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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Para me refazer

Escrita porKelsea
Revisada por Lelen

Capítulo 3

Tempo estimado de leitura: 16 minutos

Os dedos de Clarice escorregaram pela obra de arte uma última vez antes que precisasse fechar a gaveta e não poder admirá-la. A consolava pensar até talvez esses momentos não fossem assim tão raros, visto que Juliano ficava girando a maior parte do tempo sempre chegando exausto ou raivoso devido às reuniões ou a aborrecimentos tolos com algum funcionário tolo. O empresário, dessa forma, não tinha muita paciência para conversas “fúteis", apenas o essencial saía de seus lábios grossos, e às vezes nem isso. Na verdade, a artista nem se lembrava do último diálogo entre eles com duração superior a cinco minutos. Às vezes, entre os lençóis, o marido até dava sinal de vida, ou seja, apesar da rotina monótona, no fundo ainda a desejava. Pela primeira vez, no entanto, Clarice não se sentiu feliz com essa constatação. Quanta vergonha havia passado aquela manhã, tentando seduzir o próprio marido a fim de realizar seu sonho esquecido há tantos anos por ela própria.
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  A vergonha se dava principalmente pelo fato dela própria, por mais que não quisesse admitir, já não sentir nenhuma atração pelo dono da perfumaria. Para dizer a verdade, nunca havia sentido, não de verdade. Jovem e inocente, recém-chegada na capital, foi atraída pela oportunidade que Juliano se dispunha a oferecer-lhe e pela forma como pareceu valorizar sua arte. Era irônico perceber que, anos depois, nenhum desses dois motivos havia se concretizado. Mesmo sendo uma dama da sociedade, nunca conheceu um olheiro de uma galeria sequer e pela conversa da manhã, Juliano poderia continuar mentindo sobre qualquer coisa, menos sobre admirar sua arte, arte esta que ele mesmo havia chamado de “diversão”. Dessa forma, não havia a menor possibilidade de sentir desejo por ele novamente. Na realidade, há muito tempo ela cumpria suas “obrigações” de esposa apenas por cumprir. Se sentia uma boneca, sem emoções, incapaz de se excitar novamente, pelo menos até colocar os olhos na bela secretária. A lembrança de sua voz, a maneira como seus olhos se dirigiram para o que havia atrás de sua blusa transparente a fazia sentir arrepios em certos lugares que não podia mencionar. De repente se pegou imaginando como seria ter aquele lingerie tirada pelas delicadas mãos responsáveis por assinar os contratos de Juliano… Quanta loucura! Só podia ser efeito do estresse. Afinal, não era possível que tivesse se interessado por alguém naquela altura da vida, ainda mais por uma mulher… Clarice não tinha preconceito contra os chamados “invertidos”, porém a sociedade não pensava da mesma forma… Os obrigando a viver o amor na clandestinidade, escondidos e perseguidos como criminosos, quanta injustiça. Seria esse o futuro que queria para si mesma? Estaria disposta a trocar todo o conforto conquistado?
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  O som da campainha a arrancou de seus pensamentos. Quem poderia ser àquela hora? Bom, pelo menos uma visita a faria se distrair de certos pensamentos, mesmo que por alguns instantes.
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  Ela caminhou até a porta e por pouco não enfartou ao se deparar com a secretária na sua frente.
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  — Olá, Clarice, não é mesmo?
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  Se sentindo como se tivesse levado um soco no estômago, a dama da sociedade só foi capaz de fazer que sim com a cabeça.
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  — Sei que pessoas como você não devem guardar os rostos dos subalternos…
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  “Você não poderia estar mais errada, pois guardei os seus traços muito bem” a artista pensou consigo mesma antes de cruzar os braços a fim de disfarçar o nervosismo.
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  — Por isso vou me apresentar. Sou Zélia Rangel, secretária do seu marido. Aquela em que você derramou champanhe hoje mais cedo… — A empregada da perfumaria diminuiu a voz propositalmente na última parte, visando não despertar certas lembranças na esposa do patrão.
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  — Ah, sim, me lembro de você — começou a fitando de cima a baixo tentando de forma inútil evitar os arrepios que insistiam em subir por suas pernas.
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  Zélia, por sua vez, evitou encará-la nos olhos, já prevendo os insultos que viriam a seguir, afinal era isso que esse tipo de gente fazia com pessoas como ela. Contudo, para sua surpresa, a madame sedutora de forma gentil continuou:
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  — Sinto muito mais uma vez, você tinha razão, eu fui descuidada, tinha muitas coisas na cabeça naquele momento.
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  “Na cabeça realmente não, porém em outras partes do corpo...” a secretária pensou consigo mesma.
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  — Por isso acabei não vendo os contratos na sua mão e acabei nem ajudando. Eu poderia ter falado com meu marido, dizer que não foi sua culpa…
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  Ao contrário do que estava acostumada a receber da elite, Zélia não notou qualquer sinal de falsidade nas falas da aspirante a artista. Não havia dúvidas de que estava sendo sincera. Isso tornava sua missão ainda mais fácil.
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  — Imagina, tudo bem, ele não me demitiu nem nada.
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  — Que bom, eu não ia me perdoar se ele tivesse feito isso… — E agora posso te ver mais vezes, acrescentou mentalmente antes de se repreender.
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  — Mesmo assim, eu não tinha direito de falar com você daquela forma, mesmo que não fosse, você sabe…
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  — A esposa do dono.
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  — Isso. Eu trouxe um presente em sinal de paz, não sei se você conhece, mas são…
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  Clarice colocou os olhos no objeto e não pôde acreditar. Como a atraente trabalhadora teria descoberto suas origens e lembranças?
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  — Uma flor da Imperatriz. — Ela não se preocupou em conter o sorriso que surgiu de forma involuntária em seus lábios.
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  — Sim, então pelo jeito já ouviu falar…
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  — Na verdade…
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  Ela fez sinal para que a assistente de Juliano atravessasse a porta. Zélia colocou os pés trêmulos sobre os azulejos que provavelmente haviam custado um ano de seu salário. Seu olhar foi imediatamente atraído para os inúmeros quadros espalhados pelas paredes verde limão. Todos retratando as mesmas flores que haviam chamado sua atenção em meio a tantas no dia anterior. Não podia ser uma simples coincidência
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  — Realmente não mentiu. Gosta mesmo delas. — A visitante apontou para as obras penduradas
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  — São minhas favoritas.
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  A afirmação fez Zélia sorrir satisfeita por ter confiado em seu instinto.
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  — Suas e pelo jeito desse artista também!
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  Clarice suspirou, não costumava se gabar de suas obras, contudo por alguma razão desconhecida, se sentia à vontade o suficiente com a secretária para revelar:
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  — Na verdade, eu os pintei.
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  — Uau, então definitivamente não é uma desastrada!
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  As duas se perderam nos olhos uma da outra por algum instante. Zélia imaginou se ela ainda estaria com a lingerie por baixo daquele vestido preto que infelizmente não mostrava o bastante. Clarice, por sua vez, sentiu uma vontade enorme de continuar o desenho para muito além do rosto… No entanto, antes que uma das duas fosse capaz de cometer tal loucura, a razão de Clarice a fez despertar.
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  — Bom, obrigada pela flor. — Sua voz saiu tímida enquanto ela tentava esconder o turbilhão de emoções que se passava em seu peito.
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  — Não foi nada, eu já vou indo.
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  Clarice sabia que era o melhor para todos, contudo algo dentro de seu peito gritava para que impedisse a secretária de sair por aquela porta.
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  — Espera, você veio até aqui e foi muito gentil! Não quer ficar para jantar?
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  Da mesma forma que a madame, Zélia também estava ciente de que a melhor decisão seria recusar o convite, no entanto a ideia de passar mais tempo com a encantadora esposa do patrão era suficientemente tentadora para fazê-la ignorar a razão.
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  — Bom, não é uma boa ideia, quer dizer, eu conheço seu marido o suficiente para saber que ele não gostaria de me ver aqui… — afirmou sem entrar em detalhes.
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  A aspirante a artista suspirou, realmente Juliano às vezes poderia ser o homem mais rude do Rio de Janeiro, porém ela ainda tinha artimanhas o suficiente para convencê-lo.
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  — Fique tranquila, eu sou a dona dessa casa, é minha convidada e te prometo que o senhor Alencar não lhe faltará com educação na minha presença.
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  A confiança de Clarice e a forma como ela havia se referido ao marido de forma tão fria, fizeram outro sorriso surgir nos lábios de Zélia, que sem pensar duas vezes aceitou o convite, contudo não iria ficar parada vendo a gentil anfitriã organizar tudo. Mesmo tendo inúmeros empregados e uma governanta, Clarice ainda gostava de realizar algumas tarefas sozinha, como por exemplo arrumar a mesa.
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  Zélia segurou os pratos de porcelana como se fossem moedas de ouro. A empregada da perfumaria nunca havia chegado tão perto de um artefato tão valioso. A raiva subiu em seu peito mais uma vez ao se dar conta de que enquanto um homem tão arrogante quanto Juliano tinha acesso a tantos luxos, ela mal sabia se conseguiria pagar o aluguel de um quarto minúsculo em uma pensão no subúrbio da cidade. Sua ira, no entanto, se dissolveu quando a doce voz de Clarice indagou.
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  — Juliano e eu ganhamos esse conjunto de casamento do homem que se tornou o atual prefeito… Para ser sincera eu achei super brega, mas claro, não pude dizer nada, tive que sorrir e tecer elogios a esse tom de azul super sem graça, como uma verdadeira pateta.
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  A afirmação fez Zélia cair na risada.
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  — Eu posso imaginar, quer dizer, com aquele bigodinho ridículo é mesmo impossível levá-lo a sério.
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  Foi a vez de Clarice gargalhar e de repente ambas as risadas se juntaram em uma só, como se tivessem sido feitas para coexistirem.
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  — Eu sei que você, como artista, tem sua visão sobre os tons de cores, mas eu nunca vi um prato tão elegante e…
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  — Se gostou, pode ficar para você!
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  — Sério?
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  — Claro, afinal nunca mais vou conseguir encará-los sem me lembrar do bigode horrendo do prefeito.
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  Zélia sorriu satisfeita enquanto indagava sobre como uma mulher tão autêntica, divertida, charmosa e atraente teria ido parar no altar com um ser humano tão desprezível quanto o dono da perfumaria.
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  — Obrigada. — Sua voz saiu em forma de um sussurro.
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  — Imagina, é o mínimo! — Em um movimento descuidado, a dona da casa segurou de leve a mão da secretária e esse pequeno gesto foi o suficiente para desencadear mais uma cadeia de arrepios por todo o seu corpo. Droga. Contudo, antes que tivesse a chance de cometer alguma loucura ainda maior, uma voz masculina a impediu.
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  — O que está acontecendo aqui? — Juliano cruzou os braços enquanto as fitava em desaprovação.
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  Clarice sentiu seu coração sair pela boca, como se tivesse acabado de ter sido pega cometendo adultério, quer dizer, não havia acontecido nada demais… pelos menos até aquele instante, afinal, se o marido não tivesse chegado, ela não sabia até onde os arrepios em seu corpo seriam capazes de levá-la.
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  — Ah, Juliano, oi. Não preciso nem perguntar se conhece a Zélia.
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  — Claro, minha secretária que não deveria estar aqui.
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  — Não seja grosseiro. Ela foi muito gentil vindo até aqui. Então a convidei para jantar!
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  — Clarice, está maluca? Quantas vezes já te alertei sobre a proximidade com os subalternos.
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  O magnata advertiu como se a secretária não estivesse ali.
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  — Juliano, olha a educação, não me faça passar vergonha. Zélia é uma moça muito educada!
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  — Educada? Ela te ofendeu.
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  — Sim, porque eu, em um momento de descuido, molhei os contratos que ela passou a manhã inteira fazendo. Por isso, se ainda estiver bravo, fique bravo comigo, agora será que podemos jantar?
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  O empresário encarou a assistente como se estivesse diante de uma praga que queria eliminar, porém, em respeito a esposa, ele se sentou e passou o resto do jantar em silêncio. Zélia e Clarice no entanto conversaram sobre arte, moda e tudo mais, como se já se conhecem há séculos.
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  — Muito bem, eu agradeço a hospitalidade, Clarice. — Ela omitiu o nome do patrão justamente com a intenção de provocá-lo. — Porém agora realmente preciso ir.
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  Contudo antes que ela tivesse a chance de girar a maçaneta, um trovão a impediu.
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  A dona da casa olhou pela janela antes de afirmar:
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  — Está caindo um temporal lá fora, tem certeza de que vai sair assim?
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  — Imagina, já encarei situação muito piores. Bom, minha casa não é muito longe, então a pé devo chegar em uns vinte minutos.
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  Clarice se horrorizou.
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  — A pé? Nessa tempestade, céus. Claro que não, imagina, pode pegar uma pneumonia, nós temos espeço o bastante aqui.
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  Juliano, que até o momento não estava prestando atenção na conversa, se manifestou.
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  — O quê? Uma subalterna dormindo em um dos meus quartos de hóspedes? Nem pensar.
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  — Juliano, eu não vou deixar a pobre da moça ir na chuva desse jeito. — A aspirante a artista se impôs.
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  Mas uma vez, o magnata suspirou antes de ceder.
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  — Certo, ela pode ficar, porém dorme no sofá.
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  — Juliano, isso é…
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  — Não, Clarisse, imagina, o sofá está ótimo, já dormi em lugares muito piores… — se limitou a explicar.
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  — Tem certeza?
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  — Claro!
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  — Bom, se está resolvido, eu vou dormir, mas espero não te ver aqui amanhã. — Ele apontou os olhos como armas em direção a secretária antes de se retirar.
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  — Não liga para ele, o Juliano pode ser rude às vezes… — A dona da casa se explicou.
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  — Imagina, sei bem como é, de toda forma, obrigada por me defender.
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  — Imagina, eu não fiz nada demais.
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  — Fez sim, quer dizer, ninguém nunca foi tão gentil comigo!
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  Clarice sentiu suas bochechas queimarem, ela seria capaz de esquecer todas as regras de etiqueta para provar o gosto daqueles lábios proibidos, porém a razão novamente a impediu.
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  — Bom, eu vou pegar uma roupa de cama limpa para você.
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  As tempestades sempre foram motivo de terror para Zélia, talvez porque tenha crescido em uma casa com teto de madeira frágil. Seu coração saltava a cada relâmpago, porém não poderia gritar e correr o risco de acordar o rabugento do patrão, então, em uma tentativa de se acalmar, ela foi até a cozinha na ponta dos pés. Contudo, não evitou um grito quando viu uma sombra se mexendo.
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  A luz se acendeu segundos depois, revelando o belo rosto de Clarice à sua frente.
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Lelen

Nossinhora, a Clarice aparecendo igual assombração no final do capítulo OUASBDNOIASDO
E Juliano não dá uma dentro, né? O ranço só aumenta a cada aparição. E aí, será que o romance começa agora?

Kelsea

kkkkkkkkkkkkk O Juliano não tem jeito, como dizem , ele não se ajuda KKKKK Será que essas duas vão se entregar ao sentimento???

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