Capítulo 2 • %Aria% %Montgomery%
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Cerca de meia hora depois, %Aria% estacionou em sua casa dos anos cinquenta, estilo caixote. Apoiou o Treo entre o pescoço e o queixo, esperando a mensagem de voz de %Emily% acabar. Depois do sinal, ela disse:
— Em, é a %Aria%. Se você realmente quer contar ao Wilden, por favor, me ligue. A é capaz de... de mais do que você pensa. — Ela apertou DESLIGAR, sentindo-se ansiosa. Não conseguia imaginar qual segredo horrível de %Emily% que A poderia revelar se ela falasse com a polícia, mas %Aria% sabia, por experiência própria, que A revelaria.
Suspirando, destrancou a porta da frente e seguiu escada acima, passando pelo quarto dos pais. A porta estava entreaberta. Lá dentro, a cama dos pais estava muito bem-arrumada — ou será que aquela passara a ser apenas a cama de Ella? Ella tinha arrumado a cama com a colcha de retalhos com estampa de batique cor de salmão que ela amava e Byron odiava. Empilhara as almofadas no lado dela da cama. A cama parecia uma metáfora para divórcio.
%Aria% largou os livros e caminhou meio sem rumo até a sala de televisão no andar de baixo, a ameaça de A dando voltas em sua cabeça como a centrífuga que eles tinham usado no laboratório de biologia. A ainda estava lá. E, de acordo com Wilden, o assassino da Ali também. A poderia ser o assassino de Ali, abrindo caminho pela vida de todas elas. E se Wilden estivesse certo? E se o assassino de Ali quisesse machucar mais alguém? E se o assassino não fosse apenas um inimigo de Ali, mas também de %Aria%, %Hanna%, %Emily% e %Spencer%? Isso significaria que uma delas seria a... próxima? A sala estava escura, exceto pela TV piscando. Quando %Aria% viu a mão de alguém sobre o braço da namoradeira de tweed, deu um pulo. Então, o conhecido rosto de Mike, seu irmão, apareceu.
— Você chegou bem a tempo. — Mike apontou para a tela. — A seguir, um vídeo caseiro inédito de Alison DiLaurentis, filmado uma semana antes de ela ser assassinada — disse ele, fazendo sua melhor imitação de narrador de filme.
Quando um comercial da Mercedes terminou e o noticiário recomeçou, %Aria% e Mike se endireitaram em seus lugares.
— Ontem, uma fonte anônima nos enviou este vídeo de Alison DiLaurentis — anunciou o âncora. — Ele dá uma ideia do quão inocente era sua vida apenas alguns dias antes de ela ser assassinada. Vamos assistir.
***
%Aria% estava em sua casa agora em um jantar de família. Estavam todos juntos, ela, seu pai, a nova mulher de seu pai, Meredith, Mike e sua mãe, Ella. Sean, seu namorado, estava entre eles. Apesar de tudo, %Aria% estava feliz pelo namorado estar ali.
%Aria%: Você não acha que o Sean deveria saber do trabalho extracurricular que você fez com certo professor de inglês? Afinal, bons relacionamentos são construídos com base na verdade. — A Naquele momento, o aquecimento central desligou, fazendo %Aria% sentar-se ereta. Lá fora, um galho bateu. Depois outro. Alguém estava observando. Ela engatinhou até a janela e deu uma olhada. Os pinheiros projetavam sombras disformes na quadra de tênis. Uma câmera de segurança pendurada na beirada da casa virava vagarosamente da direita para a esquerda. Uma luz tremeluziu, depois nada. Quando ela olhou de volta paro o quarto, alguma coisa no noticiário chamou sua atenção. Maníaco visto novamente, informava a legenda na parte de baixo da tela.
— Recebemos a informação de que algumas pessoas viram o Maníaco de Rosewood — disse o repórter no momento em que %Aria% aumentava o volume. — Aguarde para mais detalhes. — Passava a imagem de um carro de polícia em frente a uma casa enorme, com torres de castelo. %Aria% voltou-se para a janela de novo — lá estavam eles. Sem dúvida, a luz azul da polícia estava piscando nos pinheiros mais distantes. Ela saiu para o corredor. A porta de Sean estava fechada; podia-se ouvir Bloc Party vindo lá de dentro.
— Sean? — Ela empurrou e abriu a porta do quarto dele. Os livros estavam espalhados pela escrivaninha, mas a cadeira estava vazia. Havia um amassado na cama perfeitamente arrumada, onde o corpo dele estivera. A janela estava aberta e um vento frio soprou, fazendo as cortinas dançarem como fantasmas. %Aria% não sabia mais o que fazer, então voltou para seu computador. Foi quando viu um novo e-mail.
PS.: Posso ser um pé no saco, mas não sou assassino. Aqui vai uma pista para quem não faz ideia: alguém queria alguma coisa da Ali. O assassino está mais perto do que você pensa. – A Enquanto isso, %Hanna% %Marin% tentava se explicar para Mona sobre o motivo pelo qual havia desmarcado com ela, mas Mona adotara um comportamento diferente e a convidou para comemorar seu aniversário com ela e as antigas amigas de Alison. Foi então que %Hanna% viu seu celular tocar:
Querida %Hanna%, nós podemos não ser amigos, mas temos as mesmas inimigas. Então, aqui vão duas dicas: uma de suas antigas amigas está escondendo algo de você. Algo grande. E Mona? Ela também não é sua amiga. Então, fica esperta — A ******
Quarta-feira, depois da escola, %Aria% observava Sean pedalar a mountain bike Gary Fisher dele se distanciando, subindo com facilidade a estrada de West Rosewood.
— Me alcança! — provocou ele.
— Fácil para você dizer! — respondeu %Aria%, pedalando furiosamente na velha bicicleta Peugeot de dez marchas, dos tempos de faculdade da mãe, que ela trouxera consigo quando mudou para a casa de Sean.
— Eu não corro dez quilômetros toda manhã!
Sean surpreendeu %Aria% depois da aula ao anunciar que não iria ao futebol para que eles pudessem ficar juntos. O que era uma grande coisa — nas vinte e quatro horas em que estava morando com ele, %Aria% tinha percebido que Sean era viciado em futebol, da mesma forma que seu irmão era doido por lacrosse. Toda manhã, Sean corria dez quilômetros, treinava e praticava chutes a gol numa rede colocada no quintal dos Ackard até a hora de ir para a escola. %Aria% lutou para subir o morro e ficou feliz de ver que havia uma longa descida à frente. Fazia um dia lindo, então eles tinham decidido dar uma volta de bicicleta pelos arredores de West Rosewood. Pedalaram por diversas fazendas e por quilômetros de bosques intocados. No fundo do vale, passaram por uma cerca de ferro trabalhado com um portão cheio de adornos. %Aria% pisou no freio.
— Espera aí. Eu tinha esquecido completamente deste lugar.
Eles tinham parado na frente do cemitério Saint Basil, o mais antigo e assustador de Rosewood onde %Aria% costumava copiar as inscrições das lápides. Ele abrigava hectares e mais hectares de montanhas e lindos gramados bem cuidados, e algumas das lápides datavam de 1700. Antes de %Aria% achar seu lugarzinho com Ali, ela tinha passado por uma fase gótica, adotando tudo que tivesse a ver com morte, Tim Burton, Halloween e unhas extremamente compridas. Os carvalhos cheios de folhas do cemitério faziam uma sombra perfeita para sentar e descansar. Sean parou ao lado dela. %Aria% virou-se para ele.
— Podemos entrar por um minuto?
— Tudo bem. — Relutante, Sean prendeu sua bicicleta e a de %Aria% a uma lata de lixo de ferro e foi atrás dela pelas primeiras lápides.
%Aria% lia os nomes e as datas que tinha praticamente decorado alguns anos atrás. EDITH JOHNSTON, 1807-1856. PEQUENA AGNES, 1820-1821. SARAH WHITTIER, com aquela frase de Milton, A MORTE É A CHAVE DOURADA QUE ABRE O PALÁCIO DA ETERNIDADE.
Morro acima, %Aria% sabia, estavam os túmulos de um cachorro chamado Puff, um gato chamado Rover e um periquito chamado Lily.
— Eu adoro túmulos — disse, ao passarem por um túmulo com uma enorme estátua de um anjo. — Eles me lembram “O coração delator”.
— Ah, vai! Você leu o conto. Edgar Allan Poe? O cara morto enterrado no chão? O narrador ainda consegue ouvir seu coração batendo?
%Aria% pôs suas mãos nos lábios, estarrecida. Como o Sean podia não ter lido isso?
— Quando voltarmos, vou achar meu livro do Poe para que você possa ler.
— Tudo bem — concordou Sean, depois mudou de assunto. — Você dormiu bem noite passada?
— Muito bem. — Uma mentira inofensiva. Seu quarto estilo hotel parisiense era lindo, mas %Aria% achou difícil dormir lá. A casa de Sean era... perfeita demais. O edredom parecia fofo demais, o colchão acolchoado demais, o quarto tranquilo demais. Cheirava bem demais e era limpo demais também.
COMEÇO DE TUDO, PARTE I
Eu ainda estou aqui, suas vacas. E eu sei de tudo. —A — Bem, todas nós recebemos mensagens de texto desse tal de A? — perguntou %Hanna%, quando %Spencer% se aproximava. Todas elas exibiram seus celulares, nos quais estava estampada a mensagem. “Eu sei de tudo”.
— Eu recebi outras duas — disse %Emily%, sondando o terreno. — Pensei que fossem de Ali.
— Eu também pensei! — Arfou %Hanna%. %Aria% e %Spencer% concordaram com a cabeça. Elas se entreolharam nervosas, com os olhos arregalados.
Elas começaram a falar sobre o que aconteceu, as mensagens que estavam começando a receber desse ou dessa pessoa, que desde o desaparecimento de Alison decidiu simplesmente, anos depois, começar a mandar mensagem misteriosas para todas as quatro.
%Spencer%, eu não a culpo por não contar às outras nosso segredinho sobre Toby. A verdade pode ser perigosa — e você não quer se machucar, quer? —A