Quebrando o Espelho


Escrita porMRz .
Revisada por Jubs


Capítulo 3 • Desconfiança

Tempo estimado de leitura: 21 minutos

  Harry sabia que havia alguma coisa errada com Louis quando ele começou a evitar as chamadas de vídeos, preferindo apenas as chamadas normais. Apesar de vários anos de relacionamento, tanto seus amigos, quanto Harry e Louis sabiam que os dois estavam em uma eterna lua de mel. Os toques cálidos nunca eram o suficiente para eles, as conversas não supriam a saudade que sentiam um do outro e a distância era o pior castigo para amantes tão apaixonados como eles. As chamadas de vídeos não supriam a vontade que eles tinham de estarem juntos, mas ajudavam a diminuir aquela sensação de vazio que tinham quando um deles precisava se ausentar, e para Harry fugia da lógica Louis não querer vê-lo. A primeira vez que aconteceu, o cacheado se entristeceu em não poder olhar para Louis, mesmo que através da câmera, mas entendeu que o modelo poderia estar ocupado. A segunda vez achou estranho, mas relevou, afinal coincidências existem. Ocorre que na terceira e na quarta vez que lhe foi negado a chamada de vídeo, Harry começou a ficar preocupado. A voz de Louis ao telefone parecia normal e ele continuava carinhoso, mas então por que Louis não queria ligar a câmara?
  O astro voltou para a casa com uma série de pensamentos inseguros rondando sua cabeça: e se Louis não o amasse mais? E se tivesse acontecido alguma coisa grave e Louis não queria lhe contar? Até a possibilidade de Louis ter se mudado enquanto esteve fora passou pela sua cabeça. Nada do que pensou, porém, chegou perto da realidade.
  Quando Harry entrou em casa naquela manhã de sexta-feira, se preparou para tudo que pudesse acontecer, ou quase tudo, pois não estava preparado para se deparar com um Louis pele e osso no sofá.
  — Louis? — Harry perguntou sem ter certeza se aquele enrolado no cobertor no sofá era mesmo seu noivo.
  — Harry que bom que chegou, eu estava com saudades! — Louis vibrou. Levantou-se do lugar e correu para abraçar Harry como sempre.
  O maior envolveu os braços musculosos ao redor de Louis, mas parecia estranho. Sempre houve um destaque natural do seu tamanho para o tamanho de Louis, mas agora parecia que a diferença crescera consideravelmente, ao ponto de achar que poderia quebrar Louis se o apertasse muito. Outro tipo de preocupação surgiu na mente de Harry.
  — Eu também… — Harry disse. — Você está bem Boobear? Você emagreceu nessas últimas semanas.
  — Ah sim, estou ótimo. Foi aquela dieta que eu preciso fazer. — Louis abanou a mão como se não fosse nada de mais.
  Harry não sabia o que dizer, estando realmente perdido na situação. Louis já era magro, naquelas três semanas que fizeram a dieta, o mais velho já havia emagrecido um pouco mais, mas agora Louis estava com uma magreza ainda mais proeminente; até mesmo doentia. Será possível que uma dieta de cortes de carboidratos pudesse fazer tanta diferença assim ou havia outra coisa acontecendo?
  — Talvez fosse melhor mudar a dieta… Você está realmente muito magro.
  — Bobagem. Estou me sentindo ótimo, prometo.
  Louis sentiu um bolo estranho cair no estômago diante a mentira. Era culpa de novo. Nunca, em sete anos de relacionamento, Louis mentiu para Harry. A relação deles era baseado na sinceridade e honestidade sobre tudo. Como se sentiam, seus medos, suas ambições, suas inseguranças. Nenhum deles acreditava que um relacionamento poderia perdurar através de pequenos segredos, então tudo era um livro aberto entre eles. Mas Louis tinha certeza que se falasse para Harry o que estava acontecendo com sua mente, seu noivo tomaria medidas que Louis não iria gostar. Desde interromper sua dieta, e consequentemente estragar sua carreira, a abandoná-lo por não achá-lo digno. Com toda a honestidade, Louis poderia passar por tudo, pela morte da sua mãe e da sua irmã, pela perda da sua carreira, mas nunca poderia sobreviver a um término com Harry.
  — Se você diz... — Harry não parecia convencido, mas decidiu relevar isso também… Por agora.
  — Você deve estar cansado da viagem. Vá tomar um banho enquanto escolho um filme para assistimos abraçadinhos na nossa cama. — Louis empurrou delicadamente Harry em direção à escada que leva ao segundo andar.
  O cacheado encarou o menor profundamente, como se tentasse ver através das atitudes de Louis. Eventualmente ele desistiu de procurar sabe-se lá o que e apenas se inclinou, beijando a testa de Louis carinhosamente. Beijos nas testas eram importantes para Harry. Significavam amor e cuidado e o cantor tentou transmitir exatamente isso para o noivo.
  Mais tarde, depois de tomar um banho longo, comer alguma coisa na cozinha e terminado de arrumar as malas, Harry se deitou na cama com o noivo e se sentiu errado, como se faltasse pedaços do Louis, pois seus corpos não se encaixavam como antes. Havia muito espaço entre eles e Louis parecia frio em seus braços, mesmo com a quantidade de roupas que vestia.
  O cacheado prestou pouca ou nenhuma atenção ao filme, mais preocupado com o fato de que conseguia sentir nas pontas dos dedos as costelas e cada vértebra nas costas do menor. Os ossos do quadril de Louis perfuravam seu estômago de uma forma que nunca havia acontecido antes. Naquela noite, dormiu pouco por causa dos pensamentos que lhe assombravam. Jay descobriu que estava com leucemia quando já era muito tarde, por isso pouco pôde fazer para combatê-la. E se Louis estivesse doente? E se o câncer fosse genético?
  Fizzy também havia morrido recentemente. Lembrava-se que ela também estava muito magra antes de vir a óbito, embora na autópsia descobrissem que foi por causa de drogas e não por doença. Será que Louis estava usando alguma coisa também? Harry não achava que o noivo seria capaz de algo assim, não depois da irmã. Louis até mesmo estava tentando parar com o vício do cigarro após o acontecido. Seja lá o que estivesse acontecendo, rezava a Deus para que não fosse algo sério como uma doença, pois não achava que conseguiria aguentar caso o enfermo fosse o Louis.
  No dia seguinte, Harry tentou fazer um café da manhã reforçado, insistindo com Louis que um dia da quebra da dieta não faria mal. Assistiu com olhos de águia o mais velho beliscar uma comida aqui e ali, mas se distraiu com a conversa descontraída do noivo e com seu entusiasmo pelo desfile que faria dali a poucas semanas. Quando percebeu, os dois pareciam já ter terminado de comer e o modelo se encarregou de ajeitar a cozinha. À tarde, os meninos vieram e após passar um tempo ocioso apenas conversando e assistindo a um jogo na televisão, todos, exceto Louis, decidiram ir para uma balada.
  — Tem certeza que não quer que eu fique aqui com você Lou? — Harry perguntou pela décima vez desde a negativa do noivo de ir com eles.
  O cacheado já estava todo arrumado para a noite, com uma skinny preta que parecia ter sido pintada no seu corpo, uma camisa branca com estampa de louros e uma bota brilhante.
  — Tenho sim Hazza. Provavelmente vou tomar um analgésico para tirar essa dor de cabeça chata e dormir até amanhã. Vá se divertir com os meninos, vocês merecem depois de trabalharem tanto — Louis respondeu, beijando o biquinho nos lábios rosados de Harry.
  — Me ligue se você não melhorar, eu voltarei imediatamente.
  — Ok Harold. — Louis revirou os olhos. — Divirta-se e não faça nada que eu faria. — Piscou brincando.
  Harry saiu de casa bastante relutante em deixar o mais velho sozinho em casa. A limusine que ele e seus amigos usariam para ir ao clube já estava na porta da sua casa e isso foi o único motivo que o impediu de mudar de ideia sobre sair.
  — Hey man! — Liam o cumprimentou assim que entrou no carro. Diferentemente dos outros dias, seu amigo exibia um sorriso pequeno e frágil. Seus olhos castanhos pareciam um pouco mais brilhantes e espremiam um sentimento de temor e preocupação. Imediatamente, Harry entendeu o porquê daquele olhar.
  — Vocês também notaram não é? — o cantor perguntou retoricamente para os outros que tinha expressões parecidas.
  — É difícil não notar mate — Zayn disse. — Louis nunca esteve tão magro.
  — Tão magro é eufemismo. Lou parece um zumbi — Niall comentou também e Harry tinha que concordar com o irlandês.
  — Ele disse que está tudo bem quando eu perguntei… — o cacheado disse com a voz baixa.
  Os outros três olharam para ele céticos, mas foi Liam que verbalizou o que todos pensavam:
  — Você sabe que não tem de “bem” nele agora certo? Não tem como, é humanamente impossível, alguém estar saudável estando tão magro!
  — Eu sei… — Harry sentiu os olhos ficarem um pouco úmidos. — Vou conversar com ele novamente.
  Naquela noite, Harry não conseguiu se divertir. Ficou praticamente todo o tempo sentado no bar com uma bebida em mãos. Cada pessoa que se aproximava dele com segundas intenções, ele apenas mostrava a aliança de noivado no dedo. Seus amigos vinham esporadicamente checá-lo, já conscientes de que ele não teria cabeça para simplesmente dançar e abstrair. Foi uma das piores noites da sua vida, pois não se lembrava de ter tido um dia que ficou tão preocupado com algo como naquele.
  Os quatro só voltaram para casa quando a boate que estavam na Mayfair fechou às três da manhã, que para Harry pareceu durar para sempre, vez que estava com pressa de voltar para casa e ficar com Louis. Passou boa parte da noite trocando mensagens com o mais velho, até que Louis dormiu eventualmente.
  Quando finalmente voltou para casa, Louis dormia no quarto enrolado por uma montanha de edredons, mesmo que a temperatura da casa estivesse quente. Harry tocou delicadamente a testa de Louis para avaliá-lo para febre, mas o toque estava frio e não quente. A preocupação voltou com força total. Não dava para ignorar de que havia um problema de fato e era imprescindível que falasse com Louis novamente na manhã seguinte. O modelo talvez achasse que realmente não havia um problema e caberia a Harry mostrar que sim, Louis não estava bem. O maior passou o restante da noite pensando no que falaria com Louis no dia seguinte, até que se rendeu ao cansaço e dormiu quando o Sol raiava e penetrava seus raios pelos vãos da cortina do quarto.
  Ao acordar novamente, a cama do lado dele encontrava-se vazia e fria, sinal de que Louis levantara fazia um tempo. Estendeu para o braço para alcançar o celular no criado-mudo e viu um post-it amarelo grudado na tela com a letra de Louis, que dizia:
  “Fui para academia, de lá vou para uma reunião com o Thomas. Não me espere para o almoço. ‘Te amo’, L”.
  Franzindo a sobrancelha, Harry não teve muitas opções que não esperar pela volta de Louis para falar com o modelo, até que no meio da tarde, ele próprio precisou sair fazer algumas aparições públicas de última hora. À noite, alguns amigos de Louis apareceram e ficaram até tarde, impossibilitando Harry de falar com o noivo em privacidade.
  Durante os próximos três dias, Harry achou que Louis estava se esquivando de ficar sozinho com ele. Essa impressão aconteceu quando percebeu que Louis passava muito tempo longe de casa com a desculpa de que estava ocupado com o desfile que faria dali a uma semana. O cacheado sabia se tratar de uma mentira, pois Louis já havia trabalho em outros desfiles tão grandes como aquele e nunca trabalhou daquela forma desenfreada. Ele sentia que havia um motivo escuso por trás disso, porém não conseguia adivinhar qual era e isso o deixava paranoico e ansioso, analisando cada detalhe dos gestos e ações de Louis. Até que no quarto dia depois que voltou, Harry não conseguiu mais adiar a conversa. Era madrugada e estava virando rotina ele só conseguir dormir quando a exaustão tomava conta. Nessas madrugadas silenciosas e solitárias, ele passava as horas olhando para Louis, analisando cada detalhe e jogando mentalmente o jogo dos sete erros do Louis atual com uma foto de um ano atrás que ele tinha do noivo exposta no criado-mudo.
  Havia a óbvia magreza exacerbada que pareceu surgir de repente naquelas duas semanas que esteve fora. Tinha os cabelos que outrora foram tão macios, agora pareciam finos e quebráveis. A pele morena estava constantemente pálida, o calor do seu corpo parecia ter desaparecido, pois Louis estava sempre frio ao toque. As rugas do sorriso dele estavam raras e o sorriso não parecia sincero. O Louis deitado na cama, não parecia mais o seu Louis. Parecia ser apenas uma casca defeituosa do anjo que era o seu noivo.
  Foi um tremor involuntário de Louis que deu coragem a Harry de iniciar a temida coragem, mesmo que fossem às três horas da madrugada.
  — Lou… — sussurrou baixinho na orelha bonitinha do mais velho. — Lou-bear, acorde, eu preciso falar com você.
  — Hm… o que foi? — Louis perguntou com a voz embolada de sono, com os olhos mal abrindo.
  — Eu não consigo dormir — Harry disse, já antevendo que Louis acordaria com preocupação.
  — Por que não? — Louis perguntou já visivelmente mais desperto, tal como Harry havia previsto.
  — Estou preocupado com você — o encaracolado disse baixinho, pegando as mãos frias do noivo e acariciando suavemente.
  — Baby, não há nada para se preocupar comigo — garantiu o mais velho.
  — Tem sim — teimou. — Você está tão magro, tão distante. Quero lhe dar espaço, mas ao mesmo tempo estou preocupado em saber onde estou errando.
  — O quê? — Louis se levantou exasperado. — Harry, amor, você não está fazendo nada errado! Por que acha isso?
  O maior sentou na cama também e deu de ombros. Harry estava manipulando a situação, mas não achou que teria uma resposta sincera para uma pergunta direta. Ele havia tentado logo que chegou de viagem e com toda a sinceridade, não sabia o que faria se Louis ousasse mentir na cara dura novamente.
  — Eu te disse, você está tão distante. Mal conversou comigo quando estava fora e agora que estou aqui, você parece querer estar fora de casa. Não me saí da cabeça a ideia que você pode estar com algum problema e não confia em mim para ajudá-lo.
  — Harry me escute bem — Louis pediu, segurando o rosto de Harry com as duas mãos. — Eu não estou bravo, triste, magoado, decepcionado ou qualquer outra coisa do gênero com você. Eu só estou um pouco estressado com esse desfile e não quero descontar em você, só isso — revelou meia verdade.
  — Tem certeza que é só o desfile Lou? Você nunca esteve assim nos anteriores.
  — Esse está sendo um pouco mais difícil que os anteriores. Eu te falei que houve algumas críticas negativas desde o Grammy e acho que isso pesou um pouco, mas eu juto que não tem nada a ver com você. Nunca.
  Para pontuar suas palavras, Louis selou os seus lábios com o de Harry. O mais novo sentiu os lábios de Louis rachados e um pouco ásperos, mas pensou que provavelmente era porque Louis não tinha o hábito de beber muita água.
  — Isso é bobagem, você não pode deixar os haters te atingirem. Você deve se amar por quem você é.
  A frase de Harry caiu pesada no estômago de Louis, pois lá estava o seu noivo não negando as afirmações sobre ele novamente. Se fosse fácil “se amar por quem é”…
  — Há algo que eu posso fazer para te tirar desse estresse? — Harry perguntou após Louis ficar em silêncio por vários minutos.
  Em algum momento em sua vida, Harry leu que o estresse poderia ser um fator determinante para a causa de alguns males. Era uma reação muito subjetiva, que dependia de pessoas e pessoas, mas poderia ser muito possível que o estresse de Louis desencadeasse um emagrecimento injustificado.
  — Eu aprecio o que você está tentando fazer, mas não há nada para ajudar. É só esperar que esse desfile aconteça logo — prometeu o mais velho.
  Apesar das palavras reconfortantes que saíam da boca do modelo, ele não acreditava totalmente que tudo ficaria bem depois do desfile. Dependeria de qual seria o veredito dos críticos. Se fosse positivo, teria apenas que trabalhar para manter o peso que ele duramente conseguiu perder, mesmo que ainda não fosse o ideal, porque não parecia bom quando se olhava no espelho, vez que suas coxas permaneciam grossas, sua barriga estava bem insistente em aparecer competindo espaço com o cós da calça e seu rosto continuava redondo como a Lua cheia, todavia não haveria necessidade de continuar com uma dieta tão brusca. O problema surgirá se as críticas não forem positivas, pois daí apenas mostrará para Louis que sua imagem ainda não está boa e que tudo que fez até agora foi ineficiente.
  Não haveria nada mais decepcionante do que trabalhar tão duro querendo dar o seu melhor e ver que não havia sido o suficiente. Era como assinar um atestado de incompetência. Pelo menos no caso do Louis, cuja única obrigação era ficar bonito e esbelto para continuar merecendo seu trabalho e seu noivo.
  Harry sentindo-se um pouco mais tranquilo depois de conversar com Louis e concluir que tudo poderia ser apenas estresse e que seria apenas uma fase, conseguiu dormir sob o som de uma canção ronronada por Louis no pé do seu ouvido.
  Apesar de o modelo garantir que nada do que faria poderia ajudá-lo com o estresse, o cacheado pelo menos tentaria, por isso quando acordou decidiu fazer um almoço digno de um rei para Louis. Eles poderiam sair para almoçar em qualquer restaurante de Londres, mas Harry gostava de cozinhar e na opinião dele, não haveria comida no mundo, mesmo nos melhores restaurantes, que substituiria o gosto da comida caseira. Guardou tudo em uma sacola térmica e foi até o estúdio que estaria tendo as provas de roupas e os ensaios.
  — Hey, o que está fazendo aqui amor? — Louis perguntou vindo ao seu encontro assim que o viu.
  — Quis vim lhe fazer uma visita e almoçarmos juntos. — Sorrindo, Harry ergueu a sacola com as comidas.
  Louis tentou sorrir para Harry, mas pareceu forçado mesmo para ele. E a julgar pelo olhar preocupado nos olhos verdes do mais novo, Harry também havia percebido seu sorriso falso.
  — Você tinha algum outro plano? — Harry perguntou preocupado.
  — Não, não — Louis tentou melhorar o sorriso. — Isso está perfeito. Meu camarim tem uma mesa que podemos usar para colocar isso.
  De mãos dadas, o casal caminhou até o camarim que Louis havia dito conversando basicamente sobre a produção do desfile. Vez ou outra um modelo ou um estilista paravam para falar com eles. A cada passo que se aproximavam do camarim, Louis ficava mais e mais ansioso. Ele não queria comer e até o momento havia conseguido escapar de Harry nas horas das refeições. Sua cabeça tentava criar alguma saída para a situação, mas não tinha.
  Observou suando frio, Harry espalhar os tupperware na mesa. Era muita comida e a visão de tudo aquilo começou a embrulhar o estômago de Louis. Os números começaram a invadir sua cabeça como uma chuva de informações. Números das calorias das comidas, o quando iria engordar, quanto tempo levaria para perder todos os quilos que adquiriria. Começou a sentir o suor por baixo da camisa, sua mente começou a girar e achou que cairia ali mesmo. Estava tendo um ataque de ansiedade.
  — Sente aqui Boo. — Cavalheiro como sempre, Harry puxou uma das cadeiras para Louis sentar.
  Não havia mais fuga. Não há nada que poderia atrasar o momento do almoço, não havia como desviar a atenção de Harry nele, não havia como fugir da comida e pela primeira vez em três dias, colocaria outra coisa que não água no estômago.
  Louis sentou no lugar que Harry lhe indicou e sentindo a bile subir e descer pelo seu interior. Se serviu com uma porção pequena de comida e cortou os alimentos em pedaços minúsculos. Colocou um pedaço por vez na boca e mastigou o máximo que pôde, enquanto tentava manter o estômago quieto.
  Naturalmente, Harry terminou de comer antes de Louis e estranhou o prato do noivo ainda estar cheio. Franziu o cenho e perguntou:
  — A comida não está boa, Lou?
   — Não, não! Está ótima, mas é que eu não estou com muita fome.
  Harry não falou nada, porém o olhou desconfiado. Louis se mexeu incômodo na cadeira com a força do olhar do cacheado.
  — Se não quer comer tudo, então não coma — Harry disse mal-humorado e magoado.
  Foi como um chute no estômago de Louis, porque ele não queria magoar o noivo. Se ele fosse magro, nada disso teria acontecido, mas ele precisava fazer essa estúpida dieta e emagrecer. Seus olhos encheram d’água ao mesmo tempo em que largou o garfo no prato. O soluço que soltou foi involuntário, mas chamou a atenção de Harry.
  — Não querido, me desculpe — Harry circulou a mesa e abraçou o menor assim que chegou a ele. — Eu não devia ter falado assim com você. Você não tem absolutamente culpa nenhuma, só fiquei frustrado porque achei que poderia te ajudar com o estresse.
  O maior fez tudo o que estava ao seu alcance para acalmar o Louis que chorava e soluçava em seu peito, embora essa atitude fosse uma surpresa para ele. O modelo não era uma pessoa chorona ou triste. Conseguia contar com os dedos de uma mão a quantidade de vezes que Louis chorou assim. O estresse parecia realmente estar afetando-o profundamente.
  — Me desculpe — Louis pediu depois de um tempo afastando-se. — Eu não sei o que deu em mim para chorar assim, não foi nada de mais…
  — Está tudo bem Boobear — tranquilizou Harry, acariciando-lhes os fios finos, vendo vários se soltarem em seus dedos.
  — Eu preciso ir ao banheiro. Não posso voltar ao ensaio com a cara assim — Louis disse apontando para os olhos inchados e nariz vermelho.
  — Claro. Eu vou arrumando essa bagunça.
  Harry lhe deu um beijo na testa e começou a organizar as comidas de volta. Louis saiu do camarim e correu até o banheiro, literalmente. Conferiu todas as cabines e vendo-se completamente sozinho, trancou a porta do banheiro todo e escolheu o box mais afastado para regurgitar o pouco da comida que tinha acabado de comer.
  No caminho de volta, sentiu-se um pouco tonto, mas isso estava ficando comum na sua vida, assim como uma dor de cabeça que durava o dia inteiro. Andando ancorado pelas paredes, chegou ao seu camarim e viu Harry falando ao telefone. Pegou sua garrafa de água e bebeu quase metade dela, porque com certeza a tontura que sentiu era derivada de uma desidratação.
  — Eu tenho que ir — disse Harry assim que desligou o telefone. — Estava com o Liam no telefone. Ele o Zayn fizeram uma demo e estão indo lá em casa para mostrar.
  — Tudo bem. Daqui a pouco eu tenho que voltar também.
  Os dois se abraçaram e ficaram um tempo junto, apenas nos braços um do outro. Uma das mãos de Harry passeava ao longo das costas de Louis, enquanto a outra estava pousada na cintura, sentindo o osso do quadril se sobressair.
  Houve uma época que Harry considerava o corpo de Louis como sendo o corpo mais perfeito do mundo. Era o seu parque de diversões particular. Sabia onde tocar para ascender à libido de Louis; sabia cada detalhe das curvas que o compunha por inteiro. Era como se fosse uma obra de arte viva. Agora, porém, era como se fosse um ambiente novo e para ser honesto, Harry não gostava do que via ou o que tocava. Ele queria seu antigo Lou de volta.
  Quando precisaram se afastar e realmente dizer adeus, Harry foi embora com a sensação que estava perdendo alguma coisa, e aquela coceira fictícia atrás da orelha que a desconfiança era retratada ficava cada vez mais forte e incomoda. Contudo, como confiava no noivo, deu um voto de confiança de que realmente era estresse. Faltava apenas uma semana para o maldito desfile acontecer e então, tinha fé de que tudo voltaria ao normal novamente.

Capítulo 3
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