Parte 10
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A noite estava mais fria do que quando saíram, mas nem %Eric% nem %Sunhee% pareciam notar. O trajeto de volta foi tranquilo, embalado por uma música suave no rádio e um silêncio confortável que só existe entre pessoas que já se conhecem há muito tempo — mesmo quando ainda estão se redescobrindo.
Quando ele estacionou o carro em frente à casa dela, deixou o motor ligado por um instante, como se aquele momento de pausa tivesse peso demais para ser quebrado de uma vez. A luz do painel iluminava suavemente os rostos dos dois, e lá fora, a rua dormia em silêncio, como todo o resto de Yulha, a não ser pelos casais apaixonados voltando de seus jantares.
%Sunhee% soltou o cinto devagar, mas não se moveu. Ficou ali, com uma das mãos apoiada no colo, a outra brincando com a borda do vestido. %Eric% a observava pelo canto dos olhos, com o mesmo olhar de antes — aquele que dizia mais do que qualquer palavra.
— Obrigada pelo jantar — ela disse, baixinho, ainda sem se virar completamente para ele.
— Eu devia dizer o mesmo — ele respondeu, com um sorriso leve na voz. — Por aceitar. Por ter voltado.
Ela finalmente o encarou, e por um segundo, os dois ficaram apenas ali, com o mundo inteiro em suspenso dentro do carro parado. A tensão que os acompanhou o jantar todo estava ali de novo, pairando entre eles como algo antigo que nunca foi dito em voz alta.
%Eric% desligou o motor e se virou de vez para ela.
— Posso… te acompanhar até a porta?
%Sunhee% assentiu com um sorriso contido, e os dois saíram do carro em sincronia. Caminharam lado a lado até a varanda, passos lentos, como quem estica o tempo.
E então, diante da porta da casa dela, a noite decidiu que era hora.
Diante da porta, %Sunhee% girou devagar a chave na fechadura, mas não entrou de imediato. Ficou ali, com a mão ainda na maçaneta, enquanto sentia %Eric% tão próximo que podia ouvir a respiração dele — firme, contida, como se ele também estivesse esperando algo acontecer.
Ela se virou devagar, e seus olhos se encontraram mais uma vez.
Aquela troca de olhares não era mais silenciosa.
%Eric% ergueu a mão, tocando de leve o rosto dela, com os dedos deslizando até atrás da orelha. Ela fechou os olhos por um segundo, como quem se rende. E então, finalmente, ele a beijou.
Não foi um beijo apressado.
Foi profundo, firme, cheio de tudo o que ficou guardado por anos demais.
As lembranças se misturaram ao toque — mãos pequenas dividindo doces na escola, risadas com os pés sujos de terra, olhos desviados nas tardes de estudo que escondiam sentimentos grandes demais para a idade.
%Sunhee% agarrou a camisa dele com os dedos, como se estivesse se ancorando, e retribuiu o beijo com a mesma intensidade — deixando o corpo falar tudo o que a boca ainda não tinha coragem de dizer.
Quando o ar faltou, ele se afastou só o suficiente para encostar a testa na dela.
— Me diz que isso não é um erro — ele sussurrou, a voz rouca, baixa.
— Não é — ela respondeu sem hesitar. — Mas se você não entrar agora, talvez seja.
Ele sorriu contra os lábios dela e não precisou de convite duas vezes.
A porta fechou com um estalo suave às costas dele, abafando o mundo do lado de fora.
Ela o guiou pela sala em silêncio, como quem já sabia o caminho de cor. Ele a puxou de volta antes que chegassem ao corredor, colando-a contra o próprio corpo e voltando a beijá-la, agora com urgência. O casaco vermelho caiu no chão como uma folha solta, logo seguido pelos sapatos. As mãos dela deslizavam por baixo da camisa dele como se buscassem certezas.
E ele… ele só queria se perder nela.
Entre beijos, risos abafados e suspiros, tropeçaram pelo corredor até o quarto. A luz amarela do abajur revelou os olhos dela brilhando, as bochechas coradas, e ele parou por um instante, só para olhá-la.
— Eu achava que já tinha superado você — ele confessou, os dedos traçando a curva do ombro dela. — Mas acho que, na verdade, eu nunca tentei de verdade.
%Sunhee% segurou o rosto dele com as duas mãos, os olhos fixos nos dele.
— Eu nunca te esqueci, %Eric%. Nem por um segundo.
O beijo que veio depois foi diferente — mais lento, mais íntimo, como se dissessem um ao outro:
você está em casa agora.
As roupas foram ficando pelo chão, uma por uma.
As promessas não ditas ficaram presas entre os toques.
E os corpos, finalmente livres do passado, encontraram abrigo no presente.
Ficaram assim, entre lençois bagunçados e corações acelerados, até que a madrugada chegou sem pedir licença — trazendo com ela o silêncio dos satisfeitos, o cansaço dos inteiros, e o calor de quem não precisa mais procurar o que já tem.
Ali, entre memórias e recomeços, o primeiro amor virou novo amor.
E %Sunhee% soube: tudo o que foi, levou ela até ali. Até ele.
Fim