Capítulo 12
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— Não gosto nada disso. — Dana morde o dedo dobrado, nos fitando de forma nervosa.
— Ele prometeu que se eu conseguir resgatar Jungkook e o ajudar a encontrar Atlantis, irá me libertar e a quem mais eu quiser. Essa pode ser a nossa chance, porque se eu sair, com certeza levo vocês comigo. — Argumento, tentando tranquilizá-la.
— Como você pode estar tão calma em relação a isso? — Dana pergunta, incrédula.
— Para alguém que planejou e executou um motim, não acho que isso seja problema. — Jack fala, rindo baixo, mas Dana não parece menos tensa, por isso, Jack encolhe um pouco os ombros e para de rir.
— Mesmo que consigam resgatar Jungkook e os outros piratas, você por acaso sabe como chegar em Atlantis, Serena? — Duque salta do beliche de baixo em um latido e corre ao redor das pernas de Dana.
— Não. Mas sei que vou conseguir encontrar esse lugar. — Respondo.
— Como? — Dana abre mais os olhos.
Franzo as sobrancelhas e fito o chão de madeira.
— Eu não entendo o que está acontecendo comigo, mas desde que fui trazida para esse navio, tudo de estranho me aconteceu. Quando olhei pela primeira vez para as partes do mapa que Taehyung tinha, eu consegui enxergar linhas brilhantes que pareciam outro mapa. — Volto a encarar Dana, que tinha uma expressão incerta. — E quando fomos até aquela bruxa do pântano, ela me disse coisas como se soubesse o que estava acontecendo comigo, mesmo sem me conhecer. Então, acho que posso chegar até Atlantis.
— Não duvido dela, Dana. — Jack diz, do meu lado. — Não se esqueça que quando caiu no mar, ao invés de ser devorada pelos tubarões, eles a ajudaram. Eu já te contei isso. Eu realmente não acho que Serena seja normal.
Olho para Jack, enrugando minha feição e ela sorri amarelo, encolhendo os ombros de novo como se, se desculpasse por praticamente me chamar de “anormal”.
— Se ela não é normal, pois, o que é? — Dana expira alto, nervosa, e Duque salta nos seus pés calçados.
— Talvez uma sereia? Você a apelidou de peixinho porque disse uma vez que Serena se parecia com as sereias. E ainda tem o incidente com os tubarões. — Jack sugere, olhando para nós duas.
— Como eu posso ser uma sereia, se nunca vi uma?
— Você também nunca viu seu coração, mas sabe que tem um. — Dana diz.
— Mas eu já o senti. Isso é diferente. — falo. — Também não me lembro de ter uma cauda e as sereias têm caudas, não é?
Dana expira alto de novo.
— Sereia ou não, só não queria ver as minhas meninas metidas em mais confusões.
— Tarde demais. — Jack tenta amenizar o clima outra vez com um tom brincalhão.
Em seguida, após alguns segundos de silêncio, alguém dá leves batidas na porta antes de abri-la.
— Ah! Finalmente o quarto certo! — Sofi enfia sua cabeleira preta e curta para dentro do quarto, seguida por Laila que vem atrás.
— Algum problema? — Pergunto.
— Gostaríamos de falar com você por um minutinho. Podemos? — Sofi sorri para mim e depois olha para Dana e Jack.
— Ah... tudo bem. Jack, vamos deixá-las a sós. — Dana fala meio avoada, ainda com uma expressão preocupada.
Jack assente e acaba saindo do quarto com Dana.
Me abaixo e pego Duque do chão, já que ele não parava quieto. Depois, aponto para cama de Dana em um gesto para que as duas mulheres se sentassem comigo.
— Ele é seu? É uma gracinha. — Sofi alisa Duque quando se senta do meu lado e Laila do seu.
— Então, sobre o que vamos conversar?
Hoje de manhã, o Vingança ancorou em Suli - alguns dias após o meu acordo com Taehyung. Uma parte das mulheres do cabaré, juntamente com a dona, embarcaram no navio e, logo que isso aconteceu, uma reunião foi feita. Eu, Jack e duas tripulantes nos reunimos com as mulheres do cabaré, Taehyung e Namjoon para que o plano de resgate fosse traçado detalhadamente.
— Quando vocês saíram, Taehyung quis conversar a sós conosco, pedindo que ficamos de olhos atentos em você. Logo depois ele nos contou tudo que você tem feito aqui no Vingança, incluindo o motim. — Sofi responde e acaba rindo sozinha. — Você realmente é incrível, sobreviveu a um motim e ainda mantém seu cachorrinho no navio. Isso é praticamente impossível.
— Eu tenho os meus truques. — Falo e ela ri de novo. — Vocês não parecem desconfiadas.
— Porque não estamos. Tenho certeza que qualquer uma de nós, no seu lugar, faria o mesmo ou até pior. As mulheres não devem se subordinar aos homens, mesmo que eles sejam piratas. — Laila diz, com um sorriso faceiro nos lábios pintados de roxo. — Aliás, falando em subordinar, você e sua amiga usaram a pistola que demos a ela?
— Não. — Nego com a cabeça antes que Duque pule do meu colo para o de Sofi, que o recebe com entusiasmo. — Eu só fiz o motim porquê fiquei irritada com o Taehyung. Tudo ocorreu às presas e eu acabei mantendo a pistola escondida.
— Então você ainda a tem? — Laila pergunta e eu assinto. — Ótimo. Leve-a com você quando formos até a corte. Isso não quer dizer que você atirará em alguém, mas é sempre bom estar prevenida, como fazemos lá no cabaré.
Assinto de novo e encaro as duas por algum tempo.
— Eu realmente não entendo como mulheres como vocês, se unem com esses piratas. — Confesso, pensando vagamente sobre como elas são tão seguras de si, mas, ainda assim, amigam com pessoas como Taehyung e seus piratas.
— Essa é uma longa história. — Sofi suspira falsamente, sorrindo. Ela segurava Duque como se ele fosse um bebê. — Você já deve ter percebido que o lugar onde trabalhamos se chama Hanna’s Cabaret, certo?
— Sim. Isso tem a ver com o Taehyung?
— Não só com ele, mas com seu pai, avô e bisavô. — Sofi responde e eu levanto as sobrancelhas, curiosa.
— Quem fundou o nosso cabaré, foi a avó de Jule, uma mulher chamada Hanna que abrigava e empregava jovens sem lar, que foram expulsas de casa, fugiram e coisas desse tipo. Ela realmente era uma mulher muito admirável. — Laila começa a explicar. — Não é novidade que piratas costumam frequentar estabelecimentos como o nosso. E, bem, teve uma vez que Hanna escondeu o bisavô de Taehyung e seus piratas no cabaré enquanto eles fugiam da guarda do rei. E como agradecimento, o bisavô de Taehyung espantou todos os trapaceiros que tentaram se aproveitar no cabaré. Com o passar do tempo, isso virou um hábito, Hanna ajudava os piratas e eles a ajudavam também.
Laila faz uma pequena pausa e ajeita seus cabelos na altura dos ombros, para trás da orelha furada.
— Isso continuou até que um dia, quando os piratas estavam longe, a guarda do rei foi até o cabaré e matou Hanna, condenando-a como cúmplice deles. Quando o bisavô do Taehyung descobriu, além de ir atrás dos soldados, ele acabou mudando o nome do seu navio para “Vingança de la Rainha Hanna” e passou a usar Hanna como título também, desse modo, fazendo todo Capitão que veio depois dele, assumir esse nome.
Me sinto surpresa e mais curiosa que antes.
— Isso, na verdade, é mais que uma homenagem para Hanna, já que significa tudo que ela foi enquanto viva, uma verdadeira rainha em Suli, ajudando todas as jovens desamparadas que podia, além, claro, os piratas. E a partir disso, surgiu essa ligação forte entre as dançarinas do cabaré e os piratas do Vingança. Mesmo quando o bisavô de Taehyung morreu, nada mudou, nós ainda os ajudamos e eles nos ajudam.
— Sabemos das coisas que um pirata faz, mas procuramos não nos envolver nas erradas. — Sofi continua a explicação de Laila, enquanto balança Duque em seus braços. — Mesmo sendo vistos como ordinários, os piratas do Vingança nunca nos faltaram com respeito, ao contrário de muitos clientes que passam dos limites ao nos tocarem ou acharem que fazemos mais que dançar. Os piratas nos enxergam e nos tratam como iguais, não nos julgando por nossas roupas escandalosas ou jeito de ganhar a vida, porque eles são tão desclassificados quanto nós, apesar de darem motivos para tal, eu reconheço. Quando estão lá no cabaré, são eles quem expulsam a pontapés todos que tentam passar dos limites conosco, então, por isso, nos damos tão bem como eles. Somos todos como uma grande família que se ajudou por gerações e que ainda vai se ajudar por muitas outras.
— Soubemos o que o Taehyung te fez por chamá-lo pelo verdadeiro nome. Sei que talvez pareça indesculpável para você, mas chamá-lo por seu título, "Capitão Hanna", vai muito além de apenas ter intimidade com ele. Esse nome carrega um significado muito forte para os seus antepassados, é um lembrete do porquê eles odeiam tanto a corte real, principalmente Taehyung, que não tem boas experiências acerca disso. — Laila finaliza com um sorriso pequeno e sincero.
Suspiro, me sentindo muito espantada com o que acabei de escutar.
— Eu gostaria de poder dizer que isso me faz enxergar o Taehyung como alguém melhor, mas ele nunca me mostrou esse lado, por isso, é difícil para mim. Se vocês têm o lado bom, então eu tenho o lado ruim de um pirata que me sequestrou e me forçou a ficar nesse navio.
— É totalmente compreensível. — Sofi sorri e me entrega Duque, levantando logo em seguida, e Laila faz o mesmo. — Sendo pirata ou não, Taehyung é alguém de palavra, logo, se você não o trair, definitivamente pode contar com sua liberdade. Ele fará isso. — Sua voz era convicta, mostrando que ela tinha total confiança no que dizia e no seu amigo pirata.
— Nos reuniremos outra hora para orientar você e as tripulantes sobre como devem se portar, para que ninguém desconfie que não são uma das nossas. — Laila avisa e eu assinto. — Não importa o que aconteça quando chegarmos na corte, nós precisamos resgatar aqueles piratas. — Seu semblante fica um pouco mais sério agora, e eu entendo que isso era um aviso para que eu siga o plano sem falhas.
— Eu também posso ser alguém de palavra. — Falo, verdadeira, deixando ambas aparentemente satisfeitas.
Sendo assim, elas se despedem e deixam o quarto.