Capítulo 24
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O Vingança era um completo caos nesse momento, uma bagunça sem tamanho. Os músicos estavam tocando e cantando horas a fio, enquanto todos bebiam e dançavam pelo convés, embora grande parte dos piratas estavam meio desmaiados no chão de madeira. Como forma de comemorar a posse do mapa para Atlantis, Taehyung decidiu nos levar para Tortuga, o porto pirata que só pode ser encontrado por aqueles que verdadeiramente sabem aonde fica. Apesar de já ter escutado boatos sobre Tortuga, quando Jungkook, animadamente, me contou mais, percebi que esse lugar era muito pior do que eu imaginava. A ilha - que ficava no Caribe, era conhecida por ser mergulhada em sangue, onde a violência era constante, não haviam regras para as rixas, pirataria e pilhagens. Lá, também, os piratas tinham inúmeros esconderijos e vendiam seus tesouros ou os gastavam em álcool.
— Yo-ho, yo-ho! Uma vida de pirata pra mim! — Os músicos cantam alto, debaixo do céu escuro, batendo seus pés no chão e manuseando os instrumentos velhos. — Nós pilhamos, esfoliamos e roubamos! Bebei amigos, Yo-ho! — A tripulação grita em coro, erguendo garrafas de rum para cima. — Nós sequestramos e arruinamos sem nos importar! Bebei amigos, Yo-ho!
— Yo-ho, yo-ho! Uma vida de pirata pra mim! — Jungkook surge de surpresa, passando seus braços pelos meus ombros e os de Jack, chegando a derrubar um pouco de rum nela. — Nós extorquimos e roubamos e até saqueamos! Bebei amigos, Yo-ho! — Ele canta, completamente empolgado, enquanto olha de mim, para Jack e vice-versa. — Pilhamos e fraudamos e até liquidamos os altos-soldados! Bebei amigos, Yo-ho!
Fito Jack, que encolhe os ombros e ri baixo, achando toda a situação engraçada. Fingindo dançar, ela tira o braço de Jungkook dos seus ombros, o rodopia e pega sua garrafa de rum. O pirata cambaleia um pouco, chacoalha a cabeça afastando a tontura e sorri, voltando a se meter no meio da tripulação bêbada.
Jack dá um pequeno gole no rum e depois passa a garrafa para mim. Faço o mesmo que ela, ao mesmo tempo que, olho em volta, admirando toda a felicidade desse navio pirata e, por um momento, meus olhos acabam indo até o convés superior, onde, Taehyung assumia o leme, guindo todos para o seu pote de ouro. Havia algumas mulheres ao redor dele, todas tentando arranjar um lugar para estar do lado do Capitão. Ele não parecia se importar muito, estava mais concentrado em navegar o navio e cantar a música.
— Yo-ho, yo-ho! Uma vida de pirata pra mim! Nós colocamos fogo e incendiamos! Bebei amigos, Yo-ho! — Namjoon, também no convés superior, praticamente gritava, segurando no batente. — Nós queimamos cidades, somos realmente medonhos! Bebei amigos, Yo-ho! — Ele ergue sua garrafa com tanta empolgação que grande parte do rum cai no convés debaixo.
— Nós somos saqueadores, bandidos e ladrões! Bebei amigos, Yo-ho! Nós somos perversos, malvados demais! Bebei amigos, Yo-ho! — Os músicos aceleram o ritmo dos instrumentos, para segundos depois, o tornarem lentos até que a música acabe. — Yo-ho, yo-ho! Uma vida de pirata pra mim! Yo-ho, yo-ho! Uma vida de pirata pra mim!
A tripulação aplaude, mas logo os músicos já iniciavam outra cantiga pirata, não deixando que a animação acabasse no Vingança.
Embora o navio ainda parecesse bem cheio, grande parte da tripulação já não se fazia mais presente. Após o meu acordo com Taehyung, paramos em uma cidadezinha qualquer, onde, naquele lugar, ele despejou todos aqueles que queriam ter suas antigas vidas de volta, a liberdade. Confesso que apesar de o ver me dar sua palavra, ainda foi uma surpresa vê-lo cumprir isso sem nenhuma pilantragem, mostrando, assim, que quando queriam, os piratas poderiam ser honestos, levando em conta que a mentira era uma de suas maiores artimanhas.
E junto dos prisioneiros - que ficaram tão descrentes por Jack e eu realmente termos nos redimido - e parte da tripulação, Dana também se foi. Ela já estava aqui há muitos anos - bem mais do que os nossos poucos meses, assim como também já tinha mais idade. E se bem me lembro, Dana já havia comentado sobre o seu desejo de voltar para a família, especialmente o neto. Não foi uma tarefa fácil, a nossa mamãezinha era muito teimosa e não queria nos deixar aqui no navio, ela temia que nos afundássemos em mais confusões, o que não era difícil. Mas como eu já havia dito em minha proposta, a partir de agora, as coisas ficariam mais sérias e perigosas, por isso, ninguém que não estive verdadeiramente disposto, deveria continuar nesse navio.
Quando nós prometemos muitas vezes para Dana que ficaríamos bem e que a visitaríamos quando tudo isso acabasse, ela finalmente concordou em abandonar o Vingança. E não foi um momento nada fácil, porque além de Jack chorar muito, Dana também chorou, e não só por nós, mas pelos piratas, das quais ela compartilhou seus últimos anos. Ela disse que sentiria falta das aventuras em alto mar, mas que já não tinha mais idade para isso.
No momento em que ancoramos na cidadezinha, tentei fazer com que Jack fosse com Dana, mas, aparentemente, apesar de ser uma medrosa, ela não queria me abandonar, porém, alguma coisa dentro de mim me dizia que ela queria mesmo era permanecer no Vingança porque essa seria sua maior oportunidade de ver o comodoro mais vezes, mesmo que fosse em meio a sangue e tiros. De qualquer forma, Jack disse que eu preciso de uma companheira de confusões e que ela era a única com parafusos soltos, disposta a me acompanhar sempre.
Sabendo que não conseguiria fazê-la mudar de ideia, ao menos tentei manter Duque a salvo. Como favor, pedi que Dana o levasse com ela, dizendo que eu o buscaria após encontrar Atlantis, mas esse nanico fez o maior escândalo de sua vida canina e eu fui incapaz de deixá-lo ir. Por isso, no final, somos ele, Jack e eu.
Nos últimos dias, pensei muito sobre tudo que poderia acontecer daqui para frente, mas depois do que descobri, eu precisava encontrar Atlantis de um jeito ou de outro. Meu interesse naquele lugar era diferente dos piratas, não era o ouro ou qualquer riqueza que me interessava, tudo que eu queria era comprovar a veracidade do que Jimin me contou.
— O que é isso? — Jack segura meu braço quando o navio entra dentro de uma densa neblina que o rodeia por completo. O ar fica mais frio, fazendo Jack se encolher do meu lado, porém, nada do que acontece para os músicos ou a tripulação.
No mesmo minuto, espio sobre os ombros, em direção ao convés superior. Se houvesse algum problema, Taehyung estaria sério, porém, ele estava sorrindo de forma ainda mais larga que antes.
Leva apenas poucos segundos para que a neblina comece a sumir na dianteira, mostrando um horizonte iluminado e um ancoradouro. Era como se a neblina camuflasse o lugar, já que ela permanecia só atrás, sumindo apenas na frente para dar vista a uma ilha.
— Senhoras! Senhores! — Taehyung grita do convés superior, fazendo os músicos pararem e toda tripulação se virar para ele.
Ele manuseia mais um pouco o leme até o navio bater no ancoradouro, em um tranco que derruba muitos bêbados. Os piratas em melhor estado logo se apressam a soltar a ancorar do navio.
Taehyung afasta suas mãos do leme, enquanto passa os olhos por todos nós.
— Deixe-me ser o primeiro a dizer: bem-vindos à Tortuga, a ilha dos piratas! — A tripulação grita animada. — Iremos passar nossos próximos dias nesse lugar, portanto, todos estarão por conta própria. — Ele se afasta do leme e caminha para a escada do convés, sendo seguido pelas mulheres que o rodeavam antes. — Então, tentem não morrer, porque logo iremos para Atlantis. — Assim que ele termina de dizer, a porta do navio é aberta, fazendo com que toda a tripulação corresse para fora como se estivesse caminhando para o final do arco-íris em direção ao pote de ouro.
— Tudo pronto? — Olho para Jack, que ainda segurava o meu braço.
Ela sorri e dá dois tapinhas no saco de pano transpassada pelo seu tronco com o auxílio de um cordão. Dentro dele, colocamos algumas de nossas moedas de outro que ganhamos aqui, assim como, também colocamos uma faca que roubei da cozinha. Essa ilha tem todo tipo de gente, por isso, devemos estar prevenidas.
Duque surge correndo pelo convés, parecendo contente. Mais cedo, eu o soltei já que ele passa tanto tempo no quarto. Tendo se apegado a ele, Jack logo se abaixa e o segura nos braços. E agora, tínhamos tudo que precisávamos.
Sendo assim, começo a andar lado a lado com Jack.
— Se estamos nesse lugar para aproveitar os próximos dias, talvez ele te ajude a curar esse seu coração partido. — Digo e Jack me olha de supetão.
— Que coração partido? — De olhos arregalados, ela tenta disfarçar, mas suas bochechas coradas entregam tudo.
— Se você já ficava se lamentando pelos cantos antes, quando conheceu o comodoro, após o encontrarmos naquele dia, quando me resgataram, você só faltava se jogar no mar e nadar de volta para ele.
O tom em suas bochechas fica ainda mais forte e ela desvia o olhar para Duque.
Rio pelo nariz.
— Eu sei que deve ter sido difícil para você, Jack. Mas vamos tentar esquecer isso, ao menos, pelos próximos dias, certo? Diversão das meninas. — Sorrio para ela, que assente timidamente.
Em meio ao desespero da tripulação, no ancoradouro, para entrar na ilha, Namjoon e Jungkook acabaram nos fazendo companhia. Como era a nossa primeira vez em Tortuga, eles decidiram nos acompanhar até à pousada, da qual os piratas do Vingança costumavam ficar, embora eles disseram que alguma parte da tripulação teria que voltar para o navio e passar a noite lá, evitando roubos. E isso seria feito em revezamento entre eles. Aparentemente, todos os piratas que vinham para esse lugar e fossem ficar mais de um dia, usavam essa estratégia.
A pousada repleta de piratas e cheirando a álcool, custou dez moedas de ouro, e como Jack e eu ficaríamos no mesmo quarto, saiu mais barato. Após escondermos uma parte de nossas moedas debaixo de uma tábua solta no chão, nós trancamos nosso quarto e nos juntamos a Namjoon e Jungkook de novo, e assim, eles nos levaram até uma das tavernas mais lotadas da ilha.
O lugar cheirava a álcool, tabaco, sangue, vômito e colônia barata. Torço o nariz e até mesmo Duque resmunga no colo de Jack. Por outro lado, Namjoon e Jungkook não parecem incomodados com nada disso. Como no navio, aqui também tinha música alta e eu até pude ver alguns dos músicos do Vingança indo se juntar aos músicos da taverna. Pessoas dançavam de um lado, brigavam em outro, eram lançadas pela janela logo ali, jogavam cartas aqui, bebiam, desmaiavam e vendiam todo tipo de coisa. Se a igreja visse esse lugar, certamente diria que era o inferno descrito na bíblia católica.
— Eu amo Tortuga. — Jungkook diz, e seus olhos brilhavam como se visse a coisa mais linda do mundo.
— Eu também. — Já Namjoon, observava descaradamente todas as dançarinas, piratas e mulheres comuns espalhadas pelo lugar.
— Que tal começarmos bebendo alguma coisa? — Pergunto, tentando atrai-los de volta.
Eles concordam e todos nós vamos até o balcão mais próximo.
— Quatro grogs. — Namjoon pede ao homem parado atrás do balcão.
— Vocês pagam. — Jack diz para o pirata, que ria e assente.
— O que é grog? — Pergunto.
Namjoon se vira de costas para o balcão, apoiando seu corpo ali.
— É uma bebida dos piratas. Ela ajuda a prevenir algumas doenças do mar e como acabamos de vir de lá, nada melhor do que nos purificarmos com um belo grog. — O homem do balcão logo volta com quatro copos e uma garrafa.
— E não podemos esquecer que essa maravilha aqui — Jungkook pega um dos copos que é cheio pelo homem do balcão. —, vale por cinco goles de álcool. — Ele vira a bebida de uma só vez, batendo o copo no balcão para logo em seguida enchê-lo de novo.
Jack me olha um pouco assustada. Rio de sua expressão e pego um dos copos cheios, experimentando a bebida com gosto de rum, limão e açúcar.
Jack coloca Duque em um dos bancos de madeira e pega o último copo, pronta para beber também.
— Merda! — Namjoon resmunga e nós três o encaramos. E mesmo sem nos olhar, ele aponta em direção a uma das mesas, onde um amontoado de pessoas jogavam cartas, e Taehyung era um deles. Ele havia acabado de chegar e se juntar a outros homens. — Dá última vez, ele quase apostou o navio. — Namjoon suspira pesadamente.
— É melhor irmos lá. — Jungkook coça a cabeça e Namjoon concorda.
O pirata de olhos grandes e redondos, e aparência mais jovem, tenta pegar a garrafa de grog antes de ir, mas eu a puxo para longe.
— Aposto que naquela mesa tem muitas dessas garrafas. — Digo para Jungkook, que ri e nega com a cabeça, antes de ir com Namjoon.
— O que fazemos agora? — Jack pergunta, enquanto enche mais uma dose de grog.
Dou de ombros.
— Quer ir conhecer a ilha? — Pergunto e ela assente.
Pego Duque no colo e Jack pega a garrafa, e assim saímos da taverna.
A noite era agradável e estrelada, com uma brisa refrescante. Todos pelas ruas de pedras pareciam animados demais, provavelmente bêbados.
Três piratas abraçados vêm cantando e cambaleando para o nosso lado, me fazendo rir. Um deles tropeça e cai nos pés que Jack, que faz uma careta. Em meio aos soluços, o pirata enrola suas palavras ao se desculpar e tirar seu chapéu para Jack.
Enquanto passávamos a garrafa de grog de uma mão para outra, acabamos vendo, de longe, uma placa iluminada por lamparinas, que dizia “Cabaret da Madame Lamur”.
— Quer ir lá ver? — Jack me olha animada e eu assinto.
Tirando a vez que fomos até o Hanna’s Cabaret, eu nunca tinha ido em um e, definitivamente, nunca assisti a um show, portanto, acho que seria legal fazer isso.
— Será que eles nos deixarão entrar com o Duque? — Jack pergunta, quando viramos à esquerda e começamos a caminhar para dentro de uma rua estreita que mais se parecia com um beco. O cabaré ficava no final dela.
— Se não deixarem, nós os subornamos. — Falo e Jack ri.
— Espero que elas usem aquelas roupas bonitas. Estou curiosa para saber como é uma apresentação. — Ela realmente estava empolgada.
Apesar de a placa estar iluminada, o beco do cabaré era bem escuro, por isso, tivemos que andar devagar e com calma para não tropeçar nos ladrilhos mais altos.
Quando paramos em frente à porta pintada de vermelho vibrante, encontramos outra placa e ela dizia “entrada permitida apenas para homens”.
— Como assim só para homens? — Me inclino para frente com Duque, a fim de ler melhor.
— Só porque as dançarinas são mulheres, nós não podemos entrar. — Jack bufa, um pouco desapontada.
A fito por alguns segundos, me sentindo tão frustrada quanto ela.
— Mas nós vamos entrar, sim, você vai ver. — Falo, já pegando na maçaneta da porta, me preparando para arrumar uma grande confusão do lado de dentro, se fosse necessário.
— Posso ajudar as duas donzelas? — Uma voz masculina e estranha pergunta atrás de nós.
Meu corpo salta no lugar e Jack solta um pequeno grito, levando a mão até o peito.
Me viro rapidamente, enxergando do outro lado da rua, encostado em um poste de lamparina apagada, uma silhueta alta que se mexe lentamente e começa a caminhar para perto.
Quando atravessa a rua, conseguimos ver melhor o homem que usava um tapa-olho e tinha as roupas mais sujas que a de um pirata.
— Nós só queremos entrar. — Jack responde, apontando para o cabaré.
— Esse lugar não é para jovenzinhas. — Ele diz, sorrindo e nos encarando de uma forma estranha.
— Não se preocupe. Nós podemos cuidar disso sozinhas. — Falo, na tentativa de me livrar dele, por isso, logo me viro e tento abrir a porta de novo, mas o sinto segurar meu pulso, me impedindo.
Seguindo seus instintos, Duque rosna e ameaça morder a mão do homem estranho, o obrigando a afastá-la de mim.
— Bravo ele, não é? — O homem ri.
Não respondemos e Duque continua rosnando. O homem permanece parado na nossa frente, nos examinando como se quisesse algo.
— O que tem no saco? — Ele pergunta e aponta com a cabeça para Jack.
— Nada. — Automaticamente, com a mão livre, Jack segura o saco.
— O que tem no seu? — Pergunto logo em seguida, indo para perto de Jack e tentando mudar a atenção dessa conversa.
— No meu? — Ele percebe meu olhar sobre o pequeno saco preso no seu cinto, e o pega com uma mão, sem desprendê-lo do cinto. — Algumas moedas de ouro, mas elas já estão acabando. Preciso arranjar mais. — Ele suspira de forma falsa e fica em silêncio.
Tensa, Jack me encara pelo canto de olho, e estou pronta para dizer ao homem que estamos indo embora, quando, abruptamente, ele avança em direção a Jack, tentando pegar o saco com ela.
Jack grita e tenta afastá-lo, acertando-o com a garrafa de grog cheia. O baque faz o homem ficar tonto e cair para trás, enquanto puxa o saco de Jack que se desprende do cordão.
Apesar de estar caído, o homem não estava inconsciente, por isso, logo tenta levantar.
Duque salta do meu colo e corre até o homem, o mordendo na canela. O homem grita e começa a chacoalhar a perna.
— Vou matar esse pano de chão sujo! — Ele grita, se sentando nos ladrilhos, e quando percebo que ele tenta segurar Duque pelo pescoço, me desespero e me aproximo, o chutando no rosto.
O homem cai deitado de novo e seu nariz começa a sangrar. Ele tampa o lugar com a mão, mas o sangue escorria por entre os dedos.
— O saco, Jack! Pega o saco! — Grito para ela, enquanto puxo Duque que não queria soltar as calças do homem, que acabaram rasgadas na barra.
Jack abre o saco e pega a faca dentro dele.
— Se tentar alguma coisa, vamos arrancar sua fuça com isso. — Ela aponta a faca para ele - ainda deitado e tapando o nariz.
— Vem aqui. — Faço um gesto de cabeça para Jack para nos aproximarmos do homem que nos observa com apenas um olho cheio de raiva.
Jack me olha um pouco aflita, mas faz o que eu peço. Em passos cautelosos, nos aproximamos de novo dele e Jack não deixa de apontar a faca para o homem.
Com Duque nos braços, rosnando, me abaixo, sem tirar os olhos do estranho e puxo o saco preso em seu cinto, e isso o faz se mexer e tentar me pegar, mas Duque late, quase avançando nele de novo, então o homem acaba não completando sua ação.
Balanço o saco de pano que roubei dele e sorrio.
— Obrigada pelas moedas. — Agradeço, antes de olhar para Jack e fazer um gesto de mão. E assim, no segundo seguinte, estamos correndo para longe, enquanto rimos e Duque permanece latindo, espiando tudo apoiando no meu ombro.
— Você iria mesmo atacar ele com essa faca? — Pergunto para Jack, ao mesmo tempo que corremos pelo caminho que fizemos posteriormente.
— Se ele tentasse algo, acho que sim. — Ela ri, nervosamente. — E se ele vir atrás de nós?
— Vamos voltar para a taverna e ficar com Namjoon e Jungkook, se ele for atrás de nós, pelo menos teremos ajuda. De todo modo, ele não deveria reclamar, estamos em Tortuga e aqui não há regras. — Sorrio esperta para Jack.
Quando retornamos para a Taverna, estávamos ofegantes e Duque mais tranquilo. Nos entreolhamos por segundos e acabamos rindo da situação, mas não acho que faríamos isso se fosse alguns meses atrás. Mal colocamos os pés nessa ilha e já estamos sendo afetadas por ela.
Procuramos pelos piratas conhecidos e logo os encontramos. Como haviam dito, Namjoon e Jungkook foram para perto de Taehyung e estavam de pé atrás dele, o observando jogar cartas. Bem, ao menos, Jungkook, pois Namjoon estava agarrado na cintura de uma mulher, enquanto ela dizia alguma coisa no ouvido dele, que o fazia sorrir muito.
Jungkook estava abraçado em uma garrafa e ignorava qualquer mulher que tentasse chamar sua atenção, nesse momento, ele estava realmente concentrado em impedir que Taehyung fizesse alguma aposta que se arrependesse. E esse, por sinal, tinha duas mulheres sentadas uma de cada lado seu, e ele dividia sua atenção entre elas e as cartas em suas mãos.
Observo toda a cena por alguns segundos, até ter uma ideia.
Olho para Jack e sorrio.
— O que foi? — Ela pergunta, desconfiada.
— Segura. — Entrego Duque para ela e pego o nosso saco de moedas que ela segurava, ficando com os dois sacos. — Vamos nos divertir um pouco. — Sinto aquela familiar ansiedade surgir toda vez que eu estava prestes a fazer algo no navio.
Antes mesmo que Jack tenha oportunidade, começo a caminhar em direção à mesa de apostas.
— O que você vai fazer? — Jack pergunta, atrás de mim, tentando me alcançar.
Quando paro perto da mesa, atrás de um dos homens que apostavam, todos me olham.
— Será que eu poderia jogar também? — Pergunto, sorrindo.
Jungkook me encara confuso, e Namjoon até deixa de prestar atenção na mulher pendurada em seu pescoço.
Com os olhos desconfiados, Taehyung me fita e eu faço o mesmo.
— Sabe jogar, boneca? — O homem sentado na minha, pergunta, e eu posso ver, de relance, que ele ergue sua cabeça para me olhar.
Assinto.
— Certo. Então fique no meu lugar, já perdi moedas de ouro demais para uma noite. — Ele se levanta e me cede sua cadeira. — Jonas vai ser seu parceiro. — Ele aponta para o homem sentado à esquerda.
Assinto de novo e, discretamente, lanço uma piscadela para Jack, que ficou parada atrás da minha cadeira.
Haviam apenas quatro pessoas no jogo: eu, Taehyung na minha frente, Jonas à minha esquerda, e outro homem a direita, provavelmente o parceiro do Taehyung.
— Vamos recomeçar o jogo. — Jonas diz, pegando as cartas de todos e começando a embaralhar. — Boneca, estamos perdendo feio, já não tenho um tostão furado para apostar.
— Não seja por isso, eu aposto por nós dois. — Coloco os dois sacos de pano sobre a mesa.
— Você vai apostar tudo? — Jack enfia sua cabeça do meu lado, me encarando descrente.
Espio os três jogadores antes de sussurrar para Jack.
— Não tem como eu perder isso aqui. — Falo, mas isso não parece acalmá-la.
***
Depois de mais ou menos trinta minutos jogando, ninguém prestava atenção em outra coisa que não fosse nossas apostas. Nenhuma das mulheres que nos rodeavam conseguiam sequer um pingo de atenção, principalmente aquelas que estavam completamente frustradas por Taehyung ter seus olhos apenas nas cartas e em mim.
Jonas e eu ganhamos todas as partidas seguintes e conseguíamos o dobro de moedas de ouro. E nada era mais maravilhoso do que ver a carranca irritada de Taehyung, enquanto eu ganhava cada uma das suas moedas, da quais eu já pensava em como gastaria.
As moedas do Capitão pagarão todas as minhas regalias em Tortuga e eu faria questão que ele visse tudo, apenas para irritá-lo ainda mais.
Jogo as cartas no centro da mesa, mostrando mais uma vitória. Jonas solta suas cartas e grita animado, antes de nós dois batermos as mãos em comemoração. Taehyung e seu parceiro bufam estressados.
— Estou fora, Capitão. Ela levou todo ouro que eu tinha. — O homem careca e magro me encara. — Você é melhor que um cão do mar.
Percebo Taehyung apertar a mandíbula, rangendo os dentes. Ele também não tinha mais nada.
Os clientes bêbados da loja dos meus pais me ensinaram muitas coisas, e uma delas foi a jogar cartas como uma trapaceira. E apesar de eu conhecer todos os truques sujos, eu não os usava com frequência, pois sou boa o suficiente para ganhar de todos aqui nessa mesa.
— Você deveria parar. Vai apostar todas as suas moedas também? — Namjoon diz em tom de repreensão. — Se quer apostar, procure outra coisa, menos o navio. — Ele dá ênfase. — Aposte um de seus anéis. Um colar, sei lá, só não aposte o navio ou sua bússola.
— Colar... — Taehyung diz baixo e, no mesmo instante, sua feição se acende. Seus olhos vão parar em meu pescoço e um sorriso surge em seus lábios.
Involuntariamente, levo a mão até o meu pescoço, não sentindo nada no lugar.
— Eu já volto. — Taehyung fala e se levanta, saindo de perto de nós.
Desconfiada, encaro Jack.
— Acho que perdi meu colar. — Isso era péssimo.
Jack franze o cenho, balançando Duque nos braços.
— Aposte o cachorro. — Alguém sugere.
— No dia do seu resgate, quando tirou aquele vestido e pediu para Dana tacar fogo. Você também tirou o colar. Me lembro de o Capitão ter pego ele com Dana quando ela entregou tudo para Inez, dizendo que ela podia se livrar daquilo. — Jack explica e os meus olhos se arregalam.
Não é possível que ao tirar o vestido de noiva, eu tirei o colar também. Eu nem senti falta dele nos últimos dias. Com a saída dos prisioneiros e da tripulação, e a viagem para Tortuga, nem ao menos me dei conta de que não estava mais com o colar.
De uma vez, volto a olhar para a cadeira vazia de Taehyung, e toda a irritação que eu pretendia fazer ele passar, ele me entregou como uma vingança mais rápida.
Me levanto da cadeira.
— Vigie nossas moedas. — Peço para Jack, enquanto todos me encaram. — E não, ninguém vai apostar o meu cachorro. — Me viro para Jonas, antes de sair de perto da mesa de apostas.
Pergunto para todos pelo caminho, para onde é que o maldito cretino tinha ido. E no final, acabo o seguindo até à pousada onde todos nós estávamos ficando.