Por Toda a Vida


Escrita porLaay
Editada por Natashia Kitamura

Capítulo único

Tempo estimado de leitura: 16 minutos

  Lembro-me de quando era pequeno, por volta de meus dez anos, eu poderia dizer que tinha nojo de garotas; meus amigos, ao menos, tinham suas decisões tomadas a respeito disso, e eu fingia concordar com eles mas a realidade era outra. Toda minha vida fui criado por minha mãe, eramos eu, mamãe e minha irmã mais velha Sky. Dona Susan era minha heroína. Me impressionava o modo como ela cuidava de mim e Sky, da casa, ainda trabalhava e conseguia tirar tempo pra cuidar de sí mesma. A achava incrível! Com Sky não foi diferente. Ela, mais velha sete anos, era como uma segunda mãe pra mim. Certo que brigávamos as vezes - muitas vezes - afinal somos irmãos, mas eu me obrigava sempre a me sentir orgulhoso pelas duas mulheres que eu tinha em casa, principalmente em dar valor não somente á elas mas em todas as garotas simplesmente por serem mulheres, sempre fortes e corajosas, independentes e exalando carisma e amor. Pelo menos mamãe e Sky eram assim.
  Enquanto a maioria dos garotos da minha idade detestavam as garotas, eu simplesmente idealizava minha futura esposa. Eu tinha um grande desejo de protegê-la e amá-la em todos os sentidos por mais que nem soubesse o que significava amar. Ao observar minha mãe, pude perceber que por mais que ela parecesse completa sozinha, estava faltando algo, e esse algo com certeza deveria ser meu pai. Ela disfarçava bem, mas nas manhãs de domingo eu via seus olhos inchados e vermelhos por conta do choro na noite passada em que ela passava assistindo a esses filmes românticos completamente melosos. Era difícil vê-la assim. Eu queria protegê-la mais do que tudo e nunca ser o causador de um coração partido de uma mulher. Eu cumpri com minha palavra. Eu fazia de tudo pelas garotas, até que elas se cansaram e resolveram pisar no coitado apaixonado. Era uma seguida de outra. Até que eu desisti. Se elas pouca se importavam com meu coração, eu também não me importaria com o delas. Isso se seguiu por anos. Até que a conheci. A garota que me enlaçou por completo. Que tinha meu amor por toda a vida.

6 semanas atrás

  Frequentar o café Whites se tornou uma rotina. Observá-la todas as tardes era quase um vício. Sentir-me ansioso em quase aflição sem poder a tocar me sufocava. Seu cabelo parecia tão macio e volumoso, suas mãos delicadas e as unhas sempre pintadas num tom claro, seu estilo simples e as vezes tão casual que me encantava. Mas seu rosto... Ela sempre se recusava a abaixar o livro a qual lia há uma semana. Eu nunca havia visto a cor de seus olhos, ou como seria seus lábios, ou a maçã de seu rosto. Mas eu poderia ter certeza, a plena certeza, de que ela era linda. Eu estava facinado. Perdidamente facinado pela garota do café. Era estupidez minha! Uma semana que frequentava o local, que a via sentada no mesmo lugar com a cabeça enterrada dentro daquile livro, não trocamos se quer uma palavra, eu nem havia visto seu rosto ou descoberto seus gostos e já sentia que aquela garota valeria a pena. Acho que estava melancólico demais, carente demais. Só pode!
  - Por que não fala com ela? - minha atenção foi desviada pra garota ao meu lado em pé com seu impecável coque na cabeça e o uniforme azul com branco da cafeteria. Ela sorria minimamente com meu pedido em mãos.
  - Não sei do que está falando. - murmurei pegando o prato de cookies de sua mão. A garota, Daphne, conforme estava escrito no uniforme, soltou um risinho debochado e depositou uma caneca com chá sobre a mesa.
  - Homens. - Daphne pareceu murmurar pra si mesma, mas estava claro que ela queria que eu ouvisse. - Olha, a Jane é uma boa garota e você me parece ser um bom rapaz. Não finja que não a está olhando durante a semana toda, eu vi tudo ok?! - ela me pegou de surpresa. Arregalei os olhos querendo rapidamente dar uma desculpa por meus atos inconvenientes, mas Daphne sorriu e olhou para os lados logo sentando-se a minha frente e colocando as mãos sobre a mesa me dando a visão privilegiada de sua aliança de noivado chamativa.
  - Não se preocupe. Não vou falar nada a ela. Mas se estiver realmente interessado, eu posso te ajudar. - ela sorriu mais largo ainda se possível.
  Semicerrei os olhos um tanto quanto duvidoso. Por que, do nada, ela queria me ajudar a chegar em uma garota que ambos não conheciam? A não ser que ela a conheça...
  - Por que você faria isso? - questionei curioso.
  - Jane é irmã do melhor amigo do meu noivo. Nos conhecemos já tem um tempinho, e cá entre nós, ela não é muito de namorar e essas coisas, mas %Johnatan% conta que ela já teve suas paixões por aí. - fez gestos com as mãos. - Mas bom, o fato é que ela realmente precisa de alguém. Me entende? - Daphne me olhou com seus expressivos olhos negros esperando que eu dissesse algo. Ela parecia bem louca me olhando dessa forma, quase me intimando. Apenas concordei com a cabeça. Ela sorriu em satisfação.
  - Bom, você pode chegar nela e comentar sobre os trabalhos de Julia Quinn.
  - Eu não tenho ideia de quem é Julia Quinn.
  - Não importa. Apenas faça isso.
  Ela se levantou e me puxou pelo braço em direção a garota, Jane, e parecia bem irredutível. Respirei fundo quando estava a apenas três passos do meu fascínio. Daphne, louca Daphne isso sim, se afastou de mim fazendo um joinha com os polegares em conjunto com seu sorriso de orelha a orelha. Ela disse que me ajudaria a respeito de Jane, mas no meu ver, quase me jogar em cima da garota e apenas falar o nome Julia Quinn , não era bem uma ajuda. Posso dizer que comecei a me sentir desesperado. Ela com certeza me acharia um tolo. Se perguntasse qualquer coisa a respeito dessa mulher, eu estaria feito.
  - Oi. - minha voz saiu terrivelmente rouca e baixa. Praguejei internamente com medo dela estar tão concentrada na leitura que nem ao menos tenha me escutado. Observei melhor a capa de seu livro e percebi que Julia Quinn na verdade era uma autora. Peguei confiança e sorri. - Julia Quinn, han?! - esperei por uma reação. 2 segundos se passaram e nada. Olhei em direção ao balcão e Daphne atendia um cliente animadamente. Detestei a ter ouvido.
  - Pensei que nunca viria. - acordei de pensamentos ao ouvir a voz da garota a minha frente. Ela ainda tinha o livro sobre o rosto. Sua voz saiu abafada, mas doce e encantadora. Não exatamente como eu imaginei durante essa semana, bem diferente pra dizer a verdade.
  - Como? - perguntei confuso e ela apontou a poltrona vazia a sua frente.
  Provavelmente eu deveria me sentar ali e assim o fiz. Talvez ela realmente me desse uma chance. Sorri animado por dentro.
  - Você é o quarto esse mês. - Jane disse e abaixou o livro me dando a visão privilegiada de seus lábios cobertos de gloss labial, o nariz fino, as maçãs do rosto avermelhadas, sobrancelhas grossas, cílios fartos e lindos olhos %cinzas%. Cinza? Incrível! Nada como eu imaginei. - Daphne sempre tenta trazer garotos até mim com o intuito que eu desencalhe logo. Bom, eu não estou preocupada com isso e acho que ela deveria estar menos ainda. Então vamos facilitar as coisas, você finge flertar comigo por uns cinco minutos, eu finjo te dar meu número de telefone e você sai feliz da vida. Que tal? - ela sorriu fechado me deixando completamente sem fala.
  Seus olhos brilhavam me olhando com certa expectativa. Jane parecia ser experiente em enganar Daphne. Mas não dessa vez!
  - Bom, certamente você já estava a minha espera. Mas sejamos sinceros Srta. Jane, eu não fiquei uma semana inteira vindo aqui todas as tardes desejando incessantemente lhe conhecer melhor para depois simplesmente fingir flertar contigo e receber um papel em branco indo embora com as mãos abanando. Esperava mais de você. - pausei e observei seu sorriso se fechar aos poucos. - Tenho planos melhores para nós dois. Jantaremos hoje a noite juntos, caminhamos pelo Hyde Park enquanto nós conhecemos melhor, eu te levo em casa e nos despedimos com um belo abraço. Amanhã você decide pra onde vamos. Mas se não souber, eu conheço uma ótima cafeteria em Madri. Você poderia ler seu livro tranquilamente enquanto eu a observo em completo fascínio. A senhorita quem decide. - propus e observei seus lábios se abrirem e fecharem inúmeras vezes. A deixei sem fala facilmente. Isso realmente não estava nos meus planos, mas nesse caso, tive que apelar para os treinos que Sky havia me dado.
  Jane a essa hora já havia deixado o livro de lado e anotava algo no guardanapo. Não sabia que seria tão fácil assim. Ela me entregou o papel macio e se retirou apressadamente. Acompanhei seus passos antes de dirigir minha atenção ao guardanapo em mãos
  Você pode fazer melhor do que isso. Sei que sim!
  Não. Acredito.
  Ela me pegou direitinho. Mas tenho plena certeza que ela sabia de que eu não desistiria assim tão fácil.

Atualmente

  Me apaixonar por ela foi algo fácil. Simplesmente fácil. Não poderia negar que me sentia encantado a cada fala, a cada gesto, a cada sorriso. Era incrível o modo como ela me fazia bem, como eu me sentia completo ao seu lado. Não havia como eu expressar o que se passava em minha mente.  Eu me perguntava se ela sentia o mesmo. Jane dizia que eu era um dos raros homens que existiam nesse Planeta pelo simples fato de eu ter a necessidade de fazê-la se sentir amada, desejada e feliz. Eu não me importava se a conhecia a duas semanas ou dois dias, eu já ansiava o dia em que diria que a amava. Isso pode ser clichê, eternamente clichê, ou precipitado, muito precipitado. Mas eu tinha medo de a perder, medo de perder seus sorrisos, seus abraços, seus beijos, seu cheiro, principalmente de perder seu amor.

2 semanas atrás

  - O que você acha? Roxo ou lilás? - Jane olhou-me com a testa franzida em seu sinal de confusão e dúvida.
  - Roxo, com certeza. - apontei para o cachecol em sua mão esquerda e ela sorriu concordando. Seguimos para o caixa com as demais compras. Claro que houve uma breve discussão de quem pagaria, no final quem venceu fui eu, obviamente.
  - Você sabe ser bem chato quando quer. - ela murmurou assim que saímos da loja. Entrelacei nossas mãos e roubei um beijo seu.
  - Eu gosto de te agradar. Por favor, não me impeça disso. - falei a olhando nos olhos. Apertei sua mão na minha e ela suspirou claramente desistindo. Abri meu sorriso e caminhei decidido até a praça de alimentação do shopping.
  - Como você faz isso hein? - Jane falou baixinho com um sorriso nos lábios.
  - Eu sei que sou irresistível. - pisquei um olho a olhando nitidamente mas sua atenção foi desviada para outra coisa, ou melhor, outra pessoa. Pessoa em questão que caminhava em nossa direção com os punhos cerrados e uma clara expressão de fúria.
  - Ah meu Deus! - ela exclamou e parou de andar. Olhei confuso de Jane para %Johnny%. %Johnny%... Espera! Por acaso eu estava namorando a ex namorada do meu melhor amigo e não sabia?
  - Mas que palhaçada é essa? - %Johnny% questionou furioso nos olhando.
  Eu, claro, nem sabia o que dizer.
  - %Johnatan%! O que está fazendo aqui? - Jane perguntou parecendo um tanto quanto irritada.
  - Então é com ele que você está saindo, Jane? Por isso não me falou nada? - %Johnny% a olhou quase como decepcionado. - E você, dude? Como pôde fazer isso comigo? E nossa promessa, cara? - ele me fulminou com o olhar.
  Eu estava simplesmente paralisado. Como eu ia saber?
  - Vocês se conhecem? - Jane perguntou confusa. Mas quem estava confuso com aquilo tudo era eu.
  - Eu que me pergunto se vocês se conhecem. - falei soltando sua mão e olhando de um pra outro.
  - Oras, não seja cínico. Jane é minha irmã mais nova, vai me dizer que não se lembra? - %Johnny% disse e eu jurava que a qualquer momento poderia receber um belo soco no rosto.
  Senti o sangue evaporar de minha face. Jane era irmã de %Johnny%? A irmãzinha de %Johnny%?
  - Espera! O que está acontecendo aqui? - a garota perguntou.
  Eu estava morto! Muito morto!
  - %Johnny% é meu amigo. Nos conhecemos na Universidade em Madri quando cursamos engenharia ambiental juntos. - cruzei os braços e olhei para meu amigo quase desacreditando em toda aquela péssima coincidência.
  - Ele é o %Gilinsk%. - %Johnny% disse mal humorado.
  - Aquele seu melhor amigo %Gilinsk% da Universidade? - Jane perguntou desacreditada.
  - Sim. - %Johnny% concordou.
  Ela me olhou com os olhos lacrimejantes.
  - E %Johnatan% é o tal %Johnny%? - apenas assenti. - E você sabia disso tudo? - vi a mágoa e a dúvida em seu olhar.
  - De modo algum! Eu não sonhava que você era irmã do %Johnny%. Não tinha ideia. - tentei me explicar e o mais velho dos %Dallas% riu irônico.
  - Não me venha com essa, %Gilinsk%. Sei lá quantas vezes eu já lhe mostrei fotos da minha irmã, como não a reconheceria? - eu iria o responder, mas %Johnny% não me deu a oportunidade. - Não quero que se aproxime dela, e o que vocês tiverem termina aqui.
  - O quê? - Jane praticamente gritou indignada. Eu não estava diferente. - Você não tem esse direito, %Johnatan%! - as pessoas começavam a olhar em nossa direção.
  - %Johnny%, você está se precipitando. Por favor, vamos conversar com calma em outro lugar. - falei e ele negou segurando o braço da irmã.
  - Me poupe! Não vou deixar minha irmã sofrer em suas mãos como as várias garotas que você conheceu na faculdade. A esqueça, %Gilinsk%! - ele estava decidido com seus argumentos. Suspirei frustrado.
  Jane olhou-me confusa. Não sabia se seguia o rumo do irmão ou se vinha até mim exigir explicações.
  - Você me conhece, %Johnny%. Sabe que eu não faria uma coisa dessas com uma garota como a sua irmã. Eu me apaixonei por ela. Por favor, não aja estupidamente. - controlei o tom da voz e vi um resquício de compreensão em seus olhos que logo sumiram.
  Ele seguiu em direção ao elevador puxando Jane que exigia que ele a soltasse. Ela me olhou uma última vez em busca de apoio. Mas eu continuei ali, parado, os vendo se afastar.
  Sabia que não adiantaria discutir com %Johnny% naquele momento. Ele estava de cabeça quente e foi pego de surpresa. Com certeza não soube que eu estava com sua irmã antes porque se encontrava em uma viagem a negócios. Eu entendia seu lado. Entendia completamente. Era a única irmã que tinha, queria a proteger com todas as forças. Quando fizemos o voto de nunca nos envolvermos com as irmãs de nossos amigos na faculdade, eu não tinha ideia de que conheceria uma garota tão especial quanto Jane. De que chegaria a amá-la. De que ela seria irmã de %Johnny%. Como eu pude não reconhece-la? Ela tinha os olhos dele, o mesmo cinza... Estupido eu era! Não podia a perder, precisava falar com %Johnny%, tentar ao menos.

Atualmente

  Embora lembrar dos dois socos me doa até hoje, valeu a pena os levar por ela. Mas por ela eu perderia a visão, os membros, perderia a vida. Por ela eu faria qualquer loucura, até andar pelado na rua no inverno como estava fazendo nesse instante.
  - Meu Deus, %Gilinsk%! Você é louco! - %Johnny% gritou da porta de sua casa. Ele ria loucamente ao lado da esposa com o celular em mãos testemunhando minha declaração de amor por Jane.
  - É tudo por ela, dude! - exclamei enquanto sentia meu corpo tremer por conta do frio.
  Nessas horas, os vizinhos já estavam do lado de fora e só faltava mesmo uma equipe de reportagem. Mas eu não ia esperar por eles pra começar.
  Jane já me olhava em aflição com o edredom em mãos. Eu sorri pra ela e respirei fundo antes de falar.
  - Você sabe que me tem nas mãos certo? Eu que sempre desejei ter alguém pra proteger, alguém pra chamar de minha, alguém pra desejar e amar intensamente. E agora eu tenho você! Não há presente melhor do que este. E eu agradeço todos os dias a Deus por ter colocado você em minha vida. - senti as lágrimas vindo, mas não ia chorar. Não agora. - Eu te amo, Jane! Te amo com todo meu ser. Sabe que pode contar comigo sempre, não é?! Te dou meu coração e minha alma porque você é tudo na minha vida, por toda a vida. Mesmo se eu pudesse nascer de novo, voltar no tempo, eu não posso ficar com mais ninguém além de você. Quando você estiver cansada ou tiver passando por um momento difícil eu vou ser a pessoa que você vai querer contar. Nada vai ser fácil mas eu vou te proteger, por toda a vida. Esse amor, esse amor nunca vai acabar nunca vou deixar você ir. EU TE AMO %Jane% %Dallas%! - expressei meus sentimentos, aqueles que eu guardava bem dentro de mim e então permiti que as lágrimas descessem por me rosto.
  Ela correu em meu encontro e me abraçou apertado. E todo aquele constrangimento e frio compensava por  tê-la em meus braços, sempre!

FIM

Capítulo único
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