Capítulo 27 • IRMANDADE PIRATA – REUNIÓN
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— Silêncio, suas carcaças podres do mar! Calem a boca de uma vez! — Um dos piratas ao redor da grande mesa retangular, grita.
Em uma sala fechada, mal iluminada e abarrotada de ouro e tripulantes, sentados ao redor da grande mesa de madeira estavam os piratas mais procurados dos sete mares.
Depois dos últimos acontecidos, uma reunião de urgência foi convocada entre os piratas, e mensageiros foram enviados para as águas com o intuito de entregarem o chamado.
— Hanna. — Um dos piratas, o primeiro do lado esquerdo, faz um gesto para que Taehyung fale quando todos fazem se calam.
Calmamente, Taehyung se levanta de sua cadeira.
— Eu encontrei o mapa para Atlantis. — Ele revela sem mais nem menos, e um grande coro de surpresa escapa da boca de todos que não faziam parte da tripulação do Capitão Hanna.
— Nós encontramos. — Serena também se levanta de sua cadeira - ao lado da de Taehyung.
— Sim, nós. — Ele faz um gesto como se espantasse um mosquito, e isso faz Serena querer o xingar.
— Mentira. Eu não acredito. — Outro dos piratas, exclama.
Taehyung puxa o amontoado de papéis de dentro de seu casaco, os erguendo no ar. Um outro pirata, esse de pé, parte de outra tripulação, faz menção de tocar no mapa, mas toda a tripulação do Capitão Hanna ergue suas pistolas em direção a ele, que recua.
— Como não saberemos que é um blefe? Se qualquer um de nós encontrasse Atlantis, com certeza não contaríamos a ninguém até pormos as mãos nas riquezas do lugar. — Um pirata tão jovem quanto Taehyung fala, fazendo todos rirem ao redor da mesa e concordarem.
— Não minto. Estou contando porque tenho uma proposta a fazer aos senhores.
Todos voltam a se calar, encarando Taehyung com curiosidade.
— Eu e minha prisioneira...
— Sócia. — Serena o interrompe.
Taehyung fita ela, que o encara com severidade. Ele adoraria provocá-la, mas não era o momento apropriado para isso.
— Eu e minha sócia, encontramos o mapa. Todos aqui sabem que eu já possuía três das sete partes.
— E seu irmão tinha as outras duas.
— Falou bem, Barcus, tinha. — Taehyung aponta para o homem gordo e barbudo, sorrindo.
— O que quer dizer com isso? — Barcus pergunta.
— Isso quer dizer que eu roubei todas as partes que ele tinha e a que achou depois também. — Serena toma as partes do mapa das mãos de Taehyung.
— Roubou? Quem é ela? — Liceu, o homem macho e de pele escura, pergunta.
— Uma sereia. — Jungkook responde, se intrometendo na conversa.
Tudo volta a ficar barulhento, com mais burburinhos.
— Uma sereia com pernas? — Shia, uma das piratas, pergunta enquanto olha Serena da cabeça aos pés.
Taehyung suspira falsamente e coloca as mãos na cintura.
— Ela é uma sereia que foi enfeitiçada, por isso tem pernas. Mas ela está diretamente ligada a Atlantis e me ajudou a encontrar todas as outras partes do mapa. — Por cima do pano amarrado no final de sua testa, Taehyung passa a mão pelos cabelos, fazendo algumas das tripulantes suspirarem.
— Se vocês já têm tudo, por que querem fazer-nos uma proposta? — Jackson, o pirata que mandou todos se calarem no início da reunião, pergunta.
— Recentemente, o meu irmão bolou uma emboscada para mim.
— Infâmia não iria se casar? Esses eram os boatos. Por isso ele é o único a não participar da reunião? — Barbus pergunta, olhando ao redor.
— Ele não está na reunião porque é um maldito traidor. — Serena responde com desprezo.
— Ela não é a única sereia com pernas. — Taehyung aponta para Serena. — Minha sócia tem um tio que além de ser uma criatura do mar, também é um feiticeiro, e foi ele quem a amaldiçoou.
— E o que isso tem a ver com o seu irmão? Não estou entendendo. — Tina fala e todos concordam com ela.
— Se vocês me deixarem explicar tudo, sem interrupções, então saberão. — Taehyung responde, sem paciência. Ele não se animava quando precisava participar das reuniões da irmandade, pois, até mesmo para ele, isso era uma bagunça que dava dor de cabeça.
— O pai de Serena era Árie, o rei do Pacífico Sul, o único a encontrar Atlantis, como todos já conhecem a história. — O mesmo coro de surpresa de antes, surge de novo. — O tio dela, irmão de Árie, tentou assumir o trono e conquistar Atlantis, mas falhou, e como vingança, amaldiçoou uma das filhas de Árie. — Taehyung aponta mais uma vez para Serena. — Agora, ele se juntou ao meu irmão e ao Comodoro Jung, do rei Dominique, para tentar encontrar Atlantis. O que, claramente, é uma aliança traiçoeira, eu conheço muito bem o Jin para saber que ele nunca dividiria Atlantis, e nem o tio dela.
Todos os piratas presentes ficaram tão sérios que chegavam a assustar.
— Vocês sabem que a maior das traições é quando um pirata se junta aos porcos do rei. Não há perdão para isso, mesmo que ele tenha intenção de enganá-los. E esse é o motivo que nos levou a fazer essa proposta. — Taehyung faz um gesto para que Serena tome a frente.
— Meu tio me deu esse colar que serve para me encontrar sempre. — Serena ergue o colar enrolado em sua mão. — Ele usará isso para nos seguir até Atlantis, mas como já descobrimos suas verdadeiras intenções, queremos usar o colar contra ele. — Serena troca um olhar cúmplice com Taehyung.
— Vamos emboscar o meu tio, a tripulação do Capitão Infâmia e os soldados do rei em Atlantis. Depois acabaremos com eles e dividiremos tudo que encontrarmos em Atlantis. As lendas dizem que lá existem riquezas para enriquecer mil gerações, portanto, penso que todos os senhores e senhoras presentes aqui teriam moedas de outro transbordando de seus navios.
Os olhos de todos os piratas se tornam grandes e fantasias começam a surgir em seus pensamentos.
— Não sei se posso confiar, ela é uma mulher e mulheres piratas trazem azar. — Rilly diz, coçando sua barba.
— Eu sou mulher e sou Capitã de um dos navios mais procurados, seu velho de bolas murchas. — Shia bate suas mãos na mesa de madeira, e Tina a acompanha, seguida por todas as tripulantes mulheres.
— Se piratas mulheres forem um problema para você, então dê o fora, velhote. — Inez para atrás de Taehyung, encarando Rilly de um jeito que lhe meteu medo.
— Foi só uma observação. Não fui eu quem inventou isso. — Ele pigarreia, tentando disfarçar.
Em meio à confusão, Liceu se levanta, atraindo a atenção de todos.
— Nós, como piratas, em primeiro lugar devemos expulsar Infâmia da irmandade por se juntar ao rei. E em segundo — Ele se vira para encarar Serena. —, apesar de dividirmos os tesouros de Atlantis, digo que essa sereia com pernas deve ser a única a possuir Atlantis. Seu pai, um dos reis dos sete mares, muito conhecido por todos que se arriscam nas águas, foi aquele que, de fato, encontrou a cidade perdida, e isso a faz herdeira.
Os ombros de Serena caem, enquanto ela se sente surpresa.
— Nós somos piratas, mas somos justos. O que é certo entre nós, é certo. — Liceu fala quando percebe o espanto de Serena.
— Nossas regras são diferentes e é por isso que matamos e saqueamos. — Tina completa. — Mas o que Liceu disse é certo. Entre nós, aquele que acha o tesouro, é o único dono e deve guardá-lo para que não seja saqueado por outro pirata. Mas também somos respeitosos com as criaturas do mar, se elas não nos atacam, então não as atacamos. E se Atlantis pertence a uma delas, portanto, que seja. Mas cuide bem de sua herança, nem todos pensam como nós. — Tina sorri trapaceira para Serena, que sorri agradecida.
— Eu ainda não posso acreditar que Infâmia se aliou ao rei. — Jackson expira alto, parecendo um pouco perturbado.
De fato, algo presente e forte entre os piratas, era o desprezo pelo rei e a forma como regia tudo, por isso, não existia desgosto maior que um pirata unir-se à realeza.
Com um olhar sombreado a seriedade, Taehyung puxa a espada presa em seu cinto, depois abre a camisa de botões e passa a ponta da espada por toda a cicatriz que marcava sua pele, algo que ele ganhou quando ainda era novo, através da espada de um soldado do rei.
— Jin irá se arrepender de ter cometido a maior das traições, não só com os piratas, mas com a nossa família também. — Taehyung fala, enquanto o sangue escorria por seu tronco.
Todos já conheciam sua história e o peso daquela cicatriz, por isso, eles apenas observam em silêncio, respeitando a história que o jovem pirata carregava em sua pele. Com exceção de Serena, que fitava Taehyung de forma atenta, querendo descobrir o que havia por trás desse gesto.
***
— Por que você sempre está se machucando de propósito? — Com as mãos na cintura, segurando o pano manchado de sangue que usou para limpar a cicatriz em Taehyung, Serena o repreende.
No quarto do pirata, já arrumado pelo dono da pousada, Taehyung estava sem camisa e sentado em uma cadeira, de pernas abertas, enquanto Serena tentava limpar seu machucado.
Ela nega com a cabeça, séria, e Taehyung a acha adorável, então sorri, mas ela se irrita com essa irresponsabilidade. Serena até mesmo não consegue conter ao olhar para a palma da própria mão, vendo o pequeno corte que ela fez ali, em seu pacto de sangue com ele, já cicatrizando.
E a pegando desprevenida, Taehyung segura seu pulso e a puxa para baixo, fazendo Serena se sentar em uma de suas pernas abertas. Ela arregala os olhos, surpresa, envergonhada e tentada a levantar.
— Minha mãe era uma estrangeira clandestina vinda da Coréia. Ela queria tentar uma vida melhor e acabou vindo para o Caribe, onde conheceu o meu pai, um pirata rico. — Taehyung começa a falar, captando a atenção de Serena, assim, impedindo que ela se afastasse dele. — Talvez, no começo, ela só quisesse viver bem, mas em algum momento, eles se apaixonaram e, com o tempo, ela acabou engravidando. Primeiro foi o meu irmão e depois eu. — Ele suspira e seu olhar se perde no chão de madeira do quarto. — As coisas mudaram depois que meu irmão e eu nascemos, as brigas entre os meus pais se tornaram frequentes porque a minha mãe começou a achar a vida pirata muito perigoso para os filhos.
Ele faz uma pequena pausa, e Serena nota como sua mandíbula se aperta.
— Por conta disso, um dia minha mãe ameaçou entregar o paradeiro do meu pai para o rei se ele não acabasse com a vida de pirata. E como consequência, meu pai teve que fugir, mas levou Jin com ele. — Taehyung ri, nasalado e sem humor. — Com o tempo, todo o ouro que meu pai deixou para trás foi acabando, e foi quando eu e minha mãe passamos por tempos difíceis, até mesmo sem ter o que comer.
Serena se sente tensa, por isso, involuntariamente, ela aperta o pano sujo de sangue que segurava.
— Eu nunca tive raiva do meu pai, ele precisou fugir. A vida miserável que tive com a minha mãe foi culpa do governo tirano do rei, que sempre favoreceu aos ricos. Todos naquele lugar onde eu morava tinham vidas tão ruins quanto a minha. Então, era comum que roubassem para sobreviver. — Ele respira pesadamente, tentando conter todas as memórias. — Um dia, quando eu tinha sete anos, minha mãe tentou roubar um pão para nos alimentar, mas foi pega por um soldado do rei. Ele iria matá-la e, por causa disso, eu me meti no meio e foi quando eu consegui essa cicatriz. No final, ela foi tudo que eu tive, porque a minha mãe foi morta por um desses malditos ricos.
Serena sente seu coração apertar ao imaginar um Taehyung de sete anos tentando impedir que sua mãe fosse morta por tentar alimentá-lo.
— Eu também só não fui morto naquele dia porque alguns vizinhos viram e imploraram para que o soldado me poupasse. Logo depois, as notícias se espalharam e quando meu pai soube, voltou para a nossa cidade e me levou com ele. — Taehyung ainda encarava o chão de madeira, enquanto Serena observava cada expressão de seu rosto. — Ele se arrependeu até seu último dia de vida por ter fugido, porque ele a amou até seu último dia de vida.
Taehyung pisca algumas vezes e finalmente encara Serena.
— E desde então, eu nunca deixo essa cicatriz sumir, estou sempre a abrindo com uma espada para que eu nunca me esqueça de onde eu vim e o que fizeram com a minha mãe. Essa cicatriz — Ele leva sua mão até o lugar machucado. — é o lembrete do porquê eu odeio tanto o rei e os da sua laia.
Serena não conseguia desviar seu olhar do de Taehyung, pois, assim como ela, aos sete anos ele teve sua vida completamente mudada. Algo lhe fora arrancado do mesmo jeito que aconteceu com ela.
— Não faça essa carinha. — Taehyung ri e segura o queixo de Serena, o balançando devagar. — Cada dia foi melhor que o outro. A minha vida no mar foi maravilhosa e o meu pai me ensinou tudo que sei hoje.
— E o que aconteceu com ele? — Serena pergunta, ansiando descobrir cada segredo do pirata que a fitava.
— Quando se navega, os piratas ou as criaturas do mar não são seus únicos inimigos. Houve tempos em que as águas do mar pareciam veneno e meu pai acabou adoecendo após beber dela.
Oh sim, os tempos em que Árie, o rei de um dos sete mares, também adoeceu, entretanto, de tristeza, por perder uma de suas filhas. E, como consequências, as águas de seu reino também adoeceram, assim matando muitos áqueos e humanos.
— Eu sinto muito. — Serena fala, verdadeira.
— Não sinta. Eu tenho uma nova família agora, a minha tripulação.
Em instantes, suas palavras têm a capacidade de trazer todos os momentos que apenas esses dois tinham.
— Então você sequestra pessoas para obrigá-las a fazer parte da sua família? — Serena estreita os olhos, não perdendo a oportunidade de cutucá-lo.
Taehyung ri, antes de segurar Serena pela cintura e incliná-la para trás, aproximando seu rosto do dela.
— Não, eu faço isso porque sou um pirata, e você sabe, piratas são cretinos. Mas se eu não tivesse feito isso, então não estaríamos nos divertindo agora. — E sem esperar por uma resposta afiada de Serena, ele a beija, e embora a reação dela sempre fosse lutar contra ele, ela não faria isso, não quando sentia seu coração acelerar toda vez que os lábios do pirata tocavam os seus.