Sirena del Atlantis


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 22

Tempo estimado de leitura: 9 minutos

  Olho para a janela redonda no alto da parede de madeira e enxergo o céu escuro da noite. Tudo parecia silencioso, logo, já deveria ter passado das oito, a hora que as velas são apagadas e o momento perfeito para pôr meu plano em prática.
  Passo as mãos por cima do longo robe de cetim com mangas longas, que escondia a camisola branca que eu vestia. Com os pés descalços mesmo, vou para fora do quarto, encarando a escuridão do corredor quieto.
  Puxo uma grande quantidade de ar para dentro e me sinto pronta. Caminho até à porta do quarto de Jin e dou algumas batidas, esperando do lado de fora. Ele não demora muito ao abrir a porta e, para minha sorte, ainda estava vestido.
  Sua expressão fica um pouco surpresa ao me ver, mas também noto seu olhar discreto sobre meu corpo, e finjo não perceber.
  Como quem não quer nada, enfio a cabeça para dentro de seu quarto e espio o lugar.
  — Fiquei sabendo que todo pirata esconde algumas garrafas de rum em seus quartos? — Comento, já entrando no quarto.
  Jin arqueia uma sobrancelha e fecha a porta.
  — Não está um pouco tarde para beber?
  — Não quando você é o Capitão do navio. — Coloco as mãos na cintura e sorrio esperta.
  Ele maneia sua cabeça e me fita por alguns segundos, antes de sorrir intencionado.
  Não importa se você é só um pirata comum ou o Capitão do navio, algumas garrafas de rum e uma bela mulher são capazes de te arruinar completamente.
  — Acho que podemos abrir uma exceção essa noite. — Ele diz e eu sorrio abertamente.
  Ele se afasta de mim e caminha por seu quarto grande, indo até o guarda-roupa, do qual, de dentro dele, Jin retira duas garrafas transparentes.
  Me sento em sua cama, apoiando os braços para trás do corpo, enquanto cruzo as pernas.
  — Já estou avisando que uma garrafa é muito pouco para mim. — Falo, séria, e ele ri, antes de me entregar um dos recipientes de vidro com o líquido meio marrom-claro.
  Jin se senta do meu lado e abre a garrafa.
  — Fico feliz que esteja mais calma em relação ao meu plano. — Ele diz.
  — É a minha liberdade que estamos negociando. — Falo e ele ri baixo.
  — Então não está pensando na minha proposta de ficar? — Com os lábios molhados pelo rum, ele sorri de seu jeito galante.
  — Para quantas mulheres você já fez essa proposta? — Aperto os olhos.
  — Você é a primeira. — Ah! Ele era bom, realmente muito bom em mentir.
  — Não acredito, você é um pirata, mentir está no seu sangue. — Dou um pequeno gole no meu rum para manter as aparências do meu plano.
  — Acho que você me pegou. — Ele aponta para mim com a mão que segurava a garrafa e dá outro gole.
  — Como você se tornou pirata? — Pergunto descontraída e descruzo as pernas, repetindo a ação com a outra. Discretamente, Jin acompanha os meus movimentos.
  Seu olhar desvia do meu e ele encara o guarda-roupa, do qual ele pega mais uma garrafa.
  — Meu pai era um pirata e me criou assim. — Ele responde, enquanto abre a outra garrafa.
  — Ele costumava arrancar a cabeça dos inimigos também? Por isso você faz isso? — Jin me fita com os olhos estreitos e eu encolho os ombros. — Os boatos no mar navegam mais rápido que os navios. — Repito sua fala e ele ri nasalado, sem humor.
  — Meu pai costumava encher a boca dos mortos com ouro, é alguma coisa sobre um tipo de protesto contra as realezas que possuem muito, enquanto deixam seu povo morrer na miséria, alguma idiotice assim. Todos os capitães daquele navio fazem isso, mas eu nunca desperdiçaria moedas de ouro em cadáveres que irão apodrecer, prefiro jogá-los no mar.
  Tento conter o meu espanto quanto suas palavras despertam uma memória muito antiga: o dia em que Duque e eu vimos um pirata pela primeira vez. Logo depois me recordo que surgiu uma notícia em Marlli de que o corpo de um guarda do rei foi encontrado morto na orla, no mesmo lugar que vimos o pirata, e ele estava com a boca cheia de moedas de ouro. E julgando pelo tempo que isso aconteceu, esse pirata só poderia ser o pai de Jin e Taehyung.
  Isso é realmente uma grande descoberta para mim. Me lembro de prometer guardar aquela moeda como um tesouro, mas eu acabei perdendo-a na semana seguinte.
  — E você, qual sua história com Jimin? — Jin pergunta, me puxando de volta para o presente.
  — Tenho uma família que não é de sangue, então mesmo que ele diga me conhecer, não consigo lembrar. — Finjo beber mais.
  — Igual um feitiço. — Suas palavras se arrastam no final, de forma baixa.
  Dou de ombros.
  — Desde os meus sete anos não lembro de nada que não seja meu nome e minha idade.

***

  Após tantas garrafas de rum quanto eu poderia contar, Jin finalmente estava começando a ficar bêbado, mas parecia que isso ainda levaria um longo tempo, o que não era bom, pois me obrigava a começar a beber também e eu já estava um pouco tonta.
  Sem paciência, começo a cantarolar de boca fechada, enquanto balanço o pé de uma das pernas cruzadas.
  Respiro fundo e continuo assim até ver o vulto do corpo de Jin despencar do meu lado. Olho surpresa para ele e o vejo dormindo instantemente, levando pouco tempo para começar a roncar.
  Permaneço parada, o encarando espantada, pensando se eu havia feito isso, porque me lembro do mesmo acontecer com Namjoon no dia do motim.
  Bendito sejam os deuses do mar! Pela primeira vez me sinto feliz por ser estranha.
  Tiro a garrafa de rum da sua mão quando o líquido escorre para o colchão. Guardo ela e a minha garrafa de volta no guarda-roupa e deixo tudo arrumado para que ele não desconfie.
  Volto a me aproximar de Jin e encaro os bolsos de suas calças, vendo o volume que percebi desde que cheguei. Com cuidado, enfio minha mão para dentro do bolso esquerdo, tentando alcançar o montinho. Meus olhos ficam sempre em Jin, atenta às suas reações. Deslizo meu dedo pelo objeto e mesmo sem retirá-lo do bolso, percebo ser uma bússola.
  Bufo e me sento do outro lado da cama. Volto a enfiar minha mão nos seus bolsos, agora, no direito. E minha irritação vai embora assim que sinto o molho de chaves gelado. Cuidadosa, começo a puxar o molho para fora do bolso, e as chaves batem uma na outra e tilintam quando saem. Paraliso meus movimentos e fito Jin, mas ele permanece tão imóvel quanto uma pedra.
  Encaro todas as chaves e logo procuro pela longa e dourada, sabendo que era ela que abriria a sala dos tesouros.
  Na ponta dos pés, caminho até à porta, saindo dali e a deixando fechada. Depois, ainda na ponta dos pés, me apresso pelo corredor escuro. Abro a porta devagar para que ela não faça barulho, e espio o convés vazio e silencioso. Entro nele e dou mais uma observada, e quando tenho certeza que todos estão mesmo dormindo, vou até à porta dupla da cabine, entrando de forma sorrateira.
  Enxergando apenas a sombra das coisas, me aproximo da porta da sala dos tesouros, só conseguindo enfiar a chave dourada na fechadura após três tentativas. Quando a porta destranca, minhas mãos gelam e meu corpo vibra de ansiedade. Me arrasto para dentro e não perco tempo ao sair olhando para todos os lados.
  Primeiro, busco por um papel e uma caneta de pena, escrevendo um breve bilhete para Jin. Em seguida, pego o meu retrato - escondido - preso entre duas garrafas de rum e o enrolo junto do bilhete. Por fim, procuro pelo canudo onde Jin guardava as partes do mapa. Roubo todas com cuidado e as enfio dentro da minha camisola, colocando o bilhete e o meu retrato no lugar como substitutos para enganar.
  Sei que Jin não costuma mexer nas coisas dessa sala, por serem tesouros que precisam permanecer bem guardados. Desde que cheguei nesse navio, ele só pegou as partes do mapa quando precisou me mostrá-las, por isso, sei que ele não checará nada até a emboscada, principalmente, na emboscada da qual ele com certeza vai reforçar a segurança dessa sala, pedindo que seus piratas a vigiem.
  Me certifico de que tudo estava como antes e, desta forma, deixo a sala dos tesouros com um enorme sorriso nos lábios. Tendo como testemunha e cúmplice do que fiz, apenas a lua da noite.

  "Olá, Capitão.
  Assim que ler isso, eu já estarei bem longe desta porcaria de navio. Estou levando umas coisinhas comigo, espero que não se importe. E lembre-se: quando for planejar a morte de alguém, certifique-se de que essa pessoa não está escondida, escutando tudo.
  Me recordo de você dizer que não era como o seu irmão. E agora penso que tinha razão, porque apesar de ser um vagabundo do mar que me irrita até as tripas, Taehyung é alguém de palavra, ao contrário de você. Então se orgulhe, Capitão, você é verdadeiramente um pirata desprezível. E digo mais, apenas um dos dois irá chegar em Atlantis e eu posso garantir que não será você, seu grandíssimo canalha.
  Estou deixando meu retrato de recordação, porque quero que toda vez que o ver, você saiba que foi saqueado pela Sirena del Atlantis."

Capítulo 22
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