Satou-san to Ayasaki-kun

  — Aoi-chan, se você não me falar o que está acontecendo, não vou conseguir te ajudar.

  Encarei a minha amiga pelo espelho, já que ela se recusava a se desgrudar de mim. Algum tempinho se passou desde que chegamos no karaokê, e enquanto o pessoal se divertia cantando, Aoi chamou a mim e a Yuki para acompanhá-la ao banheiro, visivelmente chateada com algo.

  — Fumi-chan, Yuki-chan... — falou manhosa, se escondendo mais ainda. — É tão óbvio que eu gosto da Tanaka-senpai?

  — Sim — respondemos juntas.

  — Mas ainda não entendemos qual é o problema nisso.

  — É que ela vai estudar no exterior, então não temos muito tempo juntas até a sua formatura... e eu não quero me machucar ou prendê-la aqui.

  Eu e Yuki trocamos olhares antes de abraçar Aoi, que nos apertou o máximo que podia. Apesar de sabermos que não é fácil, sabíamos que a nossa amiga queria muito se declarar para a senpai, mesmo que a resposta fosse negativa. Para Aoi-chan, era muito mais difícil lidar com palavras não ditas do que com uma rejeição, especialmente com o seu coração transbordando de sentimentos.

  — E daí que vocês têm pouco tempo? Vai deixar de fazer o que quer por medo? A Aoi-chan que eu conheço nunca desistiria de algo que ela quer sem tentar!

  — A Yuki tem razão. — Sorri ao passar a mão pelo seu cabelo. — Por que não tenta, pelo menos?

  Nossa amiga respirou fundo, nos olhando com determinação. É claro que ela estava nervosa, no entanto, sabíamos que Aoi só precisava do empurrãozinho para dar um passo à frente, e quando percebemos, ela nos puxou pelas mãos, fazendo o caminho para a sala que estávamos.

  — Obrigada, meninas! — disse com a mão na maçaneta, decidida. — Declararei os meus sentimentos com uma música de amor!

  A música de amor havia sido um sucesso.

  Todos os nossos amigos cantaram junto e vibraram, por mais que só alguns soubessem o que aquele momento significava — e para os que sabiam, a expectativa estava um tanto alta.

  Tanaka-senpai não demonstrou se tinha gostado ou não durante a performance, no entanto, acho que suas bochechas coradas e o sorrisinho bobo ao trocar olhares com Aoi-chan no final dizia tudo, o que com certeza deixou a minha amiga mais do que feliz. Agora, enquanto íamos para casa, eu e Ayasaki-kun estávamos na frente, já que Aoi pediu que fôssemos com elas até o ponto. As duas, quando saíam da escola juntas, pegavam o mesmo ônibus por morarem perto uma da outra, e isso por si só eu já acreditava ser algo romântico, saído diretamente de um filme; já minha amiga, não querendo se iludir, sempre me contestava, alegando que era só uma coincidência — e de fato ela não estava errada, mas não posso ser contra a minha natureza romântica.

  — Ayasaki-kun — puxei a beiradinha da manga do seu casaco, e ele olhou pra mim com um sorriso lindo —, acho que vou presenciar outro pedido de namoro.

  Antes que Kyo pudesse responder, Aoi parou abruptamente, fazendo a nossa senpai se questionar com o que havia acontecido.

  — Tá tudo bem, Aoi-chan?

  — Eu gosto de você, Tanaka-senpai! — disse de uma vez só.

  — Eu também gosto de você.

  Minha amiga olhou para a outra com uma certa surpresa, mas parecia que, no fundo, ela tinha plena noção dos sentimentos direcionados a si, e por mais que Aoi tendesse a surtar um pouquinho nessas horas, sua reação foi levar as mãos à boca e logo em seguida abraçou a Tanaka-senpai, que retribuiu o gesto. A cena foi tão linda que parecia ter saído de um livro, e eu ficava feliz de vê-las juntinhas e felizes.

  Olhei para Ayasaki-kun e concordamos silenciosamente em irmos andando para dar espaço às duas, e não quis avisá-las já que não faria muita diferença. Elas estavam tão focadas uma na outra que nada ao redor parecia importar, e não seria eu que atrapalharia o mais novo casal.

  — Ei, e se eu virasse cerimonialista?

  Eu e Ayasaki-kun estávamos quase chegando na minha casa, e enquanto fazíamos o trajeto, ficamos conversando sobre alguns assuntos.

  — Acho que combina com você, Satou-san. Já é o segundo casal que você ajuda. — Ele passou o braço pelo meu ombro, me levando mais para si.

  — Bom, é uma ideia. — Olhei para a fachada de casa, suspirando.

  — Não gosto de me despedir de você. — Ayasaki-kun segurou o meu rosto e beijou a ponta do meu nariz, me fazendo rir.

  — Pois não se despeça. — Apertei a sua bochecha. — Quando entrarmos na faculdade, podemos ficar ainda mais perto.

  — Podemos morar junto, né? — Assenti. — Fumi-chan?

  — Sim? — Sorri.

  — Quer namorar comigo? — falou em um tom baixinho ao encostar as nossas testas. — Acho que não vou me contentar com apenas um pedido ao longo dos anos...

  — E eu direi sim todas as vezes, Kyo-kun.

  Compartilhamos um sorriso antes de selarmos esse momento com um beijo, e depois de nos despedirmos mais de cinco vezes, o vi sumir na esquina pelo portão de casa, pensando em como era possível gostar tanto de alguém dessa forma. Entrei em casa com a certeza de que eu queria continuar vivendo os meus dias na companhia de Ayasaki-kun, e não tinha dúvidas de que ele sempre seria a minha canção de amor favorita.