Sirena del Atlantis


Escrita porHels
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 18

Tempo estimado de leitura: 20 minutos

  Não importava o quanto eu gritava, me debatia ou tentava acertá-lo, no final das contas, Capitão Infâmia conseguiu me arrastar até o seu navio escondido dentro de uma caverna com chão de água e teto de pedras, nos fundos da ilha. Em meio às pequenas ondas do mar que atingiam o casco do navio, após se levantarem pela força do vento que ficou subitamente mais forte, vindo do céu que se tornou cinza como em dias de tempestade, ele deu o comando para zarparem com o navio. E foi dessa forma que, pela segunda vez, eu havia sido sequestrada por piratas.
  Minhas mãos seguravam com força no batente da borda do navio, enquanto meus olhos observavam a ilha ficando cada vez mais longe, à medida que o navio balança sobre as águas rebeldes de um dia calmo que se transformou. Eu queria poder pular na água e nadar de volta até à ilha, depois correr para aquela caverna e ver o que havia acontecido. Taehyung e os outros estavam rendidos, mas eu escutei o som de um tiro, e os meus pensamentos só imaginam as piores coisas. Apesar de odiar estar presa em um navio pirata, eu preferia muito mais ficar com aqueles idiotas, do que com esses, porque, de alguma forma, talvez eu entenda um pouco o que Dana me disse em nossa última conversa sobre piratas.
  Eu definitivamente não queria me importar com eles, mas acho que isso está em mim, de alguma forma, em uma quantidade bem pequena. Eu me arrisquei para salvar Jungkook, e sim, eu fiz aquilo por conta do meu acordo com Taehyung, mas confesso que também queria resgatar Jungkook. Isso é estranho, me sentir dessa forma em relação àqueles piratas, mas posso me lembrar como alguns deles sempre foram legais comigo desde o começo. E ainda tem Duque, Dana e Jack... eles precisam de mim e eu deles.
  O vento forte e gelado arrepia todo meu corpo, ao mesmo tempo que o Capitão afasta suas mãos da minha cintura, me soltando de vez.
  — Sinto muito, mas isso precisava ser feito, Serena. — Ele diz, atrás de mim.
  Uma forte onda de irritação surge dentro de mim, então me vira de frente para o Capitão Infâmia.
  — Como você sabe o meu nome? — Pergunto em um tom de voz tão ríspido quanto o vento.
  Ele respira fundo e apoia uma das mãos na cintura, enquanto seus piratas andavam de um lado para o outro, atrás, cuidando do navio como se não estivéssemos aqui.
  — Sei, porque alguém da sua família me contou. Ele está aqui no navio, esperando por você. Com certeza, era o mais ansioso por isso. — Ele responde em um semblante sério, tentando me passar veracidade.
  Meu cenho se franze, confuso.
  — Do que você está falando? — Uma forte rajada de vento nos abraça, me obrigando a fechar os olhos por alguns segundos, sentindo fortemente meus cabelos e vestido balançarem.
  — É melhor conversar pessoalmente com ele, que saberá te explicar isso. Mas, antes, quero te fazer uma proposta, explicar o motivo pela qual está aqui.
  Volto a abrir os olhos, o fitando bem. Seus cabelos escuros balançam também, assim como sua blusa branca - muito parecida com a de Taehyung - e seu longo casaco preto.
  — O que é? — Pergunto, desconfiada.
  — Tenho certeza que não teve bons momentos com o meu irmão, sei muito bem o tipo que ele é, mas eu fui sincero quanto disse que te trataria melhor do que ele vem tratando. Não se veja como uma prisioneira aqui no meu navio, e sim como uma de nós.
  Tento controlar minhas expressões ao me perceber vacilando diante de seu tom de voz calmo e feição que parecia verdadeira.
  — Da mesma forma que Taehyung, eu também quero encontrar Atlantis — Ele faz uma pequena pausa, ponderando por um momento — e eu sei que você é alguém que pode me levar até lá. — Capitão Infâmia dá um passo em minha direção e segura minhas mãos, me fazendo enrugar as sobrancelhas e encarar seu gesto. — Me ajude a achar a última parte do mapa e eu te libertarei. Te dou a minha palavra que você poderá voltar para sua casa e nunca mais vai precisar ver o meu irmão ou eu. Se quiser, também posso te arrumar alguns sacos com moedas de ouro, eu tenho muitos aqui, porque, assim, você e sua família podem se mudam para algum lugar escondido e calmo, longe de todos os piratas.
  Sinto os meus ombros caírem um pouco, junto do vento que se torna mais fraco. O vislumbre dos meus pais vivendo em um lugar calmo e seguro surge como se fosse uma visão preciosa. Era tudo que eu queria, mas também sei que não posso confiar em piratas e ele pode muito bem estar me enganando.
  Fico em silêncio e não o respondo.
  — Não acredita em mim? — Ele maneia a cabeça sutilmente para o lado.
  — Ficou tão óbvio, é? — Falo de forma sarcástica.
  — Tudo bem, tire um tempo para pensar. — Ele se vira e encara o convés, antes de assobiar e chamar um dos piratas, que vem do convés superior, onde ficava o leme do navio.
  Ele era mais baixo que o Capitão Infâmia, porém, mais alto que eu. Seus cabelos pretos estavam em embaixo de um chapéu também preto. Sua feição era fechada e carrancuda, do tipo que intimidaria qualquer um, apesar de seus traços serem suaves.
  — Yoongi, leve Serena até seu novo quarto, depois procure Jimin e avise que ela já está aqui. Eles precisam conversar. — Ele dá a ordem e o outro assente. — Espero que o quarto seja de seu agrado. Se precisar de mais alguma coisa, apenas diga ao Yoongi, ele estará encarregado de você.
  — Venha comigo. — Yoongi chama logo após o Capitão Infâmia falar, mas seu tom de voz não era nada gentil.
  Eu não tinha muitas opções aqui nesse navio, e eu também queria conhecer essa pessoa misteriosa que estava esperando pela minha chegada, por isso, acabo seguindo o pirata com uma espada presa no seu cinto de couro marrom.
  Sou guiada até uma porta no convés, onde dava em um corredor com apenas três portas. Yoongi me leva até o final, parando na última porta do lado direito.
  — Pode entrar. Vou chamar o Jimin. — Sem esperar por uma resposta minha, Yoongi dá as costas e se vai pelo pequeno corredor.
  Sendo assim, abro a porta que estava destrancada e entro no quarto iluminado pela claridade que atravessava a pequena janela redonda. Completamente surpresa, largo a maçaneta e a porta se fecha sozinha. Esse quarto era completamente diferente do que eu tinha no Vingança; aqui havia mais espaço e mais conforto, com uma cama grande, lençol elegante e um pequeno guarda-roupas, do qual, quando abro, fico ainda mais espantada ao ver os inúmeros vestidos bonitos pendurados dentro dele. Eu jamais diria que um quarto como esses ficava dentro de um navio pirata; eu nem sabia que haviam quartos assim em navios piratas.
  Isso tudo já estava aqui antes ou foi preparado para mim? De qualquer forma, estou surpresa demais, contudo, ainda me manterei atenta.
  Me aproximo da cama e me sento na ponta, quase caindo para trás ao sentir a maciez do colchão. Se todos os quartos desse navio forem assim, até posso entender o que leva alguém a se tornar pirata. Aqui nesse navio existia mais luxo do que em qualquer outro navio pirata, como, por exemplo, o Vingança, que tinha uma aparência rude e selvagem como a de seu Capitão.
  Pelo visto, o Capitão Infâmia era diferente dos demais, porque, apesar de ser um pirata, ele não vivia em condições de vida parecidas com o de um. Era alguém que realmente usufruía de toda riqueza que saqueou.
  Duas batidas leves na porta me fazem levantar da cama, encarando a madeira com atenção.
  — Serena? — Uma voz abafada e masculina me chama do outro lado da porta, e meu corpo se arrepia por completo, de uma forma não muito boa, como se recordasse de uma memória ruim.
  Me sinto tensa, mas tento soar normal quando peço que a pessoa entre.
  Em segundos, a porta é aberta por um homem bem jovem e não muito alto, de cabelos loiros em um tom bem similar ao meu, lábios cheios e rosados, e olhos pequenos e puxados. Ele também parecia ser da altura daquele pirata, o Yoongi.
  Sua expressão se torna espantada assim que me vê e seus pequenos olhos se arregalam, antes que, incerto, ele se aproxime.
  Seus olhos azulados me fitam dos pés à cabeça, enquanto brilhavam como se vissem um tesouro.
  — Eu não consigo acreditar que você já está desse tamanho. É uma mulher agora. — Ele junta suas mãos como uma reza e as leva até os lábios cheios, que sorriam.
  Permaneço em silêncio, o analisando, e apesar de conseguir enxergar alguns pontos de semelhança entre nós, não o reconheço.
  — Não se lembra de mim? — Ele pergunta com expectativa.
  Nego.
  — Entendo, acho que seus pais não te contaram sobre mim, mesmo que tenha sido eu a te encontrar na orla. — Ele ri, nasalado, sem jeito.
  — O quê? — Minha voz sai complemente surpresa e espantada. — Quem me encontrou na orla foi o meu cachorro, Duque. Ele levou os meus pais até onde eu estava.
  — Eu realmente compreendo o fato de seus pais preferiram manter isso em segredo, considerando que eu sou um feiticeiro.
  Me sinto tonta de imediato, pior ainda do que a vez em que conversei com a bruxa do pântano, ou durante o incidente com os tubarões.
  — Do que é que você falando? — Dou dois passos involuntários para frente.
  Ele desvia o olhar e suspira, antes de segurar minha mão e me levar até à cama, onde nos sentamos.
  — Eu não sei se Jin já te contou, mas eu faço parte da sua família, a de sangue. — Ele faz uma pausa e eu posso vê-lo engolir a saliva. — Sou seu tio, irmão mais novo do seu pai de sangue... eu tenho muitas coisas para te contar, e elas podem soar como histórias inventadas, mas não são, por isso, queria te perguntar, antes, se você já se sentiu especial alguma vez, Serena? Diferente das outras pessoas.
  Lentamente, afasto minha mão da sua, enquanto começo a relembrar de tudo que aconteceu nos últimos meses.
  — Você não precisa dizer mais nada, sua expressão já me respondeu o que queria saber. — Ele sorri, minimamente. — E acredite, Serena, existe um motivo para isso. Seu pai, na verdade, era um tritão e isso faz de você uma sereia.
  Me sinto tonta pela segunda vez.
  Jack me falou sobre essa possibilidade antes, mas ela parecia sem sentido demais a meu ver.
  — Sereias existem? — Pergunto, descrente.
  — É claro que sim. Olhe só para nós. — Seu sorriso fica um pouco maior.
  — Como isso é possível? Pelo que dizem sobre as sereias, eu não acho que me pareço com uma. Eu tenho pernas. — Falo aquilo que mais me perturbava em relação a essa história toda.
  — Sim, você tem... — Jimin desvia seu olhar. — Serena, as coisas no mar não funcionam como na terra. Seu pai era um tritão muito poderoso que estava atrás de Atlantis, porque dizem que aquele que a achar, será detentor de uma riqueza e poder imensurável. Como os piratas, muitas criaturas no mar buscam por Atlantis, mas Árie foi o único que conseguiu encontrar a cidade perdida.
  Árie... esse era o nome do meu pai? Árie...
  — Então esse lugar é realmente real? — Pergunto, cada vez mais atônita.
  — Sim. — Jimin assente. — Árie encontrou Atlantis, mas quando voltou para o nosso reino, alguém acabou espalhando essa notícia, e como consequência, ele passou a ser caçado por outras criaturas do mar que almejavam tanto a cidade perdida. E estando sem escolhas, seu pai decidiu levar você para a terra, queria te manter segura, já que podiam te usar contra ele. Naquela época, movido pelo desespero de ajudar a minha família e a pedido de meu irmão, eu te transformei em humana. O plano era que nós três passássemos a viver na terra até que tudo se acalmasse, antes de irmos nos esconder em Atlantis, mas as coisas não saíram da maneira que esperávamos. — Ele encara o colchão, em uma expressão que quase me fazia sentir sua tristeza. — Assim que te deixamos em terra firme, fomos atacados por humanos. Eu consegui escapar, Serena, porque sou um feiticeiro, mas Árie acabou morrendo.
  Sinto uma única batida do meu coração bater de forma tão forte que quase se torna dolorida.
  — Sinto muito. Eu realmente queria ter ajudado o meu irmão, mas não pude, e isso vem me assombrando por todos estes anos.
  Sua dor me deixava ainda mais comovida, enquanto despertava sensações dentro de mim, iguais a recordações.
  — Após a morte de Árie, as criaturas do mar continuaram a me perseguir, até mesmo outros membros de nossa família, mas eu já não estava mais com o mapa de Atlantis. Quando lutei para escapar dos humanos, minha magia dividiu o mapa em sete partes e as espalhou pelos sete mares. Então, sem o mapa e sem o meu irmão, eu fui atrás de você, ajudei seus novos pais a te levarem para casa e pedi ajuda, mas eles ficaram assustados demais com o que eu contei, por isso, resolvi me afastar. Eu percebi que você estaria em boas mãos e merecia viver uma vida diferente, porque, do meu lado, estaria sempre fugindo, mas com eles, poderia ter uma segunda chance, longe de todos aqueles traiçoeiros do mar.
  "Eu tentei me manter longe de você nos últimos anos, mas as memórias de Árie me atormentavam mais a cada dia. E foi por isso que eu decidi reunir todas as partes do mapa e encontrar Atlantis de novo. Por ele. Eu nunca pensei em te envolver nisso, Serena, mas quando os boatos se espelharam pelo oceano, que havia alguém velejando em um navio pirata e ajudando a encontrar Atlantis, eu logo pensei em você." Ele vem um pouco mais para frente sobre o colchão e volta a segurar minha mão.
  — Você seria a única capaz de encontrar esse lugar, porque ele é uma herança de Árie para você, o lugar na qual ele queria te criar. Então, quando essa informação chegou aos meus ouvidos, eu voltei para Marlli e fui atrás de você, mas seus pais me contaram que você havia sumido desde que os piratas atacaram o lugar.
  — Os meus pais estão vivos? — Minha voz quase falha, enquanto me sinto sendo enchida por um sentimento que doía: saudade.
  — Sim, eles estão vivos e muito preocupados, mas eu prometi que te encontraria, Serena. E esse foi o motivo pelo qual me juntei a tripulação do Capitão Infâmia, não só porque ele é irmão do pirata que te roubou, mas porque só existe um jeito de explorar os sete mares e é dentro de um navio pirata.
  Tudo que eu podia pensar agora, era sobre os meus pais estarem vivos, a minha maior força de vontade para voltar para casa.
  — Eu fiz um acordo com Jin, se ele me ajudasse a tirar você do navio do Capitão Hanna, eu prometeria que nós dois o ajudaríamos a encontrar Atlantis. E quando isso fosse feito, repartiríamos todos os tesouros da cidade, entretanto, ela deveria ficar unicamente com você.
  — E você acreditou em um pirata? — Pergunto, descrente, ainda sentindo meu peito vibrar por uma pequena felicidade sobre a notícia de meus pais.
  Jimin suspira profundamente.
  — Esse foi o único jeito que encontrei de te resgatar.
  — Se você é um feiticeiro como diz, poderia ter feito tudo sozinho. Por que é tão difícil assim?
  — Eu não nasci um feiticeiro, eu me tornei um. Antes de tudo, sou uma criatura do mar, como você, por isso os meus poderes enfraquecem quando estou em terra, mas eu não posso voltar para o mar, ou serei caçado. — Sua expressão se torna tão lamentável ao ponto de me fazer sentir mal por ter falado dessa maneira. Apesar de aparentemente estar na mesma situação que ele, eu não me lembro de nada, ao contrário de Jimin, que parece ter vivido com esse peso e dor por todos esses anos.
  Ficamos em silêncio por alguns segundos, até ele me encarar bem nos olhos, com um olhar esperançoso.
  — Não posso dizer que confio nesses piratas, mas eles são meu único caminho para encontrar Atlantis e você. E agora que estamos juntos, nós podemos deixá-los nos levar até à cidade perdida, e quando chegarmos lá, damos um jeito nesses piratas.
  Enrugo as sobrancelhas e mexo a cabeça para o lado.
  — Você está falando em enganar os piratas? — Pergunto e ele assente, me fazendo quase ter certeza que ele realmente era da minha família.
  — Vamos nos juntar, encontraremos Atlantis, realizamos o último desejo de Árie e depois você pode usar tudo que conseguir para dar uma vida melhor aos seus pais. Mesmo se você não aceitar, eu continuarei fazendo isso, porque nunca ficarei em paz se não cumprir a vontade do meu irmão. Os seres do mar e os piratas são gananciosos demais para porem as mãos em Atlantis, e isso pode ser ruim e gerar consequências irremediáveis para todos no mar e da terra.
  Volto a me sentir tensa. Não consigo pensar em algo pior do que piratas sequestrando e forçando pessoas a se juntarem à sua tripulação. Se havia algo ainda mais ruim do que ser saqueado ou morto, eu realmente não quero viver nessa realidade.
  — E como faríamos isso? Você é um feiticeiro fraco na terra e eu sou uma sereia com pernas. — Falo o óbvio.
  Sei que sempre estive tentando fugir do Vingança, mas, ao menos, eu pensava que todos eram humanos e meu único empecilho eram aqueles piratas do navio. Agora, isso aqui está indo muito além do que eu compreendo.
  — Acredite quando eu digo, não sou alguém capaz de reverter esse feitiço que lancei em você, estou fraco demais para isso. Mas, com toda a certeza dos sete mares, aquela cidade é poderosa o suficiente para despertar de vez todos os seus poderes, Serena. Do mesmo jeito que será capaz de restaurar os meus, pois eu sei que mesmo se voltar ao mar, eles não serão os mesmos, considerando que já tem doze anos que venho me enfraquecendo na terra.
  — Eu não sei o que te falar, tudo isso ainda parece história de pescador para mim. Não estou dizendo que seja mentira, porque eu realmente consigo ligar todos os fatos com as coisas estranhas que me aconteceram desde que fui encontrada naquela orla. Mas... mas eu ainda preciso de tempo para digerir e entender tudo que você acabou de me falar. Entenda, eu passei doze anos da minha vida vivendo como uma humana, os meus pais me ensinaram conforme as suas leis e crenças, por isso, não é fácil mudar tudo.
  — Claro, você tem toda razão. — Ele aperta ternamente minha mão. — Posso imaginar como tudo isso não é confuso para você e não quero ser aquele que te colocará em uma situação de pressão. Pense sobre tudo, mas, por favor, não se esqueça que não temos tanto tempo assim. Estamos presos nesse navio e acho que você já sabe que piratas não são pessoas cordiais, afinal, foram eles que matam Árie.
  O meu pai de sangue foi morto por piratas? Eu poderia me sentir ainda mais surpresa se já não tivesse presenciado como eles podem ser cruéis.
  Jimin se levanta.
  — Se precisar de alguma coisa ou quiser conversar, apenas me procure. Enquanto isso, mantenha tudo em segredo, não queremos ser descobertos pelos piratas. — Ele sorri contido e pequeno, antes de se virar e sair do quarto, me deixando com a cabeça fervendo.
  Jogo meu corpo para trás e deito no colchão, depois cubro os olhos com o antebraço, ao mesmo tempo que expiro alto e profundamente.
  Não posso mentir e dizer que nunca tive curiosidade para saber sobre os meus pais de sangue, mas, com o tempo, isso foi se dispersando, afinal, eu tinha uma vida feliz com os meus pais e era muito grata por eles terem me acolhido. E agora que sei toda a verdade, ou pelo menos o que parece ser a verdade, não tenho vontade se chorar pela morte de Árie, meu pai de sangue, apesar de poder me sentir estranha em relação a isso. Talvez eu esteja assim unicamente por não conseguir me recordar, mesmo considerando o fato de meu corpo parecer se lembrar de tempos apagados da minha memória.
  Afasto o antebraço do rosto e ergo minhas duas pernas - juntas - no ar, fazendo meu vestido escorregar para baixo, depois as encaro por alguns segundos, tentando imaginar um rabo de peixe no lugar e parecia ridículo demais.
  — Sereia... eu sou uma sereia? — Divago baixo e sozinha. — Uma sereia que virou humana. Uma sereia que, de alguma forma, consegue encontrar Atlantis. A sereia de Atlantis... Sirena del Atlantis. — Arregalo os olhos e me sento abruptamente.
  Eu não sou alguém tão sábia como os ricos, mas meus pais me ensinaram tudo que podiam, por isso, penso que esse apelido dado por Taehyung, e que eu nunca entendi muito bem, estava em espanhol. Antes eu achava que tinha alguma coisa a ver com o meu nome, Serena, uma provocação, algo bem previsível se tratando daquele pirata. Mas, agora, depois de escutar tudo isso, tenho certeza que o cretino tinha percebido o que eu realmente era. Mesmo estando longe, ele consegue me irritar de um jeito inimaginável e eu adoraria que ele estivesse aqui agora para que eu pudesse chamá-lo de Taehyung, apenas para ver sua fuça irritada... isso se ele estiver vivo.
  Não. Ele não morreu. Aquele pirata não morreria assim, ele é ruim demais para isso... pelo menos, era pelo que eu torcia internamente e em segredo.
  — Taehyung...

Capítulo 18
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