Satou-san to Ayasaki-kun

  Os dois dias que ficamos na casa de praia dos avós de Yuki foram os mais divertidos que tivemos nesses últimos tempos. Infelizmente, com a chegada do domingo, precisamos arrumar nossas mochilas e retornar para nossas casas e não é preciso dizer que praticamente todo mundo estava dormindo, menos eu, Haru e Yuki.

  Para não acordar os demais, decidimos conversar por mensagem no nosso chat e tínhamos que segurar as risadas ao compartilharmos alguns memes que víamos na internet para não atrapalhar ninguém. Sorri um pouco aliviada ao reparar que Yuki aparentava estar mais tranquila; depois da praia de sábado, toda vez que Mizuki falava algo ou perguntava como era a escola, minha amiga ficava tensa e com uma feição um tanto indecifrável, então vê-la mais relaxada é bom.

  Em algum momento da nossa conversa acabamos dormindo e quando acordamos, estávamos de volta na minha casa, onde todos passariam a noite para irmos à escola amanhã de manhã.

  — Ainda não me recuperei do café da manhã e já estamos no horário do almoço.

  Aoi encostou as costas na parede, suspirando enquanto encarava o seu bentou. Não era novidade para mim que minha irmã e Haru-nii adoravam caprichar nas suas refeições, mas sempre que as meninas ou Mizuki iam lá em casa, os dois se esforçavam mais do que o normal e agora com Honda-kun e Ayasaki-kun no grupo, parecia que as refeições para todo o grupo eram um banquete. É óbvio que eles fizeram nossas marmitas e mesmo que estivéssemos cheios do café da manhã, não desperdiçaríamos nem um pedaço da deliciosa comida que prepararam.

  — Como está sendo a adaptação, Mizuki? — o questionei assim que começamos a comer.

  — Por que pergunta como se não fossemos da mesma sala, Fumi-chan? — O vi rolar os olhos. — Apesar dos olhares curiosos, está indo bem. Não é como se eu fosse o primeiro aluno transferido no “meio” do ano letivo. Você e Ayasaki-kun aliviaram para o meu lado.

  — De nada. — O ruivo fez uma feição convencida.

  — Inclusive, como estão os preparativos para o dia dos esportes? — Mizuki mudou de assunto brevemente.

  — Também estou curiosa, falta menos de dois meses, né?

  — Sim, e podem ficar tranquilos que coloquei o nome de todos vocês na lista para ajudar a organizar não só esse evento, mas os outros que virão!

  Todos encararam Aoi desacreditados – menos Yuki, que já fazia parte do grêmio estudantil –, sem imaginar que ela teria feito isso sem nos comunicar primeiro. Vendo que estava em um beco sem saída, ela se escondeu atrás da nossa amiga, que por sua vez veio se sentar ao meu lado.

  — Yuki-chan, me salve! — Aoi suplicou.

  — Desde o início eu falei que não era uma boa ideia.

  — Mas estávamos sem gente para ajudar! — choramingou. — E só há vantagens em ajudar! Vocês podem usar o ar-condicionado da nossa sala…

  — Quando o verão está prestes a acabar? — Honda-kun riu sem humor.

  — Nós também ganhamos uma folga após as festividades, além de lanchinhos! Por favor, não me odeiem.

  — Ninguém te odeia, Aoi-chan. — A abracei. — Ainda.

  — Fumi-chan, não seja malvada comigo. — Afaguei a sua cabeça, rindo com a sua reação.

  — Então não faça algo que possa chatear os seus amigos no futuro. De qualquer maneira, não me importo de ajudar, só queria poder ter tido a chance de escolher.

  — Também ajudarei. — Ayasaki-kun anunciou e foi acompanhado por Mizuki e Honda-kun, que concordaram.

  — Sério?! Muito obrigada, pessoal! Vocês são os melhores amigos que alguém poderia ter!

  — Você está nos devendo uma pizza. E sem abacaxi.

  — Fumi-chan, Honda-kun tá sendo malvado comigo. — Às vezes eu sinto como se Aoi fosse minha filha.

  — Podemos comprar uma brotinho para você, Ito-san. — E Ayasaki-kun parecia o pai.

  — É por isso que o Ayasaki-kun é melhor do que vocês. — Aoi deu língua para todos nós, e antes que pudéssemos retrucar, o sinal ecoou.

  — Podem ir na frente, eu vou ajudar Yuki a guardar o seu bentou!

  Assim que os demais saíram do nosso campo de visão, observei minha amiga que não parecia estar no planeta Terra, mas em qualquer outra realidade.

  — Eu havia resolvido ignorar, já que se você quisesse falar comigo, você falaria quando se sentisse à vontade. No entanto, o que está acontecendo, Yuki?

  — Não sei do que está falando, Fumi…

  — Se não fosse pela Aoi, todos teriam reparado no clima pesado que teria se formado por sua causa, além de que você não parece conseguir se concentrar em nada. Certeza que não quer falar sobre o Mizuki, Yuki-chan?

  Yuki se recusou a me encarar, apesar de ter ficado surpresa por eu ter desvendado parte da razão pela qual a fazia agir desse jeito.

  — Ele é o meu correspondente, sabe? Aquele que contei para você e Aoi que conheci em um jogo on-line.

  — Oh. E qual é o problema?

  — Eu não sabia que ele era o seu Mizuki. — Por mais que sejamos melhores amigos, as meninas nunca chegaram a conhecê-lo. O garoto estudava em outra escola e nunca marcamos de sair os quatro.

  — Ele não é meu, Yuki. Você está preocupada de “roubá-lo” de mim? Se for isso, não tem necessidade alguma de ter esse tipo de pensamento.

  — Não é isso… — Ela torceu o nariz e eu a achei adorável pelo fato de que Yuki realmente pensou nessa questão. — É que ele sabe como eu sou, quem eu sou. Nós sempre mandamos fotos um para o outro, e quando Mizuki-kun apareceu na praia, eu simplesmente fiquei sem reação. Mas o que mais me chateou foi ele ter agido como se não me conhecesse.

  — Não é melhor perguntar a ele o motivo disso? — A abracei apertado. — Talvez só seja um mal-entendido?

  — Não sei se consigo, Fumi. Eu não sei nem o que estou sentindo!

  — Yuki — a cortei ao perceber que estávamos na companhia de uma certa pessoa —, atrás de você, amiga.

  Mizuki estava parado na porta, olhando especificamente para Yuki-chan; por mais que eu não devesse continuar com os dois, se eu me movesse, era capaz da minha amiga arrancar o meu braço, visto que ela o segurava com bastante força. Suspirei pesadamente, rezando para que esses dois se resolvessem e ficassem juntos logo.