O Casaco Vermelho


Escrita porBetiza
Editada por Lelen


Parte 9

Tempo estimado de leitura: 11 minutos

  Quando o carro parou em frente ao restaurante, %Sunhee% franziu levemente o cenho, curiosa. O letreiro de madeira escura e luminárias pendentes com luz âmbar davam ao lugar um charme moderno, acolhedor. Um nome elegante em caligrafia simples estava gravado acima da entrada: “Dal & Noite”.
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  Ela virou-se levemente para %Eric%, confusa.
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  — Isso aqui não existia na minha época, né?
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  — Não — ele sorriu, desligando o carro. — É novo. Quer dizer… relativamente. Inauguraram há uns três anos. O dono é o Minjae — lembra dele? Era do nosso terceiro ano.
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  %Sunhee% arregalou os olhos, surpresa.
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  — O Minjae? Que só comia pão recheado com leite de banana no recreio?
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  — Esse mesmo. Agora ele serve polvo caramelizado com molho de gengibre artesanal. O mundo gira.
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  Ela soltou uma risada, balançando a cabeça em descrença.
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  — Nunca imaginaria.
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  — Pois é. A vida é cheia dessas — ele disse, saindo do carro e correndo para abrir a porta do lado dela.
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  %Sunhee% entrou com ele no restaurante e imediatamente sentiu o contraste com a memória que tinha da cidade. Era um espaço pequeno, mas extremamente bem decorado — paredes de tijolos aparentes, quadros com ilustrações minimalistas de flores e paisagens de Yulha, música ambiente baixa e mesas com velas acesas em suportes de vidro.
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  O ar cheirava a ervas frescas e algo levemente adocicado. A luz era quente, suave, como se o lugar inteiro tivesse sido projetado para desacelerar o tempo.
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  %Eric% cumprimentou o garçom com um aceno e a conduziu até uma mesa próxima à janela, de onde se via parte da rua iluminada pelas lanternas da praça principal.
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  — Você e o Minjae são próximos?
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  — Nos encontramos de vez em quando. Ele sempre me prometeu uma mesa aqui “quando eu arranjasse alguém que valesse a pena trazer”.
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  %Sunhee% desviou o olhar com um leve sorriso.
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  — E agora você trouxe uma colega de trabalho?
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  — É. — Ele a olhou, firme, sem desviar. — E também a garota que fez parte de toda a minha infância.
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  Ela parou por um segundo, sem saber o que responder. Mas o sorriso que escapou em seguida dizia tudo.
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  Sim. Ela estava exatamente onde devia estar.
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  O garçom trouxe água com limão e um cardápio enxuto, mas requintado. %Sunhee% fingiu se concentrar nas opções, mas seus olhos escapavam vez ou outra para %Eric% do outro lado da mesa. Ele estava mais arrumado do que de costume — o casaco vermelho destacando-se sob a luz morna do restaurante, os cabelos penteados de um jeito que parecia casual demais para ser só coincidência.
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  Ela sabia. Ele tinha se preparado.
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  — Vai querer o polvo caramelizado? — ele perguntou, escondendo o sorriso atrás do cardápio.
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  — Minjae ficaria ofendido se eu recusasse, né?
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  — Extremamente. Ele até ameaça cortar laços de amizade com quem pede hambúrguer aqui.
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  Ela riu, balançando a cabeça. O garçom logo retornou, anotou os pedidos e deixou uma pequena garrafa de vinho local sobre a mesa. Quando se afastou, o silêncio que ficou entre eles não foi desconfortável — foi o tipo de silêncio que escuta.
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  %Eric% girava levemente a taça entre os dedos. Ela observava.
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  — É estranho estar aqui — ela disse por fim, apoiando os cotovelos de leve na mesa, inclinando-se um pouco à frente. — Não só no restaurante… mas aqui. Com você.
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  — Estranho de bom ou estranho de “o que eu tô fazendo”?
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  — Dos dois jeitos — ela admitiu, sorrindo. — Tem algo muito familiar em estar com você. Mas ao mesmo tempo, tudo é diferente agora. Você é diferente.
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  — E você também. — Ele disse sem hesitar, os olhos fixos nela. — Mas o jeito como você ajeita o cabelo quando tá nervosa… ainda é o mesmo.
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  %Sunhee% ergueu as sobrancelhas, surpresa.
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  — Você reparava nisso?
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  — Reparava em tudo — ele respondeu, dando um gole no vinho como se aquilo não fosse nada demais.
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  Mas era. E ela sabia.
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  Depois do pedido feito, os dois voltaram a se encarar quando ficaram sozinhos, e ela levou o vinho até os lábios. O ambiente parecia mais silencioso agora que estavam sozinhos — ou talvez fosse só o peso dos olhares que se reencontravam.
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  Ela não estava exatamente nervosa… mas havia uma tensão doce no ar, como se qualquer palavra errada pudesse despertar uma tempestade ou um beijo. E, naquele momento, ela não sabia o que temia mais.
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  %Eric% ainda a observava, sem pressa, com aquela expressão que ela lembrava da infância — a mesma de quando ele prestava atenção demais nas coisas simples. Só que agora, o olhar dele era mais maduro. Mais homem.
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  — Você ficou diferente — ele disse, quebrando o silêncio com a voz baixa, quase reflexiva. — Mas não de um jeito distante… É como se você fosse a mesma, só… mais você.
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  Ela pousou a taça devagar sobre a mesa, um sorriso hesitante nos lábios.
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  — Eu não sei se isso é um elogio ou uma tentativa de me desconcertar.
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  — As duas coisas. — ele admitiu, sem desviar o olhar. — Você ainda fica sem jeito quando alguém te elogia.
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  %Sunhee% soltou uma risada leve, baixa, e apoiou os cotovelos na beirada da mesa, entrelaçando os dedos.
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  — E você ainda fala como se soubesse mais de mim do que eu mesma.
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  — Talvez saiba. Ou talvez eu só tenha prestado atenção de verdade.
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  Ela mordeu o canto do lábio, desviando os olhos por um instante, apenas para não se perder demais nos dele.
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  — Sabe o que é mais louco disso tudo? — ela disse, depois de um silêncio breve. — Quando eu era mais nova… e gostava de você… achava que você nunca ia olhar pra mim desse jeito.
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  — E agora?
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  Ela voltou a encará-lo. Os olhos dele estavam fixos nos dela. Não havia ironia, nem insegurança. Só certeza.
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  — Agora eu fico me perguntando se eu consigo continuar fingindo que isso aqui é só um jantar entre amigos.
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  %Eric% encostou o braço na mesa, inclinando-se um pouco para a frente.
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  — E você consegue?
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  %Sunhee% não respondeu de imediato. O calor do vinho, o calor do olhar dele… tudo estava misturado agora.
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  — Ainda tô tentando — ela sussurrou. — Mas não prometo durar até a sobremesa.
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  Ele sorriu, e a tensão entre os dois se tornou quase visível. Mas antes que qualquer gesto tomasse o espaço entre eles, o garçom reapareceu com os pratos, como se o universo decidisse que mais alguns minutos de espera seriam necessários.
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  %Sunhee% se recostou, retomando o controle com um suspiro leve.
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  — Salvos pela comida.
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  — Temporariamente. — %Eric% respondeu, com os olhos ainda dizendo tudo o que as palavras não diziam.
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  Comeram devagar, entre comentários sobre o sabor e risos abafados por memórias antigas: da vez em que ela quase desmaiou ao ver um porco vivo em uma fazenda da escola, ou de quando ele caiu de cara no rio porque tentou atravessar com uma bicicleta com o pneu furado.
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  — Você me empurrou — ele acusou.
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  — Eu salvei sua mochila de afundar. É diferente.
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  — E ainda fez eu levar a culpa sozinho.
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  — Eu estava protegendo a nossa reputação. — Ela riu, e ele acompanhou.
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  Quando o prato se esvaziou e o garçom ofereceu sobremesa, nenhum dos dois aceitou. Não estavam com pressa. Mas também sabiam que aquele jantar não era sobre comida.
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  — Você sabia que eu gostava de você, naquela época? — ela soltou, baixinho, quase como se testasse o ar.
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  %Eric% demorou meio segundo para responder.
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  — Eu sabia. Mas achava que era uma daquelas coisas que a gente guarda e supera.
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  — E superou?
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  Ele pousou a taça, entrelaçou os dedos sobre a mesa e olhou para ela com mais intensidade do que em qualquer outro momento naquela noite.
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  — Não completamente.
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  O coração de %Sunhee% parou por um segundo — ou pelo menos pareceu.
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  Ela queria responder, mas não conseguiu. O olhar dele era firme, tranquilo… e ao mesmo tempo tão cheio de emoção que parecia querer atravessar a mesa.
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  Ela desviou por um instante, baixando os olhos para o guardanapo. Brincou com a borda, nervosa, sorrindo sem mostrar os dentes.
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  — Acho que o vinho subiu.
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  — Ou é só tudo o que a gente não teve coragem de falar por muito tempo — ele disse.
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  Mais um silêncio. Mais um olhar.
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  Mas agora, havia algo ali entre eles. Quente. Vivo. Quase palpável.
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  Se não fosse pela mesa no meio, talvez já estivessem mais próximos. Talvez já tivessem se tocado.
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  Mas ainda não era hora.
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  E os dois sabiam disso.
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  O jantar terminou com poucas palavras, mas muitos significados. Os pratos foram retirados, a conta paga, e %Eric% se levantou, oferecendo o braço de novo. Ela aceitou, como se já fosse hábito. Como se nunca tivessem deixado de estar assim — lado a lado.
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