Capítulo 4 • O Alto preço do sucesso
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Ironicamente, logo no dia seguinte após Harry levar o almoço para Louis no trabalho, o clima entre o casal melhorou, mais especificamente, o humor de Louis mudou da água para o vinho, estando o modelo estava em constante bom humor. Todos os dias, Louis se certificava de mandar uma mensagem para Harry avisando que estava indo almoçar com alguém diferente a cada dia. Harry teria ficado desconfiado, mas de noite Louis fazia questão de jantar com o noivo e eles pareciam mais próximos.
O modelo não engordou ao que era antes, mas o caracolado pensou que era algo que demoraria mais para ficar visível, então ante a felicidade de ter seu noivo parecendo mais com ele mesmo, Harry ficou mais tranquilo também, obrigando-se a afastar a desconfiança, pensando que tudo estava encaminhado tão bem, ignorando o alarme de alerta de que tudo deveria estar o oposto por se tratar das vésperas do desfile, que aconteceria dali uma semana. Os sete dias passaram como num piscar de olhos frente ao mar de rosas que estava a vida de Harry e quando menos se esperou, o dia do desfile enfim chegou já na correria.
Logo às sete da manhã, o celular do modelo já tocava sem parar, acordando Harry naquela hora ímpia da manhã. A primeira vez havia sido Thomas, o agente de Louis. Depois, ora eram estilistas para última prova das roupas, ora eram os produtores do desfile em pânico porque algo havia dado errado ou algum detalhe que ainda não estava pronto. Seja lá qual era o problema, não dava um minuto de sossego para Louis e o deixava agitado e ansioso, que por sua vez, influenciava o humor de Harry também, que não conseguia dormir com todo aquele furdunço que seu noivo fazia.
O cacheado odiava levantar cedo e para poupar o outro do seu mau humor, manteve-se afastado dos olhos do modelo, ficando trancado no estúdio a maior parte da manhã.
Foi apenas um pouco antes do horário do almoço que Louis entrou na sala acústica, vestido para sair.
— Aonde você vai? — o cacheado perguntou ao olhá-lo da cabeça aos pés. O desfile demoraria algumas horas para começar.
— Surgiu um problema com algumas roupas e preciso ir para fazer alguns ajustes no meu corpo — Louis explicou sem entrar em grandes detalhes. Harry não precisava saber que os ajustes eram pences na maioria das roupas que usaria.
— Você vai sem almoçar? — Harry perguntou, não gostando nada disso.
— Vou comer alguma coisa no caminho. Estou muito ansioso para almoçar — Louis disse o mais sincero que conseguiu.
— Quer que vá junto? — o cantor se ofereceu.
— Não precisa. Vai ser uma bagunça. Várias pessoas mandando e surtando. Os estilistas vão aproveitar esse concerto e fazer um ensaio antes da grand finale. Vá no horário normal com os outros ok?
— Se você prefere — Harry deu de ombros, mas claramente descontente com isso.
— Desculpe por sair correndo assim. Se eu pudesse eu ignoraria — Louis explicou ao namorado quando o viu carrancudo.
— Eu sei amor — disse o mais alto. — Só não gosto que você vai sair sem comer — o cacheado tentou diminuir o bico nos lábios e abraçou o menor.
— Não se preocupe com isso, vou ficar bem — tranquilizou o noivo. — Eu preciso ir. Vejo você na primeira fileira? — o modelo perguntou antes de roubar um beijo casto nos lábios de Harry.
— Claro. Eu serei o primeiro a aplaudir você de pé — Harry disse.
Eventualmente, os dois precisaram se desvencilhar e o menor foi embora. Um pouco mais tarde, o estômago do cantor roncou de fome, porém como só estava ele em casa, optou por não fazer um almoço e comeu um lanche com algumas sobras da geladeira. Não era o ideal, mas era mais saudável que muita coisa por aí. Após ficar com a barriga cheia, tentou procurar alguma coisa para fazer até dar a hora de se arrumar e ir assistir o desfile do noivo, mas nada parecia animá-lo. Não havia nada que prestasse na TV, não tinha paciência para ler e a casa estava limpa e arrumada como sempre.
Pegou seu violão para tentar continuar a compor alguma coisa, mas após vários minutos dedilhando as cordas sem realmente sair melodia nenhuma, Harry desistiu disso também. Ao olhar no relógio, viu que apenas uma hora e meia havia se passado desde que Louis saiu. O astro sentiu vontade de arrancar os cabelos diante tanta frustração. Por que o tempo não passava naquele dia?
Mais irritado do que quando acordou, decidiu tentar dormir. Quem sabe se acordar de novo seu humor melhora. Foi para o quarto e jogou-se na cama, fechando os olhos quase imediatamente. Passou vários minutos apenas tentando dormir, mas não conseguia descansar a mente. Abriu os olhos soltando um bufo.
Olhou para o closet e de repente teve a ideia de começar a arrumar o armário deles que estava adiando fazia semanas. Organizar suas coisas sempre o mantinha entretido e quando se desse conta, provavelmente já estaria na hora de começar a se arrumar para o evento daquela noite.
Decidiu começar com o lado de Louis, que era sempre o mais bagunçado. Pegou todas as roupas penduradas e as colocou delicadamente na cama. Conforme ia abrindo espaço, mais bagunça ia encontrando no fundo, até viu uma caixa de sapato no meio das roupas. Harry revirou os olhos verdes. Era a cara do mais velho largar alguma coisa nada a ver dentro de outras coisas. Pegou a caixa e abriu para ver que tênis que Louis havia perdido, mas se deparou com outra coisa.
Foi algo que o fez gelar e estagnar no lugar.
A caixa continha uma série de laxantes fortes. Todos pareciam novos, como se tivessem sido comprados há pouco tempo, mas a maioria já estava com as cartilhas na metade. Demorou meio segundo para Harry compreender. Ele havia feito um trabalho sobre isso na escola e, por isso, compreendia bem o que aquilo significava.
Bulimia era um transtorno alimentar que se caracterizava pela compulsão de alto teor calórico para logo em seguida a pessoa forçar o expurgo dos alimentos antes que as calorias fossem absorvidas pelo organismo. A forma de expurgo poderia ser através do vômito ou pelo uso de laxantes e diuréticos.
De repente, todas as ações do Louis começaram a fazer sentido. A magreza excessiva, o frio, os toques gélidos, a queda de cabelo, a falta de consumo de alimentos, o estresse, a ansiedade, para depois vir um consumo exacerbado de alimentos e uma imagem de cura.
Harry largou a caixa no chão como se ela queimasse. Com a mentira desmascarada, Harry começou a se sentir enjoado. Seu noivo nunca havia mentido antes, mas aquela situação quebrou parte da confiança que tinha com Louis. Já não acreditava mais nas palavras de Louis quando lhe garantiu que comeu. Já não conseguia acreditar quando disse que saiu para almoçar com alguém. Mais do que só isso; não conseguiria mais confiar no “tudo bem” de Louis.
A dúvida que persistia é como iria agir com seu noivo dali para frente? Como abordaria o homem que amava e lhe diria que já não confiava nele? Como conseguiria ajudá-lo se não foi nem digno de saber que havia um problema, em primeiro lugar?
Harry passou toda à tarde chorando pela situação, quase perdendo a hora de se vestir. Com honestidade, não tinha mais o menor ânimo para ir àquele desfile e ver que a consequência dele custou à saúde de Louis, pois lembrava-se que tudo começou com aquela dieta três meses atrás. Apesar da falta de vontade, sabia que magoaria o noivo se não fosse prestigiá-lo e apesar de se sentir triste e traído, não poderia fazer esse descaso com o modelo.
Trocou-se no automático e ficou parado no quarto por um bom tempo olhando para o nada e com a mente em uma bagunça de pensamentos, quando foi retirado dos seus devaneios pelo súbito som de uma buzina estridente ao lado de fora. Ele havia esquecido que iria com os meninos com a limusine da banda. Com o corpo pesado, ele desceu lentamente as escadas, ignorando as buzinas que soavam mais e mais apressadas com sua demora.
— Finalmente! — Niall reclamou tão logo que Harry adentrou a parte detrás do automóvel.
— Mate, está tudo bem? — Liam perguntou, seus olhos de cachorrinho brilhavam preocupados quando percebeu a expressão apática de Harry.
— Não — respondeu o cacheado com a voz embargada. — Zayn, na quinta-feira Louis me disse que foi almoçar com você… é verdade?
— Eu… hm… eu não vejo o Lou já faz alguns dias — Zayn respondeu sem graça e gaguejando.
— Você não acha que o Tommo está te traindo, não é Harry? — Niall perguntou. — Quero dizer… o cara é maluco por você!
Com o choro contido, Harry explicou para os amigos as desconfianças que tinha e o que havia descoberto no armário de Louis naquela tarde. O clima descontraído que havia no carro azedou e os quatro garotos tinham um olhar preocupado e triste.
Era uma situação tão estranha e tão anormal. Nenhum ali dos presentes imaginava que Louis pudesse estar se sentindo desconfortável com seu corpo. Eles não eram criança, sabiam o que era aquela doença e o que provocava, contudo sempre que ouviam falar sobre, era aquela velha história de que uma sobrinha do cunhado do amigo dos meus pais que teve anorexia e bulimia ou então, que era um tipo de transtorno que afetava apenas as mulheres. O que se fazia quando era um amigo próximo que se sentia assim?
— O que você vai fazer agora? — Zayn perguntou depois de um longo silêncio.
— Acho que a primeira coisa é falar com o Louis e convencê-lo a procurar um médico. Só alguém especializado pode realmente dar um diagnóstico.
— Há quanto tempo você acha que o Louis começou a tomar laxantes? — Dessa vez a pergunta veio de Liam.
Harry deu de ombros.
— Eu achei o Louis muito magro quando voltamos de L.A, mas ele me disse que era por causa de uma dieta nova que o agente dele queria que ele começasse. Eu realmente não notei… — Harry parou de falar e tentou evitar o soluço do choro. — Eu nunca percebi que ele havia parado de comer. Eu devia ter notado. — Se culpou.
— Não mate, não foi sua culpa. — Liam tentou consolar seu amigo. — Nenhum de nós imaginou que o Louis chegaria a esse ponto.
— Ele me disse que era estresse do desfile, porque era um muito importante. Eu me deixei acreditar, mas eu tinha que ter ficado mais de olho, eu devia ter cuidado melhor dele — Harry continuou ignorando o que Liam havia falado.
— Harry, o Liam tem razão — Zayn disse interrompendo o momento de culpa do cacheado. — O Lou nunca deu a entender que se importava em emagrecer ou apresentou em algum outro momento desconforto com a aparência. É totalmente justificado você nunca ter visto os sinais.
— Se você acha que é sua culpa, então é nossa também — disse Niall entrando para o discurso dos outros meninos. — Quantas vezes nós não fizemos piadas sobre o peso dele ou com o quanto que ele come? Lembra quando todas às vezes que ele sentava em algum lugar, nós pulávamos de propósito, fingido que o peso dele ergueu todo mundo?
— Nós continuamos fazendo isso porque ele ria e sempre dava um jeito de retalhar as brincadeiras. Era a nossa dinâmica e ele nunca pareceu incomodado. — Zayn continuou o discurso de Niall.
— Eu só não entendo. Como o Louis pôde se olhar no espelho e ver algo menos do que lindo? — Harry continuou chorando. Como sua vida havia mudando 360° para pior e ele nem ter percebido?
— Eu não sei, mate. — Liam disse e acariciou o ombro de Harry para consolá-lo. — Mas vai ficar tudo bem. Agora nós sabemos e vamos fazer até o impossível para o Louis voltar a ser brilhante.
— Obrigado… — Harry disse emocionado e sinceramente agradecido. Ele não sabia o que faria sem os meninos.
Não demorou para chegarem ao galpão onde seria realizado o desfile. O lugar já estava todo organizado e a decoração estava impecável. Se fosse em qualquer outro momento, Harry realmente ficaria encantado, mas ele olhava para tudo e apenas se sentia vazio e triste. Cumprimentou alguns conhecidos de maneira robótica, não dando atenção a ninguém em especial. Os quatro sentaram na primeira fila, exatamente no meio. Um lugar deveras privilegiado.
As luzes diminuíram a intensidade e vozes vindas do alto-falante davam as boas-vindas para os convidados. Uma música animada começou a tocar e a Selena Gomez apareceu no palco cantando e dançando como a artista convidada. Na primeira estrofe da música, o primeiro modelo apareceu. Alto e magro. Depois dele veio o segundo, também alto e magro. O terceiro idem, e o quarto modelo era igual aos demais. E então Louis apareceu, extremamente magro. O sorriso de Louis vinha de orelha a orelha, enrugando a pele ao redor dos olhos. Isso trouxe um desconforto para Harry. Como seu noivo podia estar tão feliz estando tão doente?
Louis olhou para eles, piscou para Harry e fez algumas micagens na ponta da passarela, arrancando sorrisos da plateia e esbanjando simpatia.
Na segunda troca de roupa, quando Louis voltou a aparecer, os maiores aplausos foram para ele, deixando-o orgulho e verdadeiramente feliz com o prestígio. Seus olhos azuis procuraram os verdes e estranhou ver Harry tão sério. Deu uma olhada para os meninos e todos eles pareciam realmente desconfortáveis. Perguntou-se mentalmente se eles brigaram no caminho.
Quando sua parte no desfile acabou, Louis recebeu vários elogios nos bastidores tanto da equipe de produção, como do seu agente e de alguns críticos que já estavam lá conversando com os modelos.
Quando o evento acabou, Louis se encontrou com os meninos. Sua felicidade com o sucesso do evento quase contagiou o grupo, e apesar de perceber que havia alguma coisa errada com os outros quatro, o modelo decidiu ignorar por enquanto e apenas curtir naquele dia. Teve uma festa privada para um grupo seleto do qual Louis e os meninos foram previamente chamados e lá, Harry não tirou os olhos de Louis. Percebeu sua felicidade estonteante em inconformidade com seu corpo doentio. Com a cara lavada da maquiagem, a tez amarelada de Louis estava mais visível deixando-o com um aspecto frágil. Harry olhava para o noivo e percebia que aquele estava sendo o preço do sucesso de Louis. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente, mas Zayn surgiu de repente.
— Harry, não aqui — implorou o moreno. — Louis está feliz e você não vai querer estragar isso agora, na frente de todas essas pessoas.
— Eu vou ao banheiro, já volto. — Harry deu as costas e saiu apressado. Zayn tinha razão, aquele não era o momento.
Lavou o rosto e se recompôs. Já ia sair, quando viu a porta do banheiro abrir e Louis passar por ele.
— Ei Hazza, estava te procurando.
Louis se aproximou do noivo e o abraçou por trás. Pelo reflexo no espelho, Harry viu a finura dos braços do menor rodearam sua cintura. Pareciam tão finos. Em um último teste, Harry se virou para Louis e o beijou ardentemente, segurando o corpo do menor junto ao seu. Seu noivo gemeu no beijo, tão sôfrego quanto ele. Delicadamente, Harry girou o corpo e encostou o quadril do modelo conta a pia do banheiro. Com as mãos ágeis, ele embrenhou seus dedos por dentro da blusa que Louis usava e tentou erguê-la, porém Louis parou seus gestos.
— Aqui não Hazza — Louis disse. Seus olhos azuis olhavam para o lado ao invés de encarar os olhos verdes e sua expressão estava fechada num careta incômoda.
Com isso, Harry teve certeza que Louis não estava confortável com seu corpo. Sexo em um banheiro público nunca havia sido um problema para eles. Eles transavam em qualquer lugar quando a vontade se tornava insuportável, era quase um jogo entre eles. As luzes estavam sempre acesas e as roupas eram arrancadas quase imediatamente, pois ambos precisavam se sentir pele a pele. O toque nunca havia sido negado.
Qualquer excitação que Harry poderia ter sentido com o beijo avassalador evaporou ante a estranha timidez de Louis e por mais que quisesse confrontá-lo sobre isso, sua garganta parecia seca e seus lábios colados um no outro. O clima ficou estranho entre eles. Desvencilharam-se e de maneira tímida e cautelosa e ambos saíram do banheiro com cada um se afastando para o lado oposto. Harry foi direto para o bar e pediu a bebida mais forte que havia e passou o resto da noite tentando encontrar as respostas que precisava no fundo do copo, enquanto Louis se distraiu com as conversas de seu empresário com os críticos, fechando novos contratos.
O dia seguinte da festa foi bastante diferente do que tiveram no último evento. Harry acordou mal-humorado e com uma ressaca brava, enquanto Louis estava cauteloso em se aproximar do noivo. Se juntaram na cozinha em um silêncio tenso. Harry fez algumas omeletes e colocou na frente de Louis, que pegou o garfo de maneira cautelosa e comeu lentamente, cortando a comida em pedaços minúsculos. Harry apenas observava do outro lado da mesa sem falar nada.
— Eu preciso ir ao banheiro — Louis disse se levantando antes de terminar a comida.
— Termine de comer primeiro — o cacheado ordenou.
— Eu realmente preciso ir ao banheiro.
— Eu disse para pelo menos terminar sua omelete. Não vai fazer diferença se comeu tudo ou metade quando de você vomitá-la fora — Harry estourou.
— O quê? — Louis perguntou espantado. Toda a cor drenou de seu rosto quase imediatamente.
— Quanto tempo você achou que me enganar? Quanto tempo achou que manteria os laxantes escondidos até eu achá-los e ligar os pontos, hein?
— Você mexeu nas minhas coisas? — Louis perguntou bravo.
— Sim, e ainda bem que eu fiz! — Harry começou a elevar o tom de voz. — Só assim que eu poderia descobrir o que estava acontecendo, já que você me manteve no escuro!
— Eu não queria… — Louis ficou com a voz tremida e tentou segurar as lágrimas que começavam a encher seus olhos.
Nunca foi sua intenção fazer Harry descobrir sobre os laxantes, a falta de alimentação e os vômitos. Ele queria poder lidar com sua gordura sozinho e evitar dar motivos para Harry se separar dele.
— Não queria que eu descobrisse? — Harry perguntou em um tom ácido. — Bem, aparentemente você não pensou muito nisso quando não levou em conta que eu poderia ter descoberto quando eu encontrasse você morto no chão! Droga Louis! — Harry gritou e passou a mão pelos cabelos longos. — Por que você não me contou?
— Não é um problema seu para lidar.
— É claro que é um problema meu! Tudo que envolve eu perder você se torna um problema meu!
— Hazz, você está exagerando — Louis começou a dizer. — Eu só precisei emagrecer um pouco, eu…
— Um pouco? — A cada vez que Louis falava, a frustração de Harry ficava maior, bem como as palpitações em sua cabeça. — Você ao menos se olha no espelho? Você está pele e osso, Louis! Você está provocando vômitos, usando laxante, deixando de comer. Não é possível que você tenha pensando que isso é saudável!
— Eu preciso fazer isso Harry. Caso contrário eu nunca iria emagrecer…
— Você não precisava emagrecer!
— Precisava sim! Thomas me falava que eu precisava emagrecer, os meninos brincavam com o meu peso, você me dava indiretas…
— Eu nunca te dei indiretas, Louis! — Harry o cortou exasperado.
— Dava sim. Você me dizia para ir correr com você. Você nunca negou quando alguém falava do meu peso ou fazia alguma piada sobre isso. Você até mesmo disso que lamentava que alguém precisou me dizer que eu precisava de dieta.
— Eu te convidava para correr comigo para passarmos mais tempos juntos, e eu disse lamentava você ter que ouvir sobre a dieta porque é uma mentira! Deus, como você conseguiu distorcer tudo que eu falava?
Harry ficou inquieto, ele se levantou do banco que estava sentado e começou a andar de um lado para o outro, passando a mão no cabelo nervosamente. Ele não estava irritado com o Louis propriamente, estava irritado com a situação, com sua inutilidade diante a crise, com sua ignorância de como ajudar. Estava com medo do que estava por vir, magoado pela falta de confiança. Uma mistura de raiva, receio, medo, magoa, e em cima de tudo isso, havia a dor de cabeça da ressaca e o mau humor que deixava tudo com um aspecto dez vezes pior. Ele não sabia como dizer e expressar tudo o que sentia sem parecer um idiota para com Louis. Ele precisava de ar, de tempo para espairecer e chorar. Ele precisava de um ombro materno e sua eterna sabedoria.
— Eu não consigo fazer isso. Não agora. Eu vou passar uns dias na minha mãe.
Como um raio, o cantor correu da cozinha e foi para o quarto. Colocou uma mala pequena em cima da cama e começou a jogar algumas roupas aleatórias dentro. Louis o seguiu e ficou parado na porta olhando Harry com os olhos esbugalhados, sem saber o que falar.
— Harry…
— Agora não Louis.
— Por favor, não me deixe… — o modelo implorou.
A derrota na voz de Louis era tão palpável, que Harry parou o que fazia e olhou para o noivo, percebendo o que estava parecendo. O cacheado soltou um suspiro e se aproximou de Louis, abraçando-o apertado.
— Eu não estou deixando você — prometeu. — Eu só estou com raiva e não quero falar algo no calor do momento e me arrepender depois. Estou indo para a minha mãe para me acalmar e não para manter distância.
— Você jura que está voltando? — Louis praticamente sussurrou enquanto se agarrava a Harry.
— Eu juro. — O mais alto beijou a testa fria de Louis e se afastou para fechar a mala. — Eu te amo Louis. Eu te amo mais que a minha vida. Você é perfeito para mim, meu mundo inteiro. Por favor, não faça nada precipitado. Quando eu voltar daqui a uns dias a gente vai precisar conversar sobre isso. Eu não vou ficar parado vendo você se autodestruir.
Harry olhou nos fundos dos olhos cerúleos de Louis quando disse essas palavras. O modelo apenas acenou com a cabeça. Num último beijo, Harry selou seus lábios castamente e se afastou, contornando o corpo de Louis e saindo do quarto com a mala em reboque.
Demorou vários minutos para Louis voltar a se atentar à realidade. Com passadas rápidas ele correu até a varanda do quarto a tempo de ver o carro de Harry virar a esquina e sumir. Sozinho, ele liberou as lágrimas que lutavam para se soltarem. Harry havia prometido que voltaria e que não era o fim deles, mas Louis sabia a verdade. Ele sabia que alguns dias longe fariam Harry ver a bagunça que ele era. Harry o largaria, só que o cantor não sabia disso ainda. Aconteceu a coisa que Louis mais temia. Ele perdeu Harry. Suas pernas perderam as forças e ele caiu no chão. Primeiro de joelhos, depois o tronco. Jogado no chão, Louis só implorava que sua vida acabasse ali mesmo.