Capítulo 3 • Passado e Presente se Ecoa
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1988, CAMPINAS
— Vamos ao shopping? — perguntou Meca para os amigos Minnie e Penachos.
Os três eram amigos há algum tempo e essa amizade aos poucos se desenvolvia. Era a época onde as músicas embalavam o clima. Em plena década de 80, as pessoas se divertiam mais e não era a diversão de hoje em dia, era uma diversão mais alegre. Era a geração da música e também a época em que as pessoas começavam a usar câmera, e a internet de alguma forma começava a ser iniciada. As pessoas andavam pelas ruas despreocupadas. Mas com o tempo, as situações começaram a surgir.
— Boa ideia! — disse Minnie animada.
Os três caminharam para o shopping animados. Eles se divertiram juntos como sempre. Em meio a risadas, sem perceber que tudo mudaria.
— A companhia de vocês é tão boa — disse Penachos. — A Meca realmente planejou bem essa nossa saída — disse Penachos orgulhoso.
— Sim — respondeu Minnie.
— Nossa amizade é importante.
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GN 29:31
“Vendo Deus o desprezo, a tornou fértil”
ALGUNS ANOS DEPOIS...
— Você tem certeza dessa gravidez, Minnie? — perguntou Penachos.
— Você acha que eu mentiria tendo em vista tudo que aconteceu? — perguntou Minnie.
— Não é isso, só estou surpreso — disse Penachos realmente surpreso, mas acariciou a barriga da namorada.
— Eu nem sei se devemos levar essa gravidez até o fim — disse Minnie.
— É claro que deve! É nosso filho, nosso primeiro filho! Meu primeiro filho!
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— Pode soprar as velinhas, Francisca — disse Penachos no que era o primeiro ano de aniversário de Francisca. Minnie, que havia começado a sentir enjoo alguns dias antes, começara a se mostrar fria em relação à filha.
— Por que você a trata assim? Nem cantou os parabéns para ela — perguntou Penachos à esposa.
— Você sabe muito bem o motivo — disse Minnie.
Algum tempo depois, nasceu Niça. A menina era muito parecida com a mãe. Era a cara da mãe, mas tinha os traços de Penachos.
— ...Esta se chamará Niça, pois Deus justifica nossas atitudes — disse.
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2019
— Então, Niça, o que você gosta de fazer? — perguntou Ahmed à garota.
— Gosto de muitas coisas — disse Niça. — Estar com minha família é uma delas!
— Eu também gosto de estar com minha família — disse Ahmed. — Embora ela não seja tão... peculiar quanto a sua!
— Faz sentido. — Niça riu.
Ahmed e Niça começaram a conversar, parecendo animados.
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— Pense num dia típico da sua vida ou de alguma pessoa comum de seu convívio. Provavelmente você acordou numa cama, depois de passar a noite sob um teto, fez algumas refeições, trabalhou ou estudou. Esse relato bem breve de atividades do nosso cotidiano poderia resumir a pergunta “
o que são direitos humanos”, porque o nosso dia a dia está permeado deles — mesmo quando a gente não percebe. A área de estudos chamada Direitos Humanos entende que cada um de nós é um ser moral e racional que é sujeito de direitos e deve viver com dignidade. Os direitos humanos não são nossos direitos por merecimento, mas porque uma vez que somos humanos, somos detentores deles. Todos e todas deveríamos ter acesso aos mesmos direitos, por isso dizemos que eles são universais — começou a professora de Direitos Humanos. — Alguém sabe dizer o porquê? — perguntou a professora e Francisca levantou as mãos.
— Porque todos devem ter direitos da cidadania e a novas chances de se expressar como realmente são — disse Francisca.
— Exatamente! — respondeu a professora. — E como podemos colocar isso em prática? — perguntou e um aluno levantou a mão. — Sim, Sr. Tury?
— Porque Deus criou a todos com direitos iguais e semelhantes — disse um dos alunos do primeiro ano da faculdade de Francisca, Henrique Tury. — Todos devemos respeitar uns aos outros.
A professora sorriu ao ver que pelo menos dois de seus alunos estavam gostando da aula.
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— Você não parece muito animada para a aula de hoje — comentou Manu Maia, uma das amigas de Marly.
— Eu só tenho pensado nas coisas que tem acontecido com meus pais — disse. — Eles têm uma relação complexa.
— Eu entendo o que é isso — concordou Manu. — Famílias são complexas.
A aula começara e aquela frase não escapou das memórias de Marly.
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— Ainda pensando no Ahmed? — perguntou Lessa à amiga, Niça.
— Na verdade, na minha família, eles têm sido diferentes, eles sempre foram, mas agora parecem ainda mais — disse ela.
— Porque você não tenta uni-los? — sugeriu Lessa.
— Como? — perguntou Niça.
— Talvez contar histórias a ajude!
— Que tipo de história eu poderia contar? — perguntou Niça.
— Poderia ser uma bíblica por exemplo, algo que os ajude — diz Lessa.
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Naquele mesmo dia, Marly estava pegando um ônibus quando algo aconteceu. O ônibus onde ela e Niça, as irmãs de Francisca, estavam começou a andar. O ônibus andava e de repente começou a dar tremidas e caiu num beco. A maioria das pessoas ali morreram, mas algumas conseguiram escapar com vida. O pânico era total.
— Lessa, você está bem? — perguntou Niça e a amiga assentiu.
— Eu... eu não consigo me sentir! — disse Marly. — Minhas pernas e costelas.
— Vamos, temos que levar ela a um hospital — disse Francisca.
— Eu vou chamar meu pai — disse uma das amigas de Marly. — Ele é médico.