre o que pretendia fazer. O meu plano era enrolar o Capitão até que ancorássemos, e quando isso acontecesse, eu iria fugir com Duque e me esconder.
  Ontem, após os nervos se acalmarem em nosso quarto, nós três fomos tomar café. E assim seguiu o dia. Ficamos grande parte dele trancadas no quarto, apesar de Dana explicar que não somos prisioneiras no navio, e sim parte da tripulação, e que por isso tínhamos acesso livre por todo o navio, exceto a cabine do Capitão, a ala dos prisioneiros e o lugar onde o vinho e o rum eram estocados. De qualquer forma, não tive vontade alguma de conhecer o navio, pois estava preocupada demais pensando em como enrolaria o Capitão com essa história de Atlantis.
  As horas pareciam que não passavam nesse navio. Não tinha absolutamente nada para fazer, fora limpar e comer. Durante as refeições foram os únicos momentos em que me reuni com os demais membros da tripulação, reconhecendo um rosto ou outro que também havia sido sequestrado de Marlli, minha cidade. O Capitão, Namjoon ou Inez, não se juntaram a nós para as refeições, e Dana explicou que eles comiam em outro lugar. Até mesmo dentro de um navio pirata haviam leis e hierarquias, que separavam o Capitão e seus homens do resto da tripulação.
  Agora, aqui estava eu, sentada no beliche debaixo, do lado de Jack, enquanto encarávamos Duque que dormia em meio a um amontoado de lençóis que serviam como uma cama improvisada.
  — Onde eles conseguem essas roupas horríveis? — Pergunto para Jack, sem tirar os olhos da pequena bolinha de pelos que respirava de forma lenta, fazendo seu pequeno corpo se movimentar para cima e para baixo.
  — Eles roubam, provavelmente. — É claro que eles faziam isso.
  Lembro-me de ter que trocar de roupa quando cheguei nesse quarto, guardando as roupas que usava no meu espaço do guarda-roupas.
  Escuto algumas vozes vindas do outro lado do quarto e, involuntariamente, olho para a porta fechada. Dana que estava com um pé apoiando em sua cama, ajeitando a meia, me encara alarmante. Rapidamente, mas cuidadosa, empurro a gaveta onde Duque dormia, para dentro. Ele não parece ter acordado, e isso era bom. Volto a me sentar do lado de Jack, que me fita atenta.
  Em instantes, a porta do nosso quarto é aberta por Inez.
  — Você do cabelo de sereia, seu nome é Serena, não é? — A pirata de chapéu, me encara.
  — Sim.
  — O Capitão quer te ver.
  Meu corpo fica tenso sobre a cama. Fecho as mãos em nervosismo, sentindo o pedaço de pano que amarrei em torno do meu machucado.
  Dana termina de ajeitar a meia e se vira para Inez.
  — O que ele quer com ela?
  — Não sei. Só estou seguindo ordens. — Inez faz um gesto de cabeça para que eu a siga.
  Enquanto me levanto da cama, Jack segura minha mão, fitando-me com preocupação. Sorrio minimamente para ela, tentando acalmá-la.
  Solto o ar de forma pesada pelo nariz, e caminho até à porta, saindo com Inez.
  — Você fez alguma coisa, novata? — Inez me encara de rabo de olho.
  — Não. — Nego com a cabeça, sorrindo para ela.
  Em silêncio, saímos do corredor dos quartos e fomos para a segunda entrada, na bifurcação da direita, o mesmo lugar onde passei para me esconder ontem. Com uma lamparina que pegou nos espaços das janelas e redes, Inez iluminou todo nosso caminho. Subimos pelo pequeno alçapão e acabamos no corredor com duas portas.
  Inez vai até à porta que ficava do lado da sala do Capitão, e dá leves batidas na madeira marrom.
  — Capitão Hanna, ela está aqui. — Inez avisa, com a boca perto da porta.
  Antes mesmo que ela possa se afastar, a porta é aberta e uma mulher de cabelos loiros e cacheados sai do quarto carregando um enorme sorriso no rosto. Ela faz questão de ajeitar seu vestido ao passar por nós duas e seguir pela direção contrária do pequeno corredor.
  — Mande-a entrar. — A voz grave diz de dentro do quarto, fazendo meu corpo ficar tenso outra vez.
  — Pode ir. — Inez abre a porta para mim, revelando parcialmente um quarto.
  Por mais alguns segundos, fico parada em meu lugar. Respiro fundo, olho para Inez e depois para porta, tomando coragem para entrar no quarto. Quando meus pés tocam o lado de dentro, Inez fecha a porta, fazendo meu corpo ter um pequeno sobressalto.
  Sentado na ponta da grande cama com lençóis bagunçados, o Capitão Hanna tinha seu corpo curvado para frente e para baixo, enquanto arrumava suas botas que estavam por fora das calças pretas que vestia. Eu não conseguia enxergar seu rosto devido à forma como ele estava, e o cabelo preto também atrapalhava, pois ficava em frente ao seu rosto.
  Seguro nos próprios dedos, olhando nervosamente para os lados.
  — Hm... me chamou... Capitão? — Minha voz sai um pouco tremida, e quase suspiro por conta disso.
  Você precisa ser confiante, Serena. Não estrague tudo.
  Ele termina de arrumar suas botas pretas e endireita seu corpo, batendo as mãos sobre as coxas, me fazendo sobressaltar pela segunda vez.
  Os meus olhos quase se arregalam quando o enxergo com clareza, na luminosidade que vinha da janela redonda do quarto. De certo, eu já havia visto alguns retratos desenhados do Capitão Hanna, mas todos eram sempre tão velhos, ou estavam rasgados. Vê-lo com nitidez, em carne e osso, bem na minha frente, era completamente diferente.
  A primeira coisa que chamava a atenção, era o fato de o Capitão Hanna parecer ser tão jovem. O seu rosto, ao mesmo tempo em que carregava traços delicados, os fazia de forma marcante, como a linha bem feita do seu maxilar. Ao redor dos seus olhos que emitiam um olhar intenso e ameaçador, haviam algumas linhas pretas, provavelmente, pintadas com carvão ou carbono. Seus cabelos eram maiores que de costume dos homens da cidade, porém, não tão longos quanto os de outros piratas; os fios pretos estavam espalhados por toda sua testa, caindo de frente aos olhos castanhos e pegando alguma parte detrás do seu pescoço. As orelhas eram furadas e carregavam longos brincos, assim como as mãos carregavam muitos anéis. Em meio a pele do seu tronco relevada pelos botões abertos da blusa branca, havia um longo colar de fio preto com uma pedra de mesma cor amarrada na ponta.
  Ele se levanta da cama. A blusa estava para dentro das calças pretas, dobradas para fora, por cima do cinto também preto. Seus olhos me examinam por segundos que me faziam querer correr, antes que ele se vire e vá até o grande guarda-roupas de madeira, tirando de lá duas pistolas que ele prende no cinto.
  — Ontem você disse que sabia como encontrar as duas partes que faltam do mapa de Atlantis. Hoje, você vai me mostrar isso. — Ele me encara sobre os ombros, fechando as portas do guarda-roupas.
  Assinto. Apertando os dedos, enquanto sinto o pano amarrado em minha mão direita.
  — Vamos. — Sem me encarar, ele passa na minha frente, abrindo a porta e saindo.
  Me apresso ao segui-lo.
  O Capitão Hanna começar a caminhar pelo corredor pequeno, indo na mesma direção onde aquela garota foi antes. Aqui era escuro e difícil de enxergar, por isso, tentei seguir o barulho que suas botas faziam. Reto, andamos pouco, até que ele parasse e abrisse uma porta que faz uma imensidão de luz iluminar o corredor, trazendo junto uma tremenda barulheira.
  Ao passar por essa porta, entro diretamente no convés, onde vários homens e mulheres andavam por todos os lados, conversando, limpando ou fazendo qualquer outra coisa.
  — Capitão no convés! — Alguém grita, fazendo os demais pararem o que fazem para saudarem o Capitão Hanna com gritos que diziam algo como "Yo-ho-yo-ho!".
  O Capitão ergue a mão direita, balançando apenas as pontas dos dedos cobertos de anéis, para sua tripulação.
  Ele vira para o lado, indo em direção a uma pequena escada que levava para o convés superior, mas, antes que eu tenha a oportunidade de segui-lo, um garoto de cabelos escuros e olhos grandes surge na minha frente, de ponta cabeça, pendurado por uma das cordas do navio.
  O grito de surpresa que solto faz com que alguns marujos me encarem, do mesmo jeito que o Capitão, que para de subir as escadas e me fita sobre seus ombros largos.
  — Você é novata, não é? Nunca te vi antes. — Com uma tremenda facilidade, o garoto solta seus pés da corda que usava para se pendurar. — Eu sou Jungkook. — Ele me estende sua mão coberta por uma luva preta cortada nos dedos.
  — Serena. — Receosa, aperto sua mão.
  Por que esse maluco estava pendurado nas cordas? Isso não era normal. Mas ele é um pirata, então eu não deveria estar surpresa.
  — O que você está fazendo com o Capitão?
  O encaro com o cenho franzido quando ele começa a me seguir enquanto subo as escadas.
  — Bom dia, Serena. — Namjoon, que estava diante do leme, me saúda assim que me vê.
  — Bom dia. — Aceno com a cabeça.
  Ela manuseava o leme do navio, enquanto encarava o horizonte.
  Aqui no convés de cima, era possível ter uma boa vista da parte da frente do navio, assim como da imensidão de água que nos cercava, debaixo do céu limpo e ensolarado.
  Capitão Hanna, que foi para o lado de uma tábua que servia como uma pequena mesa, joga em minha direção um objeto. Preciso segurá-lo com as duas mãos, mas não o deixo cair.
  Era uma bússola.
  — Namjoon, deixe ela assumir. — Capitão Hanna se escorra contra baixas pilastras de madeira do convés superior e cruza os braços.
  — Ela? Serena? — Namjoon aponta em minha direção, enquanto arqueia as sobrancelhas.
  — Você sabe o que está fazendo? — Jungkook surge do meu lado, com a cabeça próxima da curva do meu pescoço quando tento abrir a bússola fechada, mas falho.
  — É claro que eu sei. — Dou um passo para o lado, me afastando dele, conseguindo abrir a bússola.
  O ponteiro da bússola gira para todos os lados, até parar. Encaro o objeto e depois o horizonte, sem saber o que fazer.
  Sinto os três me observando, e isso só me deixa mais nervosa.
  — Você quer? — Namjoon me oferece uma pequena luneta.
  — Obrigada. — Forço um sorriso fechado para ele.
  Expiro baixo e me aproximo do leme. Seguro a bússola com a mão esquerda e a luneta com a direita. Fecho um dos olhos e espio através da luneta. Vejo água e mais água, não importava para onde eu olhasse.
  Encaro mais uma vez a bússola. E todos continuam me observando.
  — Por ali. — Aponto em uma direção qualquer, me sentindo pressionada.
  — Mas nós viemos de lá tem pouco tempo. — A voz de Namjoon tinha um tom confuso, enquanto ele coçava a cabeça por cima do pano amarrado nela.
  — Você sabe onde fica Atlantis? — Pergunto para ele.
  — Não. — Namjoon responde.
  — Então não me atrapalhe.
  Ele arregala os olhos.
  — Tá bem. Você que manda. Mas não quer dar uma olhada nas partes do mapa que já temos? — Ele pergunta, enquanto Capitão Hanna me encarava estreitamente, pronto para me pegar em um pequeno deslize.
  — Ok, vou ver o que vocês têm. — Falo indiferente, tentando disfarçar meu nervosismo.
  Namjoon desprende de seu cinto, um longo canudo. Ele abre sua tampa e despeja sobre a tábua de madeira, três pedaços de papel velho. Namjoon ajeita as três partes do mapa, de modo que duas delas se encaixem e uma não. Tendo um espaço de mais ou menos uns quinze centímetros entre as duas partes que se encaixavam para a que estava avulsa, vejo alguns traços iluminados surgirem sobre a tábua, traçando um caminho com linhas brilhantes. Pisco os olhos algumas vezes e afasto minha cabeça para trás, não entendendo o que estava acontecendo.
  — Vocês estão vendo isso? — Pergunto, completamente atordoada, colocando a luneta e a bússola na mesa.
  Namjoon se inclina do meu lado direito.
  — Vendo o quê? — Jungkook surge do meu lado esquerdo, me encarando tão de perto que sinto sua respiração bater na minha bochecha. Ele já havia bebido hoje.
  — As linhas brilhantes.
  — Que linhas brilhantes? — Namjoon me fitava com as sobrancelhas franzidas.
  Eles não estão vendo isso? Como eles não estão vendo?
  — Para onde nós devemos ir, Serena? — Namjoon se afasta, e o Capitão Hanna toma seu lugar, ficando do meu lado, com o rosto próximo ao meu, como Jungkook fez antes.
  Por um segundo, prendo a respiração, me sentindo extremamente nervosa. De rabo de olho, o encaro, e percebo que seus olhos não saem de cima de mim. Limpo a garganta, e volto a olhar as partes do mapa que eles tinham, ainda enxergando as linhas brilhantes que desenhavam uma localização. Era como se alguém tivessem desenhado um novo mapa sobre esse, um completamente diferente.
  — Papel e caneta. Eu preciso de um papel e uma caneta. — Peço, sem desviar meus olhos do mapa brilhante.
  Capitão Hanna estala seus dedos três vezes, e percebo a sombra de Namjoon se afastar com rapidez. Sem demorar, após alguns segundos, ele volta com pedaço rasgado de papel amarelado, e uma caneta de tinta.
  Concentrada, desenho no papel o que eu enxergava no mapa brilhante. Quando termino, o examino bem.
  — Aqui está. Esse é o lugar que você precisa ir agora. Bem aqui, no X que eu fiz você vai encontrar a sexta parte do mapa para Atlantis. — Entrego o papel para o Capitão, que olha dele para o meu rosto.
  Seus olhos pintados de preto se apertam levemente, com um sutil toque de desconfiança.
  — É bom que essa localização esteja certa, ou você já sabe o que vai acontecer. — Seu tom de voz era sério e alarmante.
  — Você irá arrancar as minhas tripas e alimentar os peixes... Capitão. — Forço um sorriso, mas ele não retribui.
  — Pegue, Namjoon. Vamos navegar sob a direção da Serena. — Ele estende o mapa improvisado que fiz, para o pirata com o pano na cabeça, mas sem desviar seus olhos dos meus.
  — Isso aqui passa perto de Tortuga? — Jungkook se esgueira do lado de Namjoon, tentando ver o que eu desenhei.
  O garoto de olhos grandes me encara e sorri, antes de vir em minha direção e passar um dos braços sobre os meus ombros.
  — Bem-vinda à tripulação, Serena! — Ele diz, animado.
  Já escutei sobre Tortuga, é a terra dos piratas. Por lá acontece todo tido de depravação que se pode imaginar, por isso, Jungkook está tão contente.
  — Essas coordenadas são bem diferentes da direção que você apontou. — Namjoon levanta seus olhos do mapa.
  Desvio o olhar, sabendo que o Capitão estava me observando como se eu fosse um filhote indefeso que ele iria atacar a qualquer momento.
  — Me desculpe, eu estava confusa. Deve ser porque ainda não tomei o meu café. — Encolho os ombros debaixo do braço de Jungkook.
  — Não seja por isso. Venha comer com a gente. — Sem esperar por minha resposta, Jungkook começa a me levar para a escada, me forçando a descer para o convés inferior com ele. Namjoon vem logo atrás de nós, dizendo que iria buscar a comida.
  Jungkook e eu passamos por entre alguns marujos, e acabamos perto de barris vazios que eram usados como cadeiras. Não demorou para que Namjoon voltasse e se juntasse a nós, trazendo um saco com biscoitos de milho. E diferente do que imaginei, até que tive uma conversa agradável com esses dois, que me contavam um pouco sobre a vida no mar, porém, confesso que nem sempre prestei atenção no que diziam, já que havia um certo par de olhos ameaçadores que não paravam de observar do convés superior; eu os sentia queimando sob minha pele.

***

  A noite chegou mais rápido do que ontem e, como sempre, passei o dia junto de Dana e Jack no nosso quarto, mas hoje Dana insistiu que saíssemos da escuridão desse cômodo iluminado por lamparinas de azeite. No início, tentei relutar, já que teria que deixar Duque sozinho aqui no quarto, mas Dana não perdeu tempo ao dizer que eu sempre estou com o cachorrinho e que não morreria se o deixasse por algum tempo aqui. Acabei cedendo ao seu pedido quando percebi que Duque passava grande parte do tempo dormindo, como está agora.
  Me aproximo da cômoda e abaixo para ficar próxima da última gaveta. Ajeito a cama de lençóis do Duque, e faço um leve afago na pequena bolinha de pelos, antes de depositar um beijo no topo de sua cabeça.
  — Tenha bons sonhos, seu preguiçoso. — Sorrio para o cachorrinho desacordado e me levanto, indo até à porta.
  — Quer que deixemos uma lamparina acessa? — Dana pergunta.
  Nego com a cabeça.
  — Duque não tem medo do escuro. E é melhor deixar tudo apagado caso alguém entre aqui, não podemos correr o risco de alguém encontrá-lo.
  Dana assente, assoprando a chama da última lamparina acessa, deixando o quarto mergulhar na completa escuridão.
  Juntas, nós três saímos do quarto e andamos pelo corredor, deixando a primeira entrada. Passamos pelo espaço de janelas e redes, com alguns objetos cobertos por panos, e depois subimos pelo pequeno alçapão, entrando no convés inferior.
  Não sei se toda tripulação está aqui, mas tanto o convés inferior, quanto o convés superior, estavam cheios. Até mesmo com alguns marujos pendurados nas cordas do navio, como era o caso de Jungkook, e no mastro principal, espiando tudo com a ajuda de lunetas.
  O Capitão estava no convés superior, manuseando o leme, enquanto, ao menos, umas quatro mulheres o rodeavam, segurando em seus braços e penduradas em seus ombros; e pelo sorriso que ele tinha, dava para ver que gostava disso. Namjoon estava um pouco mais afastado, no convés inferior, ele estava sentado em um barril e tinha os pés apoiados em outro barril, enquanto uma garota que logo reconheço como sendo uma das sequestradas da minha cidade, estava sentada em seu colo, rindo de alguma coisa que ele dizia em seu ouvido.
  — Resolveram sair da toca?
  Olho para a esquerda, vendo Inez de pé em uma das bordas do navio, se equilibrando apenas pela corda que segurava com uma mão.
  — Às vezes é bom sentir o ar fresco. — Dana sorri para Inez, que hoje estava sem seu chapéu.
  A pirata pula para dentro do navio, batendo seus pés no chão com força.
  — Aproveitem, hoje está uma noite muito bonita. — Inez sorri e acena com a cabeça, antes de se afastar.
  — Vamos ali. Você vai adorar a vista. — Dana aponta para frente, me encarando animada.
  E assim, nós três caminhamos até à proa do navio, onde não havia mais que dois marujos. Lado a lado, nos sentamos no chão do convés.
  Definitivamente, a vista daqui era maravilhosa. Estando na proa, não havia nada à nossa frente, e era como se estivéssemos sentadas sobre a água, pois tudo que víamos era a imensidão azul que ganhou um brilho escuro por conta da noite estrelada. A imagem da lua refletia com maestria no mar, assim como os pequenos pontinhos brilhantes que a acompanhavam. A brisa fresca da noite balança com suavidade o barco e a água, que parecia nem se movimentar direito.
  — Quando ficamos bem perto, às vezes conseguimos enxergar alguns peixes saltando pra fora da água.
  — Sério? — Levanto as sobrancelhas em surpresa.
  — Sim. Vem ver. — Jack segura em minha mão e me puxa para frente. Ela fica de joelhos e se apoia na borda da proa.
  — Tomem cuidado, vocês duas. — Dana alerta, atrás de nós.
  Imito Jack e começo a prestar mais atenção no mar, enquanto vejo a frente do navio cortar a água.
  — As laterais, encare elas. Os peixes costumam saltar do lado. — Com uma mão segurando a borda, Jack aponta para onde olhar, com a outra.
  Aperto os olhos, tentando enxergar com mais nitidez a água escura. Ela balançava vez ou outra, com leves ondulações, mas nada além disso.
  — Será que estão dormindo? — Encaro Jack.
  — Peixes dormem? — Ela pergunta e dou de ombros, voltando a encarar o mar.
  Continuo prestando atenção, mesmo que não veja nada. Acho que essa não é a minha noite de sorte, quem sabe, amanhã.
  Subitamente a brisa fresta começa a se tornar um vento mais forte, que uiva em um pequeno assobio, dançando no meio da noite. Escuto as velas balançarem, e o navio ganhar um pouco mais de velocidade, sendo impulsionado para frente. Sorrio, sentindo o vento empurrar meus cabelos para trás no ar, mas paro de sorrir em segundos, quando vejo um pequeno borrão passar do meu lado. A cena parece acontecer de forma mais lenta que a realidade, onde o corpo de Jack cai da proa do navio e despenca. Observo tudo parada em meu lugar, e só desperto quando escuto o som do seu corpo se chocando contra a água.
  — Marujo ao mar! — Alguém grita, fazendo todos correrem para as bordas do navio.
  — Ela não sabe nadar! — Dana surge do meu lado.
  A encaro com assombro.
  — O quê?!
  — Jack não sabe nadar! — Sua voz era completamente apavorada.
  Volto a encarar o mar, vendo Jack se debater, antes de sumir da superfície, afundando.
  Meus olhos se arregalam e meu corpo se movimenta sozinho, sendo tomado por uma onda de aflição. Por isso, quando percebo já estou de pé na proa do navio, saltando em direção ao mar. Minha queda dura menos que instantes, e logo sinto a água gelada engolir todo o meu corpo. Prendo a respiração enquanto olho em todas as direções, debaixo da água, a procura de Jack. Pisco os olhos algumas vezes, e minha visão, antes desfocada, começa a se tornar mais nítida, como se eu estivesse fora do mar.
  O som da água preenche os meus ouvidos, em um ritmo calmo, e flutuando imersa, olho para baixo, vendo pequenas cores afundarem. Movimento meu corpo e empurro minhas pernas para cima em direção à superfície, antes de começar a nadar para o fundo do mar, me aproximando com rapidez das cores que afundavam. As cores vinham Jack, que tinha uma expressão completamente desesperada ao tentar respirar. Passo meu braço esquerdo ao redor da sua cintura, e ela me agarra com desespero. Uso o braço direito para nadar, nos impulsionando para cima com muita rapidez.
  Cercada pela água e pelo som do mar, enxergo alguns peixes próximos de nós, mas não me permito prestar muita atenção nisso, pois tenho algo mais importante a fazer agora.
  O aperto de Jack se torna fraco, e eu sabia que ela estava prestes a desmaiar quando nos joguei para a superfície. Ela tosse incessantemente quando a noite e as estralas suspiram de alívio quando encontramos o ar.
  — Calma, está tudo bem agora. — A fito com preocupação, a segurando com força para que ela não afunde de novo.
  — Jack! Serena!
  Escuto a voz de Dana nos gritar, e quando olho para cima, a vejo escorada na proa do navio, assim como todos que estavam no convés.
  — Lançar âncora! — Um objeto reluzente é jogado do navio, caindo perto de nós.
  Nado até à corda esticada, levando Jack comigo.
  — Segure na corda e tente apoiar seus pés na âncora. — Peço para Jack, que assente com um pouco de dificuldade.
  Depois de a colocar com segurança em nossa carruagem, me junto a ela, abraçando seu corpo como fiz na água, enquanto uso a mão esquerda para me segurar na corda da âncora onde nossos pés estavam apoiados.
  Aos poucos, a corda começa a ser puxada, nos levando para cima. O corpo de Jack tremia contra o meu, e sei que não era só por conta do vento gelado que acertava nossos corpos molhados, e sim, pelo medo que ainda percorria sua espinha.
  Encaro a água silenciosa do mar, antes que nossos corpos sejam puxando para dentro do navio, junto da âncora.
  Jack cai de joelhos, apoiando as mãos no convés, enquanto a água pintava de suas roupas e cabelos.
  — Santo Deus, vocês estão bem?! — Dana se aproxima com afobação. — Jack, como você está?
  Antes que Jack tenha a oportunidade de responder, a tripulação começa a gritar e bater palmas. Com rapidez, vejo alguém pendurado em uma corda vir em nossa direção, se balançando.
  — Uma dose de rum para a Serena! Yo-ho-yo-ho! — Jungkook pula do meu lado, soltando da corda, e todos no navio gritam de volta "Yo-ho-yo-ho!", enquanto erguem suas mãos.
  — Serena, vou levá-la para o quarto. Você também deveria ir e trocar essas roupas molhadas. — Dana ajuda Jack a se levantar.
  — Já estou indo.
  — Serena, obrigada. Você salvou a minha vida. — Tremendo de frio nos braços de Dana, Jack agradece.
  — Sem problemas. — Sorrio para ela, que retribui em um pequeno sorriso, antes de sair com Dana.
  — Já acabou! Todos saiam de cima dela! — Namjoon grita de algum lugar.
  Ainda sentada no convés, torço meu cabelo molhado e a barra do vestido que usava.
  — Bom trabalho. — Um pesado casaco preto é jogado sobre os meus ombros, e quando olho para cima, vejo o Capitão parado na minha frente.
  Ele me estende sua mão coberta por anéis coloridos, e a encaro por alguns segundos, antes de aceitar sua ajuda. O calor da sua pele contrasta com a frieza molhada da minha. E quando me levanto, sinto meus pés afundarem na água que encharcava minhas botas.
  — Nós piratas, somos leais à nossa tripulação. Não deixamos ninguém para trás, a menos que seja um traidor ou amotinado. — Me encarando daquele jeito de sempre, o Capitão diz, enquanto os marujos ao nosso redor voltavam a sua rotina anterior.
  Assinto, e abraço meu próprio corpo por debaixo do seu casaco que me aquecia um pouco.
  O Capitão me encara em silêncio e dá um passo para frente, em minha direção.
  — Me leve até Atlantis e terá minha gratidão eterna. — Sua voz soa um pouco mais baixa e grave, fazendo meu corpo se arrepiar. Com sua mão direita, ele toca meu rosto, segurando meu queixo por entre seus dedos, de forma cuidadosa e suave. — Eu também te recompensarei muito bem, Serena. — O som do meu nome saindo de sua boca, parecia uma maldição. Seus dedos escorregam para longe da minha pele molhada, enquanto um pequeno sorriso surge em seus lábios.
  Um pouco nervosa, engulo de uma vez toda a saliva. Seguro seu casaco por dentro, o apertando em minhas mãos, ao mesmo tempo que, seu cheiro de pirata se impregnava na minha pele.
  — Vou te levar para Atlantis… Capitão Hanna.

Capítulo 3
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