Pandemonium

  Os quatro amigos chegaram à casa de Samuel em poucos minutos. Realmente, era fácil saber qual era.

  A única casa laranja e branca que se destacava no lugar, recebendo ainda mais destaque por fitas amarelas da perícia.

  A vizinhança estava quase que vazia. Ninguém queria estar perto demais de uma casa onde ocorreu um assassinato ou um suicídio. %Candice% agradecia por às vezes as pessoas serem supersticiosas demais naqueles momentos, senão jamais conseguiriam entrar na casa de Sam sem serem vistos e denunciados.

  — %Candy%, a porta está trancada! — %Michael% choramingou parecendo desesperado.

  — Se bem conheço Sam, deve ter uma janela aberta aqui e uma chave extra em algum desses vasos — %Candice% murmurou apontando os tais vasos e começando a procurar por alguma janela sem travas. — Perfeito! — exclamou assim que a encontrou. — Vamos entrar, pessoal, alguém pode estar nos vendo — sibilou ela antes de se enfiar para dentro da casa pela janela.

  Apesar de ter acabado de ser o cenário de um assassinato, a casa de Samuel Hallen era bastante organizada, tirando o fato do corrimão no alto da escadaria estar partido e as marcas da perícia estarem evidentes. A casa toda era ampla e clara. %Candy% sorriu sem querer ao ver alguns retratos dela com a família Hallen pendurados na parede.

  — Pessoal, precisamos de respostas — %Mike% murmurou se jogando no sofá da sala de visitas da casa.

  — Ah, claro! Acabei me esquecendo do que ia dizer com toda essa euforia — %Michelle% murmurou pegando sua mochila e sentando numa poltrona.

  — O que é isso? — %Michael% perguntou erguendo a sobrancelha para as coisas que a amiga estava colocando na mesa de centro.

  — Algumas coisas que podem nos ajudar. Quando você disse sobre sua irmã ficar lendo coisas esotéricas, me lembrei do meu tempo de romances góticos... — %Michelle% murmurou abrindo seus livros em cima da mesa.

  — Uhum, e no que isso ajuda? — %Mark% perguntou seriamente preocupado com a sanidade da garota.

  — Tem algumas lendas específicas nesses livros. Como matar bruxas, espíritos, acabar com essa maldição.

  — Garota, você me dá medo — %Mike% murmurou um tanto assustado, mas prestando atenção no que a amiga dizia.

  — Certo, e o que temos que fazer? — %Candice% perguntou nervosa.

  — Dizem que precisamos queimar o corpo da feiticeira.

  — Ah, ótimo! Como vamos saber onde ela está enterrada ou coisa assim? — %Michael% perguntou sem esperanças.

  Todos se calaram por um tempo, pensativos.

  %Candice% sabia que estava deixando passar alguma informação importante para solucionar aquele problema.

  — Ah! Sam às vezes testava jogos e ele devia estar testando esse. Com toda a certeza ele tem o endereço ou o telefone dos desenvolvedores, eles podem saber de algo sobre o jogo! — %Candy% exclamou se levantando num pulo.

  — Erm... %Candy%, os peritos reviraram a casa do chão até o teto e não encontraram nada — %Mike% murmurou frustrado.

  — Porque eles não conheciam Sam. — Ela correu para fora da sala subindo as escadas. Logo os outros a acompanharam.

  — Certo, o que estamos procurando aqui? — %Mark% perguntou encarando a organização do quarto de Samuel Hallen.

  — Hum... Esse jogo devia ser um beta proibido ou algo do tipo, então Sam não deixaria as informações a mostra — %Candice% murmurou tentando abrir o gabinete do computador que havia no quarto. — Vamos, Sam, sei que escondeu aqui! — ela resmungou. — Ah, graças a Deus! — A moça finalmente conseguiu abrir o compartimento puxando algumas folhas e um CD de lá de dentro.

  — Mas hein? — %Michael% exclamou perplexo.

  — Sam costumava guardar o backups e coisas importantes aqui. — %Candice% deu de ombros examinando as folhas que encontrara. — Bingo! O único endereço, deve ser este o lugar. — Ela estendeu o pequeno pedaço de papel aos amigos.

  %Mark% pegou o papel e leu com atenção. O endereço indicava uma outra cidade.

  Os quatro desceram as escadas e voltaram à sala de visitas.

  — Ok, então só precisamos descobrir onde ela foi enterrada e queimar os restos dela? — %Mike% perguntou parecendo um pouco assustado, mas também aliviado por encontrarem uma solução.

  — Na verdade, antes disso precisamos trazer o espírito dela de volta para o corpo — %Michelle% explicou lendo um dos livros. — Senão a alma dela continuará vagando.

  — E como se faz isso?! — %Michael% voltou a se desesperar.

  — Precisamos de três pregos. Pregamos um em sua testa, outro em seu coração e outro em seu pulso. Depois que fizermos isto, é só queimar a vaca — %Michelle% falou com tanta raiva que todos puderam sentir. — Mas o que me intriga é como ela foi invocada... Para chamar um espírito é preciso um ritual forte e...

  — A oração no início do jogo... — %Candice% se encolheu no sofá um tanto assustada. — Quem quer que tenha feito esse jogo, sabia muito bem o que estava fazendo.

  — Espero que isso seja o suficiente para matar aquela velha... — %Mark% murmurou mordendo o lábio inferior.

  — É. Todos nós esperamos — %Michael% murmurou engolindo em seco.

  Algum tempo depois de discutirem bastante e fazerem planos para acabar com a maldição em que haviam se metido, os quatro se dispersaram pela casa, pensando nas melhores maneiras de abordarem os possíveis criadores e desenvolvedores do jogo. Apesar de %Michelle% ter dado a maior parte das ideias e parecer a garota mais vingativa do momento, ela se sentia desmoronando por dentro. Não sabia o que faria sem %Greg% quando todo aquele pesadelo acabasse, isto é, se um dia ele acabasse.

  Pensando nisso, ela resolveu tomar um ar do lado de fora da casa, precisava ficar sozinha para colocar a cabeça no lugar e talvez chorar um pouco mais sua perda. Observava a rua deserta quando sentiu aquele calafrio. %Michelle% sabia que havia algo de errado. Sentia alguém a observar, mas sabia que não havia ninguém naquele lugar, a não ser ela e seus amigos.

  — Alguém viu a %Michelle%? — %Mike% perguntou de repente se dando conta do sumiço da amiga.

  — Não, será que não está na sala? — %Candice% perguntou puxando os dois rapazes em direção ao lugar citado. — Onde ela se meteu? — replicou ao perceber que %Michelle% não estava lá.

  — Pessoal, ela estava jogando? — %Mark% murmurou repentinamente encarando um notebook aberto.

  — Não, ela repugna esse game agora. Tudo o que ela quer é ver a "bruxa enrugada" morrer — %Mike% murmurou imitando a voz da amiga na última parte.

  — Só que... Erm... — O rapaz apontou para a tela do aparelho, que exibia a personagem de %Michelle% andando em algum lugar.

  — Aah, bruxa maldita! — %Candice% vociferou no mesmo instante em que um vulto passou por trás da personagem da amiga.

  A moça plugou um dos controles disponíveis no aparelho e tentou mover %Michelle% para outro lugar, mas foi em vão, o personagem não respondia aos comandos.

  — MERDA! — %Candy% berrou antes de sair correndo pela porta da frente da casa de Sam aos gritos, procurando pela amiga.

  — %MICHELLE%! %MICHELLE%! APARECE! — %Michael% gritou logo atrás de %Candice% que agora estava parada no meio da rua tentando localizar a amiga.

  Em um instante os três na rua puderam ouvir o grito da amiga vindo de uma casa semi-construída do lado direito da rua.

  — Vamos! — %Mike% gritou já correndo em direção à porta do lugar.

  %Mark% e %Candice% o acompanharam completamente aflitos. O que teria acontecido?

  %Michael% adentrou a casa aos tropeços e logo ouviu a voz de %Michelle% resmungar coisas no andar de cima. Com certa cautela os três subiram as escadas precárias e improvisadas de madeira até o segundo andar. Depois de se livrarem de algumas cortinas de plástico, se depararam com %Michelle% pendurada pelo pé no teto por uma corrente pesada. Mas o que mais os surpreendeu foi ver a vilã do game que os amaldiçoou bem a sua frente.

  — Caramba... — %Mike% murmurou boquiaberto. %Michelle% atirava pregos enormes em direção à mulher fantasmagórica à sua frente com uma pistola especial, mas tudo o que conseguia atingir era a parede logo atrás da bruxa.

  — Sua vaca! — ela gritou enfurecida atirando mais e mais pregos. — Levou minhas amigas, levou Sam e o MEU %Greg%! — %Michelle% berrou sem parar de atirar. — VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO! — gritou mais uma vez. A pistola de pregos fez um click e parou de atirar, já não havia mais pregos. — Não tinha o direito... — A garota deixou algumas lágrimas escorrerem por seu rosto, jogando a pistola no chão se dando por vencida.

  — %Michelle%, fica calma, vamos te tirar daí! — %Candy% gritou avançando em direção à amiga.

  — NÃO! — a mesma vociferou.

  A condessa Bathory sorriu parecendo satisfeita e foi se aproximando.

  %Michelle% a encarou com total desprezo.

  — Você levou tudo que eu tinha ao matar %Greg% pra usar ele como fonte da juventude. — Ela riu amargamente com a comparação. — Mas não vai me usar pra isso — ela resmungou e, num lance rápido, pegou um canivete que havia lhe sido dado de presente pelas irmãs Merys e fez um corte fundo em sua própria garganta. No mesmo instante a corrente em seu pé se desprendeu a derrubando no chão.

  — %MICHELLE%! — Os três que assistiam correram em sua direção horrorizados.

  — Ah, %Michelle%, por que fez isso? — %Mike% sussurrou sem ter forças para fazer algo além disso.

  — Eu vou ficar com o %Greg%, %Michael%. Vou ficar com ele pra sempre... — %Michelle% sussurrou de volta com dificuldade enquanto sufocava lentamente com seu próprio sangue, ainda tinha lágrimas nos olhos.

  — Ah, %Michelle%... — %Mike% murmurou novamente começando a ficar vermelho por segurar o choro.

  — Vão, precisam parar a bruxa. Por todos nós. — A garota quase inconsciente deu um meio sorriso. — Não se preocupem, ficarei com %Greg% em um... — Sua voz foi baixando e seu corpo relaxou, sem vida.

  — Ah, sua boba, você precisava ficar com a gente — %Candice% choramingou abraçando o corpo inerte da amiga, completamente ensanguentado.

  Depois de instantes, %Michael% se levantou pisando duramente no chão. Ele estava determinado a acabar com a Condessa em nome de todos que já haviam morrido por culpa da mesma.

  Ao seu lado, ainda ajoelhado junto de %Candy%, %Mark% fungou com aparência derrotada. Como poderiam parar aquele monstro a tempo de se salvarem? Como poderiam lutar com algo que conseguia tocá-los, mas eles não podiam fazer o mesmo? Seria esse o fim de tudo?

  As perguntas eram muitas, mas as respostas eram nulas.