16 • Claire
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Katy Perry – Firework
“You just gotta / Ignite the light / And let it shine / Just own the night”
Harry POV
Ver o sorriso dela ontem quando a surpreendi no oceanário para dar de comer às tartarugas fez-me pensar o quão sortudo eu era por nós termos gostos tão parecidos, por nós pensarmos nas mesmas coisas, por sermos praticamente almas gémeas em relação a tantos assuntos, eu sou um sortudo!
E isso me fez pensar que eu uma vez por mês costumo comprar comida e dedicar um dia da minha vida corrida aos sem abrigos, indo entregar-lhes uma refeição quente às suas “casas” – um papel de cartão no chão – que mesmo sendo verão em Londres esfria muito de noite e mesmo que não esfriasse, eu estou aqui no meu luxuoso apartamento e aquelas pessoas não têm nada, absolutamente nada, muitas vezes nem comida elas têm, por isso porque não ajudar um pouco os outros? Hoje eu iria levá-la comigo.
- Vai sair? – Louis perguntou entrando no quarto.
- Vou, você não?
- Sim, mas aposto que não pro mesmo lugar que você.
- Ah, eu vou para casa da Rita, realmente, não me parece que você vá comigo.
- Eu logo vi, você se esqueceu! – ele disse divertido.
Esqueci? Esqueci do quê? Nós não tínhamos entrevistas hoje, não tínhamos nada, eu estava de folga hoje, eu e todos os rapazes, do que eu me poderia ter esquecido?
- Tarde de rapazes na casa deles?
Ah isso!
- Fica para outro dia, tudo bem? Hoje não vai dar mesmo.
- Hoje e os outros dias que estiver com ela.
- Não, hoje é diferente.
- Por quê?
- Depois conto, agora preciso ir, manda um abraço aos rapazes.
- Pera, me dá uma carona.
- Anda.
Levei Louis até a casa dos outros e aproveitei para lhe contar o que eu iria fazer, ele me apoiou nisto, diz que faço muito bem porque nós temos demais e há pessoas que têm de menos, e eu concordo plenamente. Deixei-o lá e segui para casa da minha princesa.
Rita POV
A campainha toca e eu vou abrir esperando ser Will, mas encontro Harry.
- Oi? – pergunto confusa.
- Eu sei que não avisei, mas posso entrar?
- Claro – eu digo sorrindo dando espaço para ele entrar e fechando a porta.
- O meu beijo, já não mereço é? – Como o meu namorado é bobo! Aproximei-me devagar e quando estava mesmo perto mordi-lhe o lábio fazendo-o rir e só depois é que o beijei. – Assim está melhor, agora anda, preciso de ti hoje.
- Precisa, mas eu hoje vou sair!
- Pois você vai, comigo!
- Não, eu combinei umas coisas com uns amigos, pode vir conosco.
- Desmarca, please, please, please, é super importante, please – olhos gatos das botas são o meu fim.
- Tudo bem.
- Yeahhh – ele meio que gritou e fui arrastada para fora de casa num ápice.
Depois de irmos buscar comida para um batalhão – sem exagero – e cobertores para outro tanto batalhão – sem exagero novamente – Harry disse que teríamos de fazer uns quilômetros. E neste momento, quilômetros esses passados eu percebi o porquê de toda esta agitação e de tanta coisa, onde eu estava com a cabeça pensando que tudo isto era para nós, que lerdeza!
- Espero que tenha uma veia de solidária em você – nem sabe ele que eu já fiz voluntariado, mas tudo bem.
Saí do carro e fui buscar um cobertor e uma sopa quente embalada no porta-malas já aberto.
A tarde passou mais rápido do que o que eu esperava, conheci tantas pessoas maravilhosas, com tantas histórias de vida que me emocionaram; é impressionante como nós nos queixamos da vida, mas depois vemos estas pessoas com histórias de vida horríveis a viver na rua que não se queixam de nada e estão sempre com um sorriso na cara.
Uma velhinha enrolada num pequeno cobertor velho chamou a minha atenção, já tinha anoitecido, quando olhei ao relógio eram quase 21 horas, então o frio começava a fazer-se sentir, e aquela pobre senhora estava só com aquele pequeno cobertor enrolado ao corpo. Peguei dois cobertores e duas sopas e fui em direção à senhora. Quando estava quase a chegar Harry me parou e eu o puxei para vir comigo.
- Boa noite, senhora – dizemos eu e ele juntos e sorrimos.
- Boa noite, meninos – a senhora vê-se que não é assim tão idosa como eu pensei, teria os seus 70, não mais que isso.
- Trouxemos estes cobertores e estas sopas para você, espero que seja do seu agrado.
- Claro que sim, muito obrigada mesmo – a senhora tinha um olhar encantado no rosto e não sei se por vergonha ou por outro qualquer motivo, mas não começou a comer e a cobrir-se como qualquer outro sem abrigo que eu vi hoje, e isso me tocou.
- Harry, vai buscar mais um cobertor e duas sopas, por favor – disse-lhe e ele foi.
- Hoje você terá mais duas pessoas para jantar com você, espero que não se importe.
- Claro que não, mas eu suponho que você e o seu namorado tenham uma casa de vocês, de certeza bem mais confortável que o chão da rua.
Salva pelo Harry, não tive de responder à pergunta feita pela senhora, sei que nem era a intenção dela meter-se na minha vida, mas eu não sabia o que responder.
- Hoje jantaremos aqui – eu disse com o meu melhor sorriso e ele não precisou de muito tempo para perceber a minha intenção.
Sentamo-nos no chão de frente para a senhora e pusemos o cobertor nas nossas pernas, abri as sopas e tirei as colheres dos invólucros e entreguei cada uma a cada pessoa, fazendo a senhora dar a primeira colherada e o meu coração ficar mais aliviado.
Eu e Harry começamos a comer também.
- Muito obrigada pelo que estão a fazer, significa muito para todos nós.
- Não tem de agradecer minha senhora, nós fazemos com gosto.
- Não me trate por senhora, meu nome é Claire, trate-me por Claire.
- Claro, já agora eu sou Rita e ele é Harry.
- É bonito ver um casal jovem dedicando seu tempo a pessoas como nós, ainda mais quando poderiam estar a aproveitar suas vidas, namorando, andando de mãos dadas como dois jovens apaixonados.
E agora? Era estupido, mas eu ainda não sabia o que dizer quando as pessoas diziam que nós estávamos apaixonados ou que ficávamos bem juntos, nós não tínhamos nada e tínhamos tudo, exatamente ao mesmo tempo.