Satou-san to Ayasaki-kun

  – Certo, hoje é o dia!

  É impossível negar que a animação que eu sentia não tinha nada a ver com Ayasaki-kun, visto que finalmente domingo chegou e, com esse dia tão especial, o nosso encontro aconteceria muito em breve. Dei uma última olhada no espelho, contente com a combinação que escolhi; guardei meus pertences na bolsa e a coloquei atravessada, ajeitando o meu cabelo que optei em deixar solto e segui para a sala. Mei não mediu esforços para me elogiar e disse que qualquer coisa era só ligar para ela ou Haru, e assim nos despedimos sem delongas. Meu coração batia tão rápido que acho que é capaz de alguém escutá-lo e, no momento que avistei Ayasaki-kun, tive a certeza de que ele errou uma batida. Por conta do calor, o garoto tinha prendido a sua franja na lateral com grampos, e pela primeira vez eu o vi de óculos, o que fez com que eu o achasse extremamente adorável e atraente. Levei minha mão à minha bochecha, a sentindo aquecida e me aproximei, afastando certos pensamentos.

  – Satou-san! – O ruivo acenou alegremente.

  – Bom dia, Ayasaki-kun! – Corri até ele, sorrindo.

  – Preparada para um dia de diversões?

  – Eu nasci preparada! – Não pude deixar de rir de seu trocadilho.

  – Ótimo! – Entrelaçamos os dedos. – Primeira parada: metrô.

  A distância entre nossas casas para o parque era de meia hora, então aproveitamos o trajeto para compartilharmos algumas músicas e escutar outras, de modo que, quando percebemos, a entrada do parque já era visível.

  – Seja bem-vinda a um dos melhores lugares de Quioto! – Ayasaki-kun falou como se fosse um guia turístico. – Depois de garantirmos nossos ingressos, seguiremos para o brinquedo que minha cliente desejar.

  – Oh, eu posso escolher? – Dei uma rápida olhada no enorme parque, logo decidindo. – Montanha–russa.

  – Fico feliz em saber que Satou-san gosta de aventura. Duas cartelas, por favor – solicitou ao moço. – Obrigado. Aconselho irmos naquele ali também já que curte adrenalina.

  – Trem fantasma? – Arqueei uma sobrancelha, meio desacreditada se o brinquedo daria medo de verdade.

  – Nunca duvide da capacidade de um trem fantasma. Até hoje tenho arrepios – ele comentou um tanto exagerado, me fazendo confiar ainda mais no meu julgamento.

  Duas voltas na montanha–russa e uma ida ao trem fantasma foram o suficiente para eu ter a minha dose de adrenalina do ano.

  – Nunca julgue um livro pela capa…

  Sentei em um banco enquanto Ayasaki-kun trouxe uma garrafinha de água, igualmente sem fôlego. A atração que achei que era tranquila acabou se tornando completamente diferente no segundo que pus meus pés dentro e reparei que não havia trem, e sim que tínhamos que ir andando. Foi uma experiência única, afinal, eu e o garoto ficamos abraçados o trajeto todo por culpa do medo – óbvio que não foi só pelo susto –, e no final eu não sabia quem gritou mais.

  Nosso passeio continuou até o final da tarde e após termos ido em praticamente todas as atrações, optamos por ir na roda gigante por último para vermos o pôr do sol. Encostei as costas no brinquedo, observando o céu alaranjado; estar aqui com Ayasaki-kun parecia um sonho, e poder compartilhar dessa bela vista consigo é um ótimo bônus.

  – Gostou do parque?

  – Está brincando? Eu amei! – comentei entusiasmada, deitando a cabeça em seu ombro. – Tirando o trem fantasma.

  – É, isso será uma assombração em nossas vidas...

  – Qual é a dos trocadilhos? – O encarei.

  – Não sei – deu de ombros –, quando eu uso óculos esse meu lado aflora?

  – Hum... – ponderei, pegando em sua mão. – Obrigada pelo incrível dia, Ayasaki-kun.

  – Sou eu quem tem que agradecer. – Ele colou nossas testas e suspirou. Um sorriso surgiu em seus lábios e não pude deixar de sorrir. – Além de te ter para mim, hoje pude conhecer mais sobre Satou-san e sua paixão por aventura, o fato de que você adora tirar fotos com os personagens do parque e que tem um bom apetite que nem eu. Mas, mais do que isso, eu pude ter uma das visões mais lindas que já tive: Satou-san extremamente feliz com um sorriso radiante.

  Eu fiquei sem palavras, demorando para reagir ao que escutei; olhei para Ayasaki-kun e vi um olhar que brilhava tanto quanto o sol, visivelmente feliz por termos tido esse encontro. Eu segurei o seu rosto e o puxei para perto, selando nossos lábios. Nos separamos ao perceber que o brinquedo parou, vendo que estávamos no topo da roda gigante, o que resultou em diversas fotos de nós dois. Logo troquei a foto de fundo do meu celular para uma do garoto, e ele fez o mesmo, pondo uma minha de quando fizemos a pausa para o almoço. Começamos a rir da similaridade de nossas ações, e alguns minutos se passaram desde que o brinquedo voltou a funcionar.

  – De morango para você e de uva para mim.

  Paramos na loja de conveniência na volta para casa, tentando ganhar mais tempo juntos e aproveitamos para comprar os picolés. Ayasaki-kun e eu estávamos fazendo uma série de perguntas aleatórias um para o outro, a fim de nos conhecermos mais, e os resultados foram tão aleatórios que não nos aguentamos e rimos muito.

  – Você gostaria de ser um dragão ou uma águia?

  – Dragão, obviamente. Soltar fogo seria tão legal.

  – Acho que fico com a águia – falei. – Gosto de como são.

  – Eu também gosto de Satou-san como ela é – ele disse baixinho, se aproximando. – Mas você gostaria de mim mesmo eu sendo um dragão?

  – Sendo um dragão ou não, eu gostaria de Ayasaki-kun... – Fiz uma pausa dramática. – Um pouco.

  – Só um pouco? – Assenti. – Pelo visto eu seria um dragão bem triste...

  – Isso não é justo. – Encostei minha cabeça no seu peito, evitando de vê–lo. – Você fica adorável quando age assim.

  – E você é adorável sempre, Satou-san.

  – Definitivamente não tem como competir com Ayasaki-kun, certo?

  – É claro que não. – Sorriu convencido. – Infelizmente, chegamos na sua casa.

  O abracei com cuidado para que o picolé não caísse em sua roupa e senti os seus braços me envolverem, me apertando levemente. Ficamos nessa posição por um tempinho até nos afastarmos o suficiente para nos despedirmos.

  – Boa noite, Satou-san.

  – Ayasaki-kun? – o chamei. – Eu gostaria de você mesmo se você fosse um dragão. Na verdade – corri para seus braços novamente, o olhando fixamente –, eu gosto do Kyo–kun.

  Beijei seus lábios mais uma vez, tendo a certeza de que o beijo de Ayasaki-kun tem gosto de verão e de picolé de morango. Voltei para minha casa com o coração acelerado, contente por ter dito o que guardei o dia inteiro.