Namorado de Emergência

Escrita porRay Dias
Editada por Natashia Kitamura

Capítulo 4 • Penúltimos Ajustes Antes da Festa

Tempo estimado de leitura: 83 minutos

O apartamento de Miguel tinha um ar mais elegante e organizado, contrastando com a quase bagunça despojada de Sofia. Era um espaço masculino, mas não desleixado: móveis de madeira escura, uma estante abarrotada de livros e discos, poucos quadros pendurados na parede apenas para não deixá-las “frias” demais. O quarto, onde ele estava agora, carregava o perfume amadeirado que havia borrifado minutos antes, misturado ao frescor do banho recente.
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  Miguel estava em frente ao espelho do guarda-roupa, ajeitando a gola da camisa clara que escolhera. As mãos grandes deslizavam pelos botões com tranquilidade, mas os olhos, refletidos no vidro, denunciavam uma inquietação que não combinava com seu semblante geralmente confiante.
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  O porte físico de Miguel não era o de um atleta meticuloso, mas o de alguém que sabia se cuidar sem obsessões. Ombros largos, braços fortes, a linha do abdômen marcada na medida certa. Era o tipo de presença que chamava atenção sem precisar de esforço. Mas, ao contrário do que muitos poderiam pensar, Miguel raramente se preocupava em usar isso a seu favor. Gostava de ser discreto, de observar mais do que exibir.
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  O cabelo escuro, ainda úmido, caía de forma natural sobre a testa, em um desalinho que parecia calculado. E os olhos — intensos, ligeiramente estreitos — eram daqueles que guardavam expressões difíceis de decifrar, capazes de intimidar e, ao mesmo tempo, atrair.
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  Ele respirou fundo como se o gesto pudesse lhe dar tempo. O espelho lhe devolvia uma imagem impecável, mas por dentro havia algo bagunçado. A lembrança da noite anterior vinha em ondas: Sofia rindo solta ao seu lado, o calor do corpo dela colado ao seu na pista de dança, e, sobretudo, a naturalidade com que ambos tinham esquecido que tudo não passava de uma encenação.
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  E claro, os beijos.
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  Era para ser só um ensaio, um teste coordenado pela intrometida Camila. Mas, no instante em que seus lábios tocaram os dela, Miguel sentiu uma fagulha percorrer seu corpo. Uma faísca inesperada, desconfortável até, porque não deveria estar ali. O script não previa aquele arrepio, aquela sensação de que, se tivesse se permitido, poderia ter ido além.
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  Passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais, e soltou um riso abafado.
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  — Isso não pode estar acontecendo… — murmurou, incrédulo.
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  Mas estava. Estava porque, ao fechar os olhos, ele ainda podia sentir o gosto suave do gloss de menta que Sofia usava nas duas ocasiões que se beijaram, o perfume adocicado misturado ao suor da balada, a forma como ela o olhara por segundos, como se também tivesse esquecido do mundo.
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  Miguel virou-se, caminhando pelo quarto. Abriu a cortina, deixando que a luz da manhã iluminasse o espaço, e se apoiou no batente da janela. Lá fora, a cidade pulsava com sua pressa habitual. Para qualquer pessoa, era apenas mais um sábado. Para ele, era o dia que antecedia a noite em que teria de enfrentar uma plateia inteira de amigos e conhecidos de Sofia — e, acima de tudo, Leonardo.
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  Só de pensar no reencontro dos dois, algo nele se retesava. Não era ciúme, não era insegurança, mas uma espécie de instinto protetor. Como se não suportasse a ideia de vê-lo subestimando Sofia de novo. Talvez fosse isso que lhe dava mais firmeza para sustentar aquela mentira até o fim. Ou talvez não fosse só isso.
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  Miguel soltou o ar devagar, afastou-se da janela e pegou o relógio de pulso sobre a cômoda. Colocou-o com movimentos tranquilos, ajustou novamente a camisa e se observou mais uma vez no espelho. Por fora, estava pronto. Mas sabia que a batalha de verdade seria dentro de si mesmo: convencer não apenas os outros, mas a si mesmo, de que ainda controlava os limites daquela encenação.
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  E, pela primeira vez, não tinha certeza se conseguiria.
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N A M O R A D O • D E • E M E R G Ê N C I A •

  O relógio da cozinha marcava pouco depois das nove da manhã, mas Sofia já estava de pé desde cedo. Não por obrigação, mas por uma inquietação que a mantivera desperta a maior parte da madrugada. A ilha de mármore branca em sua cozinha parecia uma espécie de refúgio silencioso, onde ela tentava organizar os pensamentos diante de uma xícara de café com leite que esfriava lentamente.
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  O apartamento dela tinha aquela atmosfera de revista de decoração: linhas limpas, móveis claros, detalhes discretos em madeira. Cada objeto parecia cuidadosamente escolhido, desde o vaso de flores frescas sobre a mesa até os quadros em preto e branco que adornavam as paredes. Ou pelo menos, essa era a ideia ou projeção na cabeça de Sofia. Já na realidade: havia limpeza sim, mas os quadros estavam ligeiramente tortos na parede, os móveis eram discretos mas apinhados de pequenos souvenires de coleções que iam de funkyos do K-POP e Harry Potter, até às lembrancinhas de viagens que ela ou seus pais faziam e traziam. E as flores até estavam vivas, mas não frescas, e sim como sobreviventes de uma “mãe de plantas” que esquecia quando e como regar cada uma. O apartamento de Sofia era a sua fortaleza particular, porém, o espaço onde a mente dela transparecia, afinal a bagunça organizada nada mais era que o espelho da sua ansiedade.
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  Sofia estava sentada em um dos bancos altos da ilha, com uma postura elegante demais para quem apenas tomava café da manhã. Os ombros eretos, a perna cruzada, os cabelos soltos caindo em ondas naturais sobre os ombros. Vestia uma blusa leve de tecido nobre em tom neutro e uma calça jeans escura e confortável, e nos pés um par de mocassim de tornozelo exposto, mas, ainda assim, havia nela aquela aura de sofisticação que parecia inesperada da sua essência sempre casual ou esportiva. Aonde estavam as costumeiras calças de moletom ou leggins? Os tênis slip-ons ou as alpargatas? E até mesmo os shorts jeans com body e coque despojado?
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  Sobre a bancada, ao lado da xícara esquecida, repousava um prato com torradas amanteigadas. Apenas uma delas havia sido mordida, e estava ali, repousando na borda do prato, como se tivesse perdido a importância. Sofia girava a caneca entre os dedos, distraída, enquanto o olhar se perdia em algum ponto da parede à sua frente.
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  O rubor em sua pele era discreto, mas insistente, cada vez que sua mente retornava aos instantes da semana. Os beijos ensaiados. O primeiro, rápido, quase mecânico, que deveria ter sido apenas uma formalidade. Depois, o segundo, que durou um pouco mais. E o jeito como Miguel a segurara, como se a cada contato fosse esquecendo a palavra "ensaio".
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  Sofia fechou os olhos por um instante, tentando afastar o calor que subia pelo pescoço. Quase podia sentir novamente o hálito dele se misturando ao seu, a firmeza das mãos em sua cintura, o modo como os olhares se encontraram em meio àquela pista de dança caótica na balada da noite passada. Por segundos, não houve música, não houve gente em volta. Só eles.
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  — É só um papel… — murmurou, como se o mantra pudesse devolver a lucidez.
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  Mas a verdade é que aquele "papel" começava a sair do roteiro. E a simples lembrança fazia seu coração acelerar de um jeito que não deveria.
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  Sofia balançou a cabeça, tentando recobrar o foco. Respirou fundo, tentando se convencer de que não havia nada ali além de uma encenação estratégica. Que Miguel era apenas um amigo de longa data, alguém que aceitara embarcar nessa loucura para ajudá-la a manter a pose diante de seus amigos e, principalmente, diante de Leonardo. Entretanto, enquanto levava a xícara novamente aos lábios e saboreava o café já morno, um sorriso escapou sem permissão. Não um sorriso largo, mas um daqueles que traem até mesmo os mais controlados. Porque, no fundo, Sofia sabia: por mais que tentasse enquadrar Miguel no papel de “namorado de mentira”, algo em seu corpo já não acreditava nessa história.
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  O som da campainha ecoou pelo apartamento, tirando Sofia de seus devaneios. Ela piscou rápido, como se tivesse sido pega em flagrante por alguém que pudesse ler os pensamentos que a atormentavam. Soltou um suspiro, apoiou a caneca de café na ilha e levantou-se com certa pressa, ajeitando os fios de cabelo que haviam caído em desalinho sobre o rosto.
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  Ao abrir a porta, encontrou Camila parada ali, um sorriso largo de quem já chegava pronta para a provocação.
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  — Nossa, demorou, hein? Você escutou que eu toquei a campainha três vezes? Achei até que vocês já tinham saído sem mim! — disse Camila rápido demais e inclinando a cabeça para o lado, observando a amiga com um olhar astuto. — Eita, mas olha só esse rostinho corado… Tá me escondendo o quê, Sofia? Ou seria quem?
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  Sofia rolou os olhos, mas o leve rubor que se espalhava por suas bochechas só confirmou a suspeita da amiga.
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  — Eu não tô escondendo nada, Camila. Você que já chega inventando coisa. — A voz saiu firme, mas a forma como ela se esquivou para o lado, dando espaço para a amiga entrar, denunciava o desconforto.
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  Camila entrou com a desenvoltura de quem já se sentia dona do lugar. Deixou a bolsa no aparador, chutou os sapatos de salto baixo para fora dos pés e foi direto para a cozinha, como quem conhece o caminho de cor.
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  — Aham, sei. — cantarolou, andando até a cafeteira. — Você está mais arrumada que o habitual para “a Sofia no shopping em um sábado de manhã”. — Ela gesticulou com a mão livre, apontando a blusa leve que marcava discretamente a silhueta de Sofia, o jeans que valorizava o corpo sem esforço, os cabelos impecavelmente soltos e até os sapatos alinhados. — Me diz: tentando impressionar alguém?
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  Sofia franziu o cenho e voltou a se sentar no banco alto da ilha, cruzando as pernas com elegância ensaiada.
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  — Eu me arrumo pra mim mesma, obrigada. Não preciso de motivo.
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  — Pra você mesma? — Camila arqueou uma sobrancelha, servindo-se de café sem pedir permissão. O cheiro fresco invadiu o ambiente quando ela puxou a xícara até a boca, soprando antes de beber. — Tá bom. Mas essa carinha pensativa, o rubor na pele… tudo isso diz outra coisa, viu?
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  Sofia desviou o olhar, mexendo na própria caneca já quase vazia. O silêncio que se instalou por alguns segundos só fortaleceu o sorriso matreiro de Camila.
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  — Você não vai mesmo me dizer em quem tava pensando? — insistiu, apoiando-se de frente na bancada, de cotovelos, inclinando-se na direção da amiga.
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  — Camila… — Sofia suspirou, erguendo os olhos. A expressão era de quem lutava contra a rendição. — Não começa.
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  — Eu já comecei. — rebateu a outra, divertida. — Aliás, deixa eu perguntar logo: essa historinha toda de ensaiar beijo, treinar dança, fingir que são um casal… tá funcionando mesmo como você planejou? Porque, pelo que eu vejo, quem tá acreditando na farsa de verdade são vocês dois.
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  Sofia arregalou os olhos, quase engasgando com o café. Endireitou-se na cadeira, ereta como se estivesse em um tribunal.
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  — O quê? Não… não é isso. Quer dizer… — Ela pressionou os lábios e deixou escapar um riso nervoso, passando a mão pelo cabelo em um gesto de quem tentava ganhar tempo. — Você acha mesmo que eu e o Miguel…?
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  — Eu não acho. Eu vejo. — Camila sorriu satisfeita, bebendo mais um gole do café, antes de completar: — E, se você quer saber, eu nunca vi você desse jeito antes.
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  Sofia sustentou o olhar da amiga por um instante, mas não resistiu. Deixou os ombros caírem, a resistência desmoronar e soltou um suspiro pesado.
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  — Tá bom. — disse, baixinho, quase como uma confissão. — Talvez você tenha razão.
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  Camila ergueu as sobrancelhas, triunfante, mas ficou em silêncio, esperando que Sofia fosse adiante.
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  — Eu não sei… — começou Sofia, olhando para a própria xícara, como se ali estivesse uma resposta. — Esses ensaios, essas… coisas que a gente fez juntos… mexeram comigo. No começo, eu pensei que seria só um jogo, sabe? Ensaiar um papel, decorar uma mentira convincente. Mas… — Ela parou, mordendo o lábio inferior, hesitante. — Eu comecei a ver o Miguel com outros olhos.
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  Camila apoiou a xícara na ilha devagar, cruzando os braços e inclinando o corpo de lado, sem perder o contato visual.
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  — Tipo… olhos de mulher que tá olhando um homem? — perguntou, maliciosa, mas com suavidade na voz.
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  Sofia deixou escapar uma risada curta, um tanto envergonhada.
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  — É. Exatamente isso.
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  O rubor voltou às bochechas dela, ainda mais evidente. Sofia desviou o rosto, levando a caneca à boca para se esconder atrás dela. Mas Camila não precisava de mais nada. O jeito como a amiga mexia os dedos nervosamente, como mordia o lábio e como não conseguia sustentar o olhar eram provas mais que suficientes.
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  — Sabia. — murmurou Camila, vitoriosa. — Eu só precisava ouvir da sua boca.
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  Sofia balançou a cabeça, fingindo impaciência.
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  — Você não presta. — disse, mas com um meio sorriso nos lábios.
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  — Talvez. — Camila deu de ombros, divertida. — Mas, no fundo, você adora ter alguém pra cutucar quando não tem coragem de admitir sozinha.
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  Sofia suspirou, pousando a xícara e apoiando o queixo na mão.
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  — Isso é um problema, Camila. Eu não deveria estar sentindo isso.
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  — Não deveria por quê? — a amiga rebateu de imediato. — Ele é livre, você é livre. Qual o crime?
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  — O crime é que isso tudo começou como uma farsa. — Sofia falou baixo, mas firme. — Como se eu tivesse inventado uma desculpa para aproximar ele de mim… e agora eu não sei onde termina a mentira e começa a verdade.
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  Camila a observou por alguns segundos, séria pela primeira vez naquela manhã. Depois, esticou o braço e tocou a mão da amiga, em um gesto afetuoso.
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  — Amiga, às vezes a vida acontece nas entrelinhas. Quem disse que não pode começar como farsa e virar verdade?
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  Sofia abriu a boca, pronta para responder, mas nada saiu. Apenas suspirou de novo, deixando o peso das palavras da amiga ecoar dentro de si. Camila sorriu, recostando-se no banco alto ao lado dela, tomando outro gole de café como se o assunto estivesse resolvido. Sofia, no entanto, sabia que estava apenas começando. Camila pousou a xícara de café sobre a ilha e, dessa vez, ficou olhando Sofia em silêncio por alguns segundos. Seus olhos curiosos estreitaram-se levemente, como quem estava prestes a lançar a pergunta que vinha martelando desde o início daquela visita.
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  — Tá… — começou, com o tom de voz mais baixo, quase conspiratório. — Mas e ele?
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  Sofia levantou os olhos de repente, surpresa.
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  — Ele… o quê?
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  — Ontem. — Camila inclinou o corpo para frente, apoiando os cotovelos no tampo de mármore e gesticulando com as mãos. — Quando vocês ficaram sozinhos lá na balada ou depois daquele momento que um carinha aproximou de você e ele fez questão de fingir te beijando. É, eu vi sim, vocês encenando um beijo sem eu pedir! — Camila revelou com um sorriso cretino enquanto Sofia abria e fechava a boca surpresa.
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  — Nada te escapa? Achei que você já estivesse bêbada!
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  — Não é porque eu estava bebendo que deixaria de observar meus atores! Mas, o foco não é esse! Me conta: ele falou alguma coisa? Te deu algum sinal? Um olhar diferente, uma frase com duplo sentido, sei lá…
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  Sofia piscou algumas vezes, e a memória da noite anterior voltou como um filme rápido. O calor da pista de dança, a música alta, os olhares que se encontravam de perto demais, a forma como os corpos se tocaram num ritmo que não era apenas ensaio. E, principalmente, a lembrança de como ela teve que controlar a respiração quando os lábios de Miguel se aproximaram demais dos dela, mesmo que aquilo fosse “parte da cena”.
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  Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior.
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  — Ele… não falou nada de direto. — murmurou, mexendo distraidamente na faca perto do vidro de geleia, como se quisesse evitar a intensidade do olhar da amiga. — Mas… eu senti que tinha alguma coisa ali. Não sei explicar, Camila.
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  Camila franziu o cenho e abriu um sorriso de quem estava se divertindo demais com aquele jogo.
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  — Não sabe explicar, é? — repetiu, debochada. — Ah, Sofia, você tá se enrolando toda porque sabe, sim. Sabe muito bem.
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  Sofia respirou fundo e ergueu o olhar, com um riso nervoso escapando.
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  — É sério. Ele não disse nada… mas teve momentos em que parecia que a gente esqueceu que aquilo era só uma encenação. Tipo… quando ele segurou minha cintura pra me guiar na dança. — Ela fez uma pausa, lembrando-se do toque, e a voz saiu quase como um sussurro. — Não parecia atuação.
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  Camila arregalou os olhos, batendo a mão de leve na bancada, empolgada.
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  — Eu sabia! — exclamou, rindo. — Ele pode não ter falado, mas o corpo fala, amiga. E eu aposto que o dele gritou alto ontem.
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  Sofia levou as mãos ao rosto, abafando a própria risada envergonhada.
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  — Para, Camila! Você tá me deixando mais nervosa do que eu já tô.
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  — Nervosa nada, você tá é animada. — Camila se levantou do banco, foi até a cafeteira para se servir de mais um pouco de café e falou por cima do ombro: — Me conta a verdade: quando você chegou em casa, ficou revirando as cenas na cabeça até dormir, não ficou?
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  Sofia ficou em silêncio, e esse silêncio foi resposta suficiente. Camila virou-se lentamente, segurando a xícara cheia, e apontou para ela com um sorriso sapeca.
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  — Aí está. Minha prova definitiva. Você tá apaixonadinha, Sofia.
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  — Eu não tô apaixonada. — retrucou Sofia de imediato, mas a rapidez da defesa apenas reforçou o contrário.
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  Camila caminhou de volta até a ilha e se recostou de frente para a amiga, balançando a cabeça como quem já tinha encerrado o caso.
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  — Pode negar o quanto quiser. Eu conheço você. E sei quando alguma coisa mexe de verdade contigo.
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  Sofia respirou fundo, desviou o olhar para a xícara quase vazia e, por fim, deixou escapar um sussurro resignado:
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  — É… talvez esteja mexendo mais do que eu gostaria de admitir.
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  Camila sorriu satisfeita, deu mais um gole no café e respondeu com leveza:
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  — Ótimo. Então aproveita, amiga. Porque às vezes a vida só dá esses presentes quando a gente se deixa enganar pelas próprias farsas.
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  O silêncio que se seguiu foi leve, confortável. As duas permaneceram ali, cada uma com sua xícara, entre risos tímidos e olhares cúmplices. E, pela primeira vez, Sofia não se sentiu assustada com a confissão que havia feito.
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  — E quer saber? Tá na hora de eu espremer o Miguel sobre esse assunto, também! Assim que eu tiver a oportunidade, vou interrogá-lo! — Camila respondeu certeira, com olhar maníaco que sempre usava quando prometia aprontar alguma . Sofia riu do jeito exagerado e extrovertido da amiga.
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  A campainha soou cortando o clima de conspiração.
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  — Vai lá, deve ser o Miguel. — Camila comentou, levando a xícara aos lábios com calma ensaiada. Assim que Sofia se virou para atender, Camila, arteira, levantou-se devagar e foi pé por pé atrás dela, na ponta dos pés, pronta para espiar a cena. Ela queria espiar a reação do amigo ao ver Sofia arrumadinha de um jeito diferente.
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  Sofia ajeitou rapidamente os fios soltos do cabelo antes de abrir a porta. E quando a maçaneta girou, o ar pareceu pesar um pouco. Do outro lado, Miguel estava parado, apoiado de leve no batente, com um sorriso que não era só de cumprimento, era também de surpresa.
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  Ele demorou um segundo a mais do que deveria para falar, como se estivesse assimilando a imagem dela: cabelo arrumado, pele ainda ruborizada, a blusa clara que destacava seus ombros.
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  — Uau… bom dia. — disse, com uma pausa que denunciava o breve tropeço de pensamento. — Você… já está pronta?
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  Sofia, que até então tentava controlar a respiração, sentiu as palavras ficarem presas na garganta. O calor da conversa que tivera minutos antes com Camila voltou com força, e ela acabou sorrindo de forma nervosa, mexendo nos dedos.
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  — Bom dia. É… já.
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  O silêncio pairou por alguns instantes, carregado de coisas não ditas. Camila, atrás da porta, mordeu o lábio para não soltar uma risadinha.
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  Miguel quebrou a tensão ao entrar no apartamento, passando os olhos pelo ambiente. Bastou um instante para seu olhar pousar na costela-de-adão que estava ao lado do sofá, claramente ressecada, com algumas folhas pendendo tristes.
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  Ele arqueou a sobrancelha, fingindo seriedade:
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  — Eu espero que essa planta não esteja no mesmo programa de ensaios que a gente… porque, do jeito que está, acho que já perdeu todos os testes.
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  Sofia arregalou os olhos e soltou uma risada incrédula.
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  — Olha só quem fala! Aposto que você não sabe nem manter um cacto vivo.
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  — Ei, cactos são resistentes, sobrevivem sozinhos. Essa aí tá pedindo socorro. — Miguel retrucou, apontando para a planta com ar profissional.
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  — Ah, não vem bancar o botânico, não! — Sofia respondeu atrevida, mas já dando meia-volta rápido, quase tropeçando na pressa. — Peraí, vou resolver isso agora.
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  Ela foi até a cozinha, pegou uma jarra de água e voltou determinada, como se quisesse provar a Miguel que cuidava da planta, sim. Ao agachar-se ao lado do vaso para regar, uma mecha de cabelo caiu sobre o rosto, e Miguel não resistiu a acompanhá-la com os olhos.
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  Camila, que havia corrido de volta para a cozinha antes que fosse pega espiando, estava sentada casualmente no banco da ilha, balançando a perna e com um sorriso malicioso escondido atrás da xícara.
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  Miguel, caminhando para a cozinha logo depois de entrar, comentou em voz alta:
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  — A Camila já chegou?
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  Quando virou o corredor, deu de cara com ela ali, perfeitamente instalada, com sua xícara vazia de café, mas cheia de conspiração e um olhar suspeitoso.
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  — Já estou aqui faz tempo. — ela respondeu, cruzando os braços sobre a bancada e sorrindo de um jeito que parecia esconder um segredo. — Bom dia, querido.
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  Miguel parou, estranhando aquele tom e principalmente a expressão dela.
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  — Tá… bom dia. — disse, devagar, desconfiado.
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  Ao mesmo tempo, seu olhar foi puxado de volta para a sala, onde Sofia estava inclinada sobre a planta, despejando água demais de uma só vez, mordendo o lábio em esforço concentrado, como se regar fosse a tarefa mais séria do mundo naquele instante.
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  Camila notou o jeito como ele a observava e quase gargalhou, mas se conteve, apenas mordendo o lábio com a risada presa.
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  Sofia voltou para a cozinha ainda segurando a jarra de água. Colocou-a sobre a bancada, olhou para a mesa ainda cheia de pratos e xícaras e suspirou.
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  — Ok, hora de organizar essa bagunça… — murmurou, já estendendo a mão para empilhar os pratos.
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  Camila se adiantou de imediato, com aquele jeito imperativo que não aceitava discussão:
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  — Nada disso! Você já está quase pronta, falta terminar o que tem que fazer no banheiro. Vai, escovar esses dentes, passar um rímel, um batonzinho, sei lá. — Ela apontou o dedo como uma professora que pegou a aluna distraída. — A gente cuida daqui.
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  Sofia arqueou uma sobrancelha, desconfiada:
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  — “A gente”? Quer dizer quem exatamente?
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  — Ué, eu e o Miguel, claro! — Camila respondeu sem pestanejar, já empurrando a amiga com o olhar.
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  Miguel riu baixo e balançou a cabeça.
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  — Impressionante… — disse, teatral. — Camila sempre mandando a gente fazer alguma coisa, e eu sempre sendo escalado pra arrumar a bagunça da Sofia.
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  — Ei! — Sofia rebateu, mas o sorriso escapou. — Eu não sou bagunceira desse jeito, não.
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  — Ah, imagina… — Miguel devolveu com ironia, recolhendo uma xícara da mesa.
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  Camila, sem dar espaço para protesto, ergueu as mãos:
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  — Tá decidido. Sofia, desaparece daqui por uns minutos e volta só quando estiver deslumbrante.
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  Sofia resmungou algo inaudível, mas não discutiu mais. Pegou o celular do balcão e saiu em direção ao corredor, mexendo no cabelo como quem já aceitava a ordem.
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  Assim que a amiga sumiu de vista, Camila se virou lentamente para Miguel, com aquele sorriso travesso que ele conhecia muito bem. Ela se aproximou da pia e abriu a torneira, começando a lavar as xícaras uma a uma, enquanto ele recolhia os pratos e guardava os talheres que escorriam limpos na pia ao lado.
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  — Já tomou café, ou tá morrendo de fome? — ela perguntou, casual, mas com o olhar lateral bem atento.
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  — Já comi em casa. — ele respondeu, dando de ombros e colocando o açucareiro perto dela. — Você acha que eu viria encarar Sofia sem combustível no estômago? Eu não sou maluco.
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  Camila soltou uma risada curta, mas logo apoiou um dos pratos molhados na pia e cruzou os braços, sem se importar de molhar a blusa. Fixou os olhos nele com aquela expressão que misturava malícia e seriedade.
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  — Então me fala… o que você está sentindo em relação a ela?
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  Miguel parou por um instante com a mão no ar, ainda segurando o pote de geleia. Franziu o cenho e bufou uma risada, como quem já esperava por isso.
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  — Claro… tinha que vir você com essas perguntas. — disse, colocando a geleia sobre a pia. — Não consegue se segurar, né?
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  — Não. — Camila respondeu seca, arqueando uma sobrancelha. — E você também não consegue esconder.
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  Ele apoiou as mãos na bancada, respirou fundo e passou os dedos pelos cabelos, pensando rápido. Então a encarou, sem rodeios:
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  — Eu gosto dela. Pronto, falei.
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  Camila arregalou os olhos, fingindo choque.
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  — Ahá! Eu sabia! — apontou para ele com a esponja molhada, respingando água. — Eu sou um gênio, Miguel. Um gênio!
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  — Você é uma intrometida. — retrucou, mas riu da cena.
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  — Tá, mas… — ela se inclinou sobre a bancada, diminuindo a voz — é só uma atraçãozinha por causa dos ensaios ou… você tá mesmo interessado?
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  Miguel a encarou firme, sem brincar agora.
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  — Não é só atração, Camila. Eu já percebi isso. Ela é incrível. Inteligente, engraçada, espontânea… e quando fica brava, então? — ele sorriu de lado, quase com ternura. — Só que eu sei que ela me vê primeiro como amigo. E essa amizade é preciosa demais pra mim.
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  Camila ficou em silêncio por alguns segundos, observando o amigo com atenção. Ele voltou a recolher os pratos, como se a tarefa simples fosse um jeito de desviar da intensidade do que acabara de dizer.
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  — Você tem medo que ela mude com você. — ela concluiu, enxugando as mãos em um pano.
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  — Tenho. — Miguel admitiu, ainda de costas. — Eu não quero perder a Sofia por causa de um passo errado.
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  Camila sorriu, meio doce, meio travessa. Aproximou-se e deu um tapinha no ombro dele.
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  — Amigo, relaxa. Se tem alguém que não dá pra perder fácil, é a Sofia. Ela é cabeça-dura, mas sabe reconhecer quando algo é de verdade.
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  Miguel a olhou por cima do ombro, sério, mas os lábios se curvaram em um sorriso discreto.
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  — Você fala como se já tivesse certeza do final dessa história.
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  — Não é o final que eu vejo, é o meio. — Camila piscou para ele. — E o meio está ficando cada vez mais interessante.
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  Miguel riu, balançando a cabeça, mas o olhar voltou involuntariamente para o corredor por onde Sofia tinha desaparecido. E não demorou muito para que ela surgisse de volta, agora pronta. O cabelo solto caía em ondas leves sobre os ombros, os olhos realçados por uma maquiagem discreta, e os lábios rosados destacavam o sorriso contido que ela tentou forçar ao notar os dois na cozinha.
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  — Pronta! — anunciou, ajeitando a alça da bolsa no ombro.
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  Camila, sempre rápida, largou o pano de prato e se endireitou como se nada tivesse acontecido.
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  — Finalmente, hein? A gente achando que ia ter que chamar o resgate pra você sair do banheiro.
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  Sofia estreitou os olhos, desconfiada da cumplicidade velada entre os dois, mas não insistiu. Pegou o celular no balcão e caminhou até a porta.
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  — Vamos logo, antes que a gente perca a manhã inteira.
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  Minutos depois, estavam descendo para a garagem. O sol das dez da manhã já iluminava forte a rua, refletindo no metal brilhante do carro de Miguel. Ele abriu o veículo com um clique e, com um gesto, segurou a porta do carona para Sofia entrar. Ela hesitou por um segundo, surpresa com o cavalheirismo inesperado, mas aceitou em silêncio. Camila ocupou o banco de trás, já mexendo no celular, animada.
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  — Olha só, casal, hoje a missão é simples: roupa. — ela declarou, batendo palmas. — Vocês vão entrar naquela festa combinando, não de uniforme, mas de sintonia. Todo mundo precisa olhar pra vocês e pensar: “uau, esse par é impossível de ignorar”.
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  — Como se a gente fosse uma vitrine de shopping ambulante — Miguel resmungou, ajustando os óculos de sol antes de ligar o carro.
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  Camila riu.
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  — Exatamente, só que uma vitrine sexy.
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  O trajeto foi leve, entre provocações e silêncios estratégicos. Sofia olhava pela janela, tentando disfarçar os pensamentos que insistiam em voltar à noite anterior. Miguel, concentrado no trânsito, ainda arriscava alguns olhares de soslaio para ela, sem que percebesse. Já Camila, do banco de trás, observava os dois como quem assiste a um reality show em tempo real.
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  Chegaram ao shopping pouco depois, estacionando no subsolo movimentado. Assim que subiram as escadas rolantes, o cheiro de café fresco e perfumes de loja os envolveu. Camila assumiu de imediato a liderança, arrastando os dois para uma grande loja de departamento.
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  — É aqui mesmo. — anunciou, colocando as mãos na cintura como se fosse a diretora de uma peça. — Miguel, você vai experimentar camisas sociais claras, porque vai valorizar seu jeito… másculo. — fez um gesto exagerado que arrancou risos de Sofia. — E você, minha querida, vai provar vestidos fluidos, nada óbvio, mas que digam: “sou inacessível, mas olha só como estou linda com meu namorado”.
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  — Nossa, você realmente pensou em tudo, hein? — Sofia comentou, arqueando a sobrancelha.
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  — Claro! — Camila piscou. — É uma operação quase militar.
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  Miguel suspirou teatralmente.
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  — Tradução: vamos passar horas provando roupa.
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  — Horas gloriosas, meu caro — retrucou Camila, já empurrando-o na direção da seção masculina. — Anda logo, não me faça perder meu tempo de personal stylist gratuita.
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  Enquanto isso, Sofia era levada para o outro lado da loja. Camila, como uma consultora de moda de novela, começou a separar peças com entusiasmo: vestidos de diferentes cortes, blusas sofisticadas, saias que poderiam compor um visual harmonioso. Sofia, obedecia as orientações da amiga entre risos e olhares discretos para Miguel ao longe.
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  A loja era ampla, com ar-condicionado frio demais contrastando com o calor que vinha de fora. As araras cheias de vestidos longos e curtos, cores vibrantes e tecidos macios formavam um pequeno labirinto, e Camila andava por ali como uma criança em parque de diversões. Pegava uma peça, largava outra, estendia cabides nos braços de Sofia até que a amiga estivesse com o peso de meia coleção de moda equilibrado contra o corpo.
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  — Camila… eu não vou provar tudo isso. — Sofia resmungou, mas sorrindo, porque sabia que resistir era inútil.
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  — Vai sim! — ela respondeu sem nem olhar, enquanto mergulhava numa seção de vestidos fluidos. — Você não tem escolha. Isso aqui é uma missão séria.
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  Miguel, com as mãos nos bolsos da calça jeans, caminhava um pouco atrás, observando a cena com uma expressão entre a resignação e a diversão. Ele não interferia, mas cada vez que Camila jogava mais um cabide nos braços de Sofia, o olhar dele deslizava para ela, analisando como se cada roupa tivesse potencial para revelar algo novo.
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  Finalmente, Camila empurrou Sofia em direção aos provadores, quase tropeçando com o peso de tantas peças.
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  — Vai, some lá dentro e começa o desfile. E olha, nada de provar correndo. Quero ver cada detalhe.
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  Sofia entrou na cabine com um suspiro teatral, fechando a cortina atrás de si. Do lado de fora, Miguel se escorou contra a parede, braços cruzados, enquanto Camila se acomodava numa poltrona como quem aguardava um espetáculo.
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  A cortina abriu-se alguns minutos depois, e Sofia deu o primeiro passo hesitante para fora. O vestido era curto, acima do joelho, num tom vermelho profundo que contrastava com sua pele morena clara. Tinha mangas bufantes discretas e marcava suavemente a cintura, descendo em tecido leve que se movimentava a cada passo.
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  — Uau! — Camila bateu palmas. — Já começamos bem.
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  Miguel descruzou os braços e ficou em silêncio por um instante, encarando. O olhar dele percorreu Sofia de cima a baixo, mas não era lascivo; era atento, como quem realmente analisava a imagem dela.
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  — Vermelho em você… — ele começou, coçando o queixo com o polegar. — Não é só bonito. É forte. Faz você parecer… perigosa.
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  Sofia riu, surpresa com a escolha da palavra.
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  — Perigosa?
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  — É. — Miguel deu de ombros, sério. — Tipo alguém que sabe exatamente o que quer e não tem medo de mostrar.
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  Camila ergueu as sobrancelhas, impressionada.
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  — Nossa, até poético.
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  Sofia desviou o olhar, mexendo na barra do vestido, o rosto corando mais do que já estava. Camila percebeu de imediato e abriu um sorriso maroto.
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  — Vou anotar essa: “perigosa”. Próximo! — decretou, empurrando Sofia de volta para o provador.
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  O segundo vestido era totalmente diferente: longo, azul marinho, justo no busto e soltinho no restante, com um decote em V elegante, mas nada exagerado. Sofia saiu da cabine ajeitando os ombros, como se buscasse aprovação.
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  — Esse é… — Miguel buscou palavras, e então respirou fundo. — Esse é o tipo de roupa que faz você parecer inacessível. Tipo… se alguém te olhar assim, vai pensar que não tem chance nenhuma de chegar perto.
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  — Credo, que definição cruel! — Sofia riu, mas sentiu o estômago revirar com a intensidade nos olhos dele.
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  Camila gargalhou, batendo as mãos.
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  — Eu tô amando isso! O Miguel não tá falando de roupa, tá descrevendo sensações.
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  — É o que você pediu, não foi? — ele retrucou, lançando-lhe um olhar torto. — Eu não entendo de moda, só digo o que me passa.
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  Sofia voltou ao provador antes que alguém percebesse que o rubor dela estava ainda mais evidente.
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  O terceiro vestido era ousado: preto, justo, com recortes sutis na cintura e fenda lateral que deixava parte da perna exposta. Quando ela saiu, a respiração de Miguel deu uma leve falhada, e ele precisou ajeitar a postura, fingindo naturalidade.
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  — Esse… — ele demorou mais do que de costume. — Esse não é você.
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  — Como assim, não sou eu? — Sofia perguntou, curiosa.
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  Ele inclinou a cabeça, observando com seriedade.
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  — Você tem uma força natural, mas não é óbvia. Esse vestido grita, e você não precisa gritar. Você chama atenção só de entrar num lugar, mesmo sem querer. Esse aí… tira a sua verdade.
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  Camila abriu a boca, surpresa.
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  — Ok, esse comentário foi digno de jurado de reality show de moda.
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  Sofia ficou em silêncio por alguns segundos, o coração acelerado. Não sabia se ria, se agradecia, ou se corria de volta para a cabine. No fim, apenas girou nos calcanhares, fingindo leveza.
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  — Então, nada de preto gritando. Anotado.
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  Seguiram-se outros vestidos: um verde esmeralda que Miguel disse “te deixa parecendo calma, mas com algo escondido”; um bege acetinado que ele descartou imediatamente com um “você parece alguém que foi obrigada a vir à festa”; e um floral delicado que arrancou dele uma frase inesperada:
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  — Esse é… bonito demais. Você parece… de verdade.
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  Camila engasgou com o próprio riso.
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  — Gente, vocês estão ouvindo isso? O cara descrevendo vestido como se estivesse se declarando!
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  — Cala a boca, Camila! — Sofia respondeu rápido demais, voltando para o provador com o coração na garganta.
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  Dentro da cabine, ela apoiou-se contra a parede, tentando controlar a respiração. Não era só o calor do “tira e veste” variado de peças. Não era só o nervosismo de experimentar roupas diante dos dois. Era o jeito como Miguel a olhava, como se enxergasse mais do que o tecido mostrava. Como se estivesse descobrindo camadas dela que nem ela própria entendia.
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  Quando saiu pela última vez, com um vestido midi, verde musgo, de corte elegante e caimento natural no corpo, Miguel demorou a falar. Os olhos dele ficaram fixos, percorrendo cada detalhe, mas sem pressa.
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  — Esse. — disse enfim, com firmeza. — Esse é você.
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  — É… bonito, né? — Camila comentou, avaliando o conjunto.
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  — Não é só bonito. — Miguel respondeu, ainda olhando para Sofia. — É… autêntico. Parece que você não tá tentando impressionar ninguém, mas, mesmo assim, impressiona.
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  O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de significados. Sofia apertou os dedos contra a barra do vestido, tentando esconder o tremor. Camila mordeu o lábio, olhando de um para o outro, e então explodiu:
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  — Ai, meu Deus! Vocês dois são insuportáveis! Ficam nessa de olhar, falar metade, esconder outra metade… — ela jogou as mãos para cima. — Pronto, decidido: esse é o vestido da festa. Acabou.
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  Sofia voltou para o provador, mas não conseguiu parar de sorrir.
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  E Miguel, do lado de fora, ainda estava parado com a imagem dela gravada na mente, como se nenhum outro vestido no mundo pudesse competir.
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  Camila foi olhar outras roupas da loja pensando em algo para Miguel, enquanto Sofia se trocava novamente, e a amiga aproveitou a distração de sua diretora maluca para se apressar em pagar. Afinal, Camila já tinha dito que faria questão de dar o vestido à amiga de presente. Pouco depois de Sofia pagar pelo vestido, Miguel chamou por Camila que surgiu dizendo:
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  — Não gostei de nada da loja pra você Miguel! Mas já sei onde iremos! — E olhando pra bolsa de compra de Sofia na mão dele, ela protestou: — Sua vaca! Você pagou pelo vestido?
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  — Mas é lógico, agora vamos logo! — Sofia comentou tentando pegar a sacola da mão de Miguel, e ele afastou a mão dele.
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  — Eu carrego as compras. Não insista. — sorriu e piscou para Sofia que apenas concordou tentando conter o quanto aquela piscadinha mexeu com ela.
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  Os três saíram da loja atrás da segunda fase: escolher as roupas de Miguel. E claro, guiados por Camila, o “esquadrão da moda de uma só”.
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  Miguel saiu do provador ajeitando a gola da primeira camisa. Era branca, de corte básico, mangas dobradas até o cotovelo. No corpo dele, o tecido parecia feito sob medida, destacando o porte largo dos ombros e a firmeza dos braços.
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  Camila bateu palmas como quem chama a plateia para atenção:
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  — Pronto, é a vez dele! Sofia, agora é sua responsabilidade: nada de “tá bom” ou “serve”. Quero detalhes.
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  Sofia, que estava acomodada numa poltrona ao lado, cruzou as pernas e tentou disfarçar o friozinho que correu na espinha ao ver Miguel ajeitando a roupa. Ela já o tinha visto de terno, camiseta, moletom — mas havia algo diferente agora. Talvez porque, desta vez, ela tivesse de olhar como “namorada”.
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  — A camisa tá… bem você. — comentou, olhando de cima a baixo. — Mas básica demais. Parece que você vai tomar um café com os amigos, não ir à uma festa que vai ter todo mundo analisando nosso “casal”.
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  Miguel arqueou uma sobrancelha, divertido.
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  — Então você quer que eu pareça… menos eu?
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  — Não. — Sofia riu, balançando a cabeça. — Quero que pareça uma versão sua que ninguém pode ignorar.
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  Camila arregalou os olhos, fazendo uma careta exagerada.
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  — Eita, gostei da definição! Próximo, anda!
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  Miguel voltou ao provador, e quando saiu, trazia uma camisa preta de botão, justa no peito, levemente aberta no colarinho. Com a calça social cinza escura, o conjunto ganhava um ar mais sério.
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  Sofia o encarou em silêncio por alguns segundos, sem perceber. O contraste da pele dele contra o tecido, o jeito como a linha da camisa acompanhava o abdômen definido… ela engoliu seco antes de falar.
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  — Essa… — sua voz soou mais baixa do que esperava. — Essa é perigosa.
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  Miguel franziu o cenho, intrigado.
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  — Perigosa? Não é você que usa essa palavra comigo.
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  Ela sorriu, encostando o queixo na mão, com ar provocador.
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  — Agora é a minha vez. Você entra com essa camisa em qualquer lugar e, pronto, todo mundo sabe que tem que prestar atenção. E eu também não tô falando só de roupa, Miguel.
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  O silêncio que se seguiu foi quebrado por Camila gargalhando.
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  — Vocês estão se copiando! Vocês percebem, né? Primeiro ele chama você de perigosa, agora você chama ele. Isso aqui já virou flerte descarado.
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  Sofia bufou, mas o calor nas bochechas a entregou.
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  — Cala a boca, Camila. — Depois olhou de novo para Miguel. — Mas, sério, essa aí… impressiona.
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  Miguel desviou o olhar, mas um meio sorriso escapou.
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  — Próxima.
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  Ele voltou ao provador e saiu com um blazer azul-marinho sobre uma camiseta branca simples, combinando com calça slim preta. O visual era moderno, menos formal, mas ainda elegante.
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  Sofia inclinou a cabeça, analisando de verdade.
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  — Esse é você no dia a dia, mas mais… lapidado. — Ela piscou. — É confortável, mas sem perder charme.
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  — Charme? — Miguel repetiu, fingindo surpresa. — Essa palavra nunca tinha aparecido nas suas avaliações antes.
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  Ela riu, balançando a cabeça.
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  — É porque nunca precisei olhar pra você desse jeito.
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  Camila, claro, não deixou passar.
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  — Ah, eu tô adorando! Olhar de namorada, Sofia?
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  — Não coloca palavras na minha boca. — Sofia rebateu rápido, mas a verdade já estava dita, e Miguel captou. O olhar dele ficou preso nela por mais um instante do que deveria.
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  O próximo traje foi ousado para os padrões dele: um terno cinza claro, gravata fina preta, sapatos engraxados. Miguel parecia desconfortável de início, mexendo na manga, ajeitando a gola. Mas quando levantou o rosto, havia uma imponência natural ali.
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  Sofia levou a mão à boca, surpresa.
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  — Uau…
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  — Uau, o quê? — Miguel perguntou, tentando manter a voz firme.
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  — É que… — ela hesitou, mas decidiu ser sincera. — Eu já te vi em roupa social antes, mas nunca desse jeito. Parece… que você pertence a outro lugar. Tipo um personagem de filme. Sabe aqueles caras que entram em cena e todo mundo para de falar? É isso.
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  Miguel respirou fundo, desconcertado, desviando o olhar.
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  — Isso soa exagerado.
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  — Não é exagero. — Sofia rebateu, sem tirar os olhos dele. — É a sensação que passa.
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  Camila suspirou alto, batendo as mãos nas pernas.
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  — Vocês estão me matando. Sério, tô quase pegando pipoca aqui. Mas anotado: terno cinza, aprovado.
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  Por fim, Miguel saiu do provador com uma combinação mais inesperada: calça de alfaiataria preta, sapato marrom, e uma camisa vinho escura, sem blazer. O tom destacava a pele dele, e os olhos pareciam ainda mais intensos sob a luz da loja.
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  Sofia abriu um sorriso lento, quase involuntário.
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  — Esse… — ela começou, mas parou, procurando palavras. — Esse é… bonito demais.
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  Miguel ergueu uma sobrancelha.
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  — Bonito demais?
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  — É. — Ela ajeitou o cabelo atrás da orelha, tentando disfarçar. — Faz você parecer… próximo. Real. Não é um personagem, não é alguém inacessível. É você. Só que em versão que… eu não sei explicar. — E riu nervosa. — Acho que tô falando igual você falava comigo.
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  Miguel sorriu, um daqueles raros, abertos, que mostravam que ele tinha sido realmente atingido.
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  — Então, acho que estamos quites.
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  Camila levantou-se, aplaudindo como uma mestra de cerimônias encerrando o espetáculo.
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  — Decidido! Ele fica com essa camisa vinho e o blazer azul como opções. E vocês dois precisam parar de se olhar como se estivessem ensaiando beijo em novela.
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  Sofia bufou, mas não respondeu. Miguel apenas guardou as mãos nos bolsos, mas o sorriso ainda estava ali, discreto.
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  Quando finalmente Miguel decidiu pela camisa vinho — com a bênção solene de Camila e o olhar ainda meio perdido de Sofia — eles seguiram para o caixa com a pilha de roupas escolhidas. Antes que Miguel pudesse puxar a carteira, Sofia avançou na frente, cartão já em mãos.
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  — Espera aí. Eu que pago. — disse com firmeza. — A culpa dessa novela mexicana é toda minha, então nada mais justo que eu bancar a fantasia.
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  Miguel riu, inclinando-se sobre ela para alcançar a maquininha.
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  — Você tá louca se acha que vou deixar.
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  — Miguel, eu insisto! — Sofia retrucou, esticando o braço como se fosse proteger a maquininha de cartão com o corpo. — Foi minha ideia idiota, minha mentira, minha enrascada. Logo, minha conta.
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  — Tá, mas eu também aceitei entrar na sua mentira. E na verdade, foi ideia minha, lembra? — Ele sorriu de canto. — O mínimo que eu posso fazer é comprar a roupa que vou usar pra atuar de namorado de mentira.
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  — Atuar mal, diga-se de passagem. — Sofia provocou, tentando passar o cartão.
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  — Ah, é? — Miguel segurou o pulso dela com cuidado e afastou a maquininha. — Então me explica por que você ficou sem ar quando eu apareci de terno cinza.
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  Sofia arregalou os olhos, sem saber se ria ou se empurrava ele.
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  — Eu não fiquei sem ar!
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  — Ficou sim. — Ele manteve o sorriso travesso. — E não sabe disfarçar.
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  — Vocês dois, por favor! — Camila interrompeu, cruzando os braços e observando a cena como quem assiste a um espetáculo. — Parece que estão brigando pela custódia da compra.
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  — Porque estamos! — Sofia rebateu, ainda tentando passar o cartão.
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  Miguel, mais alto, simplesmente esticou o braço para o alto com a maquininha, fora do alcance dela.
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  — Desiste, baixinha.
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  — Me chama de baixinha de novo e eu conto pra moça do caixa que você me deve cinco anos de pizza dividida. — Sofia estreitou os olhos, erguendo o queixo.
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  O funcionário atrás do balcão riu baixinho, visivelmente se divertindo com a cena. Foi então que Camila soltou, com um sorriso malicioso:
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  — Gente… na moral. Vocês brigando pra decidir quem paga roupa de casal… já parece até marido e mulher discutindo conta de luz.
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  Os dois congelaram ao mesmo tempo, cada um ainda segurando a maquininha de um lado. Sofia tossiu, ajeitando o cabelo atrás da orelha.
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  — Você exagera demais, Camila.
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  Miguel pigarreou, tentando parecer indiferente.
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  — É… nada a ver.
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  Mas nenhum dos dois conseguiu evitar o leve constrangimento que se espalhou, mesmo com o riso solto que veio logo depois para disfarçar. E Camila, satisfeita, apenas abriu um sorrisinho vitorioso.
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  Miguel segurava as sacolas das roupas recém-escolhidas, uma em cada mão, e soltou um suspiro exagerado, como se tivesse acabado de terminar uma maratona.
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  — Pronto. Missão cumprida. Agora, podemos finalmente só… sei lá, passear no shopping como pessoas normais? — perguntou, lançando um olhar cúmplice para Sofia, que vinha ao lado dele, ajeitando a bolsa no ombro.
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  — Seria ótimo — ela respondeu, rindo baixo. — Eu só queria um café tranquilo agora. Sem holofotes, sem plateia.
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  Camila vinha atrás, conferindo mensagens no celular, quando, de repente, soltou um gritinho tão agudo que fez os dois se virarem assustados.
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  — O quê? — Miguel arregalou os olhos. — Aconteceu alguma coisa?
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  — Aconteceu, sim! — Camila ergueu o dedo no ar, dramática. — Vocês esqueceram do mais importante: sapatos!
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  — Sapatos? — Miguel franziu o cenho, incrédulo. — Camila, pelo amor de Deus, você quer combinar até os sapatos agora? Tá assistindo muita novela coreana.
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  Sofia começou a rir, mas depois mordeu o lábio, pensativa.
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  — Olha… por mais absurdo que pareça, ela tem um ponto. — Então, virou-se para Camila. — Pro meu vestido verde musgo, eu realmente não tenho nada que combine. Nenhum salto, nenhuma sandália.
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  — Viu só? — Camila ergueu o queixo, vitoriosa, e já estendeu as mãos para puxar os dois. — Anda, casal, sem preguiça. Vocês ainda vão me agradecer.
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  Miguel revirou os olhos, mas se deixou arrastar, murmurando para Sofia:
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  — Ela tá vivendo um K-drama na cabeça dela, eu tenho certeza. Daqui a pouco vai querer comprar anel de casal também.
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  Sofia deu uma risada curta, desviando o olhar para disfarçar o rubor que lhe subiu às bochechas.
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  — E você ia topar usar? — provocou baixinho.
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  Miguel arqueou a sobrancelha e soltou um riso anasalado.
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  — Só se viesse com poder mágico de paciência extra pra aguentar a Camila.
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  — Ei, eu ouvi isso! — Camila retrucou sem sequer olhar para trás, puxando os dois para dentro da loja de sapatos.
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  A loja era ampla, com prateleiras espelhadas e sapatos organizados em fileiras por cores e estilos. O cheiro de couro misturado a perfume ambiente quase enjoava, mas Camila parecia no paraíso.
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  — Certo, foco, time! — ela anunciou, largando a bolsa sobre uma poltrona. — Sofia primeiro. Depois a gente tortura o Miguel.
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  Sofia suspirou, mas pegou alguns modelos indicados por uma das atendentes: uma sandália nude de salto fino, uma preta clássica e uma verde escura acetinada que quase gritava em harmonia com o vestido.
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  Ela sentou-se, cruzando as pernas, e Miguel automaticamente desviou o olhar para as mãos dela enquanto ela soltava o fecho da sapatilha que usava. Um gesto simples, mas que chamou atenção pela delicadeza.
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  — Tá olhando o quê, Miguel? — Camila cutucou o amigo, com um sorriso travesso.
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  — Tô avaliando o nível de empenho da cliente, diretora. — Ele tentou disfarçar, mas Sofia ergueu os olhos e o pegou no flagra, o que fez com que ambos trocassem um meio sorriso cúmplice.
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  Ela calçou primeiro a sandália nude. Levantou-se e deu uns passos, rodando um pouco sobre si mesma.
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  — E aí? — perguntou, pousando o olhar nos dois.
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  — Básica demais — Miguel respondeu, cruzando os braços. — Funciona, mas… não sei, não tem nada de especial.
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  Camila bateu palmas.
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  — Muito bem, gostei da sinceridade! Continua, Sofia. Próxima!
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  Veio a preta. Clássica, elegante, realçando as pernas dela de um jeito que Miguel tentou não reparar demais, mas falhou.
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  — Essa é elegante — ele admitiu. — Mas… — franziu o cenho. — Parece mais "reunião de negócios" do que festa de aniversário.
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  — Caramba, Miguel! — Camila gargalhou. — Você tá fazendo crítica de moda ou resenha de filme?
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  — Você mandou ser detalhista, tô obedecendo — ele rebateu, jogando de volta.
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  Sofia tentou segurar a risada, mas acabou deixando escapar.
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  — Ele tem razão, Camila. Eu também achei muito séria.
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  Finalmente, veio a verde acetinada. Assim que ela levantou-se com aquele par, o ambiente pareceu se transformar. O sapato era sofisticado sem exagero, harmonizava com o vestido e, de quebra, fazia Sofia se sentir mais confiante, o que refletiu no modo como caminhou pelo espaço. Miguel não conseguiu evitar o comentário.
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  — Tá aí. Esse sapato é perfeito. — Ele falou sem hesitar, olhando diretamente para ela. — Parece que foi feito pro vestido… e pra você.
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  As palavras saíram mais intensas do que ele pretendia, e o silêncio que se seguiu foi quebrado apenas por Camila, que ergueu as sobrancelhas como se tivesse acabado de flagrar um segredo.
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  — Uau… — ela cantarolou, teatral. — Esse “pra você” veio carregado, hein?
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  Sofia sentiu o rosto esquentar e tentou disfarçar ajeitando o cabelo atrás da orelha.
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  — Ah, o Miguel só tá sendo prático como sempre — murmurou, desviando o olhar.
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  Miguel pigarreou, tentando retomar a leveza.
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  — Enfim, decisão tomada. Esse é o sapato.
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  — Decisão tomada mesmo — Camila concordou, já se levantando. — E adivinhem? Hoje quem paga sou eu.
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  — O quê? — Sofia arregalou os olhos. — Camila, não precisa, de verdade.
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  — Precisa sim! — Camila retrucou, já indo ao caixa. — Considerem meu presente de casal oficial.
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  — Presente de casal? — Miguel ecoou, incrédulo. — Você tá se divertindo demais com essa brincadeira, Camila.
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  — Alguém tem que se divertir, né? — ela deu de ombros, com malícia no olhar.
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  Miguel e Sofia trocaram outro olhar breve, meio cúmplice, meio constrangido, mas sem palavras para rebater. Camila voltou do caixa com a sacola já em mãos e um sorriso de missão cumprida no rosto.
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  — Pronto, resolvido! Agora só falta… — ela girou nos calcanhares e apontou teatralmente para Miguel. — O nosso galã.
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  — Ah, não — Miguel imediatamente ergueu as mãos, como quem se rende a um assalto. — Roupa eu até entendi, mas sapato? Gente, sapato é sapato. Eu tenho uns pretos no armário que servem pra qualquer coisa.
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  — “Sapato é sapato” — Camila repetiu, escandalizada. — Isso é quase um crime fashion. Não, senhor. Hoje você vai calçar algo que combine com o estilo da sua “namorada”.
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  Sofia, que ainda ajeitava a sacola com seu par verde acetinado, não conseguiu segurar a risada.
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  — Olha, eu vou ter que concordar com ela, Miguel. Se eu vou estar toda arrumada, não dá pra você aparecer com aquele seu sapato de sempre que parece… sei lá, herança de tio avô.
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  — Não fala mal dos meus sapatos de guerra — ele rebateu, fingindo ofensa. — Já me salvaram em muitas ocasiões.
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  — Pois é, mas agora você vai precisar de algo mais sofisticado — Sofia retrucou, erguendo o queixo, divertida. — Afinal, somos um casal de fachada, lembra?
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  — Vocês duas contra mim… não tenho chance — Miguel resmungou, mas já se deixou empurrar até a área masculina da loja.
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  Camila foi a primeira a escolher três pares e colocou-os sobre a mesinha baixa da poltrona onde ele sentou: um social clássico de couro preto, um marrom escuro de linhas modernas e um mais ousado, num tom azul-marinho com detalhes discretos.
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  — Esse último não, Camila — Miguel fez careta. — Azul? Pra quê?
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  — Porque você precisa ousar, criatura! — ela retrucou, com as mãos na cintura. — Sofia, diga alguma coisa.
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  Sofia olhou para o sapato azul, depois para Miguel, e mordeu o lábio, pensativa.
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  — Eu… acho que poderia ficar interessante, sim.
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  Miguel estreitou os olhos para ela.
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  — Tá me traindo com a diretora.
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  — Só estou imaginando você com a opção do blazer azul com esse sapato. — Sofia deu de ombros. — Acho que realçaria seu jeito mais… descontraído.
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  A palavra ficou suspensa, e Miguel percebeu o olhar dela se demorando um segundo a mais do que o necessário. Ele pigarreou e resolveu começar pelo preto clássico. Calçou-o e levantou-se, caminhando de um lado para o outro.
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  — Tá vendo? — ele abriu os braços. — Esse funciona. Não precisa inventar moda.
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  — Funciona, sim… mas tá muito óbvio — Sofia opinou, cruzando os braços, com um meio sorriso. — É o tipo de sapato que todo cara escolheria.
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  — Exato! — Camila completou. — Você não é todo cara, Miguel. Vai pro próximo.
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  Ele bufou, mas obedeceu. Vestiu o marrom moderno e voltou a se levantar. O design valorizava a postura, e Sofia o notou de forma diferente. Miguel sempre parecera prático demais com a própria aparência, mas ali, testando o sapato, havia algo que destacava sua presença.
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  — Esse é interessante — ela comentou, avaliando-o. — Mais sofisticado que o preto, mas sem exagero.
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  — Olha aí, finalmente! — Miguel deu um giro rápido, divertido. — Se passou pelo crivo da crítica oficial, já me dou por satisfeito.
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  — Ainda falta o azul — Camila lembrou, impiedosa.
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  Miguel encarou o sapato, revirou os olhos e calçou-o, resmungando algo inaudível. Quando se levantou, Sofia arqueou as sobrancelhas, surpresa. O azul-marinho, longe de ser espalhafatoso, realmente destacava o conjunto que já haviam comprado. Tanto se ele escolhesse a camisa vinho ou a branca com o blazer azul marinho, ficaria harmonioso. Realçava até o tom dos olhos dele, e por um instante, ela perdeu a fala.
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  Camila, claro, não perdeu a chance:
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  — Nossa, Sofia, você ficou sem palavras, hein? Isso é um bom sinal.
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  — Não é nada disso — Sofia retrucou rápido. — Só… achei que ficou melhor do que eu esperava.
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  Miguel ergueu um canto da boca, satisfeito.
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  — Então acho que já temos um vencedor.
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  — Temos mesmo — Camila concluiu, batendo palmas. — E adivinhem? Esse também vai ser presente.
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  — O quê? — Miguel protestou. — Camila, não viaja. Você já pagou os da Sofia, não vou deixar você gastar mais.
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  — Vai deixar sim, porque eu quero — ela cortou, firme, entregando o cartão à atendente antes que ele pudesse impedir. — Considerem como presente de madrinha da farsa.
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  Miguel balançou a cabeça, derrotado, enquanto Sofia sorria de canto, observando a cena. No fundo, aquela insistência de Camila só servia para aproximá-los mais — e ambos sabiam disso, embora não admitissem em voz alta.
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  Quando saíram da loja, com duas sacolas novas em mãos, Camila suspirou contente, como se tivesse conquistado um troféu.
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  — Pronto, agora sim! Casal preparado da cabeça aos pés.
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  Miguel olhou para Sofia e murmurou, com ironia:
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  — Literalmente.
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  O relógio do shopping já marcava meio-dia quando os três finalmente deixaram a última loja. As sacolas os acompanhavam como troféus de guerra. Miguel carregava parte delas, resmungando que parecia um guarda-costas de boutique, enquanto Sofia ria e ajeitava as alças da própria.
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  — Eu avisei que a missão ia levar tempo — Camila comentou, satisfeita. — Duas horas cravadas de moda intensiva. Agora sim, vocês parecem um casal de novela.
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  — Pois é… um casal morto de fome — Miguel rebateu, com a mão no estômago. — Bora comer alguma coisa antes que eu desmaie aqui no meio do corredor.
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  — Apoio totalmente — Sofia disse, animada. — E nada de comida rápida, hein? Quero sentar e respirar, porque acho que não tenho mais energia nem pra experimentar brinco.
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  Camila riu e assentiu, mas antes de alcançá-los, ficou alguns passos atrás e puxou o celular. Fingiu desbloqueá-lo e, num teatro digno de Oscar, deixou o rosto cair levemente, franzindo as sobrancelhas.
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  — Ai, não acredito… — murmurou, em tom audível.
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  Sofia se virou imediatamente.
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  — O que foi?
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  — Mensagem do Caio — Camila suspirou, balançando a cabeça. — Ele precisava muito me ver, e… enfim, parece que deu ruim lá. Acho melhor eu ir até ele.
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  — Quer que a gente te leve? — Miguel perguntou, prático. — Não custa nada dar uma passada.
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  — Não, não! — ela respondeu rápido, erguendo a mão. — Vou chamar um Uber. Ele tá me esperando pertinho daqui.
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  Sofia arqueou a sobrancelha, desconfiada.
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  — Camila, você tem certeza? Não quero que fique parecendo que a gente te largou aqui.
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  Camila respirou fundo, teatral.
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  — Gente, relaxem. Aproveitem vocês dois. Comam algo aqui mesmo, depois peguem um cineminha… — ela deu um sorrisinho malicioso, como quem soltava a bomba e recuava. — Vocês merecem.
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  Miguel e Sofia se entreolharam, meio confusos.
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  — Cinema? — ele repetiu, incrédulo. — De onde você tirou isso?
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  — Da minha cabeça brilhante — Camila retrucou, com a maior naturalidade do mundo. — Eu já cumpri minha missão aqui. Agora vocês têm que treinar estarem juntos sem a minha supervisão.
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  — Mas e amanhã? — Sofia perguntou. — Vamos juntos à festa, né?
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  Camila fez que não com o dedo, categórica:
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  — Não mesmo! Nos veremos agora só na casa da Letícia. Vocês precisam estar no clima só de vocês, pra chegar como um casal pronto pra se exibir. Eu intrometida demais pode estragar a magia.
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  — Magia? — Miguel ironizou, mas não conteve o riso. — Você tá levando isso longe demais.
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  — Longe nada, já falei que vocês vão me agradecer depois — Camila disse, pegando as próprias sacolas da mão de Miguel. — Agora, beijo, se comportem e me contem tudo depois!
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  Sem dar chance para mais protestos, ela se afastou pelo corredor, acenando divertida, deixando atrás de si um rastro de riso e incredulidade. Miguel e Sofia ficaram parados por alguns segundos, olhando-se, até que ele suspirou.
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  — Eu não sei se ela tá ajudando ou nos jogando numa fria.
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  — Acho que um pouco dos dois — Sofia respondeu, rindo. — Mas ela tem razão em uma coisa: eu tô morrendo de fome.
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  — Então pronto — Miguel disse, erguendo as sacolas. — Vamos resolver isso.
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  Caminharam lado a lado até a área de restaurantes do shopping. O cheiro de comida misturado se espalhava pelo ar, mas Miguel foi direto ao ponto:
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  — Nada de fast food, né?
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  — Por favor, não — Sofia respondeu, categórica. — Quero comida de verdade.
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  Ele olhou ao redor até apontar para um bistrô discreto, envidraçado, com mesinhas de madeira clara e cardápio exposto na entrada.
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  — Aquele ali parece promissor.
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  Sofia concordou com um sorriso, e juntos entraram no restaurante, entregando-se ao momento simples e acolhedor de finalmente dividir uma refeição — agora, sem a sombra bem-humorada de Camila supervisionando cada gesto.
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N A M O R A D O • D E • E M E R G Ê N C I A •

  O bistrô era pequeno, acolhedor, com mesas de madeira clara e cadeiras estofadas em tons de creme. Luz natural entrava por uma grande janela lateral, iluminando suavemente o ambiente e destacando pequenos arranjos de flores sobre cada mesa. Ao entrarem, Miguel segurou a porta para Sofia, e ela sorriu, sentindo uma pontada de calor ao notar o jeito protetor e atento dele, tão natural quanto discreto.
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  — Boa tarde, senhor e senhora — disse a garçonete, um pouco surpresa com a sintonia deles, claramente tratando-os como um casal. — Têm preferência de mesa?
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  Miguel fez um gesto para que ela escolhesse:
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  — A que achar melhor.
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  Sofia, rindo baixinho, cochichou:
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  — Ela já nos colocou no mesmo saco de casal.
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  — Acho que estamos indo bem na farsa — ele respondeu com um sorriso, caminhando ao lado dela.
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  Enquanto a garçonete os guiava até uma mesa junto à janela, Miguel discretamente puxou a cadeira para Sofia, como se estivesse instaurando uma pequena rotina de cavalheirismo que ela não se lembrava de ter visto antes. O gesto a fez corar de novo.
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  Sentaram-se, e Miguel abriu o cardápio, fingindo concentrar-se, mas lançando olhares discretos para Sofia, que já examinava as opções com interesse.
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  — Sabe, depois de toda a loucura da Camila hoje de manhã, isso aqui é um alívio — comentou Miguel, com tom de brincadeira, mas misturado a um certo relaxamento.
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  — Verdade — concordou Sofia. — E pensar que a gente começou o dia como se estivesse numa novela coreana. Sapato, vestido, meia combinando… Eu juro que não pensei que ia rir tanto.
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  — Rir é só a ponta do iceberg — disse Miguel. — Te ver experimentando todos aqueles vestidos… foi… — Ele parou, escolhendo a palavra certa, mas acabou dando de ombros. — Foi revelador.
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  Sofia ergueu a sobrancelha, intrigada, e ele sorriu, como se dissesse “não estou falando sério… ou estou?”
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  — Revelador? — ela repetiu, divertida. — Em que sentido, senhor crítico de moda?
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  — Que você fica linda de qualquer jeito — respondeu ele, sorrindo sinceramente. — Mas cada vestido mostrava uma faceta diferente… Confesso que foi difícil não ficar analisando cada detalhe.
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  Ela corou levemente, desviando o olhar para o cardápio.
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  — E eu achando que estava fazendo tudo isso por causa da festa da Letícia. — Um sorriso tímido surgiu em seus lábios. — Talvez esteja funcionando também por você…
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  Miguel piscou, surpreso com a franqueza dela.
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  — É, talvez esteja… — ele disse, e depois riu baixinho. — Mas olha só, vamos tentar não perder o foco da refeição.
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  A garçonete voltou, sorridente, perguntando sobre os pedidos. Sofia escolheu uma salada Caesar com frango grelhado, enquanto Miguel optou por uma massa ao pesto com camarões. Ambos pediram água com gás, e a atendente comentou com simpatia:
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  — Ótima escolha, pessoal. O frango está no ponto perfeito, e a massa é fresquíssima.
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  Quando ela se afastou, Miguel olhou para Sofia com um sorriso divertido.
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  — Até os funcionários já estão nos tratando como casal de verdade. A Camila vai surtar quando souber.
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  — Concordo — Sofia respondeu, rindo. — Mas, sinceramente, está muito melhor só nós dois. Sem ninguém nos empurrando, sem diretora de moda.
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  — Sem supervisão da Camila é quase um milagre — Miguel brincou, apoiando o cotovelo na mesa. — E olha que ela merece crédito: montou o caos de compras e ainda nos deixou sobreviver.
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  Sofia sorriu, mexendo o cabelo.
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  — Ela é louca, mas efetiva. — Depois, baixou a voz, mais séria: — Você se sente estranho com tudo isso? Eu… quero dizer, essa farsa, o ensaio, a expectativa da festa…
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  Miguel pensou por um instante, observando a mão dela sobre a mesa, os dedos se movendo levemente enquanto ela falava.
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  — Estranho? Não sei se é a palavra certa — respondeu. — É diferente, mas… de um jeito bom. Me faz perceber como é gostoso estar perto de você. Como se tudo que rolou hoje fosse um treino, mas ao mesmo tempo não fosse.
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  Sofia sentiu um rubor subindo do pescoço às bochechas.
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  — Interessante… — murmurou. — Porque eu sinto algo parecido. Esses ensaios… me fizeram olhar para você de um jeito que eu não esperava. E olha que pensei que seria só diversão de mentira.
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  — Mentira que poderia facilmente nos enganar como uma meia verdade — ele comentou, e ela riu baixo, concordando.
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  Miguel fez uma pausa, observando a movimentação do bistrô, as mesas próximas, os casais, as famílias. Ele se sentiu mais relaxado do que em muito tempo.
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  — Sabe, Sofia, eu nunca fui de fazer muito alarde, mas hoje cedo… vendo você escolher cada vestido, cada detalhe… foi como se eu tivesse a chance de ver quem você é, de uma forma diferente. — Ele sorriu, leve, quase tímido. — E confesso, não está fácil manter o foco só na farsa.
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  Sofia encarou os olhos dele, curiosa, e com uma sinceridade que só surge quando se está confortável com alguém:
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  — Eu sei… eu também não consigo. Cada detalhe, cada risada, cada olhar… parece que você está mais presente do que deveria estar.
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  Miguel riu, meio sem jeito, e ergueu o copo de água para um brinde silencioso:
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  — Então brindamos a essa farsa que já não é tão farsa assim?
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  Ela sorriu, batendo o copo no dele suavemente:
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  — À nossa… improvisada normalidade.
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  O garçom chegou com um couvert, oferecendo pães e manteiga, e ambos agradeceram. Enquanto cortavam o pão, continuaram a conversa, agora falando das expectativas para a festa da Letícia, das roupas, dos detalhes que imaginavam que seriam mais importantes, e até das loucuras de Camila durante a manhã. Cada frase carregava uma intimidade crescente: o jeito que Miguel franzia a testa quando pensava, o sorriso tímido de Sofia ao concordar, as mãos que se aproximavam quase sem querer, e os olhares que duravam mais do que o necessário.
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  — E você acha que amanhã, na festa, alguém vai perceber que a gente está fingindo? — perguntou Sofia, com a sobrancelha arqueada.
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  — Não sei, não conheço todos os seus amigos… Não sei o quanto eles vão notar que você mente muito mal... — Miguel respondeu, pensativo, mas zombando-a e Sofia deu língua para ele, o fazendo rir. — Mas, sinceramente, não me importo. Acho que só nós dois sabemos a verdade, e… quer saber? — Ele sorriu, inclinando-se levemente para ela — é mais divertido assim.
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  — Divertido ou perigoso? — Sofia provocou, piscando.
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  — Um pouco dos dois — respondeu ele, rindo. — Mas olha, o importante é que a gente tá junto agora, sem ninguém mandando, sem stress. E eu gosto disso.
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  Ela riu, baixinho, sentindo o coração acelerar com a proximidade dele, a naturalidade das palavras, o clima leve que se instalara entre eles.
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  O aroma da comida começou a se espalhar pelo ar e, logo, o garçom retornou trazendo os pratos: a salada Caesar com frango grelhado para Sofia e a massa ao pesto com camarões para Miguel. O calor da comida recém-preparada subiu, e o tilintar dos talheres se misturou ao murmúrio suave do bistrô.
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  Eles olharam um para o outro, sorrindo discretamente, e começaram a se servir, enquanto o diálogo continuava naturalmente, cheio de risadas, provocações e a sensação de que, finalmente, tinham encontrado um momento só deles, onde a farsa deixava de ser farsa e se transformava em algo mais… íntimo e verdadeiro.
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  E enquanto comiam, suas cabeças pensavam nas possibilidades novas que surgiram, no entanto, na mente de Miguel também pairava a preocupação com um desastre:
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  — A gente tá falando de perceber um interesse novo um no outro, abertamente, não é?
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  Sofia retesou um pouco com o garfo na boca, encarou ele que ainda mantinha seu olhar fixo em seu próprio prato e murmurou:
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  — Uhum…
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  — Então… Você concorda que é só uma coisa natural entre um homem e uma mulher amigos que nunca tiveram esse tipo de olhar sobre o outro, ou…
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  O silêncio de Miguel seguido de uma bebida do suco que eles acabaram pedindo por último, despertou preocupação em Sofia que incentivou-o:
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  — Ou…?
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  — Ou acha que existe um risco real de você se apaixonar por mim?
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  Sofia quase engasgou. Mas, que tipo de pergunta era aquela? Miguel estava parecendo a Camila! Ela não poderia simplesmente dizer que já estava se sentindo meio “apaixonadinha” por ele! Aquilo estragaria anos de amizade e parceria perfeitas! Logo, imaginou o que estava acontecendo: Miguel estava com medo de precisar dar um fora na grande amiga, então, sendo esta a verdade que pairava à mente de Sofia ela declarou:
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  — É só uma reação normal de um homem e mulher saudáveis, bonitos e que não pegam alguém há uns meses.
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  Miguel encarou Sofia analítico. Ela estava falando sério? Tudo bem que ele pensou bastante a respeito e acha que já havia um sentimento menos fraterno no peito dele, a respeito da vizinha há algum tempo. Porém, mesmo assim, imaginou que Sofia estivesse tentando dizê-lo o mesmo que ele não tivera coragem. Algo como: “Acho que estamos nos apaixonando e precisamos falar sobre isso”.
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  — Ah… Que bom, eu acho que é a mesma coisa. Embora eu esteja menos tempo sem transar com alguém do que você. — Ele mentiu sorrindo e zombando, a fim de dar à conversa contornos de casualidade.
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  Se Sofia preferia manter apenas a amizade, então tudo bem.
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  — Você não transa há mais ou menos quatro semanas, Miguel! — Ela rebateu baixinho — Eu sei quando você sai com alguém, porque leva no mínimo duas semanas para elas sumirem da sua porta.
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  Ele riu e continuou o diálogo, mas agora com outro foco: Leonardo. Na real, ouvir Sofia falando das mulheres com quem ele saiu, estava o envergonhando.
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  — Sofia… Posso te fazer uma pergunta um tanto… Complexa?
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  A amiga assentiu, bebendo seu suco e notando ele a observar cauteloso.
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  — Por que está fingindo isso para o Leonardo? É por vergonha, orgulho ou vingança? Ou talvez.... Você ainda quer causar ciúme por que se importa?
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  Sofia abriu e fechou a boca apavorada por ele ter aquela impressão.
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  — Ficou doido, Miguel? Eu já excluí o Leonardo da minha vida faz tempo! Eu só não quero aparecer como quem tá por baixo, só isso! Eu quero esfregar na cara dele que eu estou bem, apenas isso!
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  — Você poderia fazer isso sem um namorado.
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  — Mas foi você que sugeriu fingir que era meu namorado, Miguel!
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  — Eu sei, mas é porque você declarou que não podia aparecer sozinha na festa ou seria alvo de comentários e humilhações.
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  — Então pronto! Você sabe que eu estou fugindo é da chacota! Claro que eu não me importo nem um pouco com o que o Leonardo vai achar disso!
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  — Hm… — Miguel murmurou antes de retomar sua refeição: — Veremos amanhã.
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  Eles terminaram de comer em silêncio confortável por alguns segundos, os talheres fazendo um leve tilintar nos pratos enquanto cada um se concentrava no que restava de comida, mas sem deixar de lançar olhares discretos um para o outro. Cada gesto carregava a intimidade silenciosa de uma amizade que começava a se transformar em algo mais.
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  — Ah! — Sofia exclamou de repente, lembrando-se de algo. — Precisamos decidir como vamos chegar amanhã. De carro, ou…
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  — Melhor de carro — Miguel interrompeu com um sorriso leve. — Assim podemos conversar pelo caminho, ensaiar algumas interações sem pressão e, claro, evitar qualquer deslize público inesperado.
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  Sofia concordou, inclinando-se para apoiar os cotovelos na mesa.
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  — Então é isso… amanhã será nossa grande estreia. — Ela sorriu, mas a expressão se suavizou, revelando uma mistura de ansiedade e expectativa.
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  Miguel deixou escapar um suspiro baixo, alisando o cabelo levemente, e disse de forma quase distraída:
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  — E espero que depois dessa estreia a gente consiga rir de tudo isso junto. — Seus olhos se encontraram com os dela, carregados de sinceridade e um toque de tensão romântica.
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  Eles se levantaram lentamente, Miguel retirando a conta da mesa com naturalidade e Sofia agradecendo aos garçons. Miguel fez questão de pagar a conta e foi ouvindo os protestos de Sofia pelo caminho do shopping até o estacionamento.
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Capítulo 4
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