O Casaco Vermelho


Escrita porBetiza
Editada por Lelen


Parte 7

Tempo estimado de leitura: 10 minutos

  Chegou a clínica um tanto quanto nervosa e esfregou as mãos umas nas outras antes de abrir a grande porta de vidro para entrar. %Eric% que estava na recepção, já havia a visto pelo reflexo de vidro e sorriu involuntariamente com a presença dela assim que ela adentrou o espaço.
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  — Você deve estar enjoado da minha cara já… — %Sunhee% riu e então caminhou até o balcão.
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  — Porque eu estaria? Nós dois vivíamos grudados durante a infância, e eu posso te garantir que não enjoei de você mesmo quando você insistia em apanhar frutas nos pomares das casas da vizinhança e corríamos para comer na minha casa ou na sua até às nove da noite.
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  Ela ficou apenas ali, diante dele, ouvindo aquela lembrança escapando de seus lábios com uma naturalidade que doía e aquecia ao mesmo tempo.
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  Era uma imagem tão viva, tão infantil e doce, que fez o peito dela apertar. Porque havia verdade ali — não só na lembrança, mas na forma como ele a guardava. E, principalmente, na forma como ele a dizia: como se ela ainda fosse parte daquilo. Como se ela ainda fosse parte dele.
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  Ela piscou algumas vezes, o sorriso enfraquecendo apenas o suficiente para que ele percebesse algo diferente em seu olhar. Não era tristeza. Era… um reconhecimento. Um reencontro interno.
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  — Eu… — ela começou, ajeitando a alça da bolsa no ombro, tentando manter o tom leve. — Nem sei por que estou surpresa que você lembra disso. Mas estou.
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  — Eu lembro de muitas coisas — %Eric% respondeu, agora um pouco mais sério, mas ainda sorrindo. — Principalmente das boas.
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  %Sunhee% sentiu o coração disparar de novo, mas dessa vez, não de nervosismo.
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  De conexão.
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  E foi com as mãos um pouco trêmulas — mas decididas — que ela puxou o currículo de dentro da bolsa e o colocou sobre o balcão.
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  — Eu vim por causa disso.
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  %Eric% olhou para o papel, depois de volta para ela. E o sorriso que surgiu dessa vez foi mais contido, mas cheio de significado.
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  — Achei que talvez você viesse.
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  %Eric% pegou o currículo com cuidado, como se o papel fosse mais importante do que aparentava. Passou os olhos rapidamente pelas informações, mas não demorou muito. A verdade é que ele não precisava do conteúdo para saber que queria %Sunhee% ali.
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  — Você tem formação em Administração? — ele perguntou, erguendo os olhos para ela com uma expressão de surpresa sincera.
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  — Tenho. Não é nada muito avançado, mas dá pra quebrar um galho com organização, atendimento, planilhas… essas coisas.
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  — E o seu último emprego?
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  — Escritório de contabilidade em Busan. Ficava mais sentada do que qualquer outra coisa, mas aprendi a me virar com clientes difíceis e relatórios mensais. — ela deu um leve sorriso, tentando descontrair.
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  %Eric% assentiu, ainda analisando mais ela do que o currículo.
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  — Sabe, eu estava precisando de alguém com exatamente esse perfil. — disse, apoiando os antebraços no balcão. — A clínica tem crescido, e eu não consigo mais dar conta sozinho da parte de marcação de consultas, registros de atendimento, fornecedores… Fora que você viu ontem: a recepção está sempre vazia, e eu fico indo e vindo como um maluco.
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  — Então você está dizendo que vai me contratar porque sou boa com planilhas… e por pena?
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  — Pena, não. — ele sorriu, abaixando levemente o tom de voz. — Confiança. E talvez um pouco de memória afetiva também.
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  Ela soltou uma risadinha curta, desviando o olhar só por um segundo, antes de voltar a encará-lo.
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  — Então... você vai me contratar mesmo?
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  — Ainda precisa passar pela entrevista oficial, claro — ele respondeu, fazendo um gesto formal com as mãos, como se estivesse brincando de ser chefe. — Mas considerando que você já me salvou de um ataque de alergia quando tinha nove anos e que cuidou melhor do gato do que muita gente cuidaria de um filho… sim, acho que tenho bons motivos.
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  %Sunhee% cruzou os braços, fingindo analisar a proposta.
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  — Ok. Mas eu só aceito se tiver direito a café na recepção e pelo menos uma pausa para alimentar o gato.
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  — Fechado. — %Eric% estendeu a mão por cima do balcão. — Bem-vinda à Clínica %Sohn%, Srta. %Yoon%.
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  Ela apertou a mão dele, sentindo aquele calor conhecido, reconfortante e ao mesmo tempo inquietante percorrer seus dedos.
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  — Obrigada, Sr. %Sohn%. Espero que saiba no que está se metendo.
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  — Espero mesmo que eu saiba — ele murmurou, mais para si do que para ela, sem soltar a mão de imediato.
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  E naquela troca de olhares que se prolongou um pouco além do necessário, havia algo mais do que um simples novo emprego.
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  Era um recomeço.
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  Talvez de carreira.
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  Talvez de algo maior.
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  %Sunhee% pegou os papéis com as duas mãos, lendo com atenção as cláusulas básicas: carga horária, tarefas previstas, salário modesto — mas justo — e início imediato.
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  — Você é sempre assim, direto ao ponto? — perguntou enquanto lia, sem erguer os olhos — Me lembro que na escola você procrastinar um pouco…
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  — Só quando estou prestes a contratar alguém que mexe com minha rotina inteira — ele respondeu com um sorriso no canto dos lábios — Ei! Eu sempre trabalhei muito bem sob pressão e isso virou um hábito, por isso eu procrastinava!
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  Ela mordeu o interior da bochecha para não sorrir mais do que deveria. Quando terminou de ler, assinou no canto inferior da folha com a mão firme, mas o coração acelerado.
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  %Eric% pegou os papeis de volta com um aceno de cabeça satisfeito.
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  — Agora é oficial.
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  — Agora é real. — ela respondeu, encarando a própria assinatura por um segundo antes de ajeitar a bolsa no ombro.
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  — Amanhã às oito?
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  — Oito em ponto — ela confirmou, começando a dar alguns passos em direção à porta.
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  Antes de sair, virou-se de lado e lançou um último olhar para ele.
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  — Obrigada, %Eric%. Por confiar em mim.
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  — Obrigado você, %Sunhee%. Por aparecer.
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  Ela saiu e o sininho da porta tilintou atrás de si, leve, como uma bênção silenciosa.
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  Quando chegou em casa e se jogou no sofá depois de um suspiro baixo, fechou os olhos com força e não conteve o sorriso satisfeito que brotou no rosto, ao se lembrar que agora trabalharia com %Eric%… o gatinho miou tentando subir no sofá, mas sem sucesso.
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  %Sunhee% então se abaixou para pegá-lo no colo e então começou a conversar com ele:
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  — Você não faz ideia do que acabou de acontecer — ela começou, passando os dedos devagar pelas orelhinhas dele. — A sua nova mãe aqui… agora tem um emprego. Nada mal, hein?
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  O bichano miou em resposta, baixinho, como se incentivasse a conversa.
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  — E não é qualquer emprego… — ela continuou, sorrindo. — Eu vou trabalhar com o %Eric%. É, aquele mesmo. O do casaco vermelho. O das frutas roubadas dos vizinhos. O que quase me beijou no sofá ontem à noite, mas foi interrompido por você, aliás.
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  O gato soltou um som curto, quase indignado, e ela riu.
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  — Não vem bancar o inocente. Eu vi muito bem aquela patinha sabotadora, viu?
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  Ele se aninhou mais contra ela, ronronando forte, os olhos já começando a se fechar.
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  — Mas tudo bem. Talvez tenha sido melhor assim. Um quase-beijo dá mais frio na barriga que um beijo de verdade, não dá?
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  Silêncio. Ronronar.
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  — Você acha que ele ficou feliz de verdade por me ver hoje? Ou foi só gentileza? — Ela mordeu levemente o lábio, pensativa. — Porque eu… eu fiquei. Muito. Mas não quero me enganar.
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  O gato esfregou o focinho contra o moletom dela como se respondesse com certeza. Ela sorriu.
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  — Tá bom. Vou confiar em você dessa vez. Mas se ele quebrar meu coração… você vai ter que dividir a cama comigo e me consolar com ronronadas, entendeu?
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  Outro miado curto, preguiçoso.
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  — Combinado.
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  %Sunhee% fechou os olhos por um momento, ainda acariciando o gatinho.
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  Talvez estivesse falando sozinha. Talvez só estivesse se ouvindo pela primeira vez em muito tempo.
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  Mas ali, com o bichano no colo e o coração leve, ela sentia que estava exatamente onde deveria estar.
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  E, de algum jeito silencioso, tudo estava começando a fazer sentido outra vez.
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