Namorado de Emergência

Escrita porRay Dias
Editada por Natashia Kitamura

Capítulo 5 • A festa da Letícia

Tempo estimado de leitura: 56 minutos

Miguel terminou de ajeitar a gravata diante do espelho do corredor. A roupa lhe caía impecável, e ele ainda não estava acostumado com a própria imagem tão alinhada. Normalmente era camisa simples, calça jeans e no máximo um blazer para compromissos de trabalho. Mas ali estava ele, vestindo a camisa social 3/4 vinho, a calça de alfaiataria clara em corte reto, a barba feita rente, o cabelo bem penteado. Um suspiro escapou, não por vaidade, mas pela consciência de que pela primeira vez, não iria à festa como Miguel, mas como o namorado de Sofia.
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  Do outro lado do corredor, a porta dela se abriu devagar. Ele se virou e, por um instante, esqueceu de respirar.
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  Sofia surgiu com o vestido verde-musgo que haviam escolhido juntos. O tecido parecia feito para ela, abraçando a cintura, deslizando pelas pernas, deixando os ombros à mostra de forma elegante. O cabelo estava solto em ondas suaves, e um batom discreto, mas fatal, completava o quadro. Sofia parou ao notar o olhar fixo dele e sentiu um arrepio instantâneo.
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  — Uau… — Miguel murmurou, sem conseguir segurar. — Eu achei que tinha te visto deslumbrante nesse vestido na loja, mas não… na loja não era assim.
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  Sofia corou, mordendo o lábio para disfarçar o sorriso.
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  — Você também não tá nada mal… — respondeu, os olhos percorrendo devagar a figura dele. — Tô até achando estranho. Quem diria que você fica bonito de verdade quando se arruma?
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  Ele riu, balançando a cabeça.
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  — Só você pra transformar um elogio em piada.
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  — Não foi piada — ela rebateu, fingindo seriedade. — Só constatação.
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  Os dois ficaram se olhando em silêncio por alguns segundos a mais do que deveriam, até que Sofia se mexeu nervosa, ajeitando a pulseira. O coração dela estava acelerado. Aquilo não era só encenação, não podia ser. Miguel parecia… diferente. Ou talvez fosse ela que não tivesse permitido enxergá-lo assim antes.
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  — Pronta? — ele perguntou, estendendo a mão.
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  — Ahn… sim.
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  Sofia colocou a mão na dele, sentindo o calor imediato que a percorreu até o peito. Miguel percebeu o leve tremor dos dedos dela, e apertou de forma sutil, como quem diz: tô aqui, pode confiar.
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  No corredor do prédio, quando a porta do elevador se abriu, dona Celina — a vizinha mais velha e fofoqueira oficial do andar — apareceu com uma sacola de compras. Ao ver os dois juntos, lado a lado, de mãos dadas, arregalou os olhos e soltou sem filtro:
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  — Mas olha só… finalmente vocês assumiram, né? Eu sempre falei que era só questão de tempo!
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  Sofia quase engasgou no ar, soltando a mão de Miguel de repente.
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  — Não, dona Celina, a senhora tá confundindo…
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  — Confundindo nada! — a vizinha retrucou, animada. — Essa química não engana ninguém. Esses olhares, essas risadinhas no corredor… ah, meus filhos, aproveitem a juventude!
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  Miguel, sem perder a compostura, apenas sorriu educado.
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  — Obrigado, dona Celina. A senhora não perde uma, hein?
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  — Eu só observo! — ela respondeu, piscando para ele antes de seguir pelo corredor.
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  Assim que a vizinha sumiu, Sofia bufou.
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  — Viu? É por isso que não dá pra dar bandeira. A gente mal começou a farsa e já tem gente casando a gente no andar!
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  Miguel riu baixo.
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  — Relaxe. Pensa pelo lado bom: se convenceu a dona Celina, convence qualquer um.
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  O elevador chegou e eles entraram. O silêncio que se instalou foi diferente. Carregado, elétrico. Sofia encarava o próprio reflexo no espelho do elevador, tentando se convencer de que estava preparada. Mas, por dentro, o medo se agigantava. Não só o medo de encarar Leonardo. O medo de encarar os próprios sentimentos por Miguel, que já não pareciam tão “imaginários”.
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  No estacionamento, foram até o carro dele. Miguel abriu a porta do passageiro como um cavalheiro improvisado.
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  — Milady.
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  — Muito engraçadinho — ela resmungou, mas entrou sorrindo.
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  Quando ele deu a volta e ligou o carro, o clima ficou mais leve. No rádio, uma música pop qualquer preenchia o espaço, mas a conversa logo tomou conta.
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  — Eu tô nervosa — Sofia admitiu, mexendo nos dedos. — Todo mundo vai ficar olhando, comentando… e o Leonardo vai estar lá.
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  — E é exatamente por isso que eu tô indo contigo. — Miguel disse firme. — Você não tem nada pra provar, Sofia. Nem pra ele, nem pra ninguém.
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  Ela o olhou de lado, absorvendo aquela segurança. Miguel sempre tivera esse efeito: transformar os monstros dela em pequenas sombras.
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  — E se eu travar? — perguntou baixinho.
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  Ele sorriu, mantendo os olhos na rua.
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  — Então eu invento alguma piada horrível e todo mundo vai rir de mim em vez de olhar pra você.
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  Sofia riu, relaxando um pouco.
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  — Parece típico.
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  — Funciona desde 2012 — ele respondeu, brincalhão.
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  O carro seguiu pelas avenidas iluminadas, enquanto o coração dela oscilava entre ansiedade e um calor inesperado cada vez que ele olhava rápido em sua direção.
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  — Miguel… — ela chamou, hesitante. — Você já pensou se… se a gente acabar acreditando demais nessa mentira?
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  Ele levou alguns segundos antes de responder, sério.
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  — Já. Mas prefiro pensar que, se acreditar demais, pelo menos vai ser porque a gente deu o nosso melhor.
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  Sofia não soube o que dizer. Então apenas olhou para a janela, tentando esconder o rubor que lhe subia às bochechas.
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  Chegaram à casa de Letícia pouco depois das nove. A fachada estava iluminada, carros estacionados pela rua inteira, música ecoando de dentro. A casa que não era uma mansão, mas era bastante chique parecia vibrar em festa.
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  Miguel estacionou a poucos metros do portão, desligou o carro e virou-se para ela.
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  — Pronta para brilhar?
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  Sofia respirou fundo.
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  — Se eu cair de cara de salto, você vai fingir que foi coreografia, certo?
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  Ele gargalhou.
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  — Claro. Vou até aplaudir.
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  Desceram juntos. Miguel estendeu o braço para ela, que hesitou apenas um instante antes de entrelaçar o braço no dele. O toque era firme, protetor. O coração dela bateu mais forte, mas também encontrou coragem.
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  Quando atravessaram o portão, foi como se o tempo desse uma pausa. Vários olhares se voltaram para eles de imediato: Sofia, elegante e confiante ao lado de Miguel, impecável e descontraído. Murmúrios surgiram, celulares foram erguidos discretamente, e até Letícia, do alto da escadaria, comentou em voz alta:
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  — Olha só quem chegou arrasando!
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  Camila, que já circulava entre os convidados, observou à distância com um sorriso de missão cumprida. Perfeito, pensou. Agora é só deixar o espetáculo rolar. E, no canto do salão, Leonardo, com uma taça na mão e uma acompanhante ao lado, engasgou discretamente ao ver Sofia entrar como nunca antes: altiva, segura… e acompanhada de Miguel.
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  O salão de festas da casa demonstrava o clima de amizade e divertimento com as risadas altas. Luzes douradas pendiam do teto, refletindo no mármore branco, enquanto garçons circulavam com bandejas de bebidas. Assim que Sofia e Miguel cruzaram a porta principal, todos os olhares convergiram como se uma celebridade tivesse acabado de pisar ali.
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  Sofia engoliu em seco, mas manteve o queixo erguido. O braço de Miguel sustentava o dela com firmeza, guiando-a como se aquele sempre tivesse sido o lugar natural dos dois.
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  — Tá todo mundo olhando — ela murmurou, inclinando-se para ele.
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  — Ótimo — Miguel respondeu, baixo e confiante. — Quer dizer que já acreditaram na história antes mesmo de a gente abrir a boca.
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  Ela soltou um riso nervoso.
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  — Você fala com tanta calma que até parece que ensaiou isso a vida inteira.
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  — Mais ou menos. — Ele arqueou a sobrancelha. — Lembra quando a gente fingia que era casal só pra fugir das perguntas da faculdade?
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  — Era diferente. — Sofia tentou manter a seriedade, mas o canto da boca a traiu num sorriso. — Você não estava de camisa social coladinha no corpo.
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  Miguel riu, e o som da risada dele soou como uma âncora para o coração dela.
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  Foi nesse momento que Letícia desceu a escadaria com a energia típica de quem amava ser o centro das atenções. O vestido dela era vermelho vibrante, e o salto ecoava pelo salão. Assim que avistou o “casal”, abriu um sorriso maroto.
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  — Gente! — anunciou em voz alta, para metade da festa ouvir. — A Sofia resolveu trazer o namorado mais gato da noite! Palmas pra esse casal que chegou brilhando!
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  Alguns convidados riram, outros bateram palmas de verdade, como se fosse parte do protocolo. Sofia quase quis sumir dentro do vestido.
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  — Eu vou matar a Letícia. — murmurou entre os dentes, ainda sorrindo educadamente.
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  — Relaxa — Miguel sussurrou de volta. — A gente só precisa sorrir como se tivesse ganhado o Oscar de melhor casal.
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  E foi exatamente o que fizeram: acenaram brevemente, como se estivessem acostumados com aquele tipo de atenção.
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  Camila, encostada perto do bar, observava com uma taça de vinho na mão e um sorrisinho de satisfação pensando: “Eles não têm ideia de como estão convincentes”.
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  Sofia fingiu estar à vontade, mas cada passo parecia calculado. Sentia os olhares medindo-a, comparando-a com lembranças antigas. Os cochichos chegavam aos seus ouvidos como pequenas farpas:
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  — É o Miguel?
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  — Nossa, eles estão juntos mesmo?
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  — Eu jurava que ela ainda não tinha superado o Leonardo…
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  Miguel percebeu o desconforto dela e se aproximou mais, inclinando o rosto perto da orelha de Sofia.
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  — Deixa eles falarem. A gente sabe a verdade.
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  Ela assentiu levemente, tentando respirar.
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  E então, no canto próximo à pista de dança, os olhos dela se encontraram com os de Leonardo. Ele estava de terno claro, com uma mulher elegante ao lado, mas o sorriso no rosto dele não escondia o aperto da taça entre os dedos. O olhar dele correu de Sofia para Miguel, depois voltou para ela, e a mensagem estava clara: como assim você está aqui com ele?
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  Sofia sentiu o estômago revirar. Mas, antes que o pânico crescesse, Miguel deslizou a mão para a cintura dela e a puxou sutilmente mais perto, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
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  — Respira, Sofia. — murmurou. — Ele não tem poder sobre você.
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  Ela engoliu em seco, mas o coração acelerado tinha outro motivo agora. Miguel não estava apenas encenando. Aquele gesto tinha calor, tinha força, tinha uma intimidade que a confundia. E, por um segundo, ela esqueceu que era tudo mentira.
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  Sofia e Miguel ainda se mantinham lado a lado, mãos levemente entrelaçadas, quando Letícia se aproximou deles com seu sorriso largo.
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  — Gente, vocês estão sensacionais! — exclamou, batendo as mãos uma contra a outra. — Olha só, Sofia, você escondendo que está namorando o Miguel? Aliás… Vocês estão aqui como namorados, né?
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  — Claro que sim, Let. Acha que o Miguel ia ficar me agarrando pela cintura se ainda fosse só meu amigo?
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  — Uau… Eu sempre ouvi falar de você e te ver nas publicações dela Miguel. Seja bem vindo!
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  — Ah, obrigado. Prazer em te conhecer Letícia, eu também escuto muito da Camila e da Sofia o quanto você é uma amiga incrível.
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  Letícia sorriu satisfeita para a amiga.
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  — Eu sempre achei que você não queria mesmo me apresentar o Miguel por ciúme, Sofs! —Letícia confessou — Tá certo que… O fato de eu passar apenas algumas semanas aqui desde que fui assumir meu trabalho em Paris, não ajudou… Mas, as poucas oportunidades que tínhamos, a Sofia sempre dava uma desculpa Miguel.
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  Miguel arqueou a sobrancelha realmente surpreso pela informação nova.
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  — Bom, na verdade, eu só conheço a Camila e os amigos que temos em comum desde a faculdade. Então se por acaso a Sofia me escondeu de você por ciúme então ela me escondeu da festa inteira.
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  — Eu entendo… — Letícia deu uma boa checada no namorado da amiga e comentou bem humorada — Eu também esconderia. E sabe amiga, o Miguel realmente combina com você! — e piscou marotamente para a amiga.
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  Sofia corou, ajeitando o vestido.
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  — Sim, demoramos para perceber, mas nós somos feitos um para o outro… — respondeu com um riso contido, tentando soar natural.
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  Miguel, por sua vez, fez questão de complementar, com aquele humor prático que sempre a tranquilizava:
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  — Eu sempre soube, só esperei o seu tempo, meu amor.
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  — Ai que fofos! Nossa vocês são lindos demais, um par perfeito! — Letícia comentou verdadeiramente feliz pela amiga.
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  — Ficamos felizes por saber que somos um par perfeito. — Miguel respondeu com o olhar fixo em Sofia, arrancando dela um sorriso tímido e quase perdido.
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  Letícia pediu licença para falar com outros convidados e enquanto isso, alguns convidados começaram a se aproximar, curiosos e prontos para dar “oi” para Sofia. Nenhum deles ficou muito tempo perto dela e do namorado conversando, mas agora, bons murmúrios corriam pelos cantos do salão:
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  — É o Miguel mesmo? Nossa eu sempre ouvi falar dele pela Camila e pela Sofia, e até o Leo! Ele tinha razão de ter ciúmes, o cara é muito gato!
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  — E a Sofia tá deslumbrante…
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  — Eles parecem tão apaixonados, né? Ainda bem! Sempre achei a Sofs boa demais para o Leo.
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  Sofia sentiu o calor subindo pelas bochechas, e manteve o sorriso. Miguel, percebendo seu nervosismo, aproximou a mão da dela de forma discreta. Era um toque rápido, mas cheio de significado: ”viu só? Tudo vai ficar bem” .
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  No meio da pequena multidão, Camila surgia em cena. Ela chegou acompanhada de seu namorado, Caio, que a segurava pelo braço. A presença deles causou uma pequena movimentação: Camila vinha exatamente para observar o desempenho do casal, mas também para adicionar aquele toque cômico que só ela conseguia.
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  — Olha só quem resolveu aparecer! — disse Camila em voz alta, piscando para Sofia. — E olha que eu trouxe a plateia, hein.
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  Sofia revirou os olhos, mas Miguel apenas sorriu.
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  — Camila, você sempre tem que aparecer nos momentos cruciais, né? — brincou, apertando a mão dela de leve em cumprimento teatral.
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  — Só cumpro a missão de diretora da farsa — respondeu ela, sorrindo marotamente. — E o Caio aqui veio conferir se o casal sobrevive à pressão social.
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  Caio riu, cumprimentando Miguel com um aperto de mão firme.
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  — Muito bem-vindo, parceiro. Parece que você vai aguentar firme com a Sofia.
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  Miguel arqueou a sobrancelha, rindo:
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  — Pelo que eu vi até agora, vai ser fácil.
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  — É melhor que eles ensaiem bem os discursos, senão vou ter que inventar histórias de vocês para todos os convidados — Camila continuou, rindo.
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  Miguel, aproveitando a deixa, segurou Sofia pela cintura e falou alto, com naturalidade:
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  — Pois é, Camila, a gente já tem rotina. Hoje de manhã eu já expliquei para ela como eu gosto do café, e ela já aprendeu — piscou para Sofia.
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  Sofia engasgou com a risadinha, fingindo reprovação:
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  — Miguel! Você não vai contar tudo!
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  — O que? É tudo verdade — ele respondeu com ar sério, mas o canto da boca denunciava o riso contido.
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  Camila segurava a taça e assistia à cena como se fosse uma plateia privilegiada. Um brilho de diversão dançava nos olhos dela. “Olha só, tá funcionando perfeitamente”, pensou. “Eles não precisam nem fingir direito”.
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  Enquanto isso, Leonardo observava de longe. Ele estava ao lado de uma conhecida, mas não conseguia tirar os olhos do casal que se movia com tanta naturalidade e confiança. O que mais o incomodava não era o fato de Sofia estar bonita, mas sim a facilidade com que Miguel parecia ser o seu pilar, firme e seguro, mantendo a mão dela na própria cintura, guiando-a sem forçar nada.
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  — Sofia, posso falar com você? — Leonardo se aproximou, tentando parecer casual, mas a tensão era visível.
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  Miguel percebeu imediatamente e não se afastou. Ao contrário, posicionou-se levemente à frente de Sofia, como que protegendo-a, mas sem exageros.
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  — Claro — Sofia respondeu, mantendo a postura firme, mas com o coração acelerado.
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  — Eu… — Leonardo começou, mas foi interrompido por Miguel, com um sorriso que misturava cordialidade e firmeza:
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  — Então vamos todos nos divertir, né? Nada de clima pesado logo na entrada.
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  Sofia agradeceu silenciosamente. A presença firme de Miguel ao lado dela não só afastava Leonardo como também reforçava sua própria confiança. Ela sentiu que, mesmo em meio a olhares curiosos e cochichos, podia manter a postura e até aproveitar aquele momento de "namorada perfeita", sem perder sua essência.
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  Camila aproveitou para se afastar de Leonardo e cochichar no ouvido de Caio:
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  — Viu só? Eles estão tão naturais que até eu me surpreendo. E olha o detalhe: ele não solta a mão dela nem por um segundo.
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  — Parece que você não precisa mais se preocupar com a farsa — Caio comentou, sorrindo.
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  — Ah, ainda tem muito chão, meu amor — respondeu ela, com aquele sorrisinho travesso que só Sofia conhecia bem. — Mas é divertido observar.
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  Enquanto todos trocavam pequenos cumprimentos, Miguel manteve um diálogo baixo com Sofia:
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  — Vai ficar tudo bem. Lembre-se, cada um faz seu papel e confia no outro.
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  Ela assentiu, respirando fundo, e finalmente sentiu uma mistura estranha de alívio e ansiedade. Sabia que aquela festa ia testar tudo o que haviam ensaiado, mas também sabia que, com Miguel ao lado, nada seria impossível.
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N A M O R A D O • D E • E M E R G Ê N C I A •

  O relógio marcava pouco mais de uma hora desde que Miguel e Sofia haviam chegado à festa, e o clima no salão já estava animado. Música suave no fundo, risadas e brindes se misturavam aos cochichos dos convidados, muitos dos quais não escondiam sua curiosidade pelo casal recém-chegado. O tal “novo namorado” de Sofia havia sido alvo de inúmeros comentários discretos — elogios à aparência, à postura e à simpatia de Miguel.
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  Sofia conversava com algumas amigas, rindo e gesticulando, mas ainda sentia a mão de Miguel discretamente sobre a dela, garantindo segurança. Ele sabia exatamente quando apertar levemente a mão, quando oferecer um leve toque no ombro, ou simplesmente se posicionar de forma a protegê-la da atenção inesperada. A confiança que ele transmitia era palpável, e Sofia se apoiava nela como nunca antes.
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  Foi nesse momento que Leonardo apareceu novamente. Ele se aproximou com passos medidos, tentando disfarçar a tensão, mas seu olhar seguia cada movimento de Sofia. Ele aguardou que ela ficasse ligeiramente isolada, longe de suas amigas e distante o suficiente para que Miguel estivesse apenas alguns passos atrás, observando com cautela, mas sem interferir de imediato.
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  — Sofia — começou ele, a voz baixa, quase cortante, mas tentando soar casual — quanto tempo, né? Não esperava te ver… assim.
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  Sofia respirou fundo, sentindo o calor subir pelo corpo. As palavras eram simples, mas carregadas de tensão. Ela sentiu que cada sílaba exigiria equilíbrio emocional.
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  — Leonardo — respondeu, mantendo o queixo erguido — realmente faz tempo.
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  — Então… O Miguel, né? — ele continuou, apontando discretamente para o namorado um pouco atrás dela — Você realmente está com ele? Não é só o seu melhor amigo de sempre?
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  Sofia sentiu o frio na barriga, mas conseguiu se manter firme. Inspirou profundamente, e olhou para Miguel, que assentiu levemente, encorajando-a sem palavras.
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  — Sim, estou. — disse ela, com a voz firme, mas sem perder a naturalidade — E estou bem.
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  Leonardo franziu o cenho, tentando encontrar uma brecha na expressão dela, mas ela já não estava mais insegura. Ela notou a postura de Miguel: ereto, mãos discretamente apoiadas nos quadris, observando cada gesto de Leonardo, pronto para intervir se necessário, mas deixando que Sofia liderasse a situação.
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  — E… é sério? — insistiu Leonardo, num tom que misturava surpresa e incredulidade. — Quero dizer… parece que você está se divertindo com isso.
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  Sofia esboçou um sorriso controlado. Ela percebeu que, pela primeira vez, não estava se defendendo por medo ou insegurança; estava respondendo com maturidade e firmeza ao ex-namorado tóxico que tantas vezes agiu como um idiota. E também, ao ex-namorado babaca que resolveu traí-la e sair do relacionamento com aquela desculpa esfarrapada “não é você, sou eu”, sem ter o menor remorso de uma semana depois aparecer com outra.
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  — Sim, estou me divertindo. E olha só — ela completou, erguendo levemente o braço e gesticulando para Miguel ao seu lado — diversão não é o que bons relacionamentos também devem ter? Tenho alguém comigo que me apoia, que me faz sentir segura e feliz.
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  Leonardo abriu a boca, surpreso com a convicção dela. Sofia respirou fundo, sentindo uma onda de catarse. Finalmente conseguia se afirmar sem se deixar abalar por um passado que antes a dominava.
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  Miguel, percebendo que ela precisava de suporte silencioso, encostou o braço levemente nas costas dela, e murmurou:
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  — Tá linda assim, sabe disso?
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  Sofia lançou-lhe um olhar rápido, cheio de gratidão, e um pequeno sorriso quase imperceptível se formou em seus lábios. Ela sabia que Miguel não só estava ali para ajudá-la a manter a farsa, mas também como base firme para que ela se reconhecesse forte e independente.
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  Leonardo, agora sem saber exatamente como reagir, lançou uma última tentativa:
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  — Então quer dizer que você está bem, inclusive… Com o que houve entre nós?
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  Sofia respirou fundo mais uma vez, equilibrando a emoção e a serenidade:
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  — O que tinha entre nós acabou, Leonardo. Mas isso não é sobre você. É sobre mim, sobre quem eu quero ser agora.
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  O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de tensão. Leonardo percebeu, finalmente, que não havia espaço para provocações; Sofia não apenas estava protegida, como também empoderada. Miguel, vendo que a situação estava sob controle, deu um passo sutil para o lado, apenas para mostrar presença. Leonardo desviou o olhar, sentindo-se deslocado. Sofia, então, deu um sorriso breve, seguro e quase desafiador:
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  — Agora, se me permite, temos uma festa para aproveitar.
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  Leonardo permaneceu imóvel por alguns segundos, observando-os de longe, antes de finalmente se afastar, incapaz de quebrar a segurança que o casal transmitia. Sofia sentiu um peso sair de seus ombros, e Miguel encostou-se levemente a ela, murmurando:
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  — Viu? Tudo sob controle.
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  Ela sorriu, sentindo-se mais confiante do que jamais imaginara. Pela primeira vez, sabia que podia enfrentar seu passado sem perder sua força, e que Miguel não era apenas parte da farsa, mas um elemento essencial da sua própria coragem.
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  Miguel se aproximou devagar, como quem não queria interromper o fluxo de alívio que transbordava do rosto dela. Quando chegou perto, tocou de leve a mão de Sofia, deixando o calor dos dedos se espalhar por sua pele.
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  — Você foi incrível agora — murmurou, com um orgulho que não soava exagerado, apenas sincero.
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  Sofia olhou para ele, os olhos ainda brilhando da adrenalina do momento.
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  — Não teria conseguido sem você ali do lado. — Ela riu de si mesma, baixinho. — Acho que ainda estou tremendo por dentro.
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  Miguel inclinou-se levemente para que só ela ouvisse.
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  — Isso é normal. O corpo demora pra acreditar que já passou.
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  O jeito calmo como ele dizia as coisas a fazia respirar mais fundo, como se a própria presença dele reorganizasse o caos dentro dela. Sofia soltou o ar devagar e apertou de volta a mão dele, sem pensar.
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  — Sério, Miguel… obrigada. — E completou, quase num sussurro: — Por não me deixar sozinha. Enfrentar o Leonardo nessa situação foi como deixar muitos fantasmas para trás… Eu tinha tanto medo de aparecer sozinha perto dele. Mas era um medo de me sentir uma inútil, sabe? Não necessariamente, dele…
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  Ele abriu um sorriso pequeno, quase cúmplice, antes de responder:
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  — Não precisa agradecer, eu nunca deixaria você sozinha.
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  Foi nesse instante que Camila reapareceu com Caio, de copo na mão e olhos brilhando de quem tinha visto muito mais do que gostaria de admitir.
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  — Eu sabia! — exclamou, teatral, arrancando uma gargalhada de Caio ao lado. — Vocês deviam se ver daqui de longe… parecia cena de novela. Só faltava a música triste de fundo.
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  Sofia soltou a mão dele devagar, corando, mas Miguel sequer se mexeu, apenas lançou a Camila aquele olhar de “não atrapalha”.
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  — Camila… — Sofia começou, tentando parecer irritada, mas a voz saiu suave demais para ser convincente. — Você não tem jeito.
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  — Eu? — Camila levou a mão ao peito, fingindo ofensa. — Eu sou só a plateia privilegiada. Quem tá dando show são vocês dois.
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  Caio riu, completando o coro:
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  — Eu mesmo já apostei dez reais que vocês não duram só até o fim dessa festa.
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  Sofia arregalou os olhos, surpresa.
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  — Como assim, aposta?
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  Camila arqueou as sobrancelhas com ar maroto.
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  — É, oras. Metade da festa já jura que vocês são casal há meses e só esconderam da gente. A outra metade acha que é namoro de ocasião. Então… eu e Caio resolvemos aproveitar.
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  — Vocês são impossíveis — Sofia disse, balançando a cabeça, mas não conseguiu conter uma risada nervosa.
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  Miguel, por sua vez, não resistiu à provocação.
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  — E vocês apostaram em quê, exatamente?
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  Caio levantou o copo.
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  — Eu tô no time “namoro verdadeiro”.
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  — E eu, claro, defendo a teoria da novela — retrucou Camila, empolgada. — Que vocês inventaram tudo pra brilhar hoje, mas vão acabar se pegando de verdade no próximo capítulo.
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  Sofia ficou vermelha como nunca.
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  — Camila!
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  Miguel apenas riu baixo, balançando a cabeça.
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  — Vocês dois deviam achar outra mesa antes que Letícia expulse vocês daqui por fofoca em excesso.
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  Camila ergueu o copo em brinde.
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  — Só estou registrando a história ao vivo. — E piscou para Sofia, puxando Caio pelo braço antes que ela tivesse tempo de retrucar.
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  O silêncio voltou a se instalar entre Sofia e Miguel, agora carregado de algo que nem os risos conseguiam disfarçar. Ela mexeu nos brincos nervosa, desviando o olhar para os convidados que passavam.
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  — Eles… exageram demais — murmurou.
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  Miguel a observou com calma, sem ironia.
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  — Exageram… mas não estão completamente errados.
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  Sofia prendeu a respiração, o coração disparado, e virou-se devagar para ele.
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  — Miguel…
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  Ele não completou, apenas ofereceu o braço, como quem sabia que não era o momento para mergulhar mais fundo.
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  — Vamos dançar?
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  Ela hesitou, mas acabou sorrindo, aceitando o gesto. Ao colocar a mão no braço dele, sentiu outra vez aquela estranha mistura de segurança e nervosismo. Era como se o mundo inteiro pudesse desmoronar, e ainda assim, Miguel sustentaria o peso com naturalidade.
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  Enquanto caminhavam para a pista, Sofia ergueu os olhos e percebeu Leonardo, ao longe, observando-os com uma expressão dura. Miguel percebeu o olhar e se inclinou discretamente, sussurrando só para ela:
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  — Deixa ele olhar. Você não deve nada a ele.
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  — Não devemos mesmo! E acho que ele quer assistir melhor o nosso show.
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  Sofia respondeu convicta olhando para Miguel e se aproximando para abraçá-lo e o beijar, mas foi puxada de surpresa por Letícia para perto do grupo de amigas. Ela afastou-se, rindo nervosa, mas sentindo-se leve como não sentia havia anos. Miguel, porém, não se moveu de imediato. Seu olhar seguiu Leonardo, que permaneceu ali, ainda com a expressão amarga, o copo quase vazio na mão. Havia algo no ar. Um acerto que precisava acontecer entre os dois.
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  Leonardo percebeu que Miguel não recuaria, e então, com um meio sorriso carregado de ironia ele foi a passos diretos até o “novo namorado de Sofia” e disse:
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  — Você se divertiu bastante com isso, não foi? Sempre pronto para o papel de herói.
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  Miguel arqueou uma sobrancelha, sereno.
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  — Não é um papel, Leonardo. Só estive ao lado dela. Sempre estive.
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  Leonardo deu uma risada curta, mas sem humor.
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  — Sempre esteve… Pois é, eu sei. — Aproximou-se meio passo, abaixando o tom. — Sabe o que eu me pergunto, Miguel? Onde terminava sua amizade e começava… outra coisa?
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  Miguel manteve o queixo erguido, firme, sem se deixar provocar.
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  — Nunca ultrapassei esse limite enquanto ela estava com você. E você sabe disso.
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  — Sei? — Leonardo estreitou os olhos, como se buscasse qualquer sinal de hesitação. — Às vezes eu pensava que a ligação de vocês era forte demais para ser só amizade. Ela sempre confiava em você, às vezes mais do que confiava em mim.
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  Miguel inspirou fundo, a voz calma, mas com uma ponta de dureza.
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  — E talvez esse seja o ponto, Leonardo. Confiança. Eu nunca pedi nada em troca, nunca precisei provar nada para ela. Só estive lá.
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  O ex-namorado apertou o copo com força, desviando o olhar por um instante, como se não suportasse encarar a clareza daquelas palavras.
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  — Então agora vai me dizer que esse relacionamento é real? Que de repente virou o namorado perfeito? Isso é tão a cara das pegadinhas de vocês dois…
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  Miguel inclinou levemente a cabeça, avaliando-o.
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  — Não preciso te dizer nada. O que acontece entre mim e Sofia não é mais da sua conta. — Deu um passo para frente, diminuindo a distância. — Mas se quer saber: ela está mais forte agora. E não é porque está comigo. É porque finalmente percebeu que não precisa mais de você para se sentir inteira. Sei que é difícil acreditar que até poucos meses ela poderia estar chorando pela sua traição, mas a verdade é que a Sofia não sofreu por perder você. Ela se culpava por ter estado ao seu lado.
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  Leonardo ficou em silêncio, a mandíbula travada. Por um instante, parecia pronto para retrucar, mas as palavras não vieram. Miguel, então, completou, baixo e direto:
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  — Se eu fosse você, deixaria ela viver essa fase em paz e daria atenção para a amante que agora é a sua namorada, e está achando bastante estranho você aqui peitando o verdadeiro amor da sua ex.
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  O silêncio entre os dois pesou como chumbo. Leonardo virou o rosto, engolindo em seco, antes de soltar um breve:
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  — Veremos o quanto isso dura. Certos casais são almas gêmeas na amizade, mas não duram na cama, Miguel. Você deveria saber que este é o caso de vocês… Afinal, você está do lado dela desde 2012 então… Por que só agora?
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  E saiu, se misturando à multidão com passos duros.
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  Miguel o acompanhou com o olhar por alguns segundos, os ombros tensos. As palavras finais de Leonardo não eram tão erradas assim e ele se pegou pensando: “Por que só agora? E será que somos melhores amigos incapazes de ser qualquer outra coisa de verdade?”. Só depois respirou fundo, aliviando a tensão, antes de procurar Sofia novamente.
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N A M O R A D O • D E • E M E R G Ê N C I A •

  A pista estava cheia, mas em algum momento a música mudou. Deixou de ser o ritmo agitado que fazia todos se mexerem animadamente, e os acordes mais lentos de uma canção romântica tomaram o ambiente. As luzes se suavizaram, refletindo em tons dourados e azulados pelas paredes do salão.
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  Sofia, que conversava com duas conhecidas, notou quando Miguel se aproximou. Ele não disse nada de imediato, apenas estendeu a mão na direção dela com aquele meio sorriso que era ao mesmo tempo desafiador e cúmplice.
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  — Não vou aceitar um não, a Letícia te arrastou na hora que íamos dançar — murmurou, com um brilho divertido nos olhos.
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  Ela piscou, surpresa, mas segurou a mão dele.
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  — E quem disse que eu ia recusar?
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  O gesto pareceu simples aos olhos dos outros, mas para os dois foi como atravessar uma linha invisível. Miguel a conduziu para o centro da pista, onde os casais já se aproximavam um do outro, e a puxou suavemente pela cintura, ajeitando-a contra o corpo dele com uma naturalidade que fez Sofia prender a respiração.
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  — Não me lembro se você dança bem — ela comentou, tentando soar leve.
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  — Péssimo — respondeu rindo, enquanto começava a guiá-la pelo ritmo lento da música. — Mas você não vai notar, porque eu finjo confiança muito bem.
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  — Isso eu já percebi — ela provocou, olhando de relance para ele. — É quase um dom.
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  — Não é dom — Miguel se aproximou um pouco mais, baixando a voz como se confidenciasse um segredo. — É só porque eu não posso deixar você insegura. Nem aqui, nem em lugar nenhum.
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  A frase ficou suspensa entre eles. Sofia engoliu em seco, e pela primeira vez naquela noite desviou os olhos para os próprios pés, como se o contato fosse intenso demais para encarar de frente.
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  — Eu estou… surpresa comigo mesma — admitiu, depois de alguns segundos. — Pensei que estaria em pedaços hoje, mas estou dançando, rindo, até debochando com você… e não estou despedaçada.
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  Miguel a girou devagar, só para vê-la sorrir quando voltou para os braços dele.
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  — Não está despedaçada porque você é tão forte quanto nunca pensou. Você só precisava de alguém para lembrar disso.
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  — Você — ela completou, quase num sussurro.
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  Ele não respondeu de imediato. Apenas a fitou, e o silêncio entre eles ficou mais denso do que a própria música. Miguel sabia que deveria soltar uma piada, aliviar o peso daquele instante, mas algo nele não quis.
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  — Sofi… — começou, mas parou, como se pensasse melhor. — Às vezes eu tenho medo de que você não veja o quanto merece alguém que a trate exatamente assim: como você é agora.
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  Sofia mordeu o lábio, sentindo o coração disparar. Ela tentou rir, se apoiar na velha cumplicidade deles.
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  — Está me ensaiando um discurso motivacional no meio da pista de dança?
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  — Não — ele sorriu, mas os olhos permaneciam sérios. — Estou só lembrando que… eu nunca estive aqui fingindo.
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  O olhar dela se ergueu de imediato, preso ao dele. Foi um instante perigoso, um daqueles que pediam um passo a mais — a confissão, o beijo, a rendição. Mas, como sempre, o destino se encarregou de interromper. Camila surgiu pela lateral da pista, dançando de forma exagerada com Caio e rindo alto. Ao passar por eles, não perdeu a chance de comentar, ainda em tom brincalhão:
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  — Olha só, ninguém viu um beijinho ainda! Vocês não vão levar o Oscar desse jeito!
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  Sofia riu nervosamente, encostando a testa no ombro de Miguel para esconder o rosto. Ele suspirou baixo, murmurando apenas para ela:
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  — Essa mulher ainda vai me matar.
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  — Ou nos matar — Sofia respondeu, rindo também, mas sem conseguir afastar a sensação de que Camila enxergava mais do que deixava transparecer.
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  — Mas ela está certa… Até agora, a gente só deu uns selinhos sem graça. — Miguel comentou — Acho que o Leonardo merece entender que isso é real e parar de olhar pra gente.
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  Sofia buscou o ex com o olhar para entender o que Miguel dizia, mas o amigo não permitiu. Levou a mão ao rosto dela e guiou o queixo de Sofia até o seu. Os olhos um do outro carregados de um desejo novo, de segredos que talvez não confessariam sequer ao próprio espelho e, pela primeira vez na noite, deram um beijaço em público. Todos olhavam admirados com a vibe que Miguel e Sofia passavam de casal absolutamente apaixonados e alheios ao resto do mundo. E como eles ficavam bem juntos!
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  A música continuou, lenta, envolvendo-os em mais alguns passos. E embora a festa vibrasse em volta deles, para Sofia e Miguel parecia que o mundo havia se reduzido apenas àquele beijo demorado, ao calor da mão dele na sua cintura e ao compasso dos corações batendo fora de ritmo.
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  Quando a música terminou, Sofia percebeu que sua respiração estava descompassada. Não sabia se era pelo beijo, o ritmo da dança ou pelo simples fato de estar tão próxima de Miguel. Ele sorriu, mas havia algo nos olhos dele como se estivesse pensando demais para o tipo de noite que estavam vivendo.
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  — Vamos sair um pouco daqui? — ele sugeriu, a voz baixa para não competir com o barulho do salão.
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  — Acho uma ótima ideia — ela respondeu quase de imediato, como se também precisasse de ar.
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  Miguel a conduziu pela mão até a porta dos fundos da casa. Passaram pelo corredor repleto de risadas, pelos convidados disputando espaço no bar improvisado, até alcançarem o jardim. Lá fora, o clima era outro: mais silencioso, o ar fresco da noite suavizando o calor que vinha da festa. Pequenas luzes penduradas em cordões iluminavam discretamente o espaço, dando a impressão de que tinham acabado de atravessar para um mundo à parte.
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  Sofia soltou um suspiro que nem sabia estar prendendo.
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  — Uau… eu precisava disso.
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  — Eu também — Miguel respondeu, recostando-se contra a mureta de pedra próxima às flores. Ficou ali, de braços cruzados, observando-a com um olhar que parecia mais íntimo do que deveria.
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  Ela ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha, rindo baixinho.
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  — As pessoas não param de comentar sobre nós. “Como vocês ficam lindos juntos”, “como ele é educado”, “como vocês parecem apaixonados”…
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  — E não estamos? — ele provocou, arqueando uma sobrancelha, mas com aquele tom que misturava humor e algo mais escondido.
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  Sofia bufou, mas não conseguiu conter o riso.
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  — Miguel… não brinca com isso.
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  — Não estou brincando — disse sério por um instante, antes de suavizar o olhar. — Mas calma, não vou estragar o nosso teatro. É só… engraçado, sabe? Às vezes penso se não estamos realmente convencendo a nós mesmos.
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  As palavras pairaram no ar. Sofia desviou o olhar, fixando-o em uma das lanternas que balançavam com o vento leve.
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  — Eu também pensei nisso hoje. — Sua voz saiu baixa, quase um segredo. — E não sei se fico feliz ou assustada com a ideia.
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  Miguel não respondeu de imediato. Se aproximou, apoiando uma mão no parapeito ao lado dela.
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  — Assustada por quê?
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  — Porque… — ela hesitou, mordendo o lábio, buscando a honestidade. — Porque você é meu melhor amigo. E se a gente começar a confundir as coisas… e der errado… eu não sei se suportaria perder isso.
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  Ele a encarou por alguns segundos, e havia uma mistura de ternura e firmeza no olhar dele.
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  — Eu entendo, Sofi. Mas, sendo bem sincero, às vezes eu acho que a gente já está no meio dessa confusão. Só não quer admitir.
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  Ela engoliu em seco, o coração disparando de novo.
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  — Você fala como se fosse algo óbvio…
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  — E não é? — Miguel inclinou levemente a cabeça, como quem analisa uma questão de lógica. — Pensa bem: nós dois, juntos, nos divertindo, nos apoiando… Até as nossas brigas parecem ensaiadas. Todo mundo enxerga. Só falta a gente.
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  Sofia soltou uma risada nervosa, tentando aliviar a tensão.
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  — Você sabe como estragar a tranquilidade de uma mulher, viu?
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  — Desculpa — ele riu junto, erguendo as mãos em rendição. — Mas alguém precisava falar.
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  Por um instante, ficaram em silêncio. O vento frio roçou a pele de Sofia, e Miguel tirou o blazer, colocando-o sobre os ombros dela sem pedir permissão. O gesto foi simples, mas carregado de algo que os dois sentiram e não ousaram nomear.
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  Ela ajeitou o tecido em volta do corpo e, finalmente, voltou a olhá-lo.
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  — Talvez todo mundo esteja vendo uma coisa que a gente tem medo de enxergar.
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  Miguel deu um meio sorriso.
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  — Talvez.
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  E ficou só nisso. Nada além de um olhar que se prolongou mais do que deveria. O silêncio que se instalou entre os dois no jardim não era vazio. Era cheio de tudo aquilo que eles não ousavam dizer. O blazer ainda estava sobre os ombros de Sofia, quente com o cheiro dele, e cada vez que o vento balançava as luzes penduradas, ela tinha a impressão de que estava dentro de um daqueles momentos que a vida parece pausar de propósito.
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  Miguel respirou fundo, desviando o olhar por um instante para o céu noturno, antes de voltar para ela.
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  — Sofi… tem uma coisa que eu preciso falar.
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  A forma como ele disse aquilo fez o coração dela tropeçar.
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  — O quê? — perguntou, tentando soar casual, mas a voz não colaborou.
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  Ele deu um passo à frente, e a proximidade era quase perigosa.
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  — Desde que começamos essa história de fingir… eu… — parou, apertando o maxilar como se buscasse coragem. — Eu não sei mais até onde estou fingindo em algumas partes.
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  As palavras caíram entre eles como um peso, carregadas de sinceridade. Sofia sentiu a respiração prender no peito. A cabeça gritava para ela responder rápido, mas o coração não sabia o que fazer.
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  — Miguel… — ela começou, engolindo em seco. — Eu também não sei direito. Mas é exatamente esperado, não é? A gente falou disso antes no bistrô… É normal, somos uma mulher e um homem atraídos e solteiros há algum tempo… Quero dizer, eu acabei de te falar que eu tenho medo de…
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  Ele arqueou as sobrancelhas, se inclinando ligeiramente para mais perto ao notar que ela não terminaria a frase.
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  — Medo, por quê?
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  Ela riu de nervoso, apertando os dedos uns contra os outros.
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  — Porque você é o meu lugar seguro. Sempre foi. Se eu… se nós… estragarmos isso, não sei o que sobra.
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  A resposta a atingiu mais forte do que atingiu a ele. Miguel inspirou fundo, e por um instante, pareceu prestes a romper qualquer barreira, a simplesmente dizer o que estava preso na garganta: que não queria mais teatro, que não queria que aquilo acabasse com a festa ou com a manhã seguinte. Mas então ela completou, sem perceber o impacto que teria:
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  — Eu prefiro viver com essa amizade intacta do que arriscar e perder você de vez. Tem certos casais que são almas gêmeas na amizade, eu não acho que devemos pagar para ver.
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  A frase caiu como um balde de água fria. Ela repetiu quase a mesma coisa que Leonardo disse antes. Ele piscou, engolindo a vontade de dizer tudo que queimava dentro dele. Seus ombros relaxaram um pouco, como se tivesse guardado o segredo de volta no bolso.
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  Miguel forçou um sorriso, leve demais para esconder a frustração.
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  — É… acho que você tem razão. Nossa amizade é grande demais pra colocar na linha de fogo… Pelo menos, por agora.
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  Ela assentiu, sem notar o quanto aquelas palavras eram um escudo para ele.
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  — Exato. A gente já enfrentou tanta coisa… não dá pra perder isso.
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  O silêncio voltou, mas agora tinha outro peso. Era um silêncio de quase — quase dito, quase confessado, quase vivido. E ainda assim, havia algo de doce: porque mesmo presos pelo medo, estavam lado a lado, compartilhando um momento que, no fundo, ambos sabiam ser mais do que amizade.
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  Miguel desviou o olhar para as luzes do jardim, sorrindo com um humor resignado.
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  — Então, seguimos no teatro?
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  Sofia riu baixinho, meio culpada.
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  — Acho que sim. Mas, Miguel… — ela o encarou com mais ternura do que gostaria de admitir — sendo teatro, é a melhor atuação da minha vida.
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  Ele deixou escapar uma risada curta, um suspiro disfarçado de humor, e balançou a cabeça.
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  — A minha também, Sofi. A minha também.
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N A M O R A D O • D E • E M E R G Ê N C I A •

  A festa já estava esvaziando quando Sofia e Miguel decidiram se despedir. A música ainda ecoava dentro da casa, mas do lado de fora, no jardim iluminado por poucas lâmpadas, a noite parecia mais calma, quase silenciosa. Sofia ajeitou o blazer sobre os ombros enquanto Miguel caminhava ao lado dela em direção ao carro.
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  — Acho que… missão cumprida — ele disse, quebrando o silêncio com aquele tom leve, mas não totalmente despreocupado.
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  Sofia riu baixinho, exausta, mas com o coração em disparada.
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  — É. Funcionou perfeitamente. Todo mundo acreditou.
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  Ele abriu a porta para ela com um gesto automático, mas os olhos demoraram mais do que deviam sobre o sorriso que ela tentava esconder. Quando entrou, Sofia também o observou pelo reflexo no vidro: Miguel parecia relaxado, mas o maxilar denunciava que ele ainda remoía algo.
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  No trajeto de volta, falaram pouco. Algumas piadas, um comentário sobre como Letícia jamais iria parar de repetir que eles estavam “radiantes juntos”, e uma lembrança engraçada de Caio tentando convencer Camila a parar de provocá-los em público. Tudo leve, superficial. Mas por trás de cada frase pairava o silêncio do que não haviam dito no jardim.
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  No sinal vermelho, Miguel arriscou um olhar de soslaio.
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  — Você percebeu como o Leonardo ficou incomodado?
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  Sofia soltou uma risada curta, sem humor.
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  — Percebi. Mas, pela primeira vez, isso não me afetou. — virou o rosto para ele, num tom mais sério. — E só consegui porque você estava lá.
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  Miguel segurou o volante com mais força do que precisava. Ele queria responder, gritar, na verdade, tudo o que não pôde dizer naquele momento sós no jardim. Mas se limitou a um sorriso breve, carregado das coisas não ditas.
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  O carro seguiu, e quando estacionaram na garagem do prédio em que moravam, eles ficaram alguns segundos parados, sem pressa de encerrar a noite. A noite estava silenciosa, e as luzes amarelas da iluminação da garagem no subsolo derramavam um brilho suave sobre os dois.
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  Sofia desceu devagar, ajeitando o vestido e fechando a porta. Miguel imediatamente fez o mesmo apertando o clique automático da chave e os dois começaram a caminhar lado a lado, lentos, arrastando-se para aproveitar o resto do tempo que tinham. Ao entrarem no elevador, Sofia disse pela milésima vez:
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  — Obrigada, Miguel. Sério. Não sei o que teria feito sem você.
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  Ele apenas estendeu a mão.
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  — Sempre vou estar aqui, Sofi. O mais longe que estarei, são duas portas na frente da sua.
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  Ela riu baixinho, colocando a mão sobre a dele. Era para ser apenas um gesto rápido de cumplicidade, mas o toque demorou. Nenhum dos dois afastou a mão de imediato. O ar entre eles ficou suspenso, denso, cheio das conhecidas possibilidades que não ousavam nomear. Foi Sofia quem finalmente recuou, antes que o silêncio se tornasse outro beijo, porque era exatamente o que ela estava com vontade de fazer.
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  O elevador chegou no andar em que eles moravam, muito mais rápido do que desejavam, e ela saiu primeiro se virando para ele, tímida, ajeitando o cabelo atrás da orelha:
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  — Boa noite, Miguel.
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  — Boa noite — ele respondeu, com a voz mais baixa do que pretendia.
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  Ela entrou no próprio apartamento, e ele ficou ali, observando até a porta se fechar atrás dela. Mal entrou em seu apartamento também, e Miguel foi para a varanda de seu quarto e deixou-se escorar na grade com a cabeça apoiada nos braços. Coincidentemente, Sofia estava na sacada de sua sala sentada em uma espreguiçadeira pequena abraçando aos joelhos encarando o chão.
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  De dentro da janela do apartamento vizinho, Camila afastou discretamente a cortina, um sorriso satisfeito estampado no rosto. O prédio da frente ao condomínio de Miguel e Sofia, era onde seu namorado Caio morava, e ela amava, porque dava a visão privilegiada da varanda o apartamento dos dois amigos.
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  — Missão apenas começando — murmurou para si mesma, cúmplice de algo que eles ainda não tinham coragem de enxergar.
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  — O que disse, amor? — Caio perguntou à namorada enquanto ajeitava a cama.
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  — Nada não, só que talvez… A gente devesse comprar um telescópio.
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  — Um telescópio? — Caio riu olhando confuso pra namorada espreitando atrás da cortina e sacudiu a cabeça em negação, e entrou no banheiro ao finalizar para ela: — Camila, você é aleatoriamente muito previsível. Eles já foram dormir?
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  — Caio, meu amor! E você acha que eles vão conseguir dormir essa noite? — Camila soltou risonha e foi deitar na cama, já com seu pijama — Mas nós dois sim, porque amanhã bem cedo, temos que contar essa novidade para quem ainda não sabe!
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Fim

Nota da autora: Conta para mim: o que você achou do nosso casal improvável? Ansiosa por seus comentários! Não deixe de ler minhas outras histórias, então visite minha página de autora aqui no site!

Capítulo 5
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